As atribuições de comportamentos sociais indesejáveis a causas controláveis desencadeiam usualmente emoções e comportamentos negativos em terceiros. Para amenizar as consequências internas e externas do impacto negativo, indicar que a causa da transgressão social foi externa (e, portanto, incontrolável) ou interna, mas incontrolável para quem violou uma norma social tende a ser uma resposta esperada. Entre os transgressores, as atribuições “incontroláveis” deveriam também reduzir as reações sociais negativas das vítimas e da sociedade (por exemplo, raiva e retaliação), na medida em que as desculpas conseguem fazer com que o transgressor acredite que a causa do “erro” era de fato incontrolável. Às vezes, a desculpa comunica o motivo “real” da transgressão, e às vezes a desculpa é uma mentira e envolve a comunicação de que uma causa que na verdade não estava presente foi responsável por uma transgressão. A desculpa pode ser concebida como uma estratégia ou tática para reduzir a raiva ou punição por parte daqueles que foram afetados. Ao quebrar normas ou regras sociais, o processo de atribuição envolve muitas vezes a necessidade de comunicar que uma causa incontrolável foi responsável pela transgressão quando, na verdade, uma causa controlável direcionou o comportamento transgressor.
A importância da teoria da atribuição no manejo dos agressores sexuais consiste em desenvolver mais técnicas para o adequado manejo dessa população tão heterogênea mas que, infelizmente, apesar dessa heterogeneidade, apresenta algumas características em comum, tais como distorções cognitivas, atribuições da própria responsabilidade a terceiros ou mesmo a fatores internos não controláveis. A teoria da atribuição pode contribuir de uma forma significativa, uma vez apreendidos os seus princípios e aprendidas as suas técnicas, no melhor manejo dessa tão complexa e perigosa população.
Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.