Prévia CBP XLI: O Papel do “Mal” na Atribuição da Responsabilidade pelo Comportamento Infracional

Mesa Redonda

Esta apresentação discute a complexa relação entre a crença no “Mal” e a atribuição de responsabilidade por comportamentos infracionais, especificamente em agressores sexuais. O estudo, conduzido pelo Prof. Dr. Danilo Antonio Baltieri, utiliza uma abordagem mista (quantitativa e qualitativa) para analisar dados de 78 homens, afiliados religiosamente, com história de crimes sexuais.

A apresentação inicia questionando o conceito de “Mal” como explicação moral para crimes, destacando sua natureza ilusória e os impactos negativos nas ciências forenses. É enfatizada a importância da empatia e compreensão das crenças individuais em um contexto terapêutico. Um dado interessante é a constatação de que mais do que 60% dos Americanos e Brasileiros acreditam em demônios ou entidades correlatas.

A pesquisa alerta para os riscos de amalgamar a linguagem religiosa ou moralista com a linguagem científica ao discutir crimes violentos. Um estudo de caso ilustra a interação entre crenças religiosas e pedofílicas na autopercepção de um paciente.

A metodologia envolveu a coleta de dados através de questionários (TCI, BIS, AUDIT, DAST, VRAG) e perguntas abertas sobre crença no Mal e sua influência nos atos cometidos. Os participantes foram divididos em molestadores de crianças e estupradores de adultos. A análise estatística incluiu estatística descritiva, Path Analysis (método Two Stage – Path Analysis) e análise de Kaplan-Meier. Uma análise qualitativa, usando a técnica de Análise de Discurso, categorizou os participantes de acordo com sua atribuição de responsabilidade pelo ato (Portadores da Revelação, Possuídos e Ambivalentes).

Os resultados revelaram diferenças sociodemográficas significativas entre molestadores de crianças e estupradores de adultos, especialmente quanto ao relacionamento com as vítimas e o gênero das mesmas. Uma porcentagem maior de molestadores de crianças relatou acreditar na influência do Mal em seus crimes.

A análise dos traços de personalidade (TCI) indicou poucas diferenças significativas entre os grupos, exceto pela persistência, em que os estupradores de adultos obtiveram pontuação mais alta. Estudos anteriores são citados para reforçar a ligação entre baixa persistência e percepções de controle externo sobre atos pessoais, e a associação positiva entre atribuição de culpa a agentes externos com psicoticismo e hostilidade.

Em termos de uso de álcool e drogas, os estupradores de adultos apresentaram maior consumo e impulsividade. A análise da adesão ao tratamento não demonstrou relação com a crença na influência do Mal.

A análise qualitativa identificou três tipos de atribuição de responsabilidade: o Portador da Revelação, o Possuído e o Ambivalente, cada um com suas características narrativas. O processo de “dar desculpas” é discutido como uma estratégia para comunicar a responsabilidade de uma causa incontrolável pela transgressão, buscando reduzir a raiva e retaliação.

Em resumo, a pesquisa demonstra que a crença no “Mal” apresenta complexidades e deve ser analisada em conjunto com outros fatores sociodemográficos, de personalidade, e de contexto para uma compreensão mais completa do comportamento infracional. A pesquisa abre espaço para futuras investigações sobre a interação entre crenças, personalidade e o processo de atribuição de responsabilidade, principalmente no que concerne à adesão ao tratamento e a eficácia de diferentes intervenções terapêuticas.

 

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