A palavra “moon” em inglês, com seu sentido primário de “lua”, tem raízes no inglês antigo “mona“, derivado do proto-germânico “menōn” e, ainda mais remotamente, do proto-indo-europeu “mēnsis” (referindo-se ao mês lunar) (Weekley, 1952). Essa raiz indo-europeia também está associada à contagem do tempo e ciclos mensais. Já a palavra Mooning vem da gíria “lua” ou “luas”, que tem sido usada para se referir às nádegas nuas desde o século XVIII. O Oxford English Dictionary (OED) data o uso de “Mooning” na gíria estudantil na década de 1960, quando se tornou popular nas universidades americanas.
O Mooning, ou exposição das nádegas ou parte delas, tem sido visto como uma forma de exibicionismo que, embora muitas vezes considerado um ato de humor ou travessura, pode se enquadrar na categoria das parafilias, dependendo do contexto e da motivação do indivíduo (Saleh, Berlin, Martin Malin, 2021). O Mooning é caracterizado como um tipo de exposição, destacando a existência de um duplo padrão de gênero: para homens, o ato é frequentemente associado a humor ou zombaria, enquanto para mulheres, a intenção sexual ou a busca por atenção erotizada são mais prováveis. Este texto explora essa nuance, resvalando na natureza, causas, sintomas e implicações legais e sociais do Mooning.
Mooning como Parafilia
Para compreender o Mooning dentro do espectro das parafilias, precisamos contextualizá-lo. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (APA, 2022) define parafilias como padrões persistentes de comportamento sexual em que objetos, rituais e/ou situações incomuns são necessários para a satisfação sexual completa. Um transtorno parafílico é diagnosticado apenas quando esse comportamento causa sofrimento significativo ou prejuízo ao indivíduo ou a outros.
No caso do Mooning, a questão crucial reside na motivação. Se a exposição das nádegas é um ato deliberado e repetitivo, realizado com a intenção de obter excitação sexual ou provocar uma resposta sexual em outra pessoa, sem seu consentimento, podemos classificá-lo como uma parafilia, especificamente como um subtipo de exibicionismo. A presença de fantasias recorrentes e intensas ligadas a esse ato também reforça essa classificação. Entretanto, se o Mooning é um ato isolado, impulsivo ou realizado por puro humor ou rebeldia, sem a busca explícita de excitação sexual, a classificação como parafilia não é apropriada. A gravidade do transtorno também dependerá da frequência, intensidade e impacto na vida do indivíduo.
Mooning como uma forma de Exibicionismo
O exibicionismo normalmente se refere a um intenso desejo ou compulsão de expor partes sexuais do corpo (ou seja, órgãos genitais, nádegas, seios, vulvas) a observadores desavisados em locais públicos (ou semipúblicos). Se o comportamento for ameaçador, é normalmente definido na Lei Americana como “Exposição Indecente”. A exposição não ameaçadora de partes sexuais do corpo (como mulheres mostrando os seios durante o Carnaval) é geralmente chamada de flashing em oposição à “Exposição Indecente”. No entanto, existe uma grande variedade de termos diferentes usados para descrever vários atos exibicionistas, incluindo:
Anasyrma: Normalmente se refere ao levantamento de uma saia ou vestido por uma mulher quando não está usando calcinha e expondo seus órgãos genitais.
Candaulismo: Refere-se especificamente àquelas pessoas que se expõem de forma sexualmente explícita.
Flashing: Normalmente, a breve exibição de seios femininos nus ou a breve exibição dos órgãos genitais por um homem ou mulher.
Mooning: Normalmente, refere-se à exibição de nádegas puxando para baixo as calças e/ou roupas íntimas. As evidências sugerem que, quando realizado por mulheres, a motivação primária pode ser sexual, enquanto para os homens, pode ser feito por zombaria ou humor.
Streaking: Normalmente refere-se a correr nu (geralmente homens) ou de topless (geralmente mulheres) em um local público (por exemplo, uma partida de críquete ou futebol).
Sintomas e Manifestações
O sintoma principal associado ao Mooning como uma parafilia é a necessidade recorrente e intensa de exibir as nádegas (ou parte delas) a pessoas desavisadas e despreparadas, com a intenção de provocar excitação sexual. Essa necessidade pode se manifestar em diferentes níveis de gravidade, desde fantasias recorrentes e intensas, até a ação concreta e repetida de Mooning. A gravidade pode ser categorizada de acordo com a frequência de tais atos, o número de vítimas e o nível de sofrimento ou prejuízo causado ao indivíduo e/ou aos outros (a violação do espaço pessoal e a potencial perturbação causada podem ser fatores a serem considerados).
Causas do Mooning
As causas do Mooning, assim como de outras parafilias, são multifatoriais e ainda não totalmente compreendidas. Possíveis fatores incluem:
Fatores Biológicos: Alguns estudos sugerem a influência hormonal, particularmente os receptores de andrógenos, na predisposição a comportamentos sexualmente desviantes. Entretanto, essa relação não é conclusiva.
Fatores Psicológicos: Experiências nefastas na infância, como abuso ou trauma, podem contribuir para o desenvolvimento de parafilias. Mecanismos de defesa, como a busca por atenção ou controle, também podem estar envolvidos.
Fatores relacionados à Aprendizagem: A repetição de comportamentos que proporcionam gratificação sexual pode levar ao reforço desses comportamentos, tornando-os cada vez mais frequentes.
Fatores Socioculturais: A disponibilidade de material pornográfico e a influência da mídia também podem desempenhar um papel no desenvolvimento e no reforço de comportamentos exibicionistas. As normas culturais referentes à nudez e à expressão sexual também são importantes.
Investigação do Mooning enquanto uma Parafilia
Um questionário auto responsivo sobre Mooning pode ser útil na identificação daqueles que obtêm forte excitação sexual através do ato de mostrar as nádegas ou parte delas.
Abaixo, seguem propostas para algumas perguntas.
Mooning é o ato de expor as nádegas em todo ou em parte publicamente, de forma desavisada e para pessoas que não esperam por tal exposição. Se o senhor já praticou Mooning, por gentileza, queira responder às perguntas abaixo:
Seção 1: Experiências com Mooning
Quantas vezes você praticou Mooning? (Nunca/Poucas vezes/Várias vezes/Muitas vezes)
Em que circunstâncias você praticou Mooning? (Descreva o contexto: local, presença de outras pessoas etc)
Qual era sua motivação principal ao praticar Mooning? (Escolha uma ou mais opções e explique sua escolha):
a) Humor/Brincadeira
b) Provocar uma reação
c) Atrair atenção
d) Expressão sexual
e) Outra (Especifique)
Você sentiu excitação sexual durante ou após o ato de Mooning? (Sim/Não/Às vezes)
Você se arrependeu de ter praticado Mooning alguma vez? (Sim/Não/Às vezes). Se sim, porquê?
Você considera que seu comportamento de Mooning afetou suas relações com outras pessoas? (Sim/Não/Às vezes). Se sim, como?
Você tem fantasias recorrentes ou intensas envolvendo Mooning? (Sim/Não/Às vezes). Descreva essas fantasias
Você sente que precisa praticar Mooning? (Sim/Não/Às vezes). Explique sua resposta
O Mooning causa-lhe algum tipo de sofrimento ou constrangimento? (Sim/Não/Às vezes)
Seção 2: Reflexões sobre as Implicações
Como você avalia a aceitabilidade social do Mooning? (Inaceitável/Pouco aceitável/Neutro/Aceitável/Muito aceitável)
Você acha que seu comportamento de Mooning prejudica ou poderia prejudicar outras pessoas? (Sim/Não/Não sei)
Seção 3: Busca de Ajuda
Você está considerando buscar ajuda profissional para lidar com seu comportamento de Mooning? (Sim/Não/Não sei)
Você já buscou ajuda profissional para quaisquer problemas relacionados à sua sexualidade ou comportamento? (Sim/Não)
Tratamento do Mooning
O tratamento do Mooning como parafilia é semelhante ao tratamento de outras parafilias e pode incluir:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Esta abordagem visa a identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos e comportamentos inadequados.
Psicofarmacológico: Em alguns casos, pode ser utilizada medicação para controlar a impulsividade sexual e tratar condições comórbidas, como depressão ou ansiedade.
Recondicionamento Orgásmico: Essa técnica se concentra em condicionar o indivíduo a encontrar prazer em comportamentos sexuais mais aceitáveis.
Aspectos Legais e Sociais
O Mooning, embora frequentemente tratado como uma brincadeira ou uma transgressão menor, pode ter consequências legais. Em muitos lugares, a exposição indecente em público é considerada um crime menor ou delito, sujeito a multas ou outras penalidades. A severidade das consequências legais varia de acordo com a localização geográfica e as circunstâncias do ato. Além disso, a vítima pode buscar medidas civis contra o indivíduo que praticou o Mooning.
Considerando o contexto sociocultural, o Mooning pode ser percebido de maneira diferente em várias culturas. O que é considerado aceitável em um contexto, pode ser visto como extremamente ofensivo em outro. A compreensão das normas culturais referentes à nudez parcial ou total e à expressão sexual é crucial para uma avaliação completa do comportamento.
Conclusão
O Mooning é um ato complexo que pode variar de uma brincadeira inofensiva até uma forma de exibicionismo com implicações legais e pessoais graves. A determinação se o comportamento constitui um transtorno parafílico depende do contexto, da motivação do indivíduo e do nível de sofrimento ou prejuízo causado. O tratamento é geralmente realizado por uma equipe interdisciplinar, incluindo profissionais de saúde mental e jurídica, se aplicável. A conscientização sobre as implicações legais e socioculturais do Mooning é crucial para garantir uma abordagem apropriada a esse comportamento.
Referências American Psychiatric Association (APA). (2022). DIAGNOSTIC AND STATISTICAL MANUAL OF MENTAL DISORDERS- FIFTH EDITION (DSM-5-TR). Washington: American Psychiatric Association Publishing. Saleh, F. M., Berlin, F. S., Martin Malin, H. (2021). Mental Illness and Sex Offending. In: Saleh, F. M., Bradford, J. M., Brodsky, D. J. Sex Offenders: Identification, Risk Assessment, Treatment and Legal Issues. Oxford: Oxford University Press. Weekley, E. (1952). A Concise Etymological Dictionary of Modern English. London: Secker & Warburg.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.