As atribuições de comportamentos sociais indesejáveis a causas controláveis desencadeiam usualmente emoções e comportamentos negativos em terceiros. Para amenizar as consequências internas e externas do impacto negativo, indicar que a causa da transgressão social foi externa (e, portanto, incontrolável) ou interna, mas incontrolável para quem violou uma norma social tende a ser uma resposta esperada. Entre os transgressores, as atribuições “incontroláveis” deveriam também reduzir as reações sociais negativas das vítimas e da sociedade (por exemplo, raiva e retaliação), na medida em que as desculpas conseguem fazer com que o transgressor acredite que a causa do “erro” era de fato incontrolável. Às vezes, a desculpa comunica o motivo “real” da transgressão, e às vezes a desculpa é uma mentira e envolve a comunicação de que uma causa que na verdade não estava presente foi responsável por uma transgressão. A desculpa pode ser concebida como uma estratégia ou tática para reduzir a raiva ou punição por parte daqueles que foram afetados. Ao quebrar normas ou regras sociais, o processo de atribuição envolve muitas vezes a necessidade de comunicar que uma causa incontrolável foi responsável pela transgressão quando, na verdade, uma causa controlável direcionou o comportamento transgressor.
A importância da teoria da atribuição no manejo dos agressores sexuais consiste em desenvolver mais técnicas para o adequado manejo dessa população tão heterogênea mas que, infelizmente, apesar dessa heterogeneidade, apresenta algumas características em comum, tais como distorções cognitivas, atribuições da própria responsabilidade a terceiros ou mesmo a fatores internos não controláveis. A teoria da atribuição pode contribuir de uma forma significativa, uma vez apreendidos os seus princípios e aprendidas as suas técnicas, no melhor manejo dessa tão complexa e perigosa população.

Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.