Nota-se na área médica uma procura crescente de pacientes por tratamentos em decorrência de comportamentos relacionados à internet e telefone celular
O uso nocivo da Internet tem se tornado um problema de saúde pública em vários países ao redor do mundo, incluindo China (16,4%), Coreia do Sul (20%) e outras partes da Ásia, como Vietnã (21,2%) e Filipinas (21%), e sua prevalência está evoluindo na América e nos países da Europa Ocidental. Durante a Pandemia da Doença do Coronavírus, as taxas seguramente aumentaram em até 15% em alguns países citados. Notadamente, as taxas referidas não devem ser tomadas como a proporção exata do problema, tendo em vista a heterogeneidade na coleta das informações bem como os critérios usados para a definição do problema.
É difícil determinar se o aumento na prevalência do uso nocivo da Internet levou a um aumento na procura por tratamento especializado. Isso se deve à várias razões, especialmente ao fato da ausência de critérios diagnósticos claros e consensuais a respeito do tema. Atualmente, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) reconhece apenas um Transtorno Mental relacionado com a Internet, o chamado Transtorno do Jogo pela Internet.
O uso excessivo da Internet que não envolve os jogos on-line (p. ex., uso excessivo das mídias sociais; assistir à pornografia on-line) não é considerado igual ao transtorno do jogo pela Internet, e pesquisas futuras sobre os demais usos excessivos da Internet precisam ser suficientemente rigorosas para angariar o patamar de um diagnóstico médico.
De qualquer forma, na prática clínica diuturna, a busca por tratamento pelo consumo excessivo de pornografia e/ou jogos on-line tem aumentado exponencialmente, denotando que o tempo gasto na Internet parece ter uma valoração pessoal diferente do que aquilo que se está fazendo na Internet.
Em geral, o aqui então chamado Transtorno de Dependência de Internet tem sido subdividido em várias categorias, incluindo problemas como jogos, redes sociais, e-mail, blogs, compras on-line, uso inadequado de pornografia na Internet, busca de parceiros sexuais, dentre outros.
Alguns pesquisadores sugerem que não apenas a quantidade de tempo gasto na Internet pode ser particularmente problemática – mas também a forma como a Internet está sendo usada. Ou seja, o risco do uso da Internet pode ser tão importante quanto a quantidade de tempo gasto com ela.
Estudos vinculam o Transtorno de Dependência da Internet às alterações da estrutura cerebral, incluindo, com especial atenção, a quantidade de substância cinzenta e branca em região cerebral pré-frontal. Essa área do cérebro está associada à lembrança de detalhes, atenção, planejamento e priorização de tarefas. Sugere-se que uma das causas do Transtorno de Dependência da Internet seja mudanças estruturais na região pré-frontal do cérebro, prejudicando a capacidade de priorizar tarefas. Também, os comportamentos na Internet podem ser tão poderosamente recompensadores ao ponto de desencadear liberação de neuro-substâncias que promovem a experiência prazerosa. Com o tempo, mais e mais atividades são necessárias para induzir a mesma resposta prazerosa, criando-se uma dependência.
Aqueles que apresentam um quadro de Transtorno de Dependência da Internet comumente demonstram alguns sintomas psíquicos, como:
- Isolamento;
- Depressão;
- Culpa;
- Procrastinação de outras atividades;
- Sensação de prazer quando estão navegando;
- Negligência com amigos e familiares;
- Ansiedade quando desconectados;
- Prejuízo na capacidade de autorregulação.
Sintomas físicos também podem ser observados:
- Dor nas costas;
- Olhos secos;
- Insônia;
- Perda ou ganho de peso;
- Deterioração nos autocuidados.
Considera-se que a nomofobia é uma nova alteração psicopatológica, dentro do que é classificado como “transtornos modernos”?
Resposta
O termo Nomofobia, do Inglês NO MObile PHone PhoBIA (medo da falta do telefone celular), tem recentemente sido aventado para descrever uma condição psicológica em que pessoas demonstram importante ansiedade e inquietação, quando estão distantes dos seus celulares ou mesmo desconectadas da Internet. Este termo tem sido sugerido basicamente por comparar os sintomas apresentados por estas pessoas com alguns dos sintomas demonstrados por aqueles que padecem das chamadas “Fobias Específicas”, tais como:
- Medo ou ansiedade acentuados acerca da falta do celular ou de conectividade com a Internet;
- A possibilidade da falta do celular e/ou da conectividade com a Internet quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de ansiedade;
- A inquietação ou ansiedade é desproporcional em relação a um risco real imposto pela falta do celular ou de conectividade;
- A ansiedade, medo, inquietação são persistentes, ocorrendo usualmente em situações ou locais com difícil acesso à Internet;
- Essa inquietação, ansiedade ou medo causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Apesar da real existência de pessoas com tais características, a Nomofobia não é uma entidade diagnóstica distinta e os sintomas apresentados podem estar associados com outras características do indivíduo, tais como personalidade, ansiedade e isolamento social.
De fato, vários fatores psicológicos estão envolvidos quando uma pessoa usa o celular em excesso; por exemplo, baixa autoestima, solidão, tendência a buscar estímulos etc. Outrossim, alguns Transtornos Mentais como Ansiedade Social e Transtorno de Pânico podem precipitar sintomas nomofóbicos.
É muito difícil diferenciar se o paciente se torna nomofóbico devido ao “vício” em celular ou se os transtornos de ansiedade existentes se manifestam como sintomas nomofóbicos.
Alguns autores não concordam com o termo “fobia” atribuído a esta condição de ansiedade e inquietação presente em pessoas que acabam por ficar distantes dos seus celulares ou mesmo sem conexão. Estes autores comparam os sintomas desta condição com os de uma Síndrome de Dependência ou Addiction. Na verdade, em alguns casos, os nomofóbicos acabam, inclusive, apresentando sintomas de uma síndrome de abstinência quando estão distantes dos seus celulares ou mesmo desconectados, tais como: alterações respiratórias, tremores, transpiração, agitação, desorientação e taquicardia.
A verdade é óbvia ululante: todos deveríamos ficar mais no mundo real do que no mundo virtual. Temos que restabelecer as interações humano-humano, conexões face a face.
A nomofobia tem relação direta com transtornos de ansiedade, pânico, dependência de jogos e até mesmo a afetações no comportamento sexual?
Resposta
É muito provável que a correlação entre o medo de ficar sem a conectividade com a Internet e os comportamentos compulsivos seja alta e significativa. Como já mencionado, a Nomofobia parece fazer parte do que alguns autores estão chamando de Transtorno de Dependência da Internet. Independentemente da categoria, ou seja, mídias sociais, sexo on-line, pornografia, jogos, grupos anônimos ou não, o fato é que percebemos no dia a dia pessoas que não se separam do seu smartphone nem mesmo quando estão simplesmente jantando com seus familiares. Isso parece bom ? Acho que todos aqui sabem a resposta. O que muitos precisam começar a fazer é modificar este comportamento.
Que tal passar metade do dia sem o seu smartphone? Isso é possível para você?
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.