Predadores Sexuais

A seleção das presas/vítimas por um predador pode ser tão complexa e inexplicável quanto é a atração sexual entre adultos que consentem, mas com uma distinção importante: para a maioria dos predadores, a vulnerabilidade é, por si só, estimulante.

As vítimas são conduzidas para o abatedouro através de uma forma de sedução, que não visa à paixão, mas ao abuso da confiança inocente súbita ou mesmo conquistada da presa pelo predador”

(Anna C. Salter, 2003)

Etimologicamente, o termo “predador” tem a sua origem do latim “praedari” (Weekley, 1952), que tem o sentido de “roubar” ou “pilar”. Essa raiz está relacionada ao ato de capturar ou explorar algo, indicando uma natureza agressiva e de busca por sustento ou saciedade.

No contexto biológico, “predador” refere-se a um organismo que se alimenta de outro, denominado presa. Essa relação enfatiza o mecanismo da predação, onde o predador exerce controle sobre a população das presas, influenciando assim os ecossistemas.

As conotações da palavra evoluíram ao longo do tempo. Embora o uso original estivesse muito ligado a atos de roubo ou pilhagem, atualmente, é mais comum que se refira a comportamentos encontrados em várias espécies animais. Além do uso biológico, “predador” também é empregado em contextos sociais e culturais, referindo-se a indivíduos ou entidades que exploram ou se aproveitam dos outros, ampliando seu significado para além da área da Biologia.

Portanto, a palavra “predador” nasce tanto de uma história linguística opulenta quanto de múltiplas aplicações em diferentes domínios, refletindo uma interação complexa entre etimologia, comportamento animal, ecossistema e relações humanas.

Pelo menos no reino animal, o predador deve demonstrar algumas características para ser merecedor desse “título”, tais como:

    1. A espécie predadora é totalmente dependente de uma espécie de presa como seu principal (senão único) suprimento de saciedade

    2. A presa deve exercer uma “atração” significativa para a espécie predatória

    3. O predador específico impõe medo ou pavor às suas presas, tendo em vista que a caçada é recorrente. Esse pavor excita os predadores.

    4. Os verdadeiros predadores dificilmente são detectados.

    5. Os predadores empregam camuflagem para evitar a detecção pelas presas, dificultando os esforços de detecção.

    6. Usualmente, os predadores têm atividade noturna; contudo, em ambientes específicos podem atuar diurnamente.

    7. Os predadores sentem-se perturbados com possíveis observadores. Obviamente, a presença de observadores pode embaraçar o comportamento de caça dos predadores, o que os torna sempre vigilantes (Bertram, 1979)

    8. Alta perigosidade. Os predadores representam riscos tanto para segurança das presas quanto para outras pessoas ao redor.

Comportamentos Sexualmente Predatórios

Predadores sexuais são indivíduos que, intencionalmente E de forma repetitiva, buscam satisfazer impulsos sexuais através da coerção, manipulação ou violência. Eles usualmente apresentam comportamento impulsivo e envolvem-se em crimes graves como estupro em série, homicídios sexuais e abusos infantis, visando indivíduos vulneráveis e, muitas vezes, utilizando estratégias específicas para capturar suas vítimas.

Tipologia Preferencial de Predadores Sexuais

Os predadores sexuais podem ser categorizados em diferentes classes, com base nos tipos de vítimas selecionadas (presas) e/ou nas motivações (Stevens, 2001). Alguns dos principais tipos, considerando as vítimas focadas, incluem:

1. Estupradores Predadores: Esse tipo de criminoso ataca repetidamente desconhecidas e utiliza a violência física e/ou psicológica para subjugar as suas vítimas. A motivação principal geralmente envolve controle, domínio e satisfação da lascívia agressiva, sem qualquer consideração pelo bem-estar da vítima.

2. Pedófilos Predadores: Esses predadores têm preferência por vítimas crianças e/ou pré-púberes e utilizam táticas de manipulação e coerção (modus operandi manipulativo, coercivo ou misto), além de serem altamente organizados. Pedófilos predadores, em muitos casos, desenvolvem métodos para escapar da detecção e dificilmente são pegos devido à sua habilidade de esconder as suas ações.

3. Ofensores Situacionais: Esses agressores agem em resposta a situações específicas, como abuso de substâncias psicoativas ou uma visão distorcida que justifica as suas ações. Eles são menos organizados e podem não planejar antecipadamente as suas ações, ao contrário dos predadores pedófilos em série.

Tipologia Motivacional de Predadores Sexuais

Stevens (2001) destaca que as motivações dos predadores sexuais geralmente se dividem em quatro áreas principais:

    • Hedonismo: A busca por prazer sexual é uma motivação comum entre os predadores, e muitos usam a violência como um meio para atingir uma fantasia sexual extrema (fantasia usualmente parafílica).

    • Controle e Supremacia: Alguns criminosos são motivados pelo desejo de exercer poder absoluto sobre a vítima, levando às situações em que a violência é o meio para afirmar a sua autoridade e a sua masculinidade tóxica.

    • Sadismo: Em alguns casos, o estupro é uma manifestação de fantasias sádicas, onde o predador busca infligir dor física e emocional como uma forma de gratificação sexual-erótica.

    • Vingança: A raiva é descrita como um dos veículos que inflama infratores sexuais para cumprir seus atos ofensivos. A conduta sexualmente desviante corresponderia a um modo de racionalizar o comportamento. No geral, a maioria dos indivíduos que descrevem eventos vingativos desse tipo não demonstram quaisquer sinais de perda do contato com a realidade. As vítimas per si não têm importância; o foco é atingir visceralmente aqueles familiares dessas vítimas ou mesmo pessoas relacionadas com elas que, de alguma forma, são considerados inimigos do predador vingativo. Uma interpretação desse pensamento é que a raiva e/ou esse temperamento descontrolado, por assim dizer, é voluntário e premeditado formalmente; aquilo é ligado e desligado pelo indivíduo que deseja utilizá-lo como um dispositivo para cometer atos violentos e evitar responsabilidades. Atos de vingança surgem de um sentimento elementar de injustiça, “um sentimento primitivo de que alguém foi arbitrariamente submetido a um poder tirânico contra o qual se é impotente para agir.” Esses infratores por vingança acabam por apresentar muitos argumentos convincentes sobre as suas atividades criminosas expressas em raiva…

Técnicas para Identificação dos Predadores

    1. Investigação das cenas: Averiguação de similitudes comportamentais (presença de armas, instrumentos usados, parafernálias sexuais, piquerismo), análises de secreções e excreções deixadas na cena, técnicas de recaptura de marcas. O método mais preciso é o reconhecimento individual, embora demorado.

    2. Especificidade das vítimas/presas: Abrange investigar o tipo de vítimas (idade, sexo, aspecto físico, similitudes de comportamentos) e os fatores que parecem influenciar o comportamento do predador (por exemplo, disponibilidade de presas, rotas vulneráveis, momentos de isolamento da vítima).

    3. Hábitos: Estudar os hábitos requer examinar as vítimas e tentar compreender o comportamento de caça.

    4. Movimentos e preferência de locais para a caçada: O rastreamento dos movimentos dos predadores (por exemplo, plotagem de locais, acompanhamento contínuo, rastreamento) revela insights sobre seu uso de alcance, preferências de habitat e interações com as presas.

    5. Organização Social: Observar a ordenação social estruturada pelos predadores é crucial para a compreensão da dinâmica comportamental, das estratégias de caça e dos comportamentos territoriais.

Frequência e Impacto

A frequência dos ataques varia conforme o tipo de predador e seu perfil psicológico. Stevens revela que predadores em série frequentemente atacam várias vítimas antes de serem capturados, sendo que muitos ataques sequer são denunciados, o que dificulta a estimativa exata de quantas pessoas são afetadas. Infelizmente, estatísticas mostram que mais do que 60% das vítimas de estupro não denunciam o crime, com motivos variando desde o medo de represálias até o sentimento de vergonha.

Esforços da Ciência Médica, Jurídica e Política: Ações Que Não Podem Quedar Braços

Os predadores sexuais representam um perigo significativo, com comportamentos que desafiam o sistema de justiça e os esforços de reabilitação. Stevens (2001) sugere que métodos como o tratamento médico e psicossocial e Leis mais especificamente dirigidas para essa população poderiam ajudar a conter esses crimes e proteger potenciais vítimas.

O Dialogismo Presente no Texto sobre Predadores Sexuais

Este texto pretendeu fazer uma fotografia dos predadores sexuais, abalizada em pontos de vista biológicos, linguísticos e sociológicos. Um estudo dialético baseado em Bakhtin focaria na interação entre vozes e pontos de vista no texto, ressaltando as contradições e tensões intrínsecas à definição e entendimento deste fenômeno.

Tendo como base a heteroglossia e a polifonia, considero que esse texto inclui várias vozes:

    1. Voz Científica/Biológica: Esta voz caracteriza o termo “predador” sob uma perspectiva ecológica, destacando a interação predador-presa, as táticas de sobrevivência e o efeito no ambiente. Os atributos mencionados (dependência da presa, atração pela presa, incutir medo, camuflagem etc.) apresentam uma descrição objetiva.

    2. Voz Jurídica/Sociológica: Esta voz foca nos predadores humanos, classificando-os de acordo com o tipo de vítima (por exemplo, estupradores, pedófilos) e a motivação (hedonismo, controle, sadismo, vingança). Esta visão destaca as repercussões sociais da predação sexual humana, suas implicações jurídicas e os obstáculos na identificação e na reabilitação. A linguagem de fato evolui de uma descrição científica imparcial para uma avaliação moral mais subjetiva.

    3. Voz da Psicologia: A categorização dos infratores envolve a identificação de várias motivações e perfis psicológicos. O texto evoca as singularidades individuais, enfatizando a intrincada interação de elementos que resultam em um comportamento predatório. Esta é uma voz que procura compreender além da mera categorização.

    4. A Voz das Vítimas: Mesmo não aparecendo explicitamente como uma voz distinta, o padecimento e a fragilidade das vítimas estão subentendidos ao longo do texto. A falta de controle sobre a situação e a alta vulnerabilidade das vítimas, aliás bem frisadas desde o início até o final desse texto, gera uma disparidade de poder, espelhando a essência do comportamento predatório.

Contradições e Dialogismo

É crucial a tensão entre as definições biológicas e sociais de “predador”. A definição biológica se concentra em comportamentos concretos e na sobrevivência, ao passo que a definição social enfatiza o julgamento moral, condenando ações de exploração e abuso. Isso gera um conflito dialógico: um predador sexual é simplesmente um indivíduo que exibe uma versão extrema de um comportamento que ocorre na vida selvagem (ou não tão selvagem), ou é algo radicalmente distinto e moralmente condenável?

O texto classifica os predadores através de diálogos internos adicionais:
A diferenciação entre infratores “situacionais” e “predatórios” evidencia um conflito na determinação da modus operandi. Alguns atos de violência são motivados por impulso e circunstâncias, enquanto outros são resultado de doenças premeditadas e profundamente arraigadas.

Não há exclusividade mútua entre as diversas tipologias motivacionais (hedonismo, controle, sadismo, vingança). Um predador único pode apresentar componentes de várias motivações, evidenciando a complexidade e a agilidade do comportamento humano.

A última parte do texto reconhece a constante peleja para compreender e combater a predação sexual. A solicitação de tratamento e reforma jurídica indica um diálogo incompleto ou mesmo jamais iniciado entre as diversas Ciências, advertindo que uma visão unificada e agregada sobre esta questão ainda não se estabeleceu, o que, de fato, é uma pena desastrosa…

Referências

Bertram, B. C. R. (1979). Studying Predators. Kenya: African Wildlife Foundation.

Stevens, D. J. (2001). Inside the Mind of Sexual Offenders: Predatory Rapists, Pedophiles, and Criminal Profiles. New York: Authors Choice Press.

Weekley, E. (1952). A Concise Etymological Dictionary of Modern English. London: Secker & Warburg.

 

Atendimento – Consultório

Telefone: 0 XX 11 3120-6896
E-mail: [email protected]

Endereço: Avenida Angélica, 2100. Conjunto 13
Condomínio Edifício da Sabedoria
CEP: 01228-200, Consolação – São Paulo

Deixe uma resposta