Introdução
A Teoria dos Scripts Sexuais, proposta por John H. Gagnon e William Simon (1973), incrementou a nossa compreensão sobre a sexualidade humana ao deslocar o foco das explicações biológicas e instintivas para as construções sociais e culturais que moldam o comportamento sexual. Segundo essa teoria, a sexualidade não é tão somente um impulso inato ou uma manifestação puramente fisiológica, mas sim um fenômeno aprendido e organizado por meio de “scripts” ou roteiros sociais. Esses scripts são conjuntos de normas, expectativas e significados culturalmente compartilhados que orientam como os indivíduos interpretam, experienciam e executam as suas práticas sexuais (Gagnon & Simon, 1973).
Os scripts sexuais operam em três níveis inter-relacionados: o cultural, que engloba as narrativas coletivas sobre sexualidade (como gênero, moralidade e papéis sociais); o interpessoal, que regula as interações entre os parceiros (como rituais de sedução e comunicação); e o intrapsíquico, que envolve as fantasias, desejos e autoidentificação do indivíduo (Simon & Gagnon, 1986). Essa abordagem destaca que a sexualidade é uma performance socialmente mediada, onde os atores seguem roteiros internalizados para dar sentido aos seus corpos e desejos.
Os descaminhos em relação aos scripts sexuais dominantes são frequentemente classificados como “desviantes” ou “anômalos” pela sociedade, embora essa categorização reflita mais amiúde os valores culturais do que uma patologia intrínseca. Gagnon e Simon (1973) argumentam que comportamentos como o Fetichismo ou o Masoquismo Consensual não são desvios naturais, mas sim respostas a scripts alternativos que desafiam as normas hegemônicas. Por exemplo, o fetichismo não exclusivo, longe de ser uma anomalia biológica, é um script culturalmente específico que ganha significado em contextos sociais particulares.
A pornografia, outro tema explorado pelos autores, ilustra como os scripts desviantes podem ser comercializados e normalizados em subculturas. Enquanto a sociedade convencional pode ver a pornografia como transgressora, ela segue scripts próprios que reforçam certas dinâmicas de poder e prazer (Gagnon & Simon, 1973). Da mesma forma, a prostituição seria um script alternativo que organiza a sexualidade em torno de transações econômicas, desafiando a noção romântica de sexo enquanto expressão de amor.
A Teoria dos Scripts Sexuais foi criticada por sua aparente desconsideração das bases biológicas da sexualidade (Bancroft, 2009). No entanto, Gagnon e Simon (1986) rebatem que mesmo os impulsos fisiológicos são interpretados através de lentes culturais. Outra crítica é a suposta rigidez do conceito de “script”, que poderia negligenciar a agência individual e a fluidez das identidades sexuais (Plummer, 1995). Em resposta, os autores posteriormente enfatizaram a natureza dinâmica e negociada dos scripts, especialmente em sociedades pós-modernas onde as normas sexuais são cada vez mais diversificadas (Simon, 1996).
A Teoria dos Scripts Sexuais permanece relevante para entender como a sexualidade é construída e contestada. Ao analisar os scripts alternativos não como patologias, mas como variações de scripts culturais, essa teoria oferece um quadro crítico para discutir direitos sexuais, diversidade e inclusão. Como destacam Laumann et al. (1994), a sexualidade é um campo de disputa política onde os scripts dominantes e alternativos coexistem em tensão.
Comportamento Sexual versus Conduta Sexual
A distinção entre comportamento sexual e conduta sexual representa um marco crucial na sociologia da sexualidade. Essa diferenciação permite-nos analisar a sexualidade em duas camadas distintas, mas interligadas: o comportamento sexual refere-se aos atos físicos e biológicos em si, enquanto a conduta sexual engloba o significado social, cultural e interpessoal que atribuímos a esses atos.
O comportamento sexual, em sua essência, é uma ação física – um beijo, um toque, a relação sexual em si. É a manifestação tangível da atividade sexual, passível de observação e, em certa medida, mensuração. No entanto, ao focarmos apenas no comportamento, corremos o risco de desconsiderar a complexidade da experiência sexual humana. Reduzir a sexualidade a meros atos biológicos ignora o papel fundamental da cultura, das normas sociais, das expectativas de gênero e das experiências individuais na formação do significado sexual.
É aqui que a conduta sexual entra em cena. A conduta sexual é a interpretação, a avaliação e a internalização dos comportamentos sexuais dentro de um contexto social específico. Ela abrange as regras, os valores e as crenças que moldam nossas atitudes, desejos e práticas sexuais. A conduta sexual é influenciada por fatores como a família, a religião, a mídia, a educação, as relações interpessoais e a própria experiência. Ela define o que é considerado “normal”, “desejável”, “moral” ou “apropriado” em termos de sexualidade.
A importância dessa distinção reside no fato de que um mesmo comportamento sexual pode ter significados radicalmente diferentes dependendo da conduta sexual que o envolve. Por exemplo, o ato sexual em si pode ser interpretado como um gesto de amor e intimidade dentro de um casamento, como uma transgressão moral fora desse contexto, ou como uma forma de exploração e violência em situações de abuso. Da mesma forma, a masturbação pode ser vista como um ato saudável e natural de auto exploração, como um pecado religioso ou como um sinal de inadequação social, dependendo das normas culturais/sociais e das crenças individuais.
Ao separar o comportamento da conduta, Simon e Gagnon nos convidam a olhar além da superfície dos atos sexuais e a investigar os significados profundos que lhes são atribuídos. Essa abordagem permite uma análise mais completa e contextualizada da sexualidade humana, reconhecendo a diversidade de experiências e a influência das estruturas sociais na formação do identitário sexual. Além disso, a distinção entre comportamento e conduta nos ajuda a questionar as normas e os valores dominantes em relação à sexualidade, abrindo espaço para uma compreensão mais inclusiva e tolerante da diversidade sexual.
As Influências Teóricas sobre a Teoria dos Scripts Sexuais
A Teoria dos Scripts Sexuais recebeu influências de diversas correntes teóricas e intelectuais, que contribuíram para a sua formação e consolidação. Entre as principais influências, destacam-se o interacionismo simbólico, a dramaturgia social de Erving Goffman, as ideias de Kenneth Burke sobre simbolismo e linguagem, e os estudos de gênero e sexualidade que emergiram no século XX.
O interacionismo simbólico, associado a autores como George Herbert Mead e Herbert Blumer, forneceu a base para a noção de que a sexualidade é construída socialmente por meio de interações e significados compartilhados. Gagnon e Simon adotaram essa perspectiva ao argumentar que os comportamentos sexuais não são simplesmente expressões de impulsos biológicos, mas sim resultados de processos de aprendizagem social. Nesse sentido, os scripts sexuais são entendidos como guias simbólicos que orientam os indivíduos em suas interações, definindo o que é considerado apropriado, desejável ou mesmo possível em contextos específicos. Essa abordagem contrasta com visões essencialistas da sexualidade, que a tratam como um fenômeno natural e universal.
A influência de Erving Goffman, particularmente sua teoria da dramaturgia social, é evidente na maneira como Gagnon e Simon concebem os scripts sexuais como performances sociais. Goffman comparava a vida social a um teatro, onde os indivíduos assumem papéis e seguem roteiros para se apresentarem de maneira coerente em diferentes situações. Da mesma forma, os scripts sexuais são vistos como roteiros que os atores sociais internalizam e executam, ajustando-se a normas e expectativas culturais. Essa analogia dramática ajuda a explicar como as pessoas aprendem a desempenhar seus papéis sexuais, desde a infância até a vida adulta, e como esses papéis são negociados e reinterpretados em interações cotidianas.
Kenneth Burke, outro pensador crucial para a Teoria dos Scripts Sexuais, contribuiu com suas reflexões sobre a linguagem e o simbolismo como ferramentas centrais na construção da realidade social. Burke enfatizava que os símbolos não apenas representam a realidade, mas também a constituem, moldando a maneira como as pessoas experimentam e interpretam o mundo. Gagnon e Simon aplicaram essa ideia ao campo da sexualidade, argumentando que os significados atribuídos aos atos sexuais são culturalmente específicos e aprendidos por meio de linguagens e narrativas compartilhadas. Por exemplo, a maneira como uma sociedade define o que é “normal” ou “desviante” em termos sexuais reflete seus sistemas simbólicos e valores morais, que são transmitidos por meio de discursos e práticas sociais.
Além dessas influências, a Teoria dos Scripts Sexuais também dialoga com os estudos de gênero e sexualidade que ganharam força a partir da segunda metade do século XX. Autores como Michel Foucault, Judith Butler e Eve Kosofsky Sedgwick desafiaram as concepções tradicionais de sexualidade, destacando seu caráter historicamente construído e politicamente contestável. Foucault, em particular, argumentou que a sexualidade é um dispositivo de poder, regulado por discursos institucionais que definem o que é legítimo ou marginalizado. Essa perspectiva ressoa na obra de Gagnon e Simon, que também enfatizam o papel das instituições sociais—como a família, a educação e a mídia—na produção e reprodução dos scripts sexuais.
Por fim, é importante mencionar a influência dos estudos feministas, que trouxeram à tona as desigualdades de gênero embutidas nas normas sexuais. As críticas feministas à objetificação das mulheres e à heteronormatividade contribuíram para que Gagnon e Simon abordassem a sexualidade como um campo de poder, onde hierarquias de gênero e orientação sexual são perpetuadas ou contestadas. Essa abordagem permitiu que a teoria explorasse não apenas como os scripts são internalizados, mas também como podem ser resistidos ou transformados.
A Teoria dos Scripts Sexuais é de fato fruto de um diálogo multidisciplinar, incorporando insights do interacionismo simbólico, da dramaturgia social, da filosofia da linguagem e dos estudos críticos de gênero e sexualidade. Ao fazer isso, Gagnon e Simon ofereceram uma perspectiva dinâmica e contextualizada da sexualidade, que continua a influenciar pesquisas e debates contemporâneos sobre o tema.
A Teoria dos Scripts Sexuais e a Dramaturgia: Mais uma Perspectiva Sociológica
A teoria dos scripts sexuais propõe que o comportamento sexual humano é guiado por “scripts” ou roteiros sociais aprendidos, que orientam as interações sexuais de acordo com normas culturais, expectativas e contextos específicos. Essa abordagem dialoga de maneira significativa com a perspectiva dramatúrgica de Erving Goffman, apresentada em A Apresentação do Eu na Vida Cotidiana (1959), que entende a vida social como uma performance teatral, na qual os indivíduos assumem papéis e gerenciam impressões para se adequarem a situações sociais. Ao unir essas duas teorias, é possível explorar como os scripts sexuais são desempenhados, negociados e mantidos através de interações sociais, revelando a natureza construída e ritualizada da sexualidade.
Gagnon e Simon (1973) argumentam que a sexualidade não é apenas um impulso biológico primordial, mas também um fenômeno socialmente moldado. Os scripts sexuais operam em três níveis (interpessoal, intrapsíquico e cultural) e essa estrutura assemelha-se à noção goffmaniana de “fachada” e “desempenho”. Assim como Goffman descreve a “fachada pessoal” — composta por aparência, modos e cenário —, os scripts sexuais dependem de elementos performativos, como linguagem corporal, vestuário e ambientação, para transmitir significados específicos. Por exemplo, um encontro romântico segue um roteiro culturalmente estabelecido (jantar, conversa, proximidade física), no qual os participantes buscam alinhar suas performances às expectativas mútuas (Gagnon & Simon, 1973).
Goffman (1959) enfatiza que toda interação envolve um “controle expressivo”, no qual os atores buscam evitar dissonâncias que possam descredibilizar sua performance. Na sexualidade, isso se traduz na gestão de impressões para evitar rupturas no script. Por exemplo, um indivíduo pode omitir preferências sexuais atípicas para não desafiar normas hegemônicas (Plummer, 1995). A “idealização” descrita por Goffman — a tendência a apresentar versões socialmente valorizadas de si — também aparece nos scripts sexuais, como na performance de papéis de gênero tradicionais (e.g., homens como “dominantes”, mulheres como “recatadas”).
Além disso, a “mistificação” goffmaniana — a manutenção de distância social para preservar autoridade — é visível em dinâmicas de poder, inclusive sexual. Juízes, terapeutas e até parceiros mais experientes podem usar seu status para ditar os termos do script, relegando outros a papéis subordinados (Goffman, 1959).
Embora a teoria dos scripts e a dramaturgia compartilhem insights valiosos, ambas são criticadas por negligenciar estruturas materiais (como classe e raça) que constrangem performances. Por exemplo, scripts sexuais “racializados” (como a hiperssexualização de corpos negros) não são meras escolhas performativas, mas também produtos de histórias de opressão (Collins, 2004). Da mesma forma, Goffman é acusado de supervalorizar a agência individual, ignorando como instituições (como a família ou a mídia) enquadram performances (Butler, 1990).
A intersecção entre a teoria dos scripts sexuais e a dramaturgia de Goffman revela a sexualidade como um palco social, onde corpos, gestos e palavras são coreografados conforme normas culturais. Se, por um lado, essa abordagem destaca a flexibilidade e a negociabilidade dos scripts, por outro, lembra que performances estão sempre sujeitas a sanções quando desviam de expectativas hegemônicas. Futuras pesquisas poderiam explorar como plataformas digitais (como apps de encontros) reconfiguram esses scripts, introduzindo novos cenários e atores nessa dramaturgia cotidiana.
O Desenvolvimento e As Mudanças nos Scripts Sexuais
O desenvolvimento e as mudanças nos scripts sexuais representam um processo dinâmico e complexo, influenciado por fatores socioculturais, históricos e individuais. A teoria dos scripts sexuais oferece uma estrutura conceitual para entender como as experiências sexuais são moldadas, interpretadas e transformadas ao longo do tempo. Essa abordagem rejeita explicações biológicas essencialistas, destacando, em vez disso, o papel da aprendizagem social e da construção cultural na formação da sexualidade humana.
Os scripts sexuais são entendidos como guias simbólicos que orientam os indivíduos em suas interações sexuais, abrangendo, como já dito, três níveis principais: o intrapsíquico (pensamentos e desejos individuais), o interpessoal (interações entre parceiros) e o cultural (normas e valores sociais). Simon e Gagnon (1973) argumentam que a sexualidade não é apenas um impulso inato, mas sim um comportamento aprendido e negociado dentro de contextos sociais específicos. Essa perspectiva foi influenciada pelo pragmatismo humanista da Escola de Chicago e pelo trabalho de teóricos como Kenneth Burke, cuja ideia de “perspectiva pela incongruência” ressaltou a importância das contradições e ambiguidades na formação dos scripts.
Ao longo das décadas, os scripts sexuais passaram por transformações significativas, impulsionadas por mudanças sociais como o feminismo, os estudos queer e as críticas pós-estruturalistas. O feminismo, por exemplo, desafiou as hierarquias de gênero tradicionalmente embutidas nos scripts sexuais, questionando a naturalização dos papéis masculinos e femininos (Rubin, 1975). Da mesma forma, os estudos de Foucault (1976) sobre a história da sexualidade destacaram como os discursos médicos, religiosos e legais moldaram as concepções modernas do desejo, incluindo a “invenção” da Disforia de Gênero como categoria identitária.
A teoria dos scripts também evoluiu para incorporar uma abordagem mais construcionista, reconhecendo a pluralidade de significados atribuídos às práticas sexuais. Por exemplo, a emergência de novas tecnologias, como a internet e os aplicativos de encontros, reconfigurou os scripts interpessoais, facilitando formas alternativas de conexão e negociação sexual (Gagnon & Simon, 1987). Além disso, a globalização e o intercâmbio cultural expuseram os indivíduos a uma diversidade de normas sexuais, desestabilizando scripts tradicionais e promovendo maior individualização das experiências eróticas.
No nível intrapsíquico, a psicologia do self (Kohut, 1971) e os trabalhos de Robert Stoller sobre a excitação sexual contribuíram para entender como os scripts são internalizados e reinterpretados subjetivamente. Stoller (1975) enfatizou que o imaginário erótico é profundamente influenciado por contextos sociais, mesmo quando parece ser um fenômeno privado. Isso reforça a ideia de que os scripts não são estáticos, mas sim renegociados constantemente à luz de novas experiências e influências.
As mudanças nos scripts sexuais também refletem tensões mais amplas na sociedade. Por exemplo, a “anomia da afluência”, discutida por Simon e Gagnon (1976), ilustra como a prosperidade econômica pode gerar contradições entre as aspirações individuais e as estruturas sociais, afetando as expectativas sexuais. Em contextos de rápida transformação, como a liberação sexual dos anos 1960 ou a era digital atual, os scripts tradicionais perdem relevância, dando lugar a novas formas de organização do desejo.
Na verdade, o desenvolvimento e as mudanças nos scripts sexuais são um processo contínuo, marcado pela interação entre estruturas sociais, agência individual e inovações culturais. A teoria dos scripts permanece uma ferramenta valiosa para analisar a sexualidade em sua complexidade, evitando reducionismos biológicos ou culturais. Como Simon e Gagnon (1987) destacam, essa abordagem não busca oferecer respostas definitivas, mas sim um marco conceitual para explorar a diversidade e a fluidez das experiências sexuais humanas.
Nota: A Anomia da Afluência
A anomia da afluência é um conceito sociológico que descreve um fenômeno paradoxal observado em sociedades modernas e economicamente desenvolvidas. Ao contrário da anomia tradicional, associada à privação e à desorganização social, a anomia da afluência surge em contextos de abundância material, onde o excesso de opções e a falta de limites claros levam a uma crise de sentido e a comportamentos muito mais diversificados. Esse fenômeno foi inicialmente explorado pelo sociólogo francês Émile Durkheim, que identificou a anomia como um estado de desregulação social, mas ganhou novos contornos quando aplicado às sociedades contemporâneas, marcadas pelo consumismo, pela individualização e pela fragmentação dos valores tradicionais.
Na sociedade atual, a anomia da afluência manifesta-se de várias formas. Um dos aspectos mais evidentes é a crise de identidade enfrentada pelos indivíduos, que, apesar de terem acesso a bens materiais e oportunidades, muitas vezes se sentem vazios e desorientados. A abundância de escolhas — desde carreiras profissionais até estilos de vida — pode gerar angústia e insegurança, pois a falta de referenciais claros torna difícil a tomada de decisões. Esse cenário é agravado pela cultura do consumo, que promete felicidade e realização através da aquisição de produtos, mas frequentemente falha em entregar um sentido verdadeiro de propósito.
Outra dimensão da anomia da afluência é o enfraquecimento dos laços sociais. Em sociedades tradicionais, as normas e os valores eram compartilhados coletivamente, proporcionando um senso de pertencimento e direção. No entanto, nas sociedades modernas, a ênfase no individualismo e a diversificação dos estilos de vida levaram a uma fragmentação desses laços. As pessoas estão mais conectadas digitalmente, mas muitas vezes experimentam solidão e isolamento emocional. Essa desconexão pode levar a comportamentos de risco, como o abuso de substâncias, a compulsão por compras/sexo ou até mesmo a violência, como forma de preencher o vazio existencial.
O fenômeno também se reflete nas instituições sociais. Por exemplo, o sistema educacional, que antes tinha a função clara de preparar os jovens para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade, agora enfrenta desafios para definir seus objetivos em um mundo em constante mudança. Da mesma forma, a família, tradicionalmente um núcleo de apoio e transmissão de valores, vê seus papéis redefinidos, muitas vezes gerando conflitos e incertezas. Essa desestabilização das instituições contribui para a sensação de desorientação que caracteriza a anomia da afluência.
A mídia e a publicidade desempenham um papel significativo nesse processo. Ao promoverem ideais de sucesso, beleza e felicidade inatingíveis, elas criam expectativas irreais que, quando não alcançadas, geram frustração e descontentamento. Além disso, a exposição constante a imagens de perfeição pode levar a comparações sociais prejudiciais, minando a autoestima e exacerbando a sensação de inadequação.
A anomia da afluência também tem implicações para a saúde mental. Estudos mostram que, embora o bem-estar material tenha aumentado em muitas sociedades, os índices de depressão, ansiedade e outros distúrbios psicológicos também cresceram. Isso sugere que a prosperidade econômica, por si só, não é suficiente para garantir a felicidade e a realização pessoal. Pelo contrário, a falta de um projeto coletivo e a ausência de valores compartilhados podem levar a um mal-estar difuso, mesmo em meio à abundância.
Para enfrentar esse paradoxo, algumas abordagens têm sido propostas. Uma delas é a revalorização das comunidades locais e das redes de apoio, que podem fornecer um senso de pertencimento e propósito. Outra é a promoção de uma educação que vá além da formação técnica, incluindo a reflexão sobre valores éticos e o desenvolvimento de habilidades emocionais. Além disso, é essencial repensar o papel do consumo na sociedade, incentivando práticas mais sustentáveis e significativas, que não se reduzam à mera aquisição de “bens”.
Sobre os Scripts Sexuais Tradicionais
Os scripts sexuais tradicionais representam um conjunto de normas e expectativas culturalmente enraizadas que orientam o comportamento sexual, especialmente em contextos heteronormativos. Esses scripts são profundamente influenciados por construções de gênero, percepções anatômicas e dinâmicas de poder, perpetuando padrões que frequentemente privilegiam a experiência masculina em detrimento da feminina. A teoria dos scripts sexuais oferece uma estrutura para entender como esses roteiros são internalizados e reproduzidos, destacando sua natureza socialmente construída em vez de biológica.
No cerne dos scripts tradicionais está a associação entre genitalidade e sexualidade, onde o pênis e a vagina são vistos como centrais para a definição do ato sexual. Essa perspectiva, denominada “falocêntrica”, reduz a sexualidade à penetração peniana, marginalizando outras formas de prazer, como a estimulação clitoriana (Martynova, 2024). Como resultado, o intercurso vaginal é frequentemente considerado o ápice da experiência sexual, enquanto outras práticas, como o sexo oral ou a masturbação mútua, são categorizadas como preliminares. Essa hierarquização reflete e reforça a naturalização da reprodução como objetivo primordial do sexo, ignorando a diversidade de prazeres possíveis (Firestone, 1971).
Os scripts tradicionais também prescrevem papéis de gênero rígidos, nos quais os homens são incentivados a adotar um papel ativo, dominante e iniciador, enquanto as mulheres são socializadas para serem passivas, receptivas e focadas em agradar o parceiro (Wiederman, 2005). Essas expectativas são evidentes em práticas como a discrepância orgásmica, onde mulheres atingem o orgasmo com menos frequência do que os homens em encontros heterossexuais. Estudos indicam que apenas 39% a 65% das mulheres relatam orgasmo regular durante o sexo, em comparação com mais de 90% dos homens (Andrejek et al., 2020). Essa desigualdade é atribuída à falta de atenção à estimulação clitoriana, já que os scripts tradicionais privilegiam a penetração, que por si só dificilmente leva ao orgasmo feminino (Mintz, 2023).
Além disso, os scripts tradicionais normalizam a objetificação sexual das mulheres, exigindo que elas priorizem a atratividade física para facilitar a ereção e a satisfação masculina. Essa dinâmica é reforçada por práticas como o uso de maquiagem, lingerie e outros marcadores de feminilidade, que servem como sinais de conformidade com os papéis de gênero (Jeffreys, 1990). A auto objetificação não apenas desvia a atenção das mulheres de suas próprias necessidades sexuais, mas também as coloca em posição de vulnerabilidade, onde a simulação do orgasmo se torna uma estratégia comum para evitar conflitos ou proteger a autoestima do parceiro (Hevesi et al., 2021).
A passividade feminina e a dominância masculina também estão ligadas a ciclos de agressão sexual. A expectativa de que as mulheres resistam às investidas masculinas, por exemplo, pode dificultar a comunicação do consentimento claro (Krahé & Berger, 2023). Além disso, a falta de prazer feminino pode levar a práticas sexuais mais agressivas, como “choking” ou sexo “rough”, numa tentativa de compensar a ausência de estimulação adequada (Herbenick et al., 2020). Esses comportamentos, embora possam ser consensuais, muitas vezes refletem a internalização de normas de gênero que associam masculinidade à agressividade e feminilidade à submissão.
Os scripts tradicionais também influenciam as expectativas emocionais. As mulheres são socializadas para associar sexo a amor e compromisso, enquanto os homens são incentivados a buscar prazer físico sem envolvimento emocional profundo (Rubin et al., 2019). Essa dicotomia é reforçada pela “falácia do custo irrecuperável”, onde as mulheres investem mais tempo e energia em comportamentos para agradar, aumentando sua dependência emocional do parceiro (Martynova, 2024).
Embora haja movimentos em direção a scripts mais igualitários, como a valorização do prazer clitoriano e a maior comunicação sobre desejos, os scripts tradicionais persistem devido à sua internalização cultural profunda. A mudança exige não apenas a reeducação anatômica, mas também a desconstrução de normas de gênero que perpetuam desigualdades. Como argumenta Martynova (2024), mesmo scripts “igualitários” podem reproduzir dinâmicas tradicionais se não abordarem questões como o controle feminino sobre a estimulação e a redefinição de poder nas relações sexuais.
Os scripts sexuais tradicionais são um produto de construções socioculturais que privilegiam a heteronormatividade, a falocentricidade e a hierarquia de gênero. Sua persistência tem implicações profundas para a satisfação sexual, a autonomia corporal e a equidade nas relações íntimas. A transformação desses scripts requer uma crítica consciente às estruturas que os sustentam, promovendo uma visão mais plural e inclusiva da sexualidade humana.
Scripts Sexuais Igualitários: Uma Forma atual de Scripts Sexuais Tradicionais?
A discussão sobre scripts sexuais igualitários e sua relação com os scripts tradicionais tem ganhado destaque no campo dos estudos de gênero e sexualidade. Conforme explorado por Martynova Nadezhda (2024), os scripts sexuais tradicionais são profundamente enraizados em normas culturais que associam a anatomia genital a papéis de gênero específicos, perpetuando dinâmicas desiguais nas relações heterossexuais. Esses scripts tradicionais, centrados na penetração peniana como ato sexual primordial, reforçam a ideia de que o prazer masculino é prioritário, enquanto o prazer feminino é frequentemente negligenciado ou tratado como secundário (Mintz, 2023; Mahar et al., 2020). Nesse contexto, os chamados scripts igualitários emergem como uma tentativa de reverter essas assimetrias, promovendo maior equidade no prazer e na participação sexual. No entanto, questiona-se até que ponto esses novos scripts conseguem romper com as estruturas tradicionais ou se acabam por reproduzi-las de forma sutil.
Os scripts sexuais tradicionais são caracterizados por uma sequência de comportamentos que privilegiam a penetração vaginal e a orgasmo masculino como clímax inevitável do ato sexual (Simon & Gagnon, 1973). Essa dinâmica não apenas marginaliza o prazer feminino, mas também reforça estereótipos de gênero, como a passividade feminina e a dominância masculina (Rubin et al., 2019; Harvey et al., 2023). A naturalização desses scripts, associada à falácia naturalista (Moore, 1922), faz com que muitas mulheres internalizem a ideia de que seu prazer é menos importante ou mais difícil de alcançar, levando a práticas como a simulação de orgasmo (Hevesi et al., 2021) e a priorização do desejo masculino (Andrejek et al., 2020). Além disso, a falta de estímulo clitoriano, órgão central do prazer feminino, contribui para a chamada “lacuna do orgasmo”, em que mulheres atingem o clímax com menos frequência do que homens (Mintz, 2023).
Em resposta a essas desigualdades, os scripts igualitários propõem uma reestruturação das práticas sexuais, colocando o prazer feminino em primeiro plano. Autores como Ian Kerner (2019), Emily Nagoski (2015) e Laurie Mintz (2018) defendem que a estimulação clitoriana, por meio de práticas como o cunnilingus, pode ser um ato que precede a penetração, garantindo que as mulheres atinjam o orgasmo antes do parceiro. Essa abordagem busca desafiar a hierarquia de gênero nos encontros sexuais, incentivando maior comunicação e reciprocidade. No entanto, como aponta Nadezhda (2024), mesmo esses scripts igualitários podem não ser suficientes para desconstruir completamente as dinâmicas de poder tradicionais. Por exemplo, a expectativa de que a mulher precise “ensinar” o parceiro a satisfazê-la pode reforçar a ideia de que o prazer feminino é complexo e requer esforço adicional, mantendo certa passividade feminina e resistência masculina a assumir papéis não tradicionais.
Outro desafio enfrentado pelos scripts igualitários é a persistência da auto objetificação feminina. Mesmo em contextos que visam à equidade, as mulheres podem continuar focadas em sua aparência física como forma de agradar ao parceiro, em vez de direcionar sua atenção para as próprias sensações corporais (Mahar et al., 2020). Além disso, a falta de controle sobre a estimulação clitoriana durante o cunnilingus — que muitas vezes depende do ritmo e da técnica do parceiro — pode dificultar o alcance do orgasmo, replicando indiretamente a dependência do prazer feminino em relação à performance masculina (Nadezhda, 2024). Para que os scripts igualitários sejam verdadeiramente eficazes, é necessário que as mulheres assumam maior controle ativo sobre sua estimulação, assim como os homens fazem durante a penetração.
A dinâmica de poder também permanece um obstáculo significativo. Em uma cultura que valoriza a masculinidade associada à dominância e iniciativa, a inversão de papéis — onde o homem assume uma posição de “serviço” ao prazer feminino — pode ser percebida como ameaçadora à identidade de gênero tradicional (Jeffreys, 1990). Como resultado, mesmo em scripts que buscam a igualdade, as mulheres podem hesitar em expressar suas necessidades com assertividade, enquanto os homens podem resistir a práticas que os coloquem em posições submissas. Essa resistência cultural limita a efetividade dos scripts igualitários e sugere que a mudança requer não apenas ajustes nas práticas sexuais, mas também uma transformação mais ampla nas normas de gênero.
Os scripts sexuais igualitários representam um avanço importante na busca por relações mais equitativas, mas ainda estão longe de romper completamente com as estruturas tradicionais. Embora promovam maior atenção ao prazer feminino, a sua implementação esbarra em desafios como a auto objetificação, a falta de controle sobre a estimulação e as dinâmicas de poder enraizadas. Para que esses scripts se tornem verdadeiramente transformadores, é essencial combinar educação sexual, comunicação aberta entre os parceiros e uma crítica contínua às normas de gênero que perpetuam as desigualdades. Como destacado por Nadezhda (2024), a mudança requer não apenas novos roteiros sexuais, mas também uma reavaliação profunda de como a anatomia, o gênero e o poder se entrelaçam na sexualidade humana.
Scripts Sexuais Igualitários e a Distinção em Relação aos Scripts Alternativos e Desviantes
É importante destacar que os scripts sexuais igualitários não devem ser confundidos com os chamados scripts alternativos ou desviantes. Enquanto os primeiros buscam reestruturar as dinâmicas de gênero dentro de um contexto heteronormativo tradicional — promovendo equidade no prazer e na participação —, os segundos desafiam radicalmente as próprias bases dos roteiros sexuais convencionais, incluindo a heterossexualidade compulsória, a monogamia e a hierarquia de gênero (Butler, 1990; Rubin, 1984).
Os scripts alternativos e desviantes abrangem práticas como o poli amor, o BDSM consentido, a não-monogamia acordada entre os parceiros e outras formas de sexualidade que intencionalmente subvertem normas sociais. Esses modelos não apenas questionam a primazia da penetração peniana, mas também desconstroem a ideia de que o sexo deve seguir um roteiro predeterminado, seja ele tradicional ou supostamente igualitário (Foucault, 1976; Preciado, 2008). Por exemplo, no BDSM consensual (safe and sane), as dinâmicas de poder são explicitamente negociadas e podem ser fluidas, diferentemente dos scripts tradicionais, nos quais o domínio masculino é naturalizado. Da mesma forma, relações não-monogâmicas podem redistribuir o foco do ato sexual, desvinculando-o de expectativas de exclusividade e posse romântica (Haritaworn et al., 2006).
Em contraste, os scripts igualitários não rejeitam necessariamente a estrutura básica da sexualidade normativa — como a dicotomia ativo/passivo ou a centralidade do casal —, mas tentam reformá-la por dentro. A proposta de que a mulher deve ter um orgasmo antes da penetração, ainda que progressivamente, mantém a penetração como etapa final e, muitas vezes, reforça a ideia de que o sexo deve seguir uma sequência linear (Nadezhda, 2024). Além disso, ao não questionar a heteronormatividade compulsória ou a monogamia, esses scripts podem acabar reproduzindo invisivelmente normas que marginalizam outras formas de prazer e relacionamento.
Outra diferença crucial reside no tratamento do desejo. Enquanto os scripts alternativos frequentemente celebram a fluidez e a multiplicidade dos desejos (incluindo atrações queer, práticas não-penetrativas ou fetiches não normativos), os scripts igualitários tendem a se concentrar em “corrigir” a desigualdade dentro de um modelo binário e genitalizado. Por exemplo, a ênfase no clitóris como equivalente anatômico do pênis, embora bem-intencionada, ainda opera dentro de uma lógica comparativa que pode invisibilizar corpos e prazeres não binários (Fausto-Sterling, 2000).
Embora os scripts igualitários representem um avanço em relação aos tradicionais, sua natureza reformista — e não revolucionária — os distingue radicalmente dos scripts alternativos e desviantes. Estes últimos não apenas buscam redistribuir o prazer, mas também desestabilizar as próprias categorias que sustentam a desigualdade sexual, como gênero, monogamia e a ideia de “normalidade” sexual. Para uma transformação mais profunda, talvez seja necessário ir além da igualdade dentro do sistema e questionar o sistema em si.
Scripts Sexuais “Tradicional”, “Alternativos” e “Desviantes”
É importante ressaltar que a distinção entre “tradicional”, “alternativo” e “desviante” é culturalmente relativa e pode variar significativamente dependendo do contexto social e histórico. Além disso, a patologização de práticas sexuais não convencionais pode ser prejudicial e discriminatória em algumas situações. O foco invariavelmente deve estar no consentimento, na segurança e no bem-estar de todas as partes envolvidas.
Scripts sexuais alternativos referem-se às práticas sexuais que se desviam das normas tradicionais ou mesmo igualitárias, mas que são consensuais e não causam dano a si ou aos outros. Exemplos incluem:
Relacionamentos não monogâmicos consensuais: Casais que optam por abrir seu relacionamento para outras parcerias, com base em comunicação aberta, honestidade e consentimento mútuo.
Práticas BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo, Masoquismo): Envolvem jogos de poder consensuais, exploração de limites e fetiches específicos.
Assexualidade: Indivíduos que não sentem atração sexual por outras pessoas.
Scripts sexuais desviantes (em um sentido clínico e não pejorativo) podem envolver práticas sexuais que causam sofrimento, angústia ou prejuízo ao indivíduo ou a outros. Alguns exemplos podem incluir:
Transtornos Parafílicos: Interesses sexuais intensos e persistentes em objetos, situações ou indivíduos incomuns, que causam dano ou sofrimento para si mesmo e/ou para outras pessoas.
Comportamento sexual compulsivo: Dificuldade em controlar impulsos sexuais, resultando em angústia, problemas de relacionamento, dificuldades financeiras ou outros prejuízos.
O Cume dos Scripts Sexuais Desviantes
O homicídio sexual de crianças representa a culminação de um processo criminoso orientado por scripts sexuais desviantes — sequências internalizadas de pensamento e ação que moldam o comportamento do agressor desde a seleção da vítima até a execução do crime e o descarte do corpo. Esses scripts não são meramente impulsivos, mas muitas vezes refletem padrões cognitivos estruturados, adaptados às características da vítima e ao contexto do crime. O estudo de Chopin e Beauregard (2019) sobre a classificação dos homicídios sexuais infantis revela como esses scripts se manifestam de formas distintas, dependendo da idade da vítima, do tipo de violência empregada e das motivações do agressor.
A noção de scripts criminais, originalmente proposta por Cornish (1994), ajuda a entender como os homicidas sexuais planejam e executam seus crimes. No caso de crianças, esses scripts são particularmente influenciados pela vulnerabilidade da vítima e pela natureza tabu do ato, o que exige do agressor estratégias específicas para reduzir riscos e maximizar a gratificação. Por exemplo, agressores que já conhecem a vítima seguem um script que envolve ganhar confiança, isolar a criança e, finalmente, eliminá-la para evitar detecção. Já os que agem de forma inadvertida demonstram um script menos organizado, onde a morte resulta de violência excessiva e descontrole, muitas vezes sem penetração sexual, indicando uma falha na execução do ato desejado.
A tipologia proposta por Chopin e Beauregard (2019) evidencia que os scripts variam conforme a idade da vítima. Com crianças mais novas, os agressores tendem a usar métodos menos complexos, como a aproximação por meio de truques ou o abuso em ambientes domésticos. Já com adolescentes, os scripts se tornam mais elaborados, incluindo estratagemas de sedução, violência sádica ou até mesmo a ocultação do corpo. Essa evolução reflete uma adaptação do agressor ao desenvolvimento cognitivo e físico da vítima, bem como ao maior risco de resistência ou denúncia.
Um aspecto crucial desses scripts é a maneira como os agressores lidam com o corpo após o crime. Enquanto alguns não se preocupam com a descoberta (sugerindo um script mais impulsivo), outros investem tempo em esconder ou até mesmo “encenar” a cena do crime (indicando um planejamento mais meticuloso). Essa diferença tem implicações forenses importantes, pois agressores com scripts mais estruturados são mais difíceis de capturar, enquanto os que agem de forma desorganizada deixam mais evidências.
A compreensão desses scripts é essencial tanto para a investigação policial quanto para a prevenção. Se os padrões comportamentais podem ser antecipados, é possível identificar situações de risco e intervir antes que o crime ocorra. Além disso, o tratamento de agressores sexuais pode se beneficiar dessa abordagem, desconstruindo os scripts internalizados e substituindo-os por comportamentos não violentos.
Em última análise, o estudo dos scripts sexuais desviantes nos homicídios de crianças não apenas revela a complexidade desses crimes, mas também aponta caminhos para combatê-los de forma mais eficaz. Ao reconhecer que esses atos não são meramente aleatórios, mas seguem lógicas internas — mesmo que distorcidas —, a justiça criminal e a psicologia/psiquiatria forense podem desenvolver estratégias mais precisas para prevenção, investigação e reabilitação.
Justiça e Scripts Sexuais Criminais
A violência sexual é um fenômeno complexo que envolve dinâmicas de poder, gênero e cultura, refletidas tanto nas leis quanto nas percepções sociais. Os scripts sexuais — padrões culturais que orientam comportamentos e expectativas em interações sexuais — são, de alguma forma, codificados nas legislações criminais em diferentes países. Apesar das reformas nas leis de estupro, persistem restrições de gênero, distinções conjugais e expectativas implícitas de resistência das vítimas, que perpetuam estereótipos prejudiciais.
Por exemplo, as reformas nas leis de estupro nos Estados Unidos, impulsionadas pelo movimento feminista nas décadas de 1970 e 1980, buscaram redefinir a violência sexual como uma questão de autonomia corporal e não apenas como um crime contra a propriedade (Berger, Searles, & Neuman, 1988). Entre as mudanças mais significativas estão a eliminação de exigências explícitas de resistência física da vítima, a abolição das isenções conjugais (que anteriormente permitiam a impunidade em casos de violência entre cônjuges) e a expansão da definição de estupro para incluir formas não peniano-vaginais de agressão (Estrich, 1987; Spohn & Horney, 1992). No entanto, Levine (2018) demonstra que essas reformas não foram totalmente eficazes em eliminar vieses de gênero e heteronormatividade nas leis.
No entanto, catorze estados Americanos ainda mantêm restrições de gênero em seus estatutos criminais, limitando o crime de estupro a casos com perpetradores homens e vítimas mulheres (Levine, 2018). Além disso, mesmo em estados onde as leis são nominalmente inclusivas, termos como “estupro” são frequentemente reservados para penetração peniano-vaginal, enquanto outras formas de violência sexual são classificadas como “atos criminosos” ou “sodomia”. Essa hierarquia discursiva reforça a noção de que certas formas de violência são mais legítimas ou graves do que outras, marginalizando vítimas de agressões que não se encaixam no modelo heteronormativo (Ryan, 2011).
Outro problema persistente é a manutenção de distinções conjugais em 20 estados, onde a violência sexual entre cônjuges é tratada com menor rigor (Levine, 2018). Em alguns casos, a legislação exigia evidências adicionais de força física ou ameaça para caracterizar o crime, criando um obstáculo legal para vítimas de violência marital. Essa abordagem reflete scripts culturais que associam o casamento ao consentimento contínuo, ignorando a dinâmica de poder e coerção que pode existir em relacionamentos íntimos (Eskow, 1996).
Embora as exigências explícitas de resistência tenham sido eliminadas, Levine (2018) argumenta que as leis ainda impõem uma “ética de responsabilização da vítima” ao enfatizar o uso de força física pelo agressor. Muitos estatutos exigem que a vítima demonstre ter resistido de forma “sincera” ou que o agressor tenha usado força suficiente para “superar” essa resistência. Essa abordagem ignora situações em que a vítima pode experimentar imobilidade tônica — uma resposta fisiológica ao trauma — ou onde a coerção não envolve violência física explícita (Fusé et al., 2007). Além disso, apenas 17 estados reconhecem a intoxicação voluntária como uma barreira ao consentimento (Levine, 2018).
Os scripts sexuais embutidos nas leis criminais não apenas moldam as respostas do sistema de justiça, mas também influenciam as percepções sociais sobre violência sexual. Levine (2018) destaca que termos como “ato sexual criminoso” ou “conduta desviante” podem minimizar a gravidade de certas agressões, dificultando a conscientização pública e a mobilização contra essas formas de violência. Além disso, a persistência dos mitos sobre o estupro — como a ideia de que maridos não podem estuprar suas esposas ou que apenas mulheres podem ser vítimas — é reforçada por leis que não abordam plenamente a diversidade de experiências de violência sexual (Edwards et al., 2011).
Sugere-se aqui que uma abordagem centrada na autonomia sexual, como a adotada em Minnesota e Michigan, poderia superar muitas das limitações atuais. Por exemplo, Minnesota define consentimento como “ações ou palavras que indicam acordo livremente dado” (§ 609.341), eliminando a necessidade de provar resistência física (Levine, 2018). Da mesma forma, Michigan classifica todas as formas de penetração não consensual sob a mesma rubrica legal, garantindo igual reconhecimento para vítimas independentemente de gênero ou tipo de agressão.
Levine (2018) revela que, embora as reformas legais tenham avançado em direção a uma concepção mais inclusiva de violência sexual, os scripts sexuais criminais ainda carregam resquícios de normas de gênero e heterossexismo. Para que as leis atinjam plenamente seus objetivos simbólicos e instrumentais, é necessário eliminar hierarquias discursivas, distinções conjugais e expectativas implícitas de resistência. Somente assim será possível construir um sistema jurídico que proteja todas as vítimas e desafie efetivamente a cultura do estupro.
A Construção dos Scripts Sexuais Criminais: Uma Análise Procedimental e Situacional
A violência sexual é um fenômeno complexo que pode ser entendido através da lente dos scripts criminais, um conceito emprestado da ciência cognitiva e aplicado à criminologia (Cornish, 1998). Os scripts sexuais criminais referem-se às sequências padronizadas de ações que os agressores seguem para cometer crimes sexuais, desde o planejamento até a execução e o pós-crime. Esses scripts são moldados por fatores individuais, situacionais e culturais, e a sua compreensão é essencial para a prevenção e o combate a esses delitos.
O conceito de script descreve como as pessoas organizam mentalmente sequências de ações para realizar tarefas cotidianas, como jantar em um restaurante (Schank & Abelson, 1977). Cornish (1998) adaptou essa ideia para o contexto criminológico, propondo que os criminosos também seguem scripts — rotinas aprendidas e internalizadas — para cometer crimes. No caso da violência sexual, esses scripts envolvem etapas como:
A seleção da vítima
A abordagem
A coerção ou força
O ato sexual em si
A fuga ou ocultação de evidências.
A Construção dos Scripts Sexuais Criminais
Aprendizado e Internalização
Os scripts sexuais criminais não surgem no vácuo; são aprendidos e reforçados por meio de experiências diretas ou indiretas. Agressores podem internalizar comportamentos a partir de exposição a violência sexual na mídia, em grupos sociais ou até mesmo em experiências pessoais de vitimização. Cornish destaca que, assim como em outros crimes, esses scripts se tornam mais eficientes com a prática, evoluindo de ações hesitantes para rotinas fluidas e adaptáveis.
Fatores Situacionais
A abordagem situacional da criminologia, defendida por Cornish e Clarke (1985), enfatiza que o crime é resultado de oportunidades específicas. No contexto da violência sexual, fatores como o isolamento da vítima, ausência de testemunhas e acesso facilitado a locais vulneráveis (como becos ou estacionamentos) podem ser incorporados ao script do agressor. Por exemplo, um script comum envolve a identificação de vítimas em situações de vulnerabilidade, como em festas com consumo excessivo de álcool.
Adaptação e Inovação
Os scripts não são estáticos. Agressores podem adaptar suas estratégias em resposta a medidas de prevenção ou a falhas anteriores. Cornish (1998) utiliza o “permutador de scripts” para ilustrar como diferentes combinações de cenas (preparação, abordagem, ataque) podem gerar variações no modus operandi. Por exemplo, se a prevenção focar em dificultar o acesso às vítimas embriagadas, o agressor pode passar a usar drogas incapacitantes (nas vítimas) como alternativa.
Cultura e Normas de Gênero
Scripts sexuais criminais também são influenciados por normas culturais e de gênero. Levine (2018) argumenta que leis e discursos sociais podem reforçar hierarquias de gênero, legitimando certas formas de violência (como a distinção entre “estupro legítimo” e “sedução”). Esses scripts culturais são internalizados pelos agressores, que podem justificar suas ações com base em estereótipos, como a ideia de que vítimas “consentiram implicitamente”.
Aplicações para a Prevenção Situacional
Cornish (1998) propõe que a prevenção eficaz deve interromper os scripts criminais em pontos chave do processo. No caso da violência sexual, isso pode incluir:
Intervenção na Preparação: Restringir o acesso a ferramentas usadas para facilitar o crime (como drogas incapacitantes) ou monitorar locais onde agressores buscam vítimas (como bares e aplicativos de encontros).
Dificultar a Execução: Melhorar iluminação em áreas isoladas, promover campanhas de “amigo designado” em festas e incentivar a presença de vigilantes em espaços públicos.
Reduzir Recompensas: Facilitar a denúncia e a responsabilização legal, desincentivando a sensação de impunidade que pode fazer parte do script do agressor.
Embora a abordagem dos scripts seja útil, ela enfrenta críticas. Alguns argumentam que reduz a complexidade da violência sexual a uma sequência mecânica, ignorando motivações emocionais e traumas. Além disso, a adaptabilidade dos agressores significa que medidas preventivas precisam ser constantemente atualizadas.
De fato, a construção dos scripts sexuais criminais é um processo dinâmico, influenciado por fatores cognitivos, situacionais e culturais. Compreender esses scripts permite desenvolver estratégias de prevenção mais eficazes, focadas em interromper as sequências de ações que levam ao crime. No entanto, é essencial combinar essa abordagem com esforços mais amplos, como a educação sobre consentimento e o combate a normas de gênero prejudiciais, para enfrentar as raízes sociais da violência sexual.
Exemplos de Scripts Sexuais Alternativos e Desviantes
Com base nesses exemplos, podemos criar cenários hipotéticos (com base na prática clínica diuturna) para ilustrar a complexidade da avaliação clínica:
Esses cenários hipotéticos ilustram a variedade de questões que podem surgir em relação a scripts sexuais alternativos e desviantes. A avaliação clínica deve ser individualizada e sensível ao contexto cultural e pessoal de cada indivíduo, com foco no bem-estar, no consentimento e na prevenção de danos.
Caso 1.
Sofia e Marcos procuraram terapia de casal seis meses após decidirem abrir o relacionamento para a não-monogamia consensual, uma decisão que, no início, pareceu promissora para ambos. Sofia, sempre mais aberta à exploração e com uma forte individualidade, engajou-se rapidamente em novas conexões, o que despertou em Marcos um intenso ciúme e insegurança. As sessões revelaram que, apesar do acordo intelectual, Marcos lutava contra internalizações de exclusividade e medo de abandono, comparando-se desfavoravelmente com os novos parceiros de Sofia. Por outro lado, Sofia sentia-se sufocada pela necessidade constante de reafirmação de Marcos e frustrada com a desconfiança, criando um ciclo de tensão. A terapia individual de Marcos focou na autoestima, enquanto Sofia aprendeu a comunicar seu amor e apreço por Marcos de maneira consistente, equilibrando seus novos relacionamentos com o compromisso com o relacionamento principal. O processo terapêutico também os ensinou a estabelecer limites mais claros e a comunicar suas necessidades com assertividade, transformando um momento de crise em uma oportunidade para um crescimento mais profundo e uma dinâmica mais saudável.
Caso 2.
Luís e Ricardo procuraram ajuda terapêutica pois, embora ambos estivessem envolvidos em um relacionamento BDSM onde Ricardo era o dominante e Luís o submisso, Luís sentia-se cada vez mais desconfortável durante as sessões, com dificuldade em comunicar seus limites a Ricardo. Durante as sessões, veio à tona que a dificuldade de Luís em expressar seus limites derivava de um medo internalizado de decepcionar Ricardo e de quebrar a dinâmica de poder estabelecida. Ricardo, por sua vez, não se apercebia da crescente inquietação de Luís, pois entendia que o silêncio de Luís era um sinal de acordo e contentamento. A terapia focou em ajudar Luís a encontrar a sua voz e a defender os seus limites sem sentir-se culpado, enquanto Ricardo aprendeu a estar mais atento aos sinais não-verbais de desconforto de Luís e a incentivá-lo a falar abertamente sobre as suas necessidades e receios. Através da comunicação aberta e da definição clara dos limites, Luís e Ricardo conseguiram renegociar o seu script BDSM para um que fosse mais seguro, consensual e satisfatório para ambos.
Caso 3.
Carlos procurou terapia por sentir intensa vergonha e ansiedade devido ao seu interesse sexual em roupas femininas, um fetiche que o levava a evitar situações sociais por medo de ser descoberto e julgado. Em terapia, Carlos explorou as origens de sua vergonha, que remontavam a normas sociais rígidas e a experiências negativas de bullying na infância. O terapeuta ajudou-o a questionar essas crenças internalizadas e a aceitar seu interesse como uma parte válida de sua sexualidade, desmistificando o estigma associado ao crossdressing. Carlos aprendeu técnicas para gerenciar sua ansiedade e gradualmente começou a se expor a situações sociais onde podia expressar seu interesse de forma segura e controlada, como em grupos de apoio online e eventos específicos para crossdressers. Ao longo do tempo, Carlos desenvolveu mais autoconfiança e autoaceitação, conseguindo integrar seu interesse em sua identidade sem vergonha ou isolamento, recuperando o prazer de interagir socialmente.
Caso 4.
Ana buscou terapia devido à sua dificuldade em controlar impulsos de buscar sexo online, um comportamento que causava frequentes conflitos com seu parceiro e gerava intensos sentimentos de culpa. Durante as sessões, Ana revelou que o comportamento compulsivo era uma forma de lidar com sentimentos de solidão e baixa autoestima, exacerbados por uma rotina monótona e falta de satisfação emocional em outras áreas de sua vida. A terapia se concentrou em identificar os gatilhos que desencadeavam seus impulsos e em desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis, como praticar atividades prazerosas fora do mundo virtual, fortalecer sua comunicação com o parceiro e buscar formas de aumentar a sua autoestima. Ana aprendeu técnicas de controle de impulsos, como o adiamento da gratificação, e começou a redirecionar sua energia para construir conexões significativas e melhorar a satisfação em seu relacionamento. Com o tempo, Ana conseguiu reduzir significativamente seus comportamentos compulsivos e reconstruir a confiança com seu parceiro, aliviando a culpa e redescobrindo uma sensação de controle sobre sua vida.
Caso 5.
Mariana procurou terapia sentindo-se presa em um ciclo de busca por sexo online que estava erodindo seu relacionamento e minando sua autoestima. Ela descreveu como, mesmo amando seu parceiro, encontrava-se repetidamente navegando em sites e aplicativos de encontros, um comportamento que alimentava conflitos e gerava intensos sentimentos de culpa. Durante as sessões, ficou claro que a busca por sexo online servia como uma forma de escapar de sentimentos de inadequação e ansiedade, além de preencher um vazio emocional. A terapeuta auxiliou Mariana a identificar os gatilhos emocionais que precediam seus impulsos e a desenvolver estratégias de enfrentamento alternativas, como a busca por atividades prazerosas offline e o fortalecimento de sua rede de apoio social. Paralelamente, o trabalho terapêutico abordou a necessidade de Mariana desenvolver uma maior autocompaixão e aceitação de suas imperfeições, reduzindo a pressão que sentia para se apresentar de uma determinada maneira online. À medida que Mariana aprendeu a lidar com suas emoções de forma mais eficaz e a construir uma conexão mais profunda com seu parceiro, seus impulsos diminuíram e ela conseguiu recuperar o controle sobre seu comportamento, reconstruindo a confiança e a intimidade em seu relacionamento.
Caso 6.
Ricardo procurou terapia sentindo-se isolado e confuso por ter um fetiche incomum, que sempre manteve em segredo por medo de rejeição e julgamento. Durante as sessões, ele descreveu a intensidade de sua atração e o medo constante de que ela fosse considerada “estranha” ou “perversa” pela sociedade. A terapia focou-se em ajudá-lo a explorar a origem do fetiche, a desmistificar crenças negativas sobre sexualidade e a desenvolver uma maior autoaceitação. Ricardo aprendeu sobre a diversidade da sexualidade humana e como o que é considerado “incomum” varia amplamente entre culturas e indivíduos. O terapeuta o ajudou a desenvolver habilidades de comunicação assertiva para que pudesse falar abertamente sobre seu fetiche com potenciais parceiros de forma clara e respeitosa, estabelecendo limites e expectativas saudáveis. Ricardo também foi incentivado a procurar comunidades online e presenciais de pessoas com interesses semelhantes, onde pudesse encontrar apoio, validação e oportunidades para explorar sua sexualidade de forma segura e consensual. Com o tempo, Ricardo ganhou mais autoconfiança e começou a se ver não como alguém “defeituoso”, mas como um indivíduo com um interesse sexual específico que, como qualquer outro, merecia ser explorado com consentimento e respeito.
Caso 7.
Pedro buscou terapia preocupado com seus impulsos de voyeurismo, sentindo um crescente medo de que pudessem levá-lo a comportamentos ilegais ou prejudiciais. Nas sessões, Pedro compartilhou que seus impulsos geravam grande ansiedade e culpa, tornando difícil se concentrar em outras áreas de sua vida. O terapeuta trabalhou com Pedro para identificar os gatilhos que intensificavam seus impulsos, explorando fatores como estresse, solidão e baixa autoestima. Técnicas cognitivo-comportamentais foram utilizadas para desafiar os pensamentos distorcidos que justificavam seus impulsos e para desenvolver habilidades de enfrentamento saudáveis, como o controle de impulsos e a reestruturação cognitiva. Pedro aprendeu a reconhecer os sinais precoces de seus impulsos e a implementar estratégias de distração e relaxamento para redirecionar sua atenção. Além disso, a terapia abordou a importância de encontrar formas saudáveis e consensuais de expressar sua sexualidade, incentivando Pedro a explorar seus desejos em um contexto seguro e ético. A terapia também focou no desenvolvimento da autocompaixão e na redução da culpa, ajudando Pedro a aceitar seus impulsos sem agir sobre eles. Ao longo do tempo, Pedro desenvolveu uma maior consciência dos seus padrões de pensamento e comportamento, conseguindo controlar seus impulsos e evitando situações de risco.
Caso 8.
Antônio procurou terapia em um momento de grande desespero: havia perdido o emprego e acumulado dívidas significativas devido ao seu comportamento sexual compulsivo. Sentindo-se no fundo do poço, reconheceu que sua vida estava descontrolada e que precisava de ajuda para reverter a situação. Nas sessões, Antônio descreveu como o comportamento sexual compulsivo, que incluía gastos excessivos em sites de conteúdo adulto e busca por encontros casuais, havia se tornado uma forma de escapar do estresse e da ansiedade. O terapeuta ajudou Antônio a reconhecer os gatilhos emocionais e situacionais que desencadeavam seus impulsos, explorando questões como baixa autoestima, solidão e falta de propósito. O tratamento envolveu técnicas de controle de impulsos, como o adiamento da gratificação e a criação de um plano de emergência para situações de alto risco. Além disso, a terapia focou em ajudar Antônio a desenvolver habilidades de gestão financeira e a estabelecer metas realistas para quitar suas dívidas. Antônio também foi incentivado a construir uma rede de apoio social e a encontrar atividades significativas que pudessem substituir o comportamento compulsivo como forma de lidar com o estresse e a solidão. Ao longo do tempo, Antônio conseguiu reduzir significativamente seus comportamentos compulsivos, renegociar suas dívidas e encontrar um novo emprego, reconstruindo sua vida com base em valores mais saudáveis e um maior senso de autocontrole.
Caso 9.
Carla e Bruno buscaram terapia de casal sentindo-se sobrecarregados pelos desafios de manter um relacionamento não monogâmico. Embora tivessem entrado na não monogamia com a intenção de explorar suas individualidades e fortalecer sua união, encontraram-se lutando para equilibrar suas diferentes parcerias e manter a comunicação aberta e honesta, um pilar essencial para o sucesso de seu acordo. Carla sentia-se frequentemente dividida entre as necessidades de Bruno e de seus outros parceiros, enquanto Bruno experimentava ciúme e insegurança quando Carla dedicava tempo e atenção a outros relacionamentos. A terapia focou em ajudar o casal a desenvolver habilidades de comunicação mais eficazes, aprendendo a expressar seus sentimentos e necessidades de forma clara e respeitosa, sem recorrer à culpa ou à defensiva. Foram exploradas ferramentas para gerenciar o ciúme e a insegurança, como a validação dos sentimentos do outro e o reforço do compromisso com o relacionamento principal. Além disso, a terapia auxiliou o casal a estabelecer limites claros e expectativas realistas para suas diferentes parcerias, definindo tempo dedicado a cada relacionamento e criando rituais para fortalecer a conexão entre eles. Aos poucos, Carla e Bruno aprenderam a navegar pelas complexidades da não monogamia com mais consciência, empatia e segurança, fortalecendo sua comunicação e construindo um relacionamento mais autêntico e satisfatório.
Caso 10.
Isabela, uma adolescente, procurou terapia sentindo-se diferente e confusa em relação à sua assexualidade. Enquanto seus amigos falavam sobre crushes e experiências românticas, Isabela não sentia nenhuma atração sexual e se questionava se havia algo “errado” com ela. Em terapia, Isabela explorou o significado de assexualidade, descobrindo que se tratava de uma orientação sexual legítima e que ela não estava sozinha. O terapeuta a ajudou a desconstruir a ideia de que a sexualidade era essencial para o romance e a intimidade, incentivando-a a explorar outras formas de conexão, como amizade, intelecto e interesses compartilhados. Isabela aprendeu a valorizar a importância das relações platônicas e a encontrar maneiras de se conectar com outras pessoas em um nível emocional e intelectual, sem a pressão de corresponder a expectativas românticas ou sexuais. A terapia também a auxiliou a desenvolver habilidades de comunicação assertiva para que pudesse explicar sua assexualidade para amigos e familiares de forma clara e confiante, definindo seus limites e necessidades. Ao longo do tempo, Isabela ganhou mais autoconfiança e aceitação em relação à sua identidade assexual, encontrando maneiras de se conectar com outras pessoas de forma autêntica e significativa, construindo relacionamentos saudáveis e satisfatórios baseados na amizade e no respeito mútuo.
Análise dos Casos – Processos Operacionais Predominantes dos Scripts Sexuais
Esboço da Análise
A partir do arquivo “Casos” extraímos o texto completo dos dez relatos — cada “Caso” foi isolado por meio de expressões regulares, gerando um vetor de narrativas pronto para análise. Em seguida, limpamos o vocabulário com as stopwords em português do NLTK (Natural Language Processing with Python) e transformamos o conjunto de cada caso em uma matriz TF-IDF (Term Frequency-Inverse Document Frequency), que quantifica a relevância de cada termo em relação ao todo.
Ao submetermos esses vetores ao algoritmo K-Means, definimos três agrupamentos que se mostraram coerentes com diferentes dimensões dos scripts sexuais: interpessoal, cultural e intrapsíquico. Para facilitar a visualização, projetamos os dados em duas dimensões usando t-SNE (t-distributed Stochastic Neighbor Embedding), ajustando automaticamente a perplexidade ao número de amostras. O resultado gráfico revela, no espaço bidimensional, três nuvens de pontos bem delineadas, reforçando a solidez da clusterização.
Em resumo, o processo de clusterização se deu da seguinte forma:
Coleta e extração dos casos
O texto completo de cada um dos 10 casos foi extraído do arquivo e salvo em documento paralelo.
Utilizamos expressões regulares para separar cada “Caso” em um array de strings e capturar seus identificadores.
Processamento do texto (TF–IDF)
Importamos o corpus de stopwords em português do NLTK para remover termos muito frequentes e pouco informativos.
Aplicamos o TfidfVectorizer do scikit-learn, limitando a 1.000 termos mais relevantes, gerando uma matriz termo–documento (X).
Clusterização (K-Means)
Rodamos o KMeans com 3 clusters para agrupar casos semelhantes segundo a distribuição de TF-IDF.
Cada caso recebeu um rótulo numérico (1,2,3).
Redução de dimensionalidade (t-SNE)
Uso do TSNE para projetar os vetores TF-IDF em 2 dimensões, permitindo visualização gráfica das distâncias entre casos.
Ajuste automático do parâmetro perplexity de acordo com o número de amostras.
Rotulação semântica dos clusters
Inspecionamos os 10 termos mais representativos de cada centroide.
Atribuímos rótulos e descrições que capturaram os processos cognitivos identificados:
Cluster 1 – Interpessoal
Cluster 2 – Cultural
Cluster 3 – Intrapsíquico
Resultados
Determinação do Número de Clusters
O número de clusters em K-Means foi fixado em 3 a partir de dois critérios combinados:
a) Fundamentação teórica
A pesquisa parte da hipótese de que há três níveis de processos cognitivos nos scripts sexuais:
• Intrapsíquico
• Interpessoal
• Cultural
b) Validação estatística
Traçamos o gráfico do método do “cotovelo” (elbow) (Figura 01), observando que a soma total dos quadrados intra-cluster (inertia) apresenta uma queda acentuada ao passar de 2 para 3 clusters, mas se estabiliza após 3.
O método do cotovelo é uma técnica simples e bastante intuitiva para ajudar na escolha do número ideal de clusters (k) em algoritmos de particionamento como o K-Means. A ideia central é a seguinte:
– Para cada valor de k, calcula-se a soma das distâncias quadráticas de cada ponto ao centróide do seu cluster (inércia).
– À medida que k aumenta, a inércia sempre diminui (mais centróides → pontos mais próximos).
– Porém, após determinado ponto, o ganho na redução da inércia torna-se muito pequeno: esse “ponto de inflexão” lembra um cotovelo, daí o nome.
Através da curva inércia×k, identificou-se o valor de k logo antes da curva começar a se achatar — ali está o equilíbrio entre ter clusters internamente coerentes e evitar sobre fragmentação dos dados. No nosso caso, temos a Tabela 01 que mostra os valores da inércia.


Análise da Silhueta
Calculamos também o coeficiente de silhueta médio para k variando de 2 a 6 e identificamos valor máximo em k = 3 (Figura 02), confirmando que essa divisão otimiza a separação e coesão dos grupos.
Figura 02. A Análise do Número de Cluster (Método da Silhueta)

Em outras palavras, a escolha por 3 clusters alia a compreensão teórica dos três níveis de análise (intrapsíquico, interpessoal e cultural) com a evidência empírica de que, numericamente, k=3 é o ponto de equilíbrio entre variabilidade explicada e clareza dos agrupamentos.
O método da silhueta quantifica o quão bem cada ponto de dado está encaixado em seu próprio cluster, comparado aos outros clusters. Para cada amostra, calcula-se:
aᵢ = distância média entre o ponto e todos os outros pontos do mesmo cluster (coesão interna)
bᵢ = menor distância média entre o ponto e os pontos de qualquer outro cluster (separação externa)
A pontuação de silhueta para a amostra é então:

variando de –1 (má atribuição) a +1 (boa atribuição).
Valores próximos de +1 indicam que o ponto está bem agrupado.
Valores próximos de 0 indicam fronteira entre clusters.
Valores negativos sinalizam atribuições equivocadas.
Para avaliar globalmente a configuração de clusters, calcula-se a silhueta média (média de todos os si). A tabela abaixo (Tabela 02) mostra essa pontuação média para diferentes valores de k:

Interpretação preliminar dos clusters (Tabela 01):
Cluster 1 (casos 1 e 9):
Envolve predominantemente dinâmicas de monogamia/abertura de relacionamento, com ênfase em insegurança, ciúme e renegociação de limites (processos interpessoais e intrapsíquicos).
Cluster 2 (casos 4, 5, 7 e 8):
Apresenta termos como “impulsos”, “comportamento” e nomes diversos – possivelmente casos de scripts menos centrados em relacionamentos primários, mais ligados a processos culturais ou atuacionais (cenários performativos).
Cluster 3 (casos 2, 3, 6 e 10):
Focado em questões de identidade e limites pessoais (ex.: fetiche, vergonha, sexualidade, limites). Reflete fundamentalmente processos intrapsíquicos (fantasias, autoconceito) e interpessoais (comunicação de limites).

Na Figura 03, os clusters aparecem como barras bidimensionais objetivando clarificar o que foi analisado.
Figura 03. Tipos de Clusters baseados na operacionalização predominante dos Scripts Sexuais

Onde:
Cluster 1 – Interpessoal: Dinâmicas de comunicação, ciúme e renegociação de limites entre parceiros (casos 1 e 9).
Cluster 2 – Cultural: Scripts performativos e normas sociais que guiam papéis e condutas (casos 4, 5, 7, 8).
Cluster 3 – Intrapsíquico: Fantasias, identidade, desejos e limitações internas (casos 2, 3, 6, 10).
Discussão
A Introdução desse artigo estabelece as bases teóricas da Teoria dos Scripts Sexuais de Gagnon e Simon (1973), enfatizando a sexualidade como um fenômeno socialmente construído, organizado por meio de normas, expectativas e significados culturais compartilhados. Essa perspectiva desloca o foco das explicações biológicas para as construções sociais, destacando três níveis operacionais dos scripts: cultural, interpessoal e intrapsíquico.
Os resultados da análise dos casos clínicos, agrupados em clusters por meio de técnicas de processamento de linguagem natural (TF-IDF e K-Means), refletem diretamente esses níveis, validando e ampliando as proposições teóricas iniciais. A seguir, discutem-se os principais achados em diálogo com a Introdução:
1. Confirmação da Multidimensionalidade dos Scripts Sexuais
A Introdução destaca que os scripts operam em três níveis inter-relacionados. Os resultados corroboram essa estrutura:
Cluster 1 (Interpessoal): Casos como o de Sofia e Marcos (Caso 1) e Carla e Bruno (Caso 9) ilustram conflitos em relacionamentos não monogâmicos, onde dinâmicas de comunicação, ciúme e negociação de limites são centrais. Isso alinha-se à dimensão interpessoal dos scripts, que regula interações entre parceiros, como proposto por Simon e Gagnon (1986). A terapia focada em renegociação de papéis e assertividade reflete a natureza performada da sexualidade, em linha com a analogia goffmaniana da dramaturgia social.
Cluster 2 (Cultural): Casos como os de Ana (Caso 4) e Antônio (Caso 8), envolvendo compulsão sexual e comportamentos desviantes, revelam a influência de normas culturais e expectativas sociais (e.g., objetificação feminina, pressão por desempenho). Esses casos exemplificam como scripts culturais hegemônicos (como a hipervalorização do prazer) podem gerar angústia e comportamentos patológicos, ecoando também a crítica feminista à heteronormatividade apresentada na Introdução.
Cluster 3 (Intrapsíquico): Casos como o de Carlos (Caso 3) e Isabela (Caso 10), que envolvem fetiches e assexualidade, destacam processos intrapsíquicos — fantasias, autoaceitação e conflitos identitários. A internalização de scripts tradicionais (e.g., vergonha associada ao crossdressing) e sua desconstrução terapêutica reforçam a ideia de que os significados sexuais são aprendidos e reinterpretados subjetivamente (Stoller, 1975), conforme abordado na Introdução.
2. Sexualidade como Performance Social
A Introdução ressalta a sexualidade como uma performance socialmente mediada, onde indivíduos seguem roteiros internalizados. Os casos do Cluster 1 (e.g., Luís e Ricardo no BDSM — Caso 2) demonstram como papéis de gênero e dinâmicas de poder são negociados em contextos específicos, muitas vezes sob tensão entre expectativas culturais e desejos individuais. A terapia ajudou os participantes a “reescrever” seus scripts, ajustando performances para maior satisfação mútua — um processo que reflete a flexibilidade dos scripts, mas também a sua sujeição às sanções quando desviam das normas (Goffman, 1959).
O artigo oferece uma análise profunda e multifacetada da Teoria dos Scripts Sexuais, proposta por Gagnon e Simon (1973), e suas aplicações em contextos que vão desde relações consensuais até a violência sexual. A abordagem teórica adotada pelo artigo destaca a sexualidade como um fenômeno socialmente construído, moldado por normas culturais, interações interpessoais e processos intrapsíquicos. Essa perspectiva desafia visões essencialistas que reduzem o comportamento sexual a impulsos biológicos, enfatizando, em vez disso, a aprendizagem social e a performatividade da sexualidade.
Um dos pontos fortes do artigo é a distinção clara entre comportamento sexual e conduta sexual. Enquanto o primeiro refere-se aos atos físicos em si, o segundo engloba os significados sociais e culturais atribuídos a esses atos. Essa diferenciação é crucial para entender como um mesmo comportamento pode ser interpretado de maneiras radicalmente diferentes dependendo do contexto. Por exemplo, o artigo ilustra como a masturbação pode ser vista como um ato saudável em um contexto e como um pecado em outro, demonstrando a fluidez e a diversidade das experiências sexuais humanas.
A influência de teorias como o interacionismo simbólico, a dramaturgia social de Goffman e os estudos de gênero e sexualidade de Foucault e Butler é crucial, mostrando como os scripts sexuais são internalizados e performados em diferentes cenários sociais. A analogia com o teatro, onde os indivíduos assumem papéis e seguem roteiros culturalmente estabelecidos, é particularmente útil para entender como as normas de gênero e as expectativas sociais moldam as interações sexuais. No entanto, o artigo também reconhece as críticas a essa abordagem, como a possível negligência de estruturas materiais (classe, raça) que limitam a agência individual.
A análise dos scripts sexuais tradicionais revela como normas heteronormativas e falocêntricas perpetuam desigualdades de gênero, privilegiando o prazer masculino e marginalizando o feminino. A discrepância orgástica entre homens e mulheres em relações heterossexuais é um exemplo claro dessas dinâmicas desiguais. O artigo argumenta que, embora os scripts igualitários busquem corrigir essas assimetrias, eles ainda podem reproduzir estruturas tradicionais, como a centralidade da penetração e a passividade feminina. Essa crítica é pertinente, pois sugere que a verdadeira equidade sexual requer não apenas ajustes nos roteiros, mas uma transformação mais profunda das normas de gênero e de poder.
Os scripts alternativos e desviantes são abordados com sensibilidade, destacando a importância do consentimento e da segurança. O artigo diferencia práticas consensuais, como o BDSM e a não-monogamia, de comportamentos que causam sofrimento ou dano, como os transtornos parafílicos. Essa distinção é essencial para evitar a patologização de práticas não normativas e para promover uma visão mais inclusiva da diversidade sexual.
A aplicação da teoria dos scripts à violência sexual é um dos aspectos mais impactantes do artigo. A análise dos scripts criminais, baseada em Cornish (1994), mostra como agressores planejam e executam crimes sexuais seguindo sequências internalizadas. A compreensão desses padrões pode informar estratégias de prevenção, como a interrupção de oportunidades criminais e a promoção de educação sobre consentimento. No entanto, o artigo reconhece que a abordagem dos scripts não deve negligenciar as motivações emocionais e os traumas que podem estar subjacentes à violência sexual.
Os casos clínicos apresentados ilustram a complexidade dos scripts sexuais em contextos terapêuticos. A clusterização dos casos em níveis interpessoais, culturais e intrapsíquicos reforça a multidimensionalidade da sexualidade e a necessidade de intervenções personalizadas. Por exemplo, casos envolvendo ciúme em relacionamentos não monogâmicos (Cluster 1) exigem abordagens focadas na comunicação, enquanto questões de identidade e fetiches (Cluster 3) requerem trabalho com autoaceitação e desconstrução de estigmas.
Resumindo, o artigo oferece uma contribuição valiosa para o estudo da sexualidade, integrando teoria, crítica social e aplicações práticas. Sua principal força reside na capacidade de articular conceitos complexos de forma clara e contextualizada, destacando a natureza dinâmica e construída dos scripts sexuais. Para futuras pesquisas, seria interessante explorar como fatores como raça, classe e globalização influenciam a evolução desses scripts, bem como investigar o papel das novas tecnologias (como aplicativos de encontros e realidade virtual) na reconfiguração das interações sexuais. Além disso, uma discussão mais aprofundada sobre a interseção entre scripts sexuais e saúde mental poderia enriquecer ainda mais o campo.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.

