Existem mais de 250 parafilias descritas nos gêneros textuais médicos e a maioria é considerada “rara” ou de existência clinicamente duvidosa…
Mesmo que assustador, até uma pessoa morta pode produzir sentimentos sexuais para certas pessoas. O velho ditado, “a morte é um irmão do sono”, tem um significado aqui na medida em que um cadáver é comparado a uma pessoa dormindo.
Os já chamados “Fetichistas do Sono”, para quem usualmente pessoas dormindo geram alguma atração sexual, parecem estar próximos, em termos práticos, aos necrofílicos. Esses indivíduos evocam fantasias e sentimentos de natureza erótica/sexual.
A Necrofilia é das anomalias sexuais mais perturbadoras em que pode haver motivos fetichistas envolvidos, decorrentes particularmente da cor e da condição da pele, mas também de partes individuais do corpo como as mamas e os genitais.
A este respeito, a sala de embalsamamento e o necrotério desempenham um papel a não ser ignorado. Além do fetichismo, ocasionalmente o impulso sádico parece estar envolvido em grande medida. Com alguns indivíduos há uma associação de pensamento entre morte e assassinato. Ao longo de toda a história criminal ocorreram muitos casos horríveis de pessoas exumando mulheres e meninas mortas das suas sepulturas e mutilando-as assustadoramente, cortando seus corpos, arrancando seus intestinos e cortando suas partes sexuais. Entre os mais conhecidos está o caso do sargento francês Bertrand, descrito pela primeira vez em 1849, na Union Medicale, que estava sob a responsabilidade de Krafft-Ebing. Este homem, realmente muito notável do ponto de vista sexualmente patológico, em sua juventude se masturbava sete ou oito vezes ao dia, enquanto se excitava com a concepção imaginativa de que ele estava mutilando cadáveres de meninas e que ele estava então as violando. A maioria dos necrófilos encontram sua satisfação nessas concepções puramente imaginativas.
Bertrand, no entanto, primeiramente começou a esquartejar animais e, enquanto arrancava-lhes os intestinos, ele se masturbava. Em seguida, ele pegou cães vivos e, depois de matá-los, arrancou seus intestinos. Mais tarde ainda, ele desenterrou diferentes corpos femininos, cortando-os de uma forma aleatória, masturbando-se durante a mutilação. Segundo é relatado, Bertrand afirmou “não posso descrever o que eu sentia naquelas horas. Mas tudo o que eu gostei com uma mulher viva era nada em comparação com as mortas. Beijei as mulheres em todas as partes de seu corpo, pressionei-as contra o meu coração como se eu quisesse apertá-las em pedaços; enfim, fiz tudo com elas que um amante apaixonado pode fazer com sua amada. Com uma delas, depois de ter sustentado o seu corpo por cerca de um quarto de hora de forma quase bêbada, cortei-o em pedaços e rasguei os intestinos como eu havia feito com as outras vítimas da minha paixão”.
Referências:
Aggrawal, A. (2009). Forensic and Medico-legal Aspects of Sexual Crimes and Unusual Sexual Practices. Boca Raton: CRC Press.
Hirschfeld, M. (1947). Sexual Pathology. A Study of Derangements of the Sexual Instinct. New York: Emerson Books.
Karpman, B. (1954). The Sexual Offender and his Offenses. Washington: Julian Press.

Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.