Agressoras Sexuais – Parte II Freiras, Irmãs e Religiosas

“Ela me convidou para o seu escritório (ou o único lugar de alguma outra freira). Lembro-me de me sentir muito especial por ser escolhida, mas também muito pequena e insignificante ao mesmo tempo. A primeira parte da experiência foi realmente agradável. Esta também é a primeira parte que comecei a lembrar. Ela me deu muito carinho verbal e físico. Ela tirou algumas das suas roupas externas, o que me fez sentir como se estivesse realmente experimentando algo especial. Então ela levantou meu vestido e começou a me acariciar. Foi ótimo física e emocionalmente; era como estar em um clube secreto. Eu nunca imaginei que parte do meu corpo pudesse ter esses sentimentos especiais. Em algum momento durante a experiência, a freira mudou totalmente de personalidade. Ela começou a gritar comigo e me dizer o quão mal eu era por gostar desse ato com ela. Deus ficaria furioso e teria que me punir severamente. Ela estava reclamando, pegou um objeto e continuou enfiando na minha vagina. Eu estava apavorada, mas já me culpava por fazer essa “coisa ruim”. Não sei se isso aconteceu uma ou várias vezes. Uma das minhas lembranças claras, porém, é de um grupo de freiras paradas assistindo ao abuso. Meu pensamento aqui é que talvez eles tenham entrado no escritório e a feito parar e é por isso que o abuso parou comigo. Se isso é verdade, por que elas não contaram a ninguém? Se os adultos pelos quais fui ensinada a respeitar não vieram ao meu socorro, não é de admirar que a culpa tenha piorado”.

(Hill, Ashley – Habits of Sin: An Expose of Nuns Who Sexually Abuse Children and Each Other – 1.995)

Excerto – A Expiação da Culpa Deduzida

O texto revela um contraste significativo entre as emoções vívidas descritas. Nos momentos iniciais, a sonoridade é suave e calorosa, refletindo a sensação de acolhimento e carinho. Termos como “muito carinho verbal e físico” e a descrição de uma experiência “realmente agradável” criam uma atmosfera prosaica. A narradora reflete o sentimento de exclusividade ao ser convidada para o escritório da freira, expressando uma emoção positiva de ser a escolhida (uma espécie de “GROOMING”). Palavras e frases como “muito carinho verbal e físico” transmitem uma suavidade que contrasta com a vulnerabilidade que ela sente, representando uma voz que busca afeto e validação mesmo dentro de um contexto de vulnerabilidade e submissão.

No entanto, essa sonoridade muda abruptamente para uma tonalidade agressiva e sufocante quando a narrativa se desloca para o abuso. Essa mudança súbita de sonoridade é comum em situações de ofensas sexuais entre pessoas que se conhecem, mas cujo relacionamento é verticalizado.

A descrição da freira gritando e a sensação de medo e culpa gerada pela situação alteram essa sonoridade para uma carga emocional sobrecarregada e violenta. Essa mudança no tom é crucial, pois induz o leitor a uma reflexão profunda sobre os contrastes emocionais vividos pela narradora, ilustrando a complexidade da experiência. A figura da freira se bifurca entre o carinho e a hostilidade, simbolizando uma dualidade que gera confusão (supervisora? amiga? exploradora? abusadora?). Quando a freira grita e a acusa de ser “mau” por sentir prazer, essa nova voz é contundente e autoritária, ecoando um discurso moral que se impõe sobre a subjetividade da narradora. Esse contraste revela um conflito interno profundo, onde a suavidade inicial é subvertida por uma agressividade que aterroriza o psicológico da narradora.

Observa-se a interação entre a narradora e as figuras de autoridade representadas pela freira e pelas outras freiras. A experiência inicial de carinho e aceitação se transforma em uma dinâmica de poder opressiva, levando à internalização da culpa. O diálogo interno da narradora, marcado pela confusão entre cuidado e pecado, zelo e abuso, apreço e opressão, reflete uma batalha emocional revoltante, incômoda e quiçá insuportável.

A presença das outras freiras como observadoras sem intervenção levanta questões sobre a responsabilidade coletiva e a omissão, subentendendo uma crítica ao silêncio que perpetua o abuso… a famigerada “SÍNDROME DO SILÊNCIO”. A pergunta retórica “por que elas não contaram a ninguém?” evidencia a busca por validação do sofrimento e a frustração com a falta de apoio nas figuras de autoridade que deveriam ter protegido a narradora.

O discurso assoalha a complexidade da experiência vivida, mesclando sensações de carinho e abuso, e destaca a luta interna da narradora entre a culpa e a busca por compreensão e justiça. É como se o abusado fosse o culpado… O texto oferece uma perspectiva também ampla sobre os temas de poder, vulnerabilidade e a necessidade de um espaço seguro para a expressão pessoal.

O discurso parece também trazer a voz da Justiça, mas uma voz fraturada e impotente. “O abuso parou comigo…”, mas “elas não contaram a ninguém” …

Essa interação revela um doloroso e implacável paradoxo, onde a busca por afeto ou por “ser especial”, bem como a validação disso, é cruelmente corrompida em agressão e culpa. A transformação da freira de uma figura carinhosa para uma agressora implacável exemplifica um jogo de poder e manipulação emocional devastador, deixando marcas profundas no funcionamento emocional da narradora…

Introdução

Nas últimas quatro décadas, revelações de grande extensão sobre o abuso sexual infantil por padres e outros religiosos (não apenas católicos) surgiram por trás de uma parede de sigilo bem cimentada. Apesar da publicidade de centenas de tais casos, uma área carente de investigação permanece: a das religiosas que também são acusadas de ofender sexualmente crianças e umas às outras. De fato, relatos de mulheres em geral que ofendem sexualmente crianças são quase inexistentes, como já discorrido no artigo anterior, e pesquisas significativas sobre o tema de freiras e irmãs que ofendem crianças não estavam disponíveis até recentemente.

Como médico psiquiatra especialista em Agressores Sexuais há mais de 25 anos, eu tenho ouvido os dois lados: o dos agressores sexuais (e o das agressoras) bem como o das vítimas de ambos. Vítimas de religiosos e/ou religiosas parecem contar as suas histórias de forma muito mais tímida e envergonhada do que as vítimas de pessoas desconhecidas ou mesmo de familiares. Sempre me deu a impressão de que essas vítimas específicas acreditavam terem sido “ofendidas sexualmente” pelo próprio Deus. Por mais hediondo que seja o abuso sexual, no entanto, o abuso sexual infantil é mais do que apenas a mecânica que ocorre durante um ato físico – é a reação emocional invisível e muitas vezes não reconhecida que continua sendo uma das mais profundas cicatrizes da vítima (Hill, 1995). Tais cicatrizes, acredito, muitas vezes são ampliadas quando o abuso é infligido por membros de comunidades religiosas que são tão regularmente vistos como divinos por uma população ingênua.

Embora a minha intenção aqui seja discursar brevemente sobre o tema das ofensas sexuais infantis por freiras e/ou religiosas, aprendi durante o meu trabalho que incidentes graves de abuso sexual por religiosos podem trazer feridas e sequelas ainda mais profundas (se assim posso afirmar).

Há um perigo em conduzir um texto como esse, visto que alguns poderão entender como um “ataque” aos membros religiosos. Quase ninguém está disposto a acreditar que freiras, irmãs e demais religiosas são capazes desse tipo de comportamento nocivo; todavia, aqueles que sofreram esse tipo de abuso sexual experimentam um tipo de isolamento diferente da maioria dos outros grupos compostos por vítimas de abuso sexual (Hill, 1995). O importante aqui é repisar que os predadores podem e vêm de todas as esferas da vida. Os predadores estão ao nosso redor…

Não há mistério sobre o que fazer em relação a esse assunto. Os religiosos e as religiosas abusivos física, psicológica e/ou sexualmente devem ser rigorosamente avaliados por equipes de médicos psiquiatras altamente especializados e, com o resultado dessas avaliações, devem ser corretamente manejados clínica, jurídica e canonicamente.

Para muitas pessoas, o termo abuso/ofensa sexual infantil sempre evoca imagens de incesto realizado no meio da noite no quarto de uma criança, um jovem sendo abordado por um estranho ou, como estamos explorando aqui, os maus-tratos sexuais de uma criança por um membro de confiança de uma comunidade religiosa. Na verdade, todos esses são exemplos de ofensa sexual infantil. De qualquer forma, esse lado sombrio da sociedade é muito mais amplo do que essas poucas situações citadas.

Na verdade, o abuso sexual de crianças não se limita, como algumas pessoas podem acreditar, às classes sociais menos instruídas e menos afortunadas. Muitos agressores sexuais são indivíduos graduados em vários níveis de ensino, de diversos padrões socioeconômicos e de diferentes papeis profissionais.

Um Contexto Histórico do Escândalo a Partir de um Frei Franciscano

A maioria dos escritores concorda que a crise contemporânea do abuso sexual na Igreja Católica começou em Henry, Louisiana, em 1983, quando alegações de abuso sexual foram feitas contra o frei franciscano Gilbert Gauthe. O caso Gauthe foi a primeira narrativa divulgada internacionalmente de abuso sexual por um padre católico romano. Além de ser o primeiro, continha em si todos os fatores que se tornaram rotineiramente associados ao escândalo da Igreja à medida que se desenrolava nos trinta anos seguintes. Gilbert Gauthe era pastor da paróquia de Henry em St. John. Os paroquianos de Gauthe apreciavam a sua disponibilidade, a sua empatia com as preocupações econômicas e sociais do seu rebanho rural e o seu envolvimento com os jovens da paróquia. Gauthe passava grande parte do seu tempo livre com as crianças sob seus cuidados, especialmente os meninos, e até os levava regularmente para festas do pijama de sexta-feira à noite na casa de acampamento de um paroquiano. Uma noite, no entanto, Craig Sagrera, de nove anos, disse aos seus pais que Gilbert Gauthe o estava molestando sexualmente. Após tal relato, o pai do menino abordou seus filhos de quinze e vinte e nove anos com a história de Craig apenas para saber se o padre também havia abusado sexualmente deles. Além disso, eles deram a Wayne Sagrera os nomes de outros meninos vitimados sexualmente pelo pastor (Frawley-O’Dea, 2007)…

Os Traumas Sexuais Vividos pelas Religiosas – Elas Mesmas

Embora esse texto objetive tratar sobre os abusos sexuais cometidos por membros religiosos do gênero feminino, vale a pena lembrar que as próprias religiosas têm as suas histórias e as suas mazelas.

Um estudo nacional sobre as experiências de trauma sexual de freiras católicas nos Estados Unidos, revelou uma prevalência significativa de abuso sexual, tanto ao longo da vida quanto durante a vida religiosa (Chibnall, Wolf e Duckro,1998). Os resultados apontaram os seguintes fatos:

    1. Abuso sexual na infância: Afeta cerca de 19% das freiras. Embora seja uma taxa algo menor do que na população geral, este dado demonstra que a população de freiras não é imune a este tipo de acontecimento. A maioria dos abusadores são homens, com irmãos (25%), tios (20%), estranhos (17%), amigos da família (16%), pais (12%) e primos (10%) sendo os mais comuns. Cerca de 10% dos abusadores são clérigos (6%) ou freiras (3%), e quase um terço das vítimas (32%) tinha mais de um abusador.

    2. Assédio sexual no trabalho e intracomunitário: O assédio sexual no trabalho ocorreu em 9% dos casos, um número significativamente menor do que em estudos com mulheres leigas. Já o assédio sexual intracomunitário (por outras freiras) atingiu 11% das participantes no estudo. Em setembro de 2018, a ex-freira Doris Wagner escreveu um artigo para o jornal Die Zeit, descrevendo como ela havia sido assediada sexualmente por um padre durante uma confissão em 2009. Em novembro de 2018, a associação “Vozes de Fé” organizou um evento denominado “Superando o Silêncio” em Roma, no qual Doris Wagner e outras ex-freiras falaram sobre o abuso que sofreram nas ordens religiosas e criticaram a cultura do silêncio que persistia em torno do tema. A questão chamou mais a atenção do público depois que uma freira na Índia disse à polícia em agosto de 2018 que seu bispo a estuprara 13 vezes entre 2014 e 2016. Mesmo com todo esse movimento, Doris Wagner observou que o padre (não identificado aqui nesse texto) que a havia assediado ainda estava trabalhando como chefe de seção na Congregação para a Doutrina da Fé (CDF).

    3. Outros abusos sexuais: Um total de 13% das freiras relatara ter sofrido outros tipos de abuso sexual na vida adulta, como estupro, importunação ao pudor e/ou ultraje ao pudor público. O caso da Índia insere-se neste item.

As consequências do abuso sexual incluem raiva, vergonha, ansiedade, confusão e depressão. A idade da vítima, a gravidade do abuso e o tipo de abusador influenciam a reação das vítimas. O abuso na infância prevê consistentemente a revitimização na idade adulta, fato também relevante entre leigas. A revelação do abuso é significativamente menor entre mulheres que sofreram abuso sexual antes dos seis anos de idade.

Os achados desse estudo nacional reforçam a necessidade de programas de educação, intervenção e políticas eficazes para prevenir e tratar o abuso sexual em comunidades religiosas. A importância de conscientizar os profissionais de saúde sobre as experiências únicas de trauma sexual enfrentadas por freiras é crucial para garantir o tratamento e o apoio adequados às vítimas.

Freiras e outras religiosas também precisam de ajuda médica e psicológica… São humanas como todos nós e podem ter os mesmos problemas que as leigas têm… Hábito não é um escudo protetor contra as mazelas biológicas, psicológicas e/ou sociais. São apenas vestes específicas e associadas à profissão…

Os Traumas Sexuais Causados pelas Freiras – Elas Mesmas

A questão do abuso sexual de menores por freiras, irmãs e outras religiosas tem sido tratada de forma indireta, discreta e baseada em evidências bastante limitadas. Os principais problemas têm sido a subnotificação bem como as dificuldades de se investigar esses casos, espelhando os desafios na realização de pesquisas de campo em relação aos comportamentos pedofílicos femininos no contexto das Igrejas.

Enfatiza-se aqui que, em comparação com o número de casos de abuso sexual cometidos por padres, aqueles casos envolvendo freiras são muito menos relatados. Diversos fatores podem contribuir para isso:

    1. Silêncio e Culturas de Ocultação: A dificuldade em quantificar e investigar os casos de abuso sexual cometido por freiras é notável. Isso se deve a diversos fatores, incluindo o silêncio imposto pela cultura da obediência e hierarquia nas Igrejas, o medo de retaliação, a dificuldade das vítimas em relatar abusos perpetrados por figuras de autoridade, e a tendência a subnotificar os casos de abuso sexual perpetrado por mulheres. A pesquisa quantitativa de Chibnall, Wolf e Duckro (1998) aponta para um percentual considerável de abuso sexual em freiras, porém o artigo não quantifica especificamente os casos de abuso praticado por freiras (Chibnall, Wolf, & Duckro, 1998). Infelizmente, a cultura do silêncio e obediência nas Igrejas dificultam que vítimas de abuso sexual por freiras, irmãs e/ou outras religiosas denunciem o ocorrido, por medo de retaliações ou por internalização de culpa. A hierarquia das Igrejas e o prestígio dado aos religiosos em geral podem criar obstáculos para que relatos de ofensas sexuais cometidas por religiosas sejam levados a sério.

    2. Os Mecanismos Institucionais que Facilitam o Abuso: A estrutura hierárquica e autoritária das Igrejas, com a seu ênfase na obediência cega e na preservação da imagem da instituição, cria um ambiente propício para que abusos permaneçam ocultos e impunes. O clericalismo e o sexismo são fatores que podem contribuir para essa dinâmica de poder desigual, silenciando as vozes das vítimas e protegendo os agressores, independentemente do seu gênero (Portillo, 2017; Wirth, 2022; Bergoglio, 2019; Cano, 2019).

    3. A Identificação com o Sofrimento de Cristo: Alguns autores exploram como algumas freiras, irmãs e outras religiosas vítimas de abuso tentam encontrar significado em seu sofrimento por meio da identificação com o sofrimento de Cristo. No entanto, essa identificação pode ser complexa e ambígua, não necessariamente trazendo cura ou empoderamento (Crisp, 2012, 2021). Para algumas, a submissão ao sofrimento de Jesus pode reforçar a ideia de que o próprio sofrimento deve ser suportado em silêncio, dificultando a denúncia delas mesmas e das suas possíveis vítimas.

    4. A Escassez de Pesquisas e Dados: A ausência de pesquisas específicas sobre freiras enquanto agressoras sexuais de menores é uma grande limitação na compreensão do problema. Enfatiza-se novamente aqui a necessidade de mais estudos para investigar adequadamente a incidência, os fatores de risco e as consequências desse tipo de abuso (Durà-Vilà, Littlewood, & Leavey, 2013; Lembo, 2019; Vilanova, 2020).

    5. Preconceito e Subnotificação Social: A sociedade tende a associar mais facilmente as ofensas sexuais contra crianças aos homens do que às mulheres. Isso leva à subnotificação de casos envolvendo perpetradoras mulheres religiosas, uma vez que a ideia de uma mulher enquanto uma agressora sexual é socialmente menos esperada e muito menos acreditada.

    6. Dificuldade de Reconhecimento do Abuso: Há a possibilidade de algumas crianças não reconhecerem ou mesmo não entenderem plenamente a natureza abusiva dos atos praticados por uma religiosa, especialmente se os atos envolverem afeição ou carinho aparentemente inocentes.

    7. Evidências Limitadas e Dificuldades de Provas: Travers (2006) menciona alguns casos, como o da Irmã Georgene Stuppy, e o caso da Escola de Surdos de Massachusetts. Em 1990, por exemplo, uma mulher de Minnesota, anonimamente, processou a Irmã Georgene Stuppy, alegando que a freira havia começado a acariciá-la e a tocar em seus seios quando a vítima estava na oitava série, no final da década de 1970. O abuso teria continuado por vários anos. Na época do processo, a Irmã Stuppy era descrita como “a única freira católica nos Estados Unidos acusada legalmente de abusar sexualmente de uma criança”. Embora a Irmã Stuppy tenha admitido ter acariciado a garota e chupado seus seios, ela revelou genuinamente estar “confusa” sobre a razão real pela qual os promotores de acusação insistiam em descrever aqueles atos como “sexuais” por natureza. Stuppy justificava os seus atos como uma “jornada compartilhada” de descobrimento do amor divino, demonstrando uma falta de aceitação da natureza sexual das suas ações nefastas. Apesar de parecer chocante, considerando a educação sexual moderna, sugere-se que a Irmã Stuppy possivelmente acreditava em sua própria justificativa, pois durante o período do alegado abuso, ela escreveu cartas à garota com declarações apaixonadas de afeição, relacionando-as a Deus e à fé. O caso da Irmã Stuppy ilustra a dificuldade de se provar e processar crimes de abuso sexual cometidos por freiras, irmãs e outras religiosas. A sua confusão aparente sobre a natureza sexual das suas ações e a sua falta de compreensão, bem como a dificuldade de obtenção de provas e depoimentos que convencessem a justiça, demonstram até hoje os desafios das investigações policiais em casos deste tipo. Este caso da irmã Stuppy é um exemplo isolado, evidenciando-se a escassez de casos relatados e o consequente desafio de compreender a extensão do problema do abuso sexual praticado por freiras, irmãs e outras religiosas dentro das Igrejas.

De qualquer, esses casos midiáticos não fornecem dados estatísticos suficientes para se estabelecer uma incidência generalizada do problema. Devemos, nesse campo, reconhecer a escassez de pesquisas e dados disponíveis, o que dificulta a criação de estatísticas confiáveis e um retrato completo da situação.

Palavras Finais

Alguns autores apontam o papel do celibato na Igreja e a sua possível relação com o abuso sexual, sugerindo que as restrições ao sexo podem influenciar o comportamento dos membros do clero. No entanto, a questão não é tão simplista, havendo a necessidade de se considerar muitos outros fatores, além do celibato, para entender as causas do abuso/ofensa sexual.

Apesar da escassez de dados e estudos específicos sobre freiras enquanto agressoras sexuais de menores, existe a importância de se investigar essa questão, considerando a dinâmica de poder nas Igrejas e a cultura do silêncio e da obediência que podem facilitar a ocorrência e a ocultação de tais crimes.

Na minha opinião, a internalização da culpa pelas vítimas é cruel demais e intolerável.

Referências

Bergoglio, J. M. (2019). Vos Estis Lux Mundi. Vatican.

Cano, A. (2019). El clericalismo a lo largo de la historia. In D. Portillo Trevizo (Ed.), Tolerancia Cero. Estudio Interdisciplinar sobre la Prevencion de los Abusos en la Iglesia (pp. 69-85). Mexico-City: PPC.

Crisp, B. (2012). The Spiritual Implications of Sexual Abuse: Not Just an Issue for Religious Women?. Feminist Theology, 20(2), 133–145.

Crisp, B. (2021). Jesus: A Critical Companion in the Journey to Moving on from Sexual Abuse. In J. R. Reaves, D. Tombs, & R. Figueroa (Eds.), When Did We See You Naked?: Jesus as a Victim of Sexual Abuse (pp. 249-259). London: SCM Press.

Durà-Vilà, G., Littlewood, R., & Leavey, G. (2013). Integration of sexual trauma in a religious narrative: Transformation, resolution and growth among contemplative nuns. Transcultural Psychiatry, 50(1), 21–46.

Chibnall, J. T., Wolf, A., & Duckro, P. N. (1998). A national survey of the sexual trauma experiences of Catholic nuns. Review of Religious Research, 40(2), 143-167.

Frawley-O'Dea, M. G. (2007). Perversion of Power: Sexual Abuse in the Catholic Church. Nashville: Vanderbilt University Press.

Hill, A. (1995). Habits of Sin: An Expose of Nuns Who Sexually Abuse Children and Each Other. Xlibris US.

Lembo, M. (2019). Relations Pastorales Saines et Matures entre Femmes Consacrées et Prêtres: Un Analyse Qualitative de cas d'abus de femmes consacrées par des prêtres. Rome: Pontificia Università Gregoriana.

Portillo, D. (2017). Psico-Teología del Discernimiento Vocacional. Mexico-City: Universidad Pontificia de Mexico.

Travers, N. (2006). A Brief Examination of Pedophilia and Sexual Abuse Committed by Nuns Within the Catholic Church. William & Mary Journal of Race, Gender, and Social Justice, 12(3), 761–778.

Vilanova, C. (2020). Religieuses Abusées: Le Grand Silence. Paris: Artège Editions.

Wirth, M. (2022). Die Banalisierung sexualisierter Gewalt im Gestus ihrer Entschuldigung. In M. Wirth, I. Noth, & S. Schroer (Eds.), Sexualisierte Gewalt in kirchlichen Kontexten: Neue interdisziplinäre Perspektiven (pp. 355-377). Berlin/Boston: De Gruyter.

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