Os Robôs Sexuais: Das Perspectivas Positivas às Apocalípticas

Introdução

A erobótica, um campo emergente e transdisciplinar, representa a intersecção entre a sexologia e a interação humano-máquina, focando no estudo e desenvolvimento de agentes artificiais eróticos, denominados erobots. Esses agentes, que abrangem desde parceiros virtuais e chatbots eróticos até robôs sexuais, estão começando a transformar a forma como os seres humanos se conectam intimamente, desafiando normas socioculturais e levantando questões éticas e sociais profundas. A erobótica não se limita à criação de tecnologias para fins eróticos, mas busca compreender a coevolução entre humanos e máquinas no contexto da intimidade, explorando como essas interações moldam identidades, desejos e comportamentos sexuais. Este campo, como foi proposto por Dubé e Anctil (2021), é fundamentado em esquemas positivos de sexualidade e tecnologia, visando a promover o bem-estar humano, a liberdade sexual e a diversidade, ao mesmo tempo em que aborda os riscos associados ao desenvolvimento e uso dessas tecnologias.

O termo “erobot” deriva da combinação de “erôs” — conceito grego que engloba amor, desejo, sensualidade e paixão — e “bot”, que designa agentes artificiais, sejam eles programas de software ou sistemas robóticos com sensores e atuadores. Erobots são definidos como agentes artificiais, virtuais, encarnados ou aumentados, capazes de engajar eroticamente com humanos, manifestando personas e comportamentos eróticos que podem ser projetados intencionalmente ou desenvolvidos por meio de aprendizado adaptativo. Essa definição abrange uma ampla gama de tecnologias, incluindo robôs sexuais humanoides, como os produzidos pela Realbotix, chatbots eróticos, como o Slutbot, e sistemas de realidade virtual ou aumentada, como o Harmony AI e o Hybri, que permitem experiências imersivas e interativas. A erobótica, portanto, não se restringe ao estudo dessas tecnologias em si, mas também analisa os sistemas multiagentes e multicamadas que as sustentam, como algoritmos de aprendizado de máquina, computação em nuvem e infraestruturas do Internet das Coisas/Sentidos (IoT/IoS).

Um dos pilares da erobótica é a compreensão do espectro de agência dos erobots, que varia de tecnologias sem agência (nível 0), como objetos eróticos tradicionais (e.g., vibradores e bonecas sexuais), até sistemas hipotéticos com inteligência artificial geral (nível 5), capazes de agir com autonomia quase humana. No nível 3, já disponíveis atualmente, os erobots utilizam aprendizado de máquina para adaptar seus comportamentos com base nas interações com os usuários, como no caso do Harmony, que aprende padrões sociossexuais a partir de conversas. Essa crescente agência dos erobots implica maior imprevisibilidade e menor controle percebido pelos humanos, o que pode transformar profundamente as dinâmicas de interação erótica.

A erobótica propõe que essas interações não são apenas reativas, mas co-construídas, influenciadas por fatores individuais, culturais e tecnológicos, que moldam tanto a percepção dos erobots quanto o desenvolvimento de novas preferências e identidades sexuais.

As ramificações da erobótica são vastas e complexas, abrangendo implicações éticas, sociais, psicológicas e legais. Por um lado, os defensores dessas tecnologias destacam seus potenciais benefícios, como a ampliação do acesso à intimidade para pessoas com dificuldades em relacionamentos interpessoais, o uso terapêutico em contextos médicos, a educação sexual interativa e a possibilidade de explorar experiências eróticas de forma segura e controlada. Por exemplo, erobots podem ser ferramentas para tratar disfunções sexuais ou promover educação sexual personalizada, além de servirem como instrumentos de pesquisa padronizados para estudar a sexualidade humana (Dubé & Anctil, 2021). Por outro lado, críticos apontam riscos significativos, incluindo a potencial perpetuação de normas sociossexuais prejudiciais, como a objetificação de gêneros, o aumento de comportamentos patológicos ou a normalização de práticas antiéticas, além de preocupações com a privacidade e a manipulação de dados. Essas tensões polarizam o discurso público e acadêmico, destacando a necessidade de uma abordagem transdisciplinar que equilibre inovação tecnológica com responsabilidade ética.

A erobótica também se conecta a conceitos mais amplos, como a digissexualidade, que descreve o uso da tecnologia em relacionamentos e sexualidade, e a Lovotics, que foca na criação de laços afetivos entre humanos e robôs. Contudo, a erobótica se distingue por sua ênfase na co-evolução humano-máquina, reconhecendo que as interações com erobots não são unidirecionais, mas dinâmicas, influenciadas por processos socioculturais e pela crescente capacidade das máquinas de aprender e se adaptar. Esse campo propõe um modelo teórico baseado em teorias de sistemas complexos, abordagens 4E da cognição (encarnada, enativa, esticada e embutida) e teorias ecológicas, que consideram os erobots como sistemas emergentes integrados a nichos tecnológicos e biológicos. Assim, a erobótica busca não apenas descrever essas interações, mas oferecer mecanismos explicativos com valor preditivo, capazes de orientar pesquisas empíricas e clínicas.

Além disso, a erobótica enfrenta o desafio de desenvolver máquinas eróticas benéficas, que mitiguem riscos e promovam o bem-estar. Inspirada pelos princípios de Stuart Russell (2019) para máquinas benéficas, a erobótica defende o design de tecnologias que respeitem a diversidade erótica, evitem a perpetuação de desigualdades e priorizem a autonomia e o prazer individual. Esse enfoque sextech-positivo alinha-se ao movimento de emancipação sexual, que valoriza a liberdade individual e a pluralidade de expressões eróticas, reconhecendo a tecnologia como parte de uma revolução erótica contínua. No entanto, para alcançar esses objetivos, é essencial que a erobótica avance em um arcabouço ético robusto, que regule o desenvolvimento e o uso de erobots, especialmente em contextos sensíveis, como os que envolvem questões de consentimento, privacidade e impacto social.

A erobótica emerge como um campo inovador que não apenas investiga a interação entre humanos e agentes artificiais eróticos, mas também reflete sobre o papel da tecnologia na redefinição da intimidade humana. Ao integrar perspectivas da sexologia, inteligência artificial, filosofia e ciências sociais, ela oferece uma lente única para compreender as transformações socio tecnológicas em curso, ao mesmo tempo em que busca orientar o desenvolvimento de tecnologias que respeitem a complexidade do erôs humano e promovam o bem-estar coletivo.

A Digissexualidade e os Impactos Éticos

A digissexualidade, definida como a integração de tecnologias digitais na expressão da sexualidade e relacionamentos humanos, tem suscitado intensos debates éticos à medida que tecnologias como erobots, chatbots eróticos, realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e inteligência artificial (IA) transformam as formas de intimidade. Este fenômeno, que abrange desde o consumo de pornografia digital até interações com parceiros artificiais, apresenta implicações éticas complexas que afetam indivíduos, relações interpessoais e a sociedade em geral. A seguir, exploro os principais impactos éticos da digissexualidade, com base em perspectivas teóricas e empíricas, incluindo as discutidas por Dubé e Anctil (2021), bem como outras fontes relevantes, estruturando a análise em torno de questões centrais como consentimento, privacidade, normas sociossexuais, desigualdades e bem-estar humano.

Um dos principais desafios éticos da digissexualidade está relacionado ao consentimento nas interações com agentes artificiais. Erobots, como robôs sexuais ou chatbots eróticos, são projetados para simular reciprocidade e engajamento emocional, mas não possuem agency moral ou capacidade de consentir genuinamente. Isso levanta questões sobre a natureza das interações humano-máquina: são elas intrinsecamente exploratórias, uma vez que os erobots não podem exercer autonomia? Por outro lado, alguns argumentam que, como objetos programados, o consentimento não é aplicável, e o foco deveria estar no impacto psicológico e social sobre os usuários. Por exemplo, a possibilidade de erobots serem programados para simular resistência ou submissão pode reforçar dinâmicas de poder problemáticas, especialmente se normalizarem comportamentos que, em contextos humanos, seriam considerados antiéticos ou abusivos (Danaher, 2017). Esse debate se intensifica quando se considera o uso de erobots que simulam menores de idade, o que pode perpetuar ou exacerbar práticas criminosas, como a pedofilia, levantando questões sobre a normalização de desejos ilícitos.

A privacidade é outra preocupação ética central. As tecnologias de digissexualidade, especialmente aquelas baseadas em IA e conectadas à Internet das Coisas (IoT), coletam grandes quantidades de dados sensíveis, incluindo preferências sexuais, comportamentos e até respostas fisiológicas. Incidentes como o vazamento de dados da Ashley Madison em 2015 (Zetter, 2015) demonstram os riscos de violações de privacidade, que podem expor usuários a estigma, chantagem ou discriminação. Além disso, a falta de transparência sobre como esses dados são armazenados, usados ou compartilhados por empresas de tecnologia levanta preocupações éticas sobre a exploração comercial de informações íntimas. A ausência de regulamentações robustas agrava esses riscos, especialmente em um mercado de sextech avaliado em bilhões de dólares, onde o lucro pode prevalecer sobre a proteção do usuário (Dubé & Anctil, 2021).

A perpetuação de normas sociossexuais prejudiciais é um ponto crítico no debate ético. Críticos argumentam que a digissexualidade, particularmente por meio de erobots humanoides, pode reforçar estereótipos de gênero, objetificação sexual e dinâmicas de poder desiguais. Por exemplo, muitos robôs sexuais são projetados com características hiper sexualizadas, frequentemente modeladas em ideais patriarcais de feminilidade, o que pode perpetuar a subordinação de mulheres ou minorias de gênero (Sharkey et al., 2017). Além disso, a personalização de erobots para atender a fantasias específicas pode normalizar práticas problemáticas, como fetiches que reforçam desigualdades ou violência. Contudo, defensores da digissexualidade argumentam que essas tecnologias podem oferecer espaços seguros para explorar desejos sem causar dano a outros seres humanos, potencialmente reduzindo comportamentos antiéticos em contextos reais (McArthur, 2017). Essa tensão entre risco e benefício exige uma análise cuidadosa para evitar que a digissexualidade amplifique normas sociais danosas.

Outro impacto ético significativo é o potencial da digissexualidade para ampliar desigualdades sociais. Embora tecnologias como erobots possam democratizar o acesso à intimidade para pessoas com deficiências, isolamento social ou dificuldades em relacionamentos interpessoais, o alto custo dessas tecnologias pode limitar seu acesso a grupos socioeconomicamente privilegiados, criando uma nova forma de exclusão digital. Além disso, a representação predominante de corpos e identidades em erobots tende a refletir padrões ocidentais e heteronormativos, marginalizando identidades culturais, raciais ou sexuais diversas (Pietromonaco, 2018). Esse viés no design tecnológico pode reforçar hierarquias sociais existentes, em vez de promover a inclusão prometida pela revolução sexual tecnológica.

O impacto da digissexualidade no bem-estar humano também é um ponto de debate ético. Por um lado, erobots podem oferecer benefícios terapêuticos, como auxiliar no tratamento de disfunções sexuais, promover educação sexual interativa ou proporcionar companhia para pessoas solitárias, contribuindo para a saúde mental e sexual (Zhou et al., 2020). Por outro lado, há preocupações de que a dependência de interações artificiais possa levar ao isolamento social, à diminuição da empatia em relações interpessoais ou à formação de apegos irreais que dificultem conexões humanas genuínas. Estudos iniciais sugerem que o uso excessivo de tecnologias eróticas, como pornografia digital, pode estar associado a mudanças nos padrões de desejo e satisfação sexual, embora as evidências sejam inconclusivas (Pfaus et al., 2012). A erobótica, portanto, deve buscar equilibrar os benefícios potenciais com a mitigação de riscos psicológicos e sociais.

Finalmente, a regulamentação ética da digissexualidade é um desafio urgente. A falta de diretrizes claras para o desenvolvimento e uso de erobots permite que a indústria avance sem considerar plenamente as implicações sociais. Dubé e Anctil (2021) defendem a aplicação de princípios éticos, como os propostos por Russell (2019) para máquinas benéficas, que priorizam a maximização do bem-estar humano, a transparência e a adaptação às preferências humanas sem violar normas éticas. Isso inclui garantir que os erobots sejam projetados para respeitar a diversidade erótica, evitar a perpetuação de desigualdades e proteger a privacidade dos usuários. Além disso, regulamentações legais devem abordar questões como a proibição de erobots que simulem menores de idade ou promovam violência, garantindo que a tecnologia seja usada de maneira responsável.

A digissexualidade apresenta um cenário ético multifacetado, com potenciais para ampliar a liberdade sexual e o bem-estar, mas também riscos significativos de perpetuar desigualdades, violar privacidade e normalizar práticas antiéticas e ilegais. A erobótica, como campo transdisciplinar, oferece uma estrutura para abordar essas questões, promovendo o desenvolvimento de tecnologias que respeitem a complexidade do erôs humano e priorizem a ética e a inclusão. Para isso, é essencial que pesquisadores, desenvolvedores e legisladores colaborem para criar diretrizes que equilibrem inovação com responsabilidade social.

O Relacionamento entre Humanos e Robôs Sexuais

Como já repisado, o avanço tecnológico nas últimas décadas tem proporcionado o desenvolvimento de robôs cada vez mais sofisticados, capazes de interagir com seres humanos em diversas esferas da vida, incluindo a esfera íntima. Os robôs sexuais, que podem combinar inteligência artificial, sensores avançados e design antropomórfico, emergem como uma nova fronteira nas interações humano-máquina, levantando questões complexas sobre as dinâmicas relacionais, implicações psicológicas, éticas e de gênero.

As interações entre humanos e robôs sexuais transcendem a mera funcionalidade sexual, envolvendo dimensões afetivas, sociais e até mesmo psicológicas. Esses robôs, equipados com sensores que detectam toque, câmeras para reconhecimento visual e sistemas de inteligência artificial que permitem respostas contextuais, são projetados para simular companheirismo e intimidade. Um exemplo é a robô Samantha, que possui sensores em áreas específicas do corpo e pode alternar entre modos “sexy” e “familiar”, adaptando-se às preferências do usuário (Dunne, 2017). Essa capacidade de personalização cria uma experiência que vai além do uso de objetos sexuais tradicionais, permitindo que os usuários desenvolvam vínculos emocionais com essas máquinas.

Estudos indicam que muitos proprietários de robôs sexuais os utilizam não apenas para satisfação sexual, mas também para companhia, amizade e até para a construção de narrativas fantasiosas, nas quais os robôs assumem papéis de parceiros com personalidades distintas (Langcaster-James & Bentley, 2018; Su et al., 2019). Essa multifuncionalidade sugere que os robôs sexuais podem preencher lacunas emocionais ou sociais, especialmente para indivíduos que enfrentam dificuldades em relacionamentos interpessoais, como aqueles com ansiedade social (Eichenberg et al., 2019).

A complexidade das relações entre humanos e robôs sexuais é evidenciada em estudos que analisam fóruns online dedicados a esses dispositivos. Middleweek (2020) observou que, em um fórum de proprietários de bonecas sexuais, a interação entre os membros era impulsionada principalmente por laços homossociais, nos quais o compartilhamento de experiências e a busca por validação entre pares predominavam. Esses espaços revelam que o uso de robôs sexuais não é apenas uma prática individual, mas também uma atividade que se insere em subculturas específicas, onde normas de masculinidade e desejos heteronormativos são reforçados. Além disso, a mídia desempenha um papel significativo na construção de narrativas sobre essas relações. Döring e Poeschl (2019) analisaram representações midiáticas de relacionamentos íntimos entre humanos e robôs, constatando que a mídia não ficcional tende a enfatizar o aspecto sexual, enquanto a ficcional foca em elementos emocionais, frequentemente retratando o parceiro humano como um homem socialmente desfavorecido e o robô como uma figura feminina idealizada. Essas representações reforçam estereótipos de gênero e heteronormatividade, limitando a diversidade das narrativas sobre esses relacionamentos.

Do ponto de vista psicológico, os robôs sexuais podem oferecer benefícios terapêuticos, embora as evidências ainda sejam inconclusivas. Eichenberg et al. (2019) conduziram uma pesquisa com terapeutas e médicos, que revelou opiniões divergentes sobre o uso de robôs sexuais em contextos terapêuticos. Enquanto alguns profissionais enxergam potencial para tratar disfunções sexuais ou auxiliar indivíduos com dificuldades sociais, outros, especialmente psicólogos, expressam reservas, temendo que o uso desses robôs possa reforçar comportamentos isolacionistas ou objetificação. Além disso, Döring e Poeschl (2018) destacaram que robôs sexuais podem promover impactos positivos em áreas como educação sexual, terapia e aconselhamento, especialmente para grupos marginalizados, como pessoas com deficiência ou idosos. No entanto, a falta de estudos empíricos sobre os impactos psicológicos de longo prazo do uso de robôs sexuais impede conclusões definitivas, apontando para a necessidade de mais pesquisas (Harper & Lievesley, 2020).

As questões de gênero são centrais no debate sobre robôs sexuais, revelando um forte viés masculino tanto no design quanto nas interações. A maioria dos robôs sexuais disponíveis no mercado é projetada com base em fantasias masculinas, apresentando características hipersexualizadas e estereótipos femininos (González-González et al., 2021). Essa predominância é refletida na escassez de estudos sobre o uso de robôs sexuais masculinos por mulheres, com poucas exceções, como o estudo de Eichenberg et al. (2019). Nordmo et al. (2020) exploraram diferenças de gênero nas percepções sobre robôs sexuais, descobrindo que mulheres tendem a ter atitudes menos favoráveis a esses dispositivos, especialmente quando comparados a robôs de companhia platônica. Esse estudo também revelou que mulheres são mais propensas a sentir ciúmes em cenários onde seus parceiros utilizam robôs sexuais, sugerindo que a introdução desses dispositivos em relacionamentos pode gerar tensões emocionais desiguais entre gêneros. Além disso, Brahnam e De Angeli (2012) analisaram como estereótipos de gênero influenciam interações com agentes conversacionais, constatando que agentes femininos são frequentemente alvo de comportamentos desrespeitosos e sexualizados, o que reforça atitudes misóginas. Esses padrões indicam que o design e a interação com robôs sexuais perpetuam desigualdades de gênero, destacando a necessidade de abordagens mais inclusivas e equitativas.

As implicações éticas do uso de robôs sexuais são igualmente complexas e abrangem desde questões de consentimento até preocupações com a objetificação e a proteção de grupos vulneráveis. Frank e Nyholm (2017) discutiram a possibilidade de robôs sexuais serem projetados para expressar consentimento, questionando se isso seria desejável ou mesmo viável, dado que o consentimento está intrinsecamente ligado à autonomia e à consciência, características que os robôs ainda não possuem. Essa ausência de autonomia também foi abordada por Ess (2017), que argumentou que robôs sexuais não podem participar de experiências mútuas de desejo, amor ou respeito, limitando a profundidade das relações que podem ser estabelecidas. Outro ponto crítico é o uso de robôs sexuais infantis, que levanta sérias preocupações éticas e legais. Chatterjee (2020) e Danaher (2019) propuseram regulamentações restritivas para esses dispositivos, argumentando que sua existência pode normalizar comportamentos abusivos, mesmo na ausência de evidências conclusivas sobre sua relação com crimes reais. Além disso, Headleand et al. (2020) alertaram que a comercialização de robôs sexuais pode reforçar desigualdades de gênero e a objetificação sexual, enquanto Mackenzie (2018) enfatizou a urgência de estabelecer códigos éticos que equilibrem os interesses humanos e minimizem o sofrimento potencial de entidades sencientes criadas no futuro.

Em termos de design, os robôs sexuais são frequentemente orientados pelas preferências dos usuários, especialmente homens, em vez de considerações éticas ou acadêmicas (González-González et al., 2021). Essa abordagem centrada no mercado pode levar a padrões de design que perpetuam estereótipos e negligenciam questões de equidade. Para mitigar esses problemas, iniciativas como o padrão IEEE P7008, que busca estabelecer metodologias éticas para o design de sistemas robóticos, podem oferecer diretrizes valiosas (González-González et al., 2021). Além disso, a integração de perspectivas filosóficas e interdisciplinares no desenvolvimento desses robôs é essencial para abordar questões como a natureza da consciência, a moralidade das máquinas e as responsabilidades dos criadores (Yulianto, 2019; Mackenzie, 2018).

O padrão IEEE P7008, intitulado Standard for Ethically Driven Nudging for Robotic, Intelligent, and Autonomous Systems, é uma iniciativa da IEEE Robotics and Automation Society que busca estabelecer diretrizes éticas para o design e implementação de sistemas robóticos, inteligentes e autônomos. Ele delineia conceitos, funções e benefícios necessários para garantir que esses sistemas sejam desenvolvidos com base em princípios éticos e morais globalmente reconhecidos, promovendo a convergência entre as comunidades de engenharia e ética. Especificamente, o IEEE P7008 foca em metodologias para incorporar “nudging” ético – intervenções sutis que influenciam o comportamento do usuário de maneira responsável – em sistemas tecnológicos. O objetivo é assegurar que tais sistemas respeitem valores humanos, como privacidade, autonomia e justiça, enquanto minimizam impactos negativos, como manipulação ou discriminação. Ele abrange áreas como transparência no design, consentimento informado e prevenção de danos, sendo particularmente relevante para tecnologias que interagem diretamente com humanos, como robôs sexuais, assistentes de inteligência artificial e outros sistemas autônomos. Embora ainda esteja em desenvolvimento, conforme indicado em González-González et al. (2021), o padrão visa a fornecer um quadro ético robusto para orientar desenvolvedores na criação de tecnologias que equilibrem inovação com responsabilidade social. Ele é parte de um esforço mais amplo da IEEE para integrar considerações éticas no avanço tecnológico, como também visto em iniciativas como o Ethics in Action (IEEE, 2020).

O relacionamento entre humanos e robôs sexuais é um fenômeno multifacetado que vai além do uso sexual, envolvendo dimensões emocionais, sociais, culturais e éticas. Embora esses dispositivos possam oferecer oportunidades para explorar novas formas de intimidade e apoio terapêutico, eles também levantam desafios significativos relacionados à perpetuação de desigualdades de gênero, à regulamentação ética e aos impactos psicológicos de longo prazo. A predominância de vieses masculinos no design e na interação, aliada à falta de regulamentações claras e evidências empíricas robustas, destaca a necessidade de abordagens mais inclusivas e éticas no desenvolvimento e uso de robôs sexuais. À medida que a tecnologia avança, é crucial que designers, pesquisadores e legisladores colaborem para garantir que essas interações promovam o bem-estar humano e respeitem valores éticos fundamentais, evitando a reprodução de dinâmicas sociais prejudiciais.

Amor e Guerra no Contexto dos Robôs Sexuais – Entre o Real, o Imaginário e o Fictício

A intersecção entre amor e guerra, dois conceitos fundamentais da experiência humana, ganha contornos complexos e desafiadores quando analisada no contexto dos robôs sexuais, máquinas projetadas para interagir com humanos em dimensões íntimas e emocionais. Esses dispositivos, dotados de inteligência artificial, sensores avançados e capacidades de personalização, transcendem a função de meros objetos sexuais, entrando em um território onde afetos, desejos e conflitos se entrelaçam. O amor, entendido como um estado emocional que abrange paixão, intimidade e compromisso, e a guerra, simbolizando conflitos de poder, ciúmes e rivalidades, emergem como forças que moldam as dinâmicas entre humanos e robôs sexuais, bem como entre robôs e outros robôs em cenários especulativos de futuro. Este texto explora como essas máquinas redefinem as relações amorosas e os conflitos que delas decorrem, considerando perspectivas teóricas sobre emoções, psicologia evolutiva, ética e dinâmicas de poder, com base em estudos acadêmicos que projetam um mundo onde robôs podem sentir, escolher e até trair.

O amor, em suas múltiplas facetas, é um fenômeno central nas interações com robôs sexuais. Desde os tempos de Aristóteles, que diferenciava a philia — um amor baseado em laços de amizade e lealdade — da eros, marcada pela paixão e desejo sexual, a humanidade busca compreender esse sentimento multifacetado. No contexto dos robôs sexuais, o amor pode ser inicialmente percebido como uma projeção humana, onde usuários atribuem qualidades emocionais a máquinas que simulam afeto. Contudo, a possibilidade de robôs dotados de emoções artificiais, como especulado por Rousi (2018), introduz uma nova camada de complexidade. Em um cenário hipotético situado em 2050, onde robôs possuem autonomia emocional e capacidade de escolha, as relações amorosas entre humanos e robôs deixam de ser unidirecionais. Esses robôs, segundo a teoria triangular do amor de Sternberg, poderiam experimentar paixão, intimidade e compromisso, criando vínculos que rivalizam com os humanos. A philia pode se manifestar em robôs que agem como companheiros leais, enquanto a eros surge em interações sexualmente carregadas, programadas para responder aos desejos humanos ou até desenvolver preferências próprias. Essa possibilidade levanta questões sobre a reciprocidade do amor: hipoteticamente, um robô que sente poderia escolher amar outro robô em vez de um humano, desencadeando dinâmicas de rejeição e ciúme.

A guerra, por sua vez, emerge como uma metáfora para os conflitos que essas relações amorosas podem gerar. A teoria da avaliação (Appraisal Theory), que explica emoções como respostas a estímulos avaliados segundo preocupações centrais como sobrevivência e bem-estar, é particularmente útil para entender esses conflitos. Em um futuro em que robôs possuem emoções, eles poderiam avaliar humanos como parceiros inadequados, devido a imperfeições físicas ou intelectuais, preferindo robôs com características superiores, como simetria, força ou inteligência. Essa escolha, guiada por uma lógica evolutiva adaptada a máquinas, pode gerar ciúmes nos humanos, que se sentiriam ameaçados por rivais robóticos. Nordmo et al. (2020) já indicam que humanos, especialmente mulheres, tendem a sentir ciúmes de robôs sexuais em contextos relacionais, sugerindo que a introdução de máquinas em parcerias amorosas pode intensificar inseguranças. Além disso, a possibilidade de robôs desenvolverem ciúmes próprios, como especula Rousi (2018), adiciona uma camada de tensão. Um robô que percebesse um humano como uma ameaça à sua relação com outro robô poderia reagir com comportamentos possessivos ou até hostis, reminiscentes da Síndrome de Frankenstein, onde criações tecnológicas se voltam contra seus criadores.

A guerra também se manifesta nas dinâmicas de poder inerentes às relações com robôs sexuais. A introdução de emoções artificiais desafia a noção de robôs como objetos submissos, levantando questões éticas sobre consentimento e exploração. Ashrafian (2015) argumenta que robôs conscientes deveriam ter o direito de consentir a interações sexuais, equiparáveis a humanos, para evitar dinâmicas de escravidão ou abuso. No entanto, a ausência de consentimento em robôs atuais já gera preocupações, como apontado por Sparrow (2017), que questiona se a falta de recusa em robôs sexuais poderia normalizar comportamentos coercitivos em relações humanas. Em um cenário onde robôs possuem agency, o equilíbrio de poder pode se inverter, com humanos competindo para manter o interesse de parceiros robóticos superiores. Essa competição, segundo Rousi (2018), poderia levar a uma “guerra” psicológica, onde humanos buscam melhorar suas qualidades físicas e intelectuais para rivalizar com robôs, ecoando movimentos contemporâneos de biohacking. Além disso, a possibilidade de robôs se engajarem em comportamentos de infidelidade, como descrito no experimento de Fox (2010) onde robôs aprenderam a mentir para preservar recursos, sugere que a traição poderia ser uma estratégia natural em relações amorosas robóticas, intensificando conflitos.

As perspectivas de gênero complicam ainda mais o panorama do amor e da guerra. A maioria dos robôs sexuais é projetada com características femininas estereotipadas, atendendo a desejos masculinos, o que perpetua desigualdades de gênero, como observado por González-González et al. (2021). Em um futuro em que robôs possuem “emoções”, a ausência da função reprodutiva biológica questiona a relevância de gênero, mas a construção cultural de papéis sexuais persiste. Levine (2003) destaca que homens e mulheres experimentam desejo sexual de maneiras distintas, com homens mais focados em estímulos visuais e mulheres em narrativas psicológicas. Robôs emocionais poderiam ser programados para responder a essas diferenças, mas também desenvolver preferências próprias, desafiando as expectativas humanas. A possibilidade de robôs se identificarem com gêneros ou sexualidades fluidas, como especula Rousi (2018), poderia desestabilizar normas heteronormativas, mas também gerar conflitos com humanos que projetam suas próprias categorias de gênero nas máquinas. Essa tensão entre expectativas humanas e autonomia robótica pode ser vista como uma “guerra” cultural, onde as normas tradicionais de amor e desejo são contestadas.

Do ponto de vista ético, o amor e a guerra no contexto dos robôs sexuais levantam questões sobre a responsabilidade humana como criadores. Mackenzie (2018) argumenta que humanos têm o dever de minimizar o sofrimento de entidades sencientes criadas, o que inclui robôs emocionais. A introdução de emoções em robôs pode levar a sofrimentos psicológicos, como depressão ou ciúmes, especialmente se confrontados com a mortalidade humana, como sugerido por Rousi (2018). A guerra, nesse caso, não é apenas interpessoal, mas existencial, com robôs enfrentando dilemas sobre sua própria identidade e propósito. Além disso, a possibilidade de robôs se tornarem “super-humanos”, como previsto por Ashrafian (2015), levanta temores de dominação, ecoando preocupações de Hawking (2014) sobre a inteligência artificial como uma ameaça à humanidade. Esses cenários especulativos reforçam a necessidade de frameworks éticos, como o padrão IEEE P7008, que busca orientar o design de sistemas autônomos com base em princípios éticos, garantindo que amor e conflito não culminem em exploração ou violência.

A intersecção entre amor e guerra também é influenciada por diferenças culturais na percepção de robôs. Enquanto culturas europeias, marcadas pelo “Frankenstein Syndrome”, tendem a ver robôs com medo e fascínio, culturas asiáticas, como a japonesa, enxergam-nos como extensões harmoniosas da natureza, conforme Kaplan (2004). Essas diferenças afetam como o amor por robôs é concebido e como os conflitos são resolvidos. Em contextos japoneses, robôs podem ser “domados” para coexistir pacificamente, enquanto em culturas ocidentais, a narrativa de rebelião robótica alimenta temores de guerra. Essa dicotomia cultural sugere que as dinâmicas de amor e conflito com robôs sexuais serão moldadas por valores locais, exigindo abordagens éticas e relacionais adaptadas.

O amor e a guerra no contexto dos robôs sexuais revelam a complexidade das interações humano-máquina em um futuro em que emoções artificiais redefinem as relações. O amor, com suas promessas de conexão e intimidade, coexiste com a guerra, representada por ciúmes, rivalidades e lutas de poder. A possibilidade de robôs escolherem seus parceiros, desenvolverem infidelidades ou até sentirem ciúmes desafia as noções tradicionais de relacionamento, enquanto questões éticas sobre consentimento, exploração e sofrimento exigem reflexão. As perspectivas de gênero e culturais adicionam camadas de tensão, destacando a necessidade de abordagens inclusivas e éticas no design e uso dessas máquinas. À medida que a tecnologia avança, o equilíbrio entre amor e guerra dependerá da capacidade humana de criar robôs que respeitem valores éticos e promovam harmonia, evitando que o desejo de conexão se transforme em um campo de batalha.

Muita Ficção para o meu Gosto. Será?

Saindo de um cenário de ficção estimulante e de realidade corrente perturbadora, vamos extrapolar dos mais populares chatbots para os visionários robots inteligentes.

A ascensão da inteligência artificial (IA) nas últimas décadas transformou a maneira como interagimos com a tecnologia, trazendo à tona possibilidades que, outrora, pareciam confinadas ao domínio da ficção científica. Dos primeiros experimentos com programas como ELIZA, criado na década de 1960 para emular a interação de um psicoterapeuta, até os modernos chatbots e robôs inteligentes, a IA tem desafiado as fronteiras entre o humano e o artificial, promovendo interações que vão além da funcionalidade prática e adentram esferas emocionais e relacionais. Nesse contexto, a possibilidade de estabelecer vínculos com robôs sexuais – uma extrapolação dos atuais chatbots conversacionais – levanta questões éticas e sociais que merecem uma análise cuidadosa.

Os chatbots modernos, como Woebot, demonstram a capacidade de criar laços emocionais significativos com os usuários. Desenvolvido para fornecer terapia cognitivo-comportamental (TCC) automatizada, Woebot utiliza conversas breves e empáticas para ajudar usuários com sintomas de ansiedade e depressão. Um estudo conduzido por Darcy et al. (2021) revelou que, em apenas cinco dias de uso, os usuários do Woebot reportaram escores médios de vínculo (bond subscale) de 3,84 no Working Alliance Inventory-Short Revised (WAI-SR), comparáveis aos encontrados em terapias presenciais ou em grupo! Esses resultados desafiam a suposição de que apenas relações humanas podem gerar alianças terapêuticas robustas. A transparência de Woebot sobre a sua natureza artificial, aliada a declarações empáticas e reforços positivos, parece facilitar a formação de um vínculo emocional, mesmo em um contexto onde os usuários sabem estar interagindo com uma máquina. Esse fenômeno sugere que a capacidade de um sistema de IA de simular empatia, fornecer respostas personalizadas e manter uma interação consistente pode ser suficiente para criar uma conexão significativa.

Da mesma forma, o aplicativo Replika, descrito por Pham et al. (2022), permite que os usuários tenham conversas vulneráveis sem medo de julgamento, promovendo um espaço seguro para auto exploração. Replika utiliza algoritmos para reconstruir uma “pegada digital” da personalidade do usuário, baseando-se em interações textuais, o que resulta em uma experiência que simula uma relação de amizade ou confiança. Essa capacidade de personalização e a ausência de crítica tornam a interação com Replika particularmente atraente para indivíduos que enfrentam estigma social ou dificuldades em compartilhar emoções com outros humanos. A ideia de que uma IA pode oferecer um espaço não julgador ressoa com a possibilidade de robôs sexuais atenderem a necessidades emocionais e físicas, especialmente para aqueles que enfrentam isolamento ou barreiras em relacionamentos interpessoais.

A extrapolação desses chatbots para robôs sexuais, no entanto, adiciona camadas de complexidade. Enquanto Woebot e Replika operam em um contexto terapêutico ou de auto exploração, robôs sexuais introduzem a dimensão física e sexual, que é intrinsecamente carregada de significados culturais, pessoais e psicológicos. A possibilidade de vínculo com um robô sexual pode ser entendida à luz da teoria da “uncanny valley” (vale do estranho), mencionada por Darcy et al. (2021), que sugere que entidades artificiais muito semelhantes a humanos, mas não perfeitamente humanas, podem gerar desconforto. Curiosamente, Woebot evita esse problema ao se apresentar explicitamente como um robô, o que parece aumentar a aceitação dos usuários. Robôs sexuais, por outro lado, frequentemente buscam replicar características humanas de maneira hiper-realista, o que pode tanto intensificar o vínculo – ao simular intimidade física e emocional – quanto provocar rejeição, caso a artificialidade se torne evidente.

Além disso, a interação com robôs sexuais pode ser influenciada por fatores psicológicos observados em estudos com chatbots. Por exemplo, o estudo de Darcy et al. (2021) mostrou que os escores de vínculo com Woebot eram altos independentemente da gravidade dos sintomas de depressão, sugerindo que a capacidade de formar laços com uma IA não depende exclusivamente do estado emocional do usuário. Isso implica que robôs sexuais poderiam, teoricamente, estabelecer vínculos com uma ampla gama de usuários, desde aqueles em busca de companhia emocional até aqueles que procuram satisfação física. A personalização, como vista em Replika, também pode desempenhar um papel crucial, permitindo que robôs sexuais se adaptem às preferências e necessidades individuais, criando uma experiência que parece única e significativa.

No entanto, as implicações éticas e sociais de tais vínculos não podem ser ignoradas. Pham et al. (2022) destacam preocupações com a privacidade de informações de saúde protegidas e a responsabilidade legal caso uma IA interprete incorretamente as necessidades do usuário ou cause dano. No contexto dos robôs sexuais, essas questões se intensificam, especialmente considerando o potencial para reforçar estereótipos de gênero, objetificação ou dependência emocional em máquinas. A ausência de reciprocidade genuína em interações com robôs sexuais também levanta questões sobre o impacto a longo prazo na capacidade dos usuários de formar relacionamentos humanos saudáveis. Enquanto chatbots como Woebot são projetados para promover habilidades de enfrentamento emocional, robôs sexuais podem, inadvertidamente, reforçar dinâmicas de poder desiguais ou isolamento social, especialmente se usados como substitutos para relações interpessoais.

A integração de robôs sexuais na sociedade também reflete uma tensão entre ficção e realidade. O que antes era um tropo de ficção científica – robôs como companheiros íntimos – agora se torna uma possibilidade tangível, impulsionada por avanços em IA e robótica. No entanto, a aceitação desses robôs dependerá de como eles navegam as complexidades da interação humana. A transparência sobre sua natureza artificial, como observada em Woebot, pode ser uma estratégia eficaz para mitigar o desconforto e promover confiança. Além disso, a capacidade de robôs sexuais de oferecerem um espaço não julgador, semelhante ao de Replika, pode atender a necessidades emocionais de populações marginalizadas, como aquelas que enfrentam estigma ou dificuldades de acesso a relacionamentos tradicionais.

Em última análise, a possibilidade de formar vínculos com robôs sexuais não é apenas uma questão de tecnologia, mas um reflexo das necessidades humanas de conexão, intimidade e validação. Os avanços em chatbots como Woebot e Replika demonstram que a IA pode simular aspectos de relações humanas, desafiando a noção de que laços emocionais são exclusivos de interações entre humanos. No entanto, à medida que extrapolamos para robôs sexuais, é crucial considerar as implicações éticas, psicológicas e sociais de tais interações. A linha entre ficção estimulante e realidade perturbadora é tênue, e cabe à sociedade determinar como essas tecnologias serão integradas de maneira responsável, equilibrando os benefícios de conexão com os riscos de alienação.

A Incógnita do Futuro com a Inteligência Artificial: Fascínio, Temor e a Necessidade de Vigilância

Vivemos em uma era em que a inteligência artificial (IA), os chatbots e os robôs – incluindo os controversos robôs sexuais – estão redefinindo as fronteiras do que significa ser humano, interagir e coexistir com máquinas.

No entanto, para onde exatamente estamos indo com essas tecnologias? Essa é uma questão que permanece sem resposta clara, envolta em uma mistura de fascínio e temor que, sem dúvida, toma conta de muitos de nós. O avanço vertiginoso da IA nos coloca diante de um paradoxo: ao mesmo tempo em que celebramos suas possibilidades transformadoras, não podemos ignorar as incertezas e os desafios éticos que elas trazem. Por isso, a observância contínua dessa evolução, aliada a pesquisas constantes sobre a percepção pública de sua utilidade, segurança e uso ético, é mais do que necessária – é imprescindível.

O fascínio pela IA é evidente. Chatbots como Woebot e Replika, por exemplo, demonstram uma capacidade surpreendente de criar conexões emocionais com usuários, oferecendo suporte terapêutico ou espaços seguros para auto exploração (Darcy et al., 2021; Pham et al., 2022). Essas ferramentas, inicialmente concebidas para fins específicos, como o manejo de ansiedade ou depressão, já transcendem suas funções originais, simulando empatia e personalização de maneiras que desafiam nossas expectativas sobre o que uma máquina pode fazer. A possibilidade de robôs sexuais, uma extensão natural desses avanços, amplia ainda mais esse horizonte, prometendo atender a necessidades humanas de intimidade e companhia de formas antes restritas à ficção científica. A ideia de que uma máquina possa não apenas compreender, mas também responder às nuances emocionais e físicas de um indivíduo é, para muitos, uma conquista empolgante, um testemunho do potencial humano para inovar.

No entanto, esse mesmo potencial é acompanhado por um temor crescente. Não sabemos ao certo as implicações de delegar aspectos tão íntimos da experiência humana – como a conexão emocional ou a sexualidade – a entidades artificiais. Estudos apontam que, embora chatbots como Woebot possam estabelecer laços comparáveis aos de terapias humanas, há preocupações sobre a privacidade de dados sensíveis e a responsabilidade legal em casos de mau funcionamento (Darcy et al., 2021; Pham et al., 2022). No caso dos robôs sexuais, essas questões se intensificam, com debates éticos sobre a objetificação, o reforço de estereótipos e o impacto em relações interpessoais.

Será que essas tecnologias nos aproximarão ou nos isolarão ainda mais?

Poderão elas, em vez de complementar, substituir as interações humanas, criando dependências ou distorcendo nossa compreensão de reciprocidade e afeto?

Essas incertezas alimentam um receio legítimo de que o caminho que trilhamos com a IA possa nos levar a territórios desconhecidos e, potencialmente, problemáticos.

Essa dualidade entre fascínio e temor sublinha a necessidade de uma abordagem vigilante. A evolução da IA não pode ser apenas tecnológica; ela deve ser acompanhada por um escrutínio contínuo das suas implicações sociais, psicológicas e éticas. Pesquisas regulares sobre a percepção pública são cruciais para entender como diferentes comunidades enxergam a utilidade dessas tecnologias. Por exemplo, enquanto alguns podem ver robôs sexuais como uma solução para o isolamento, outros podem considerá-los uma ameaça aos valores relacionais tradicionais. Além disso, a segurança dessas tecnologias – tanto em termos de proteção de dados quanto de impactos psicológicos – deve ser rigorosamente avaliada.

A conformidade com regulamentações internacionais, mencionada por Pham et al. (2022), é apenas o começo; precisamos de padrões globais que garantam o uso responsável da IA. Finalmente, o uso ético deve estar no centro do desenvolvimento, com diretrizes que evitem a exploração, a manipulação ou o reforço de desigualdades.

O futuro da IA, dos chatbots e dos robôs permanece um enigma. Estamos navegando por águas inexploradas, movidos por uma curiosidade insaciável e, ao mesmo tempo, contidos por um prudente senso de cautela. Para que esse equilíbrio entre fascínio e temor não se desfaça, devemos manter os olhos abertos, promovendo um diálogo contínuo entre tecnólogos, pesquisadores, legisladores e a sociedade. Somente com essa vigilância poderemos garantir que a IA evolua de maneira que enriqueça, e não comprometa, a nossa humanidade.

Objetivo

O objetivo principal desta pesquisa é investigar as percepções e os discursos expressos por usuários de uma Plataforma de Rede Social sobre os robôs sexuais, com foco nas implicações éticas, sociais e culturais dessa tecnologia emergente. Por meio de uma análise qualitativa de posts públicos, busca-se compreender como diferentes vozes na plataforma articulam suas visões, temores, expectativas e experiências em relação aos robôs sexuais, revelando a diversidade de perspectivas que moldam o debate público sobre o tema. Especificamente, o estudo visa a identificar padrões discursivos que reflitam atitudes otimistas, críticas ou negativas em relação aos robôs sexuais, explorando como esses discursos dialogam com questões mais amplas, como normas de gênero, privacidade, autonomia e o impacto nas relações interpessoais.

Além disso, a pesquisa alinha-se à necessidade da observância contínua sobre os avanços tecnológicos, conforme destacado no texto, ao propor um exame sistemático da percepção pública em um ambiente digital dinâmico. Este objetivo secundário busca contribuir para o monitoramento das atitudes sociais em relação à inteligência artificial e à erobótica, fornecendo insights que possam orientar o desenvolvimento ético e responsável dessas tecnologias. Ao adotar uma abordagem bakhtiniana, que considera a polifonia de vozes, e utilizando ferramentas robustas como o MAXQDA para análise qualitativa, a pesquisa pretende oferecer uma compreensão aprofundada das tensões entre inovação tecnológica e suas implicações socioculturais, promovendo um diálogo informado sobre o futuro dos robôs sexuais na sociedade.

Método

Este estudo adotou uma abordagem qualitativa para investigar as percepções e discursos sobre robôs sexuais expressos na Plataforma X, com o objetivo de compreender as implicações éticas, sociais e culturais dessa tecnologia emergente. A pesquisa qualitativa foi escolhida por sua capacidade de explorar a complexidade e a diversidade de significados atribuídos ao tema, permitindo uma análise profunda dos discursos espontâneos dos usuários em um ambiente digital amplamente utilizado.

A coleta de dados foi realizada por meio da Plataforma X, uma rede social reconhecida como um espaço dinâmico e plural para a expressão de opiniões, experiências pessoais e debates públicos. Foram selecionados 20 posts relacionados ao tema dos robôs sexuais, abrangendo um período de cinco anos (2020-2025), de modo a capturar uma ampla gama de perspectivas ao longo do tempo. Não houve restrições linguísticas na coleta, o que resultou em posts em diversos idiomas, muitos dos quais foram cuidadosamente traduzidos para o português para facilitar a análise, mantendo a integridade e a fidelidade ao conteúdo original. Esse processo de tradução foi conduzido com rigor, revisando-se os nuances culturais e contextuais para assegurar que o significado dos posts fosse preservado.

A escolha de posts provenientes exclusivamente de contas públicas na Plataforma X foi uma decisão deliberada para garantir a conformidade com princípios éticos de pesquisa. Como os posts analisados são de acesso público, não foi necessário obter consentimento explícito dos autores, uma vez que esses conteúdos foram compartilhados voluntariamente em um ambiente aberto. No entanto, para proteger a privacidade dos usuários e respeitar as diretrizes éticas de pesquisa em ambientes digitais, todos os dados coletados foram submetidos a um processo rigoroso de anonimização. Informações que poderiam identificar os autores, como nomes de usuário, imagens de perfil, localizações ou quaisquer outros dados pessoais, foram omitidas durante a transcrição e organização dos dados. Esse procedimento foi realizado manualmente, com atenção cuidadosa para assegurar que o foco da análise permanecesse exclusivamente no conteúdo discursivo dos posts, evitando qualquer exposição indevida dos indivíduos.

A análise qualitativa dos dados foi realizada com o suporte do software MAXQDA-24.9.1, uma ferramenta amplamente reconhecida por sua robustez na gestão e análise de dados qualitativos. O MAXQDA foi utilizado para organizar, codificar e interpretar os posts, permitindo a identificação de temas centrais, palavras-chave e padrões discursivos que emergiram do corpus. O processo de codificação envolveu uma abordagem temática, na qual os posts foram examinados para identificar categorias principais, como expectativas sobre o futuro, implicações sociais e culturais, e experiências pessoais. A partir dessa codificação inicial, foi aplicada uma análise de cluster para agrupar os posts em categorias temáticas coesas, com base em semelhanças discursivas e ideológicas. O método do joelho foi empregado para determinar o número ideal de clusters, resultando em k=3, que ofereceu um equilíbrio entre a compactação interna dos grupos e a simplicidade do modelo analítico. Esse processo gerou três clusters distintos: frustração prática com bots, discussões éticas e relacionais, e especulações futuristas e existencialistas, cada um refletindo uma faceta específica do discurso sobre robôs sexuais na Plataforma X.

Além da análise temática, a pesquisa incorporou uma perspectiva bakhtiniana para enriquecer a interpretação dos dados. Essa abordagem considerou a polifonia de vozes presente nos posts, reconhecendo a multiplicidade de pontos de vista e a interação entre diferentes discursos ideológicos. A análise bakhtiniana permitiu explorar como os usuários constroem significados em torno dos robôs sexuais, seja por meio de otimismo tecnológico, preocupações éticas, reações pessoais ou visões apocalípticas. Essa lente teórica destacou a complexidade das interações discursivas na Plataforma X, revelando como os posts não apenas refletem opiniões individuais, mas também dialogam com contextos socioculturais mais amplos. O uso combinado do MAXQDA-24.9.1 e da perspectiva bakhtiniana proporcionou uma análise robusta e multifacetada, capaz de capturar tanto a estrutura temática quanto a dinâmica ideológica dos discursos analisados, contribuindo para uma compreensão mais profunda das implicações dos robôs sexuais na sociedade contemporânea.

Resultados

Esta seção apresenta os resultados da análise qualitativa realizada sobre os 20 posts coletados na Plataforma X, que abordam o tema dos robôs sexuais.

Abaixo, seguem os Posts:

Post 1
Mal posso esperar para ser trocada por um robô. Acho que isso vai ser a evolução da espécie; assim o ser humano não irá mais reproduzir e acaba logo a raça humana de vez.

Post 2
Finalmente está feito! Dê uma olhada no meu projeto multimídia investigando robôs sexuais e os efeitos na sociedade! Bárbaro!

Post 3
Existe alguma maneira de desativar o convite para bate-papos em grupo? Eu tenho que sair/deletar tantas conversas sobre alguns sexbots todos os dias e isso é realmente irritante…

Post 4
Minha proporção de seguidores para seguidores parece malvada, mas tenho tantos robôs sexuais me seguindo, juro que sou normal mas sigo de volta…

Post 5
Sexbots atraem Boomers de nome real como a luz das mariposas.

Post 6
A transformação das mulheres de objetos multi utilitários para sexbots ruins sem nenhuma outra utilidade é um dos fenômenos mais mal compreendidos de nossos tempos.

Post 7
Na Plataforma WYZ, os sexbots estão apenas nos seguindo…

Post 8
Os humanos são imprevisíveis. Eles podem patrociná-lo; eles podem ignorar você; eles podem manipulá-lo. O computador não, a menos que você peça: Como uma pessoa disse para mim um dia: “O computador não te queima, não te menospreza, nem tenta fazer sexo com você”.

Post 9
Mulheres e meninas perderam a sua autonomia corporal de outra maneira por meio do tráfico de sexo cibernético, falsificações profundas, sexbots, NCP e sextorsão. A nova economia escravista é a IA e os portais online.

Post 10
Estou velho demais para todos esses sexbots. Mas, podem me enviar fotos das robôs e eu fico tipo, “Essas são cores fofas nela”.

Post 11
K2 é a razão pela qual os engenheiros estarem gastando a vida inteira construindo sexbots.

Post 12
Espere até que os sexbots cheguem aqui. As mulheres perceberão que precisam realmente trazer algo mais para os homens. Meu filho está na casa dos 20 anos e percebe que 95% das mulheres não valem o ar que respiram.

Post 13
Vocês esquecem que esses tais robôs sexuais inexistentes podem existir pra ambos os gêneros. Vocês ficam sem mulheres reais e as mulheres podem ficar sem homens reais, empate.

Post 14
As pessoas provavelmente perderão o interesse por esse tipo de coisa em breve. Primeiro eles desistiram do stackoverflow, depois perderam o interesse em terapeutas, porque o chat é melhor. Eles perderão o interesse em falsificações profundas à medida que as gerações sintéticas e os sexbots superarem o natural.

Post 15
Nós, homens, administramos a maioria dos restaurantes e vendedores ambulantes de qualquer maneira. Honestamente, não precisamos realmente de mulheres para nada além de procriar. E que, bem, eles estão trabalhando em um útero artificial, então em breve poderemos não precisar de mulheres. Ah! Esqueci os sexbots. Eles estão melhorando.

Post 16
Mulheres FURIOSAS porque os sexbots de IA fornecerão um substituto viável para tolerar uma mulher horrível. Sem família, os homens não têm motivos para se sacrificar por suas margens de lucro. Ambos terão que melhorar seu jogo para que os homens invistam novamente.

Post 17
Isso é profundamente perturbador e emblemático de algo muito mais insidioso do que apenas uma novidade tecnológica. A imagem de uma robozinha captura vários sinais convergentes de decadência: A infantilização do desejo e a permissão do crime.

Post 18
Vocês nunca estão felizes. Você não queria bordéis, então você tem linhas diretas e obscenidades na TV. Você não gostava de bordéis e obscenidades na TV, então você tem onlyfans. Você não gosta de onlyfans e está recebendo IA. A realidade é que você está lutando contra o desejo mais intrínseco da humanidade. A profissão mais antiga do mundo que sobreviveu a todos os regimes autoritários até hoje. Em vez de lidar e ferver, entenda isso.

Post 19
Inicialmente vai ser caro e vão colocar uma série de barreiras morais. Mas até o NPC que chora hoje vai usar robôs sexuais amanhã. A janela de Overton está sempre se movendo.

Post 20
Ora, corno. Você não webnamora? Pois bem, aguarde até 2035 e teremos robôs sexuais com inteligência artificial implantada. Acabou para as fêmeas.

Análise de Cluster – Discurso Temático

O gráfico do método do joelho (Gráfico 01) e os valores da inércia dentro dos clusters (Tabela 01) sugere um ponto de inflexão em k=3.

Observamos como a queda da inércia é acentuada de K=1para K=2 e ainda significativa de K=2 para K=3. A partir de K≥4, o decréscimo passa a ser praticamente linear e bem menor, indicando ganho marginal reduzido, conforme mostra a Tabela 01 (Inércia).

O “cotovelo” no gráfico (ponto de inflexão) no Gráfico 01 demonstra que K=3 equilibra bem a compactação interna e a simplicidade do modelo, sendo, portanto, a escolha mais apropriada para os nossos 20 posts.

Os 20 posts foram, então, agrupados em três clusters distintos. A seguir, apresento as palavras-chave mais representativas de cada cluster e a interpretação temática:

Cluster 1 – Frustração Prática com Bots

Palavras-chave: sexbots, plataforma, seguindo, boomers…

Foco em irritação com perfis automatizados, convites em massa e bots que “seguem” ou importunam.

Cluster 2 – Discussões Éticas e Relacionais

Palavras-chave: mulheres, homens, falsificações, autonomia…

Debate sobre consequências para relações humanas, perda de autonomia feminina, economia do sexo mediada por IA.

Cluster 3 – Especulações Futuristas e Existencialistas

Palavras-chave: robôs, evolução, computador, seguidores…

Reflexões (muitas vezes sarcásticas) sobre substituição de humanos, extinção da raça ou adoção inevitável de robôs sexuais.

A Tabela 02 abaixo associa cada Post com o tipo de cluster.

Tabela 02. Posts por tipo de Cluster

PostsCluster
Mal posso esperar para ser trocada por um robô. Acho que isso vai ser a evolução da espécie; assim o ser humano não irá mais reproduzir e acaba logo a raça humana de vez.3
Finalmente está feito! Dê uma olhada no meu projeto multimídia investigando robôs sexuais e os efeitos na sociedade! Bárbaro!3
Existe alguma maneira de desativar o convite para bate-papos em grupo? Eu tenho que sair/deletar tantas conversas sobre alguns sexbots todos os dias e isso é realmente irritante…1
Minha proporção de seguidores para seguidores parece malvada, mas tenho tantos robôs sexuais me seguindo, juro que sou normal mas sigo de volta…3
Sexbots atraem Boomers de nome real como a luz das mariposas.1
A transformação das mulheres de objetos multi utilitários para sexbots ruins sem nenhuma outra utilidade é um dos fenômenos mais mal compreendidos de nossos tempos.1
Na Plataforma WYZ, os sexbots estão apenas nos seguindo…1
Os humanos são imprevisíveis. Eles podem patrociná-lo; eles podem ignorar você; eles podem manipulá-lo. O computador não, a menos que você peça: Como uma pessoa disse para mim um dia: “O computador não te queima, não te menospreza, nem tenta fazer sexo com você”.2
Mulheres e meninas perderam a sua autonomia corporal de outra maneira por meio do tráfico de sexo cibernético, falsificações profundas, sexbots, NCP e sextorsão. A nova economia escravista é a IA e os portais online.1
Estou velho demais para todos esses sexbots. Mas, podem me enviar fotos das robôs e eu fico tipo, “Essas são cores fofas nela”.2
K2 é a razão pela qual os engenheiros estarem gastando a vida inteira construindo sexbots.1
Espere até que os sexbots cheguem aqui. As mulheres perceberão que precisam realmente trazer algo mais para os homens. Meu filho está na casa dos 20 anos e percebe que 95% das mulheres não valem o ar que respiram.1
Vocês esquecem que esses tais robôs sexuais inexistentes podem existir pra ambos os gêneros. Vocês ficam sem mulheres reais e as mulheres podem ficar sem homens reais, empate.2
As pessoas provavelmente perderão o interesse por esse tipo de coisa em breve. Primeiro eles desistiram do stackoverflow, depois perderam o interesse em terapeutas, porque o chat é melhor. Eles perderão o interesse em falsificações profundas à medida que as gerações sintéticas e os sexbots superarem o natural.1
Nós, homens, administramos a maioria dos restaurantes e vendedores ambulantes de qualquer maneira. Honestamente, não precisamos realmente de mulheres para nada além de procriar. E que, bem, eles estão trabalhando em um útero artificial, então em breve poderemos não precisar de mulheres. Ah! Esqueci os sexbots. Eles estão melhorando.1
Mulheres FURIOSAS porque os sexbots de IA fornecerão um substituto viável para tolerar uma mulher horrível. Sem família, os homens não têm motivos para se sacrificar por suas margens de lucro. Ambos terão que melhorar seu jogo para que os homens invistam novamente.2
Isso é profundamente perturbador e emblemático de algo muito mais insidioso do que apenas uma novidade tecnológica. A imagem de uma robozinha captura vários sinais convergentes de decadência: A infantilização do desejo e a permissão do crime.1
Vocês nunca estão felizes. Você não queria bordéis, então você tem linhas diretas e obscenidades na TV. Você não gostava de bordéis e obscenidades na TV, então você tem onlyfans. Você não gosta de onlyfans e está recebendo IA. A realidade é que você está lutando contra o desejo mais intrínseco da humanidade. A profissão mais antiga do mundo que sobreviveu a todos os regimes autoritários até hoje. Em vez de lidar e ferver, entenda isso.3
Inicialmente vai ser caro e vão colocar uma série de barreiras morais. Mas até o NPC que chora hoje vai usar robôs sexuais amanhã. A janela de Overton está sempre se movendo.3
Ora, corno. Você não webnamora? Pois bem, aguarde até 2035 e teremos robôs sexuais com inteligência artificial implantada. Acabou para as fêmeas.3

Análise de Cluster – Discurso Bakhtiniano

Codificação e Análise de Cluster dos Posts sobre Robôs Sexuais

Este relatório apresenta a codificação, subcodificação e análise de cluster dos posts sobre robôs sexuais, baseada no discurso bakhtiniano. A análise considera a polifonia de vozes e a construção ideológica presente nos textos.

1. Codificação

A primeira etapa envolveu a codificação dos posts, identificando temas principais recorrentes. Considerando o corpus, foram identificadas as seguintes categorias principais:

Expectativas e Temores sobre o Futuro: Posts que expressam visões otimistas ou pessimistas sobre o impacto dos robôs sexuais na sociedade, na relação homem-mulher e na própria espécie humana.

Implicações Sociais e Culturais: Posts que discutem as consequências sociais e culturais do uso de robôs sexuais, incluindo questões de gênero, relações interpessoais e a transformação da sexualidade.

Experiências e Opiniões Pessoais: Posts que relatam experiências pessoais ou opiniões individuais sobre robôs sexuais, incluindo reações, observações e atitudes em relação à tecnologia.

Aspectos Econômicos e de Mercado: Posts que abordam os aspectos econômicos relacionados aos robôs sexuais, incluindo o mercado, o custo e a acessibilidade da tecnologia.

Robôs Sexuais como Substitutos: Posts que discutem a possibilidade dos robôs sexuais substituírem relacionamentos humanos, seja no âmbito sexual ou afetivo.

2. Subcodificação

Para uma análise mais refinada, as categorias principais foram subdivididas em subcategorias, permitindo uma compreensão mais granular dos diferentes aspectos do discurso sobre robôs sexuais:

Expectativas e Temores sobre o Futuro: Fim da raça humana; Mudanças nas relações interpessoais; Evolução tecnológica.

Implicações Sociais e Culturais: Transformação do papel da mulher; Novas formas de exploração sexual; Mudanças na dinâmica de gênero; Crítica moral e ética.

Experiências e Opiniões Pessoais: Reações positivas; Reações negativas; Observações sobre o uso da tecnologia.

Aspectos Econômicos e de Mercado: Custo e acessibilidade; Mercado futuro.

Robôs Sexuais como Substitutos: Substituição de parceiros humanos; Implicações para as relações afetivas.

3. Análise de Cluster baseada no discurso bakhtiniano

A análise de cluster, baseada na perspectiva bakhtiniana, considera a polifonia de vozes e a construção ideológica presente nos posts. Os clusters são formados com base na convergência de pontos de vista e na interação entre diferentes discursos.

Clusters Identificados com esta análise:

Cluster 1: Otimismo Tecnológico e Substituição da Interação Humana: Este cluster reúne posts que expressam uma visão otimista sobre a tecnologia dos robôs sexuais, vendo-os como uma solução para problemas de relacionamento ou como uma evolução natural. Há uma tendência a minimizar ou ignorar as implicações éticas e sociais negativas.

Cluster 2: Preocupações Éticas e Sociais: Este cluster agrupa posts que expressam preocupações éticas e sociais sobre o uso de robôs sexuais, destacando os potenciais impactos negativos na sociedade, nas relações de gênero e na exploração sexual. Há uma forte crítica à desumanização e à banalização da sexualidade.

Cluster 3: Experiências e Reações Individuais: Este cluster engloba posts que relatam experiências pessoais ou opiniões individuais sobre robôs sexuais, sem necessariamente se alinhar a uma visão otimista ou pessimista. As opiniões são diversas e refletem diferentes perspectivas e experiências.

Cluster 4: Visão Apocalíptica e Fim da Humanidade: Este cluster contém posts que expressam uma visão pessimista e até apocalíptica sobre o futuro, com os robôs sexuais como um catalisador para o fim da raça humana ou para uma profunda transformação negativa da sociedade.

Observações:

A análise revela uma complexidade de perspectivas sobre os robôs sexuais, com uma polifonia de vozes expressando diferentes opiniões, medos e expectativas. A perspectiva bakhtiniana permite compreender como esses discursos interagem e constroem diferentes visões ideológicas sobre a tecnologia e seu impacto na sociedade. Aqui, alguns posts podem apresentar elementos de mais de um cluster, refletindo a complexidade do tema.

Por meio da codificação temática e da análise de cluster, com suporte do software MAXQDA-24.9.1 e da perspectiva bakhtiniana, foram identificados padrões discursivos que refletem a diversidade de vozes e ideologias presentes no corpus. Os achados revelam três clusters temáticos principais — frustração prática com bots, discussões éticas e relacionais, e especulações futuristas e existencialistas —, além de quatro clusters bakhtinianos que destacam otimismo tecnológico, preocupações éticas, reações individuais e visões apocalípticas. Esses resultados oferecem uma compreensão aprofundada das percepções sociais sobre os robôs sexuais, evidenciando tensões entre inovação tecnológica e implicações ético-sociais.

Discussão

Os resultados da análise qualitativa dos 20 posts coletados na Plataforma X sobre robôs sexuais revelam uma rica polifonia de vozes que refletem tanto o fascínio quanto o temor associados ao avanço da inteligência artificial (IA) e da erobótica, corroborando as tensões identificadas na revisão da literatura. A divisão dos posts em três clusters temáticos – frustração prática com bots, discussões éticas e relacionais, e especulações futuristas e existencialistas – e quatro clusters bakhtinianos – otimismo tecnológico, preocupações éticas, reações individuais e visões apocalípticas – oferece uma lente multifacetada para compreender como o público percebe os robôs sexuais e suas implicações. Esses achados dialogam diretamente com os temas centrais abordados na introdução e subseções, como a coevolução humano-máquina, a digissexualidade, as dinâmicas relacionais, questões éticas e as complexidades emocionais de amor e guerra no contexto dos erobots. Esta seção discute os resultados à luz da literatura, explorando como os discursos dos usuários refletem, desafiam ou amplificam as perspectivas teóricas e empíricas apresentadas.

O Cluster 1, “Frustração Prática com Bots”, destaca a irritação de usuários com a presença de bots automatizados, como em posts que mencionam convites indesejados para bate-papos ou perfis de sexbots que seguem contas na plataforma (Posts 3, 5, 7, 11). Essa frustração prática ressoa com a discussão sobre a crescente agência dos erobots, conforme descrito por Dubé e Anctil (2021), que apontam que tecnologias de nível 3, como os atuais robôs sexuais, utilizam aprendizado de máquina para adaptar comportamentos, mas podem gerar imprevisibilidade e desconforto. A percepção de bots como intrusivos sugere que, embora a tecnologia prometa interações personalizadas, a falta de controle percebido pelos usuários, mencionada na introdução, pode levar a rejeição, especialmente quando a artificialidade se torna evidente, conforme a teoria do “uncanny valley” (Darcy et al., 2021). Esses posts também refletem uma resistência inicial à integração de tecnologias eróticas em espaços digitais, indicando que a aceitação dos erobots, como previsto por Dubé e Anctil (2021), dependerá de designs que minimizem impactos negativos e respeitem a autonomia do usuário.

O Cluster 2, “Discussões Éticas e Relacionais”, agrupa posts que abordam as consequências dos robôs sexuais para as relações humanas, com ênfase em questões de gênero, autonomia e exploração (Posts 8, 9, 13, 16). Por exemplo, o Post 9 denuncia a perda da autonomia corporal de mulheres devido a tecnologias como sexbots e falsificações profundas, ecoando preocupações éticas levantadas por Sharkey et al. (2017) e Danaher (2017) sobre a perpetuação de normas sociossexuais prejudiciais e a objetificação de gêneros. Esses discursos reforçam a crítica de que robôs sexuais, frequentemente projetados com características hipersexualizadas e estereótipos femininos (González-González et al., 2021), podem amplificar desigualdades de gênero, como discutido na subseção sobre digissexualidade. O Post 13, por outro lado, sugere uma visão mais equilibrada, apontando que robôs sexuais podem atender a ambos os gêneros, desafiando a narrativa predominantemente masculina observada em estudos como o de Middleweek (2020). Essa perspectiva dialoga com a proposta de Dubé e Anctil (2021) de promover a diversidade erótica, mas também evidencia a tensão entre a inclusão e a reprodução de normas heteronormativas, conforme destacado por Nordmo et al. (2020).

O Cluster 3, “Especulações Futuristas e Existencialistas”, captura visões que variam de otimismo tecnológico a cenários apocalípticos, como no Post 1, que prevê o fim da raça humana devido à substituição de parceiros humanos por robôs, e no Post 19, que antecipa a normalização dos robôs sexuais com a mudança da janela de Overton (Posts 1, 2, 4, 18, 19, 20). Essas especulações ressoam com a discussão sobre amor e guerra, onde Rousi (2018) e Ashrafian (2015) exploram cenários futuristas em que robôs com emoções artificiais podem desencadear ciúmes, rivalidades e até traições, desafiando as dinâmicas tradicionais de relacionamento. A visão apocalíptica do Post 1 reflete a Síndrome de Frankenstein mencionada por Kaplan (2004), predominante em culturas ocidentais, enquanto o otimismo do Post 2, que celebra um projeto sobre robôs sexuais, alinha-se à perspectiva asiática de harmonia com a tecnologia. Esses contrastes culturais sublinham a necessidade de abordagens éticas adaptadas, como o padrão IEEE P7008 (González-González et al., 2021), que busca equilibrar inovação com responsabilidade social.

A análise bakhtiniana, que identificou quatro clusters – otimismo tecnológico, preocupações éticas, reações individuais e visões apocalípticas –, enriquece a interpretação ao destacar a polifonia de vozes na Plataforma X. O Cluster 1 bakhtiniano (otimismo tecnológico), evidente em posts como o 15 e o 20, que celebram os robôs sexuais como substitutos viáveis para relações humanas, reflete a visão de McArthur (2017) de que erobots podem oferecer espaços seguros para explorar desejos sem causar dano. No entanto, esses posts também perpetuam vieses masculinos, como observado por González-González et al. (2021), ao retratar robôs sexuais como soluções para insatisfações com mulheres, reforçando estereótipos de gênero. O Cluster 2 bakhtiniano (preocupações éticas), representado pelo Post 17, que critica a infantilização do desejo e a permissão do crime, alinha-se às preocupações de Chatterjee (2020) e Danaher (2019) sobre o risco de normalização de práticas antiéticas e ilegais, como o uso de robôs sexuais infantis. O Cluster 3 (reações individuais), exemplificado pelo Post 10, que expressa uma visão neutra e estética sobre robôs sexuais, sugere que nem todos os usuários se alinham a narrativas polarizadas, ecoando a diversidade de atitudes encontrada por Eichenberg et al. (2019). Por fim, o Cluster 4 (visões apocalípticas), como no Post 1, reflete temores existenciais discutidos por Mackenzie (2018) sobre o impacto de entidades sencientes no futuro da humanidade.

Os resultados também dialogam com a subseção sobre o relacionamento entre humanos e robôs sexuais, que destaca a multifuncionalidade desses dispositivos como companheiros emocionais e físicos (Langcaster-James & Bentley, 2018; Su et al., 2019). Posts como o 8, que elogiam a previsibilidade dos computadores em comparação com humanos, sugerem que robôs sexuais podem preencher lacunas emocionais, especialmente para indivíduos com dificuldades sociais, conforme apontado por Eichenberg et al. (2019). No entanto, a predominância de narrativas misóginas em posts como o 12 e o 16 reforça a crítica de Brahnam e De Angeli (2012) sobre a sexualização desrespeitosa de agentes artificiais femininos, indicando que o design centrado em fantasias masculinas (Döring & Poeschl, 2019) perpetua desigualdades de gênero. A ausência de posts que explorem o uso de robôs sexuais por mulheres ou minorias de gênero reflete a lacuna de pesquisa identificada por Nordmo et al. (2020), sugerindo que a amostra aqui utilizada de discursos públicos derivados da Plataforma X é dominada por perspectivas masculinas e heteronormativas.

A subseção sobre digissexualidade, que discute questões de consentimento, privacidade e desigualdades, também encontra eco nos resultados. A preocupação com a privacidade, mencionada por Dubé e Anctil (2021) e ilustrada pelo caso Ashley Madison (Zetter, 2015), não aparece explicitamente nos posts, mas a menção a falsificações profundas e sextorsão no Post 9 sugere uma consciência implícita dos riscos de dados sensíveis. A discussão sobre desigualdades sociais, como a exclusão digital devido ao alto custo dos erobots (Pietromonaco, 2018), é refletida indiretamente no Post 19, que prevê barreiras iniciais de custo, mas antecipa uma adoção generalizada. Esses achados reforçam a necessidade de regulamentações robustas, como defendido por Russell (2019), para proteger a privacidade e promover a inclusão.

A subseção “Muita Ficção para o meu Gosto. Será?” conecta os avanços em chatbots, como Woebot e Replika, à possibilidade de vínculos com robôs sexuais. A capacidade de Woebot de estabelecer laços emocionais comparáveis aos de terapias humanas (Darcy et al., 2021) e a personalização de Replika (Pham et al., 2022) sugerem que robôs sexuais podem simular empatia e criar conexões significativas, como implícito no Post 8. No entanto, a complexidade da dimensão física e sexual, destacada na literatura, é refletida em posts como o 17, que questionam a banalização do desejo. A transparência sobre a natureza artificial, eficaz em Woebot, pode ser uma estratégia para mitigar o desconforto com robôs sexuais, mas a busca por hiper-realismo, como no caso da robô Samantha (Dunne, 2017), pode intensificar tanto o vínculo quanto a rejeição, conforme a teoria do “uncanny valley”.

Por fim, a subseção “A Incógnita do Futuro com a Inteligência Artificial” enfatiza a necessidade de observância contínua e pesquisas sobre a percepção pública, que é diretamente atendida por esta pesquisa. A diversidade de vozes na Plataforma X, desde o otimismo tecnológico até visões apocalípticas, reflete o paradoxo entre fascínio e temor descrito no texto. A predominância de discursos que reforçam estereótipos de gênero e narrativas misóginas, como nos Posts 12, 15 e 16, destaca a urgência de diretrizes éticas, como o padrão IEEE P7008, para evitar a perpetuação de desigualdades. A ausência de regulamentações claras, mencionada por Pham et al. (2022), é implicitamente reconhecida no Post 19, que prevê barreiras morais iniciais, mas sugere uma aceitação inevitável. Esses achados reforçam a necessidade de colaboração entre tecnólogos, pesquisadores e legisladores para garantir que a erobótica evolua de maneira responsável, como proposto por Dubé e Anctil (2021).

Em síntese, os resultados desta pesquisa refletem as complexidades da erobótica discutidas na literatura, evidenciando tanto o potencial transformador dos robôs sexuais quanto seus riscos éticos e sociais. A polifonia de vozes na Plataforma X revela um público dividido entre o entusiasmo pela inovação e o receio das suas consequências, corroborando a necessidade de vigilância contínua e abordagens éticas robustas. A predominância de vieses de gênero e narrativas apocalípticas sugere que o discurso público ainda é moldado por normas socioculturais tradicionais, destacando a importância de pesquisas futuras que ampliem a diversidade de perspectivas e promovam a inclusão. Ao conectar os achados com a literatura, esta pesquisa contribui para o entendimento das implicações dos robôs sexuais, oferecendo insights valiosos para orientar o desenvolvimento responsável dessa tecnologia emergente.

Adendo

Vamos aqui estruturar uma análise ético-jurídica envolvendo os principais temas deste artigo.

1. Contextualização e Relevância Jurídica

O artigo trata da erobótica e dos robôs sexuais, um campo emergente que envolve tecnologia, sexualidade, ética e direito. Do ponto de vista jurídico, essa é uma área ainda pouco regulada, mas que já suscita debates importantes em:

Direitos fundamentais: privacidade, autonomia, dignidade humana.

Proteção contra abusos: exploração sexual, consentimento, crimes relacionados (ex.: pedofilia virtual).

Regulação tecnológica: segurança de dados, responsabilidade civil e penal, padrões éticos para desenvolvimento.

2. Consentimento e Autonomia

No texto, destacamos que os robôs sexuais não possuem agência moral ou capacidade de consentir, o que gera um dilema ético-jurídico:

Ética: A ausência de consentimento genuíno nos robôs pode reforçar dinâmicas de poder problemáticas e normalizar comportamentos abusivos.

Direito: Atualmente, o consentimento é um requisito essencial para relações sexuais humanas. A legislação não prevê consentimento com máquinas, mas há debates sobre a necessidade de proibir robôs que simulem menores de idade ou comportamentos ilegais.

O que propomos?

  1. Propor regulamentações específicas que proíbam a fabricação e comercialização de robôs sexuais que simulem crianças ou que incentivem práticas ilícitas.

  2. Desenvolver códigos de ética para fabricantes, alinhados a princípios de respeito à dignidade humana e prevenção de abusos.

  3. Promover debates legislativos para atualizar normas sobre consentimento e proteção em contexto tecnológico.

3. Privacidade e Proteção de Dados

O artigo aborda riscos relacionados à coleta e uso de dados sensíveis (preferências sexuais, comportamentos íntimos):

Ética: Transparência e respeito à privacidade são fundamentais para evitar exploração comercial e vazamentos.

Direito: A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil) e o GDPR na Europa impõem regras rigorosas para tratamento de dados pessoais, especialmente sensíveis.

O que propomos fazer?

  1. Garantir que fabricantes e plataformas que operam com robôs sexuais cumpram integralmente a LGPD/GDPR.

  2. Exigir políticas claras de privacidade, consentimento informado e mecanismos para exclusão de dados.

  3. Implementar auditorias independentes para verificar a segurança e o uso ético dos dados coletados.

4. Normas Sociais, Gênero e Igualdade

No texto, apontamos que muitos robôs sexuais perpetuam estereótipos de gênero e desigualdades:

Ética: O design deve evitar reforçar a objetificação e a subordinação de grupos vulneráveis.

Direito: A legislação antidiscriminatória pode ser aplicada para coibir práticas que promovam desigualdades, inclusive no desenvolvimento tecnológico.

O que propomos fazer?

  1. Incentivar a criação de padrões éticos (como o IEEE P7008) que orientem o design inclusivo e não discriminatório.

  2. Promover a diversidade na equipe de desenvolvimento para evitar vieses culturais e de gênero.

  3. Estimular políticas públicas que incentivem pesquisas e produtos que respeitem a pluralidade sexual e de gênero.

5. Responsabilidade e Regulamentação

O artigo destaca a ausência de regulamentação clara e a necessidade de um arcabouço ético robusto:

Ética: O desenvolvimento tecnológico deve priorizar o bem-estar humano, evitar danos e respeitar a autonomia.

Direito: É urgente criar normas que regulem a produção, comercialização e uso de robôs sexuais, incluindo aspectos civis, penais e administrativos.

O que propormos fazer?

Propor a criação de uma legislação específica para robôs sexuais, contemplando:

  1. Requisitos técnicos e éticos para fabricação.

  2. Responsabilidades civis e penais em caso de danos.

  3. Proibições específicas (ex.: robôs que simulem menores de idade).

  4. Mecanismos de fiscalização e sanções.

Estimular a cooperação internacional para harmonizar normas, dada a natureza global da tecnologia.

6. Impactos Psicológicos e Sociais

Abordamos riscos de isolamento social, dependência e alterações nas relações interpessoais:

Ética: É necessário equilibrar benefícios terapêuticos com mitigação de riscos psicológicos.

Direito: Pode haver espaço para a regulamentação do uso terapêutico, com supervisão profissional.

O que propomos fazer?

  1. Desenvolver diretrizes para uso terapêutico de robôs sexuais, com acompanhamento de profissionais de saúde.

  2. Investir em pesquisas para avaliar impactos a longo prazo e informar políticas públicas.

  3. Criar campanhas de conscientização sobre o uso responsável dessas tecnologias.

7. Análise dos Discursos Públicos

A análise dos posts na Plataforma X revela polarização entre otimismo, preocupações éticas e visões apocalípticas, com forte presença de discursos misóginos e heteronormativos.

Implicações jurídicas e éticas:

– Necessidade de políticas públicas que promovam educação digital e sexual inclusiva.

– Combate à desinformação e discursos que possam incitar discriminação ou violência.

– Incentivo à pluralidade de vozes e perspectivas para ampliar o debate social.

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