Por que alguns termos usados sexualmente são vistos como “sujos” ou “inapropriados socialmente”?

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Quando se realiza uma anamnese sexual, o examinador deve sempre se lembrar de quatro princípios:

  1. Ter bom senso
  2. Ter um amplo conhecimento da fisiologia e da patologia do sistema genital
  3. Conseguir ter empatia pelo sofrimento real do outro
  4. Saber falar abertamente, concretamente e confortavelmente sobre sexo.

“Falar abertamente e concretamente” pode significar compreender e até mesmo usar termos que, na intimidade erótica e sexual, são usualmente falados, sem enrubescer. O examinador não deve sentir-se vexado ou incomodado, quando o entrevistado utiliza termos ditos “sujos” ou aqui chamados de “baixo calão”. Deve estar preparado e treinado para ouvir e para falar.

De qualquer forma, o que é um termo “sujo”? Talvez a melhor pergunta seria “por que uma determinada palavra é considerada “suja”, de “baixo calão”, vinda de uma “boca de penico”, ou de um “desequilibrado”? Por que a maioria dos chamados palavrões está envolvida com as duas das funções mais normais e naturais da natureza humana – os atos sexuais e os atos de eliminação?

Antigamente, na maioria das famílias letradas e dentro da cultura judaico-cristã, alguns termos convencionais e mesmo médicos que se referissem às funções sexuais e excretórias eram praticamente refreados.

Uma mãe conversando com uma outra sobre os problemas do seu filho frequentemente declararia algo como: “Meu filho mais novo está com problemas abdominais”. Dificilmente ela diria: “Meu filho mais novo não para de fazer o número dois ou não sai da privada” ou qualquer outra palavra “suja” que o leitor seguramente está imaginando. Mesmo o termo simples e convencional “evacuação” era visto como tão sujo quanto a palavra “merda”; no entanto, ambos os termos eram e são completamente entendidos por todos os adultos maduros de todas as classes sociais.

Na área das funções sexuais, eufemismos na sociedade “educada” têm sido usados por gerações. É mais adequado dizer que “um casamento foi consumado na noite de núpcias” ao invés de dizer que “os noivos normalmente fazem sexo na noite do casamento” ou que “os noivos fucked and fucked”. 

Só recentemente as pessoas na sociedade “educada” começaram a usar palavras como “relação sexual”, “cópula” e “coito”. Outros termos com o mesmo significado, não escritos aqui por serem “sujos”, não são pronunciados em situações sociais “educadas”. No entanto, para nós mesmos e entre amigos, especialmente os próximos, os termos ditos “sujos” vicejam.

Outrossim, termos ditos “sujos” são de fato “sujos” ou “inapropriados” até certo ponto. Eles são usados com muito mais frequência em conversas informais, e encontra-se em obras literárias disponíveis para o público em geral, variando desde best-sellers lançados pelas principais editoras do mundo até brochuras que são mantidas em prateleiras de muitas livrarias. E nem me refiro às redes sociais da atualidade…

Os termos ditos “sujos” são quase um denominador comum dentre muitos longas-metragens de Hollywood “top 10” e pronunciados por muitas celebridades nos filmes. Muitos são da opinião de que a conversa “suja”, pornográfica em essência é tão fundamental para o sucesso de bilheteria de um filme de alto orçamento atual quanto são as cenas de nudez ou quase nudez de famosos e não tão famosos atores/atrizes ditos “sexy”.

Talvez o maior armazém de palavras “sujas” possa ser encontrado nos clássicos do tipo impresso na França com texto em inglês e contrabandeados por pornógrafos atacadistas ou turistas curiosos nas décadas de 1920 a 1960. O mais surpreendente dessas publicações é o uso exagerado de palavras com quatro letras mais populares (“foda”, por exemplo). Psicologicamente falando, esses volumes são grandes estudos sobre os excessos a que o homem irá em sua busca pelo proibido. O proibido atrai, gratifica.

O que é então uma palavra “suja” ou o que torna uma palavra “suja”? Na opinião de alguns autores, a única resposta a esta situação pode ser a própria macro e/ou microssociedade, tanto extraoficialmente como através de restrições oficiais religiosas e culturais, determinando o que compõe uma palavra “suja”.

Pode ser recursivo notar aqui que o uso de “sujo” ao se referir a uma palavra ou termo sexual não é nada novo. Inclusive clinicamente, existe um termo para designar aqueles que falam “imundícies sexuais” com frequência (potencialmente encontrados em quadros psiquiátricos como Transtornos de Tic, Síndrome de Tourette e Transtorno Obsessivo-Compulsivo), ou seja, os chamados “coprolálicos”. A palavra deriva do grego e poderia ser quase literalmente traduzida para “fala de merda”.

Limpo e sujo passaram a significar, respectivamente, o bom e o iníquo. O uso destas palavras para expressar uma atitude moral é evidente quando são aplicadas ao sexo e aos órgãos sexuais. Assim, falamos de um livro sujo quando queremos dizer sexy ou pornográfico. “Ah ! Esse livro é meio sujo”…

A natureza negativa dos usos figurativos da palavra foda, por exemplo, é fortemente enfatizada na expressão “vá se foder !”, que pode ser considerada sinônimo de “vire-se !” ou mesmo “morra !”, e como estes últimos, não se destinam à interpretação literal.

Seja qual for o significado exato na expressão “vá se foder”, trata-se de uma ordem hostil, uma rejeição, um desejo infeliz. Outra expressão, como por exemplo, “não é assim, porra!” é usado frequentemente em um sentido de derrogação ou mesmo em um sentido erótico.

Mesmo que na verdade derive de uma relação sexual ou com um significado excretor, palavras e frases, então, muitas vezes se tornam uma confusão de termos relacionados às funções normais do corpo – sexo e a eliminação de resíduos.
É natural, claro, que pensemos na urina e nas fezes como sujas porque são excreções que podem provocar nojo. Apesar disso, as sensações provocadas pelo ato de excretar são consideradas gratificantes e fisiologicamente naturais e necessárias. A expressão “não há nada como uma boa evacuação (para não escrever um termo “sujo”) todas as manhãs após o café da manhã para fazer você se sentir bem o resto do dia” não é incomum entre todos. Grosseiro? Sim, muito. Todavia, trata-se de uma sensação de alívio.

Talvez este último raciocínio mostre a correlação entre as palavras ditas “sujas” e os atos de eliminação e/ou gratificação fisiológica. Se for esse o caso, a conexão seria, sem dúvida, não totalmente consciente por parte da maioria dos indivíduos falantes. Mas a conotação imoral de quase tudo relacionado com sexo, que tanto influenciou (e ainda influencia) a nossa sociedade, é provavelmente a razão para associar o erótico e o pornográfico à sujeira.

Há quem defenda que o “obsceno”, o uso das chamadas palavras “sujas” possa ser uma forma de desabafo, uma espécie de depravação deliciosa em que todos nós ganhamos prazer tanto em momentos de raiva quanto de paixão. Em outras palavras, quando um termo e uma frase são considerados “sujos” ou pornográficos e, portanto, tabus na sociedade, o uso mesmo que “proibido” deles ocasionalmente é uma forma branda de aliviar a tensão da normalidade estabelecida.

A obscenidade pode ser entendida como uma expressão, uma válvula de segurança contra as pressões e as tensões intoleráveis de relacionamentos entre homens e mulheres, e não apenas entre homens e mulheres, mas entre qualquer ser humano e o seu mundo incontrolável. Para alguns, o termo “obscenidade” simplesmente não teria sentido de existir, uma vez que a obscenidade per si seria um estímulo sexual prazeroso, muitas vezes até delicado e insinuante. 

Ser normal no mundo de hoje consiste em ter as neuroses que a maioria das outras pessoas tem. Vale a pena tentar um ajuste mais verdadeiro e realista.

Parece-me que, em nossas atitudes contemporâneas e no “novo pensamento” em evolução, estamos chegando a um ponto em algum lugar entre dois extremos – os padrões realistas e os socialmente determinados.

No entanto, não acredito que nos tornaremos autômatos, sexualmente insensíveis em todos os sentidos à palavra erótica, suja ou dita obscena. A palavra “suja” veio para ficar por algum tempo, mas podemos estar gratos por uma era mais amena
por meio da qual podemos ter uma visão mais aberta e uma atitude realista. 

O termo dito “sujo” de ontem pode não ser a palavra “limpa” de hoje, ou mesmo de amanhã, mas agora temos a liberdade de expressão. Podemos agora pegar o velho livro sujo dos anos 1930 e apresentá-lo realisticamente como um clássico erótico ou talvez uma paródia sexual. 

Para nós, o “sujo” e o “limpo” devem ser ponderados,  sobrepesados e avaliados, baseando-nos nos quatro princípios do bom senso, do conhecimento, da habilidade para falar sobre sexo com os outros e da empatia. Não é preciso enrubescer. Nem tampouco é preciso falar ou repetir os termos ditos “sujos”, se assim o examinador os considerar. Porém, é necessário compreender o discurso, sem julgamentos morais ou imorais…

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