A TEORIA DA ATRIBUIÇÃO COMO INSTRUMENTAL NO TRATAMENTO PSICOTERÁPICO DE AGRESSORES SEXUAIS

Danilo Baltieri - XXXVII Congresso Brasileiro de Psiquiatria

As teorias de modelos atribucionais têm sido mencionadas quando se trata de mudanças comportamentais. Estudos têm identificado, com frequência, indivíduos com comportamentos e/ou hábitos de atribuição que são considerados “indesejáveis” (por exemplo, crenças apócrifas como “mulheres que saem para beber à noite estão à procura de sexo”), mas que, após serem devidamente treinados adequadamente, transformaram essas atribuições “indesejáveis” em “desejáveis” (por exemplo, “mulheres e homens podem sair à noite para beber e divertir-se”). No entanto, as aplicações dos princípios da Teoria da Atribuição às mudanças de comportamento, muitas vezes, apenas se referem às questões que tratam dos antecedentes destas tarefas (ou seja, como as tarefas são formatadas: informações internas, crenças míticas e aspectos motivacionais).

A integração dos princípios da atribuição com teorias e pesquisas a respeito dos antecedentes das atribuições (informações internalizadas, crenças míticas e motivação) torna possível uma aplicação mais ampla da teoria da atribuição às questões de mudança de comportamento em treinamento e terapia.

A ideia central que fundamenta esta aplicação mais ampla é o pressuposto básico da teoria da atribuição, que sugere que

(1) os indivíduos se esforçam por uma compreensão causal dos eventos e que

(2) tal compreensão leva às reações (dis)funcionais.

Dessa premissa, segue-se que atribuições realistas devem conduzir às reações emocionais e comportamentais adequadas, enquanto que as irrealistas devem conduzir a comportamentos e emoções inadequados. Tomemos o exemplo de um adulto com Pedofilia (que sente atração sexual por crianças) e atribui essa atração desviada ao “modo como elas olham para o seu corpo”. Este adulto pode criar a falsa ideia de que a “criança tem desejos sexuais por ele” (uma distorção cognitiva). Ele também pode culpar a baixa capacidade de conquistar mulheres adultas por se sentir incapaz de chamar-lhes a atenção.

Suponhamos que este adulto aponte a sua incapacidade para atrair mulheres adultas e também aponte a “atração que ele exerce sobre crianças” como causas para o engajamento em atos ilícitos e perniciosos contra menores de idade. A atribuição irrealista (autoatribuições) resulta em um comportamento bastante inadequado ou bizarro para ele e para outras pessoas.

Essas abordagens atribucionais sugerem que as pessoas usam dados covariantes (ou seja, consenso, distinção e consistência) para atingir objetivos irrealistas. Ele pode comparar a atribuição com outras informações disponíveis para decidir se é verdade ou não.

Suponha-se que o adulto com Pedofilia tenha, desde cedo, demonstrado atração sexual por crianças e, ao longo dos anos, formado crenças distorcidas a respeito da sexualidade infantil. Quando este adulto se depara com outras pessoas que apoiam este tipo de crença, como sites pornográficos infantis ou sites maliciosos que promovem a erotização infantil, encontra tipos de “consenso” e “consistência” para suas crenças lesivas. Dessa forma, conclui-se que a terapia deve focar na substituição de atribuições irrealistas (que causam reações emocionais e comportamentais inadequadas) por outras mais realistas.

O método terapêutico mais adequado para obter isso seria coletar informações (informações de covariação) para avaliar a atribuição desadaptativa. Por exemplo, quando o adulto que internalizou suas percepções distorcidas a respeito da sexualidade infantil e que foi respaldado pelos promotores da erotização infantil percebe que suas crenças são erradas (baixa consistência), que outros adultos com Pedofilia sob tratamento se opõem às suas crenças e percepções (baixo consenso), ele, então, pode rever sua atribuição interna e adotar uma externa, assim comportando-se de forma mais adequada.

Dessa forma, a teoria da atribuição sugere que a terapia deve ser baseada na aplicação do “método científico” (princípio da covariação) às crenças que causam problemas (por exemplo, atribuições internas, estáveis e globais para eventos negativos). Esta ideia sugere que todas as teorias e descobertas podem ser aplicadas para a elaboração de técnicas terapêuticas, como, por exemplo, o conhecimento sobre os padrões de informação de covariação que levam às diversas atribuições, a influência da tomada de perspectiva, as descobertas sobre a sequência temporal de causas e eventos, e assim por diante.

Existem semelhanças de longo prazo entre o sistema terapêutico deduzido da teoria da atribuição, por um lado, e as psicoterapias cognitivas, por outro. Para corroborar a evidência de que as análises atributivas de fenômenos clínicos apresentam fortes semelhanças com as das terapias cognitivas, é importante lembrar que transtornos como ansiedade e depressão não se traduzem diretamente como consequência de estímulos externos, mas sim como consequência da forma como esses estímulos são interpretados e avaliados. Por exemplo, o conceito de esquema cognitivo ajuda a explicar o fato de que os depressivos têm uma visão irrealista de si mesmos, da situação e do futuro, apesar de ter informações positivas contraditórias.

Sob a perspetiva do esquema cognitivo, o homem com Pedofilia apresenta representações cognitivas relativamente estáveis, às vezes originárias de experiências anteriores (por exemplo, a crença de que um menor de idade “aprende quando tem relações sexuais com adultos e deseja sexo”), o que faz com que suas percepções e cognições sejam processadas de forma incorreta e desfavorável. Essas estruturas mentais inflexíveis levam a erros sistemáticos de pensamento ou processamento equivocado de informações, o que resulta na manutenção do comportamento desviado/criminoso.

A terapia cognitiva com uma abordagem atribucional aqui sugerida tem como foco principal a veracidade de uma cognição: supõe-se que crenças irrealistas, anti-empíricas ou irracionais desencadeiam reações emocionais e comportamentais desadaptativas.

As teorias que fundamentam as terapias cognitivas, bem como a teoria da atribuição, dizem respeito aos mesmos mecanismos que determinam a origem e a alteração das crenças: ambas as abordagens estão relacionadas ao método científico. A teoria da atribuição supõe que as pessoas chegam a explicações causais ao processar informações de covariação. Além disso, essa abordagem sugere que mudanças atribucionais podem ser conduzidas através da coleta de novas informações de covariação. A terapia cognitiva, especificamente, enfatiza que o método científico deve ser aplicado às hipóteses (falsas) dos nossos clientes.

A Teoria da Atribuição exerce papel fundamental no processo psicoterapêutico daqueles com comportamento sexualmente desviado.

 

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