O medo de largar cocaína é comum por parte de quem usa; entenda por quê. Não tenha medo de largá-la, mas sim de continuar usando.
E-mail enviado por um leitor
“Cheiro cocaína há muitos anos. Mas de uns meses para cá, amigos próximos estão me dizendo que estou exagerando. Falaram para eu procurar o NA. Quando comecei a pensar sobre isso… descobri que tenho medo de ficar limpo e por isso ainda não tomei esta decisão. O que pode estar acontecendo comigo? O que preciso fazer? Agradeço qualquer ajuda ou conselho.”
Resposta
A cocaína é uma das substâncias com grande capacidade para tornar um usuário ocasional em um dependente. Um dos indicadores de que isto está acontecendo é o aumento na frequência do uso e na quantidade da droga, apontando para o desenvolvimento da tolerância e perda do controle sobre o uso.
Seus amigos estão alertando você sobre o seu consumo exagerado bem como você está dizendo “ter medo” de ficar limpo. Você está diante de um problema sério que precisa ser resolvido imediatamente antes que a situação ainda fique pior.
Por que usuários sentem medo de largar cocaína
Não é incomum ouvir diuturnamente na prática clínica de pacientes com problemas com o consumo de cocaína sobre esse “medo” de deixar de usar a cocaína. Muitos atribuem este “medo” aos seguintes fatores:
a) “Medo” de sentir os efeitos da síndrome de abstinência;
b) “Medo” de deixar de sentir os efeitos euforizantes que a cocaína provoca bem como os efeitos prazerosos associados com outros comportamentos (sexo, desinibição comportamental);
c) “Medo” de deixar de “ser” a pessoa que se torna quando está intoxicado.
Qualquer droga pode se tornar problemática, seja cocaína, analgésicos prescritos ou cannabis. Você não precisa tomar drogas todos os dias para que isso seja um problema.
Você deve ter notado que não consegue fazer certas coisas sem usar primeiro, ou talvez tenha experimentado algum tipo de sintoma de abstinência quando não está usando.
Outras pessoas podem ter visto uma mudança em seu comportamento, ou você pode ter começado a correr riscos que colocam a sua saúde ou a sua segurança em perigo.
Desta forma, seu “medo” de largar a cocaína é um sinal de alerta! Um cérebro saudável recompensa comportamentos saudáveis – como se exercitar, comer ou se relacionar com entes queridos. Ele faz isso ativando circuitos cerebrais que fazem você se sentir bem, o que o motiva a repetir esses comportamentos.
Por outro lado, quando você está em perigo, um cérebro saudável força seu corpo a reagir rapidamente com medo ou alarme, para que você saia do caminho do perigo. Se você é tentado por algo questionável – como tomar sorvete antes do jantar ou comprar coisas que não pode pagar – as regiões frontais do seu cérebro podem ajudá-lo a decidir se as consequências valem as suas ações.
Mas quando você está se tornando dependente de uma substância, essa conexão normal de processos cerebrais úteis pode começar a trabalhar contra você. Drogas ou álcool podem sequestrar os circuitos de prazer/recompensa em seu cérebro e prendê-lo a querer mais e mais. Esse processo também pode sobrecarregar seus circuitos emocionais de identificação de perigo, fazendo com que você se sinta ansioso e estressado quando não estiver usando drogas ou álcool. Nesse estágio, as pessoas costumam usar drogas ou álcool para não se sentirem mal, e não por seus efeitos prazerosos.
Além disso, o uso repetido de drogas pode danificar o centro essencial de tomada de decisão na parte frontal do seu cérebro. Essa área, conhecida como córtex pré-frontal, é a região que deve ajudá-lo a reconhecer os malefícios do uso de substâncias psicoativas.
Pode ser difícil dar o primeiro passo e dar uma olhada no seu uso de cocaína, mas pode ter um grande impacto em quão saudável e feliz você deve ser.
Não tenha “medo” de parar de usar; TENHA DE “MEDO” DE CONTINUAR USANDO.
Se você está pensando em tomar medidas para parar de usar drogas ou reduzir, não tenha medo de procurar ajuda. É muito mais fácil fazer mudanças positivas quando você tem ajuda e apoio de outras pessoas.
Você poderia
a) Conversar com seu médico sobre as suas preocupações. Ele poderá lhe dar conselhos e informações úteis;
b) Se puder, converse com familiares e amigos sobre seu uso de drogas. Pedir ajuda pode fazer uma grande diferença, especialmente nas primeiras semanas.
Tenha coragem!!!
Atenção! Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento
Atendimento – Consultório
Telefone: (11) 3120-6896
E-mail: [email protected]
Endereço: Avenida Angélica, 2100. Conjunto 13
Condomínio Edifício da Sabedoria
CEP: 01228-200, Consolação – São Paulo
Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.