Hibristofilia – O Excitante e o Perigoso

Introdução

A hibristofilia, enquanto fenômeno psicológico e comportamental, refere-se a uma atração sexual direcionada a indivíduos que cometeram atos criminosos, frequentemente de natureza violenta, como estupro, assassinato ou roubo. O termo, derivado do grego hybridzein, que significa perpetrar uma ofensa ou ultraje contra outra pessoa, foi inicialmente definido por John Money (1986) como uma parafilia na qual a excitação sexual é direcionada a um parceiro com histórico de atos predatórios contra terceiros. Desde então, os gêneros textuais acadêmicos expandiram e reinterpretaram o conceito, gerando variações em sua definição e aplicação, o que reflete a complexidade do fenômeno e a falta de consenso sobre os seus critérios diagnósticos, as motivações subjacentes e os contextos sociais (Griffiths, 2013; Parker, 2014).

Nas palavras do próprio John Money:

“O anverso da pilhagem parafílica e da predação é ser sexual e eroticamente excitado apenas por um parceiro que tem uma história predatória de ultrajes perpetrados contra os outros. O nome dessa parafilia, hibristofilia, deriva do grego, hibridzeína, para comunicar um ultraje contra alguém. O casal criminoso, Bonnie e Clyde, tornou-se epônimo para essa síndrome parafílica tendo em vista que as suas façanhas ultrajantes foram popularizadas por serem comemoradas em um filme. No caso deles, o homem era o agressor e a mulher a cúmplice. Os estereótipos sexistas da nossa sociedade ditam a suposição popular de que é sempre a mulher que é levada pelo homem a crimes de roubo, estupro e assassinato. No entanto, o inverso também pode ocorrer. Os parceiros no crime também podem ser amantes do mesmo sexo, ou dois homens ou duas mulheres. Além disso, pode haver mais de dois na parceria, como testemunha a famigerada “família” de Charles Manson.

O apelo parafílico do criminoso implica que ele seja um sentenciado corrente ou mesmo que já tenha sido condenado ou passado algum tempo na prisão. A relação entre o hibristófio e o criminoso pode realmente começar na prisão onde o agressor está cumprindo pena e o parceiro é um visitante.

Há uma variante na síndrome em que o hibristófilo provoca o amante ou o cônjuge a cometer um ato criminoso, de modo a cumprir os requisitos da parafilia. O infrator é reportado à polícia e à prisão, ou uma ordem é emitida para a sua prisão. Se o próximo passo for realmente a prisão, o papel do hibristófilo é visitar o prisioneiro e incitar a excitação sexual. Se a prisão for finalizada, e se a reconciliação for consumada no intercurso sexual, a experiência do orgasmo de conciliação é de intensidade e êxtase extravagantes. É o cumprimento final do imaginário no mapa do amor do hibristófilo.

O mapa do amor hibristófilo exclui a possibilidade de si mesmo como vítima de um crime efetuado com sucesso. Desde que os dois parceiros permaneçam parafilicamente ligados, a próxima vítima, presume-se, deverá ser sempre uma outra pessoa. Se o vínculo entre os dois falhar, o parceiro hibristófilo pode ser o próximo na lista de vítimas”. (John Money, 1986)

O conceito de hibristofilia é frequentemente abordado no âmbito das parafilias predatórias, sendo caracterizado como uma forma de excitação sexual que emerge em resposta à associação com indivíduos que infringem normas sociais por meio de comportamentos criminosos. John Money (1986) enfatiza a exclusividade da atração sexual por parceiros com histórico de violência, enquanto outros autores ampliam a definição para incluir atração por qualquer tipo de comportamento criminoso, incluindo “infrações” menos violentas, como furtos repetidos (Griffiths, 2013; Parker, 2014). Parker (2014), em particular, distingue a hibristofilia em categorias passiva e ativa (agressiva), sendo a primeira caracterizada pela atração sexual sem participação ativa em crimes, e a segunda envolvendo a participação direta em atos criminosos, com prazer derivado tanto da parceria quanto da transgressão em si. Essa dicotomia sugere que a hibristofilia é um fenômeno bastante heterogêneo, ou seja, com um espectro amplo de comportamentos e motivações que variam conforme o contexto individual e social (Parker, 2014).

A prevalência da hibristofilia é difícil de quantificar com precisão, dado que a pesquisa sobre o tema é limitada e frequentemente baseada em estudos de caso ou análises de casos anedóticos (Gurian, 2013). A literatura especializada sugere que o fenômeno é significativamente mais comum entre mulheres do que entre homens, embora haja algumas evidências de casos masculinos documentados (Vitello, 2006). Essa disparidade de gênero pode refletir vieses culturais e acadêmicos, uma vez que a sexualidade feminina, especialmente em contextos de comportamentos ditos desviantes, tem sido historicamente pouco explorada e bastante estigmatizada (MacKinnon, 1989; Little, 1991). Estudos apontam que mulheres com hibristofilia frequentemente se envolvem em relacionamentos românticos com homens encarcerados, particularmente aqueles condenados por crimes violentos, como assassinos em série (Isenberg, 2014). Esse padrão é reforçado por relatos na mídia e na cultura popular, que frequentemente rotulam essas mulheres como “groupies de assassinos em série” (Parker, 2014). Além disso, a hibristofilia também é observada em casais que cometem crimes juntos, muitas vezes comparados ao arquétipo de “Bonnie e Clyde”, onde a mulher pode desempenhar papéis que variam de cúmplice passiva à participante ativa e motivada (Arrigo & Griffin, 2004; Gavin, 2014).

O desenvolvimento da hibristofilia parece ser profundamente influenciado por fatores psicológicos, sociais e culturais. A literatura especializada identifica uma prevalência significativa de traumas infantis, incluindo abuso físico ou sexual, entre mulheres que exibem comportamentos associados à hibristofilia (Gurian, 2013; Sharma, 2003; Vitaliano et al., 1981). Esses traumas são frequentemente citados como possíveis correlatos causais, embora a relação entre trauma e hibristofilia permaneça especulativa, com variações consideráveis nos achados (Vitello, 2006). Algumas mulheres descritas na literatura especializada não apresentam histórico de trauma, sugerindo que a hibristofilia pode emergir de uma combinação complexa de fatores, incluindo baixa autoestima, isolamento social e experiências precoces de rejeição (Cooper, 2000; Vitaliano et al., 1981). Além disso, o fenômeno conhecido como “Síndrome de Bonnie e Clyde” destaca a dinâmica de casais criminosos, nos quais a mulher pode derivar prazer sexual ou emocional da participação em atividades ilícitas ao lado do seu parceiro (Arrigo & Griffin, 2004; Gavin, 2014; Money, 1986). Essa dinâmica desafia visões estereotipadas que posicionam a mulher como mera vítima manipulada, sugerindo, em vez disso, uma agência ativa em alguns casos, onde a transgressão criminal reforça a identidade ou o vínculo emocional da mulher (Gurian, 2013; Parker, 2014).

A hibristofilia também levanta questões sobre a construção social da sexualidade feminina e da criminalidade. A literatura feminista argumenta que a sexualidade feminina tem sido historicamente enquadrada em termos de vitimização ou objetificação, com pouco espaço para a exploração de desejos desviantes ou transgressores (MacKinnon, 1989; Little, 1991). A hibristofilia, nesse sentido, representa um desafio às normas de gênero, uma vez que as mulheres que a manifestam frequentemente são vistas como duplamente desviantes: tanto por sua sexualidade atípica quanto por sua associação com comportamentos criminosos (Gavin, 2014). Essa percepção de desvio duplo contribui para a estigmatização dessas mulheres, que são frequentemente retratadas na mídia como anômalas ou patológicas (Parker, 2014). Contudo, a falta de uma taxonomia clara para a hibristofilia, combinada com a escassez de pesquisas centradas em mulheres, sugere que o fenômeno é mais complexo do que as narrativas populares sugerem (Gurian, 2013). Por exemplo, a ausência de estudos sobre hibristofilia em homens pode refletir não apenas uma menor prevalência, mas também um viés cultural que prioriza a análise da sexualidade masculina em contextos de dominação ou violência (Federoff et al., 1999).

No contexto social, a hibristofilia é frequentemente sensacionalizada, com a mídia amplificando casos de casais criminosos ou mulheres que buscam relacionamentos com prisioneiros famosos (Arenas, 2015; CBS/Associated Press, 2016). Essa cobertura midiática, ao rotular esses casos como “Bonnie e Clyde” ou “groupies de seriais killers”, simplifica a complexidade do fenômeno e reforça estereótipos de gênero (Hull, 2015). Além disso, a falta de atenção à diversidade de motivações – que podem variar de desejo sexual à busca por status, poder ou conexão emocional – limita a compreensão da hibristofilia como um fenômeno emaranhado (Slavikova & Panza, 2014). A literatura sugere que, em alguns casos, a atração por criminosos pode estar ligada a uma projeção psicológica, onde o criminoso é visto como um símbolo de rebeldia ou poder, funcionando como um “teste de Rorschach” para os desejos e fantasias da pessoa afetada, conforme sugerido por Money (1986).

A hibristofilia é também um fenômeno que desafia categorizações simplistas e exige uma abordagem interdisciplinar para a sua compreensão. Sua prevalência, embora difícil de mensurar, parece ser mais significativa entre mulheres, especialmente naquelas com históricos de trauma ou marginalização social (Friskics-Warren, 1994; Warren & Hazelwood, 2002). As características da hibristofilia variam amplamente, abrangendo desde a atração passiva por criminosos até a participação ativa em atividades ilícitas (Parker, 2014). A falta de consenso sobre a sua definição e a escassez de pesquisas empíricas sublinham a necessidade de maior atenção acadêmica, especialmente no que diz respeito à sexualidade feminina e à criminalidade (Gurian, 2013). Ao explorar a hibristofilia, é essencial considerar não apenas os fatores psicológicos individuais, mas também os contextos culturais e sociais que moldam a percepção e a manifestação desse comportamento, promovendo uma visão mais detalhada e menos estigmatizante de um fenômeno que continua a intrigar e desafiar as normas estabelecidas.

Características e Perfis das Hibristófilas

Slavikova e Panza (2014) sugerem que a hibristofilia não se limita a uma atração sexual patológica, mas pode envolver motivações emocionais, sociais e psicológicas mais amplas. Essas autoras desenvolveram um estudo abrangente com hibristófilas, revelando alguns aspectos da população. As características demográficas das participantes indicam uma ampla diversidade etária, com idades variando de 19 a 62 anos (média de 35,98 anos), predominância de mulheres caucasianas (76%) e representação de diversas regiões geográficas, incluindo Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, entre outros. A maioria das participantes possuía algum nível de educação superior, com 37% tendo diploma de graduação e 20% com alguma formação de pós-graduação. Em termos de ocupação, as mulheres ocupavam posições variadas, desde cargos administrativos até profissões na área da saúde e educação, com quase metade (45%) ganhando entre 25.001 e 50.000 dólares anuais. Esses dados sugerem que, ao contrário de estereótipos que associam hibristófilas com mulheres marginalizadas ou de baixa escolaridade,muitas dessas mulheres são funcionalmente integradas à sociedade, com empregos estáveis e independência financeira.

Os antecedentes familiares e as experiências de vida das participantes também fornecem pistas importantes sobre os fatores que podem influenciar a hibristofilia. Cerca de 40% das mulheres relataram ter sido vítimas de algum tipo de crime, com 25% tendo sofrido crimes violentos e 13% abuso sexual na infância. Além disso, 45% das participantes indicaram que pelo menos um membro da família havia sido preso, e 34% tinham parentes que haviam sido encarcerados. Esses achados corroboram estudos anteriores, como os de Fishman (1990) e Isenberg (1991), que apontam uma prevalência de históricos de vitimização e exposição a comportamentos criminais no ambiente familiar. Tais experiências podem banalizar a conexão sexual com indivíduos envolvidos no sistema de justiça criminal, como sugerido pela teoria sociocultural de Seka (2000), que argumenta que, em comunidades onde o crime é comum, relacionamentos com homens encarcerados podem não ser percebidos como anômalos.

Em termos de saúde mental, o estudo de Slavikova e Panza (2014) revelou que apenas 18% das participantes relataram um diagnóstico de doença mental, sendo a depressão o mais comum (12 casos), com poucos casos de transtornos como bipolaridade, transtorno obsessivo compulsivo ou transtornos de personalidade. Esses resultados indicam que, embora algumas mulheres apresentem problemas de saúde mental, a maioria não exibe patologias graves, desafiando a percepção de que hibristófilas são necessariamente “perturbadas”. Além disso, 22% das participantes receberam algum tipo de tratamento psicológico, como psicoterapia ou medicação, sugerindo que, para algumas, as experiências traumáticas ou dificuldades emocionais podem desempenhar um papel nas escolhas relacionais, embora isso não seja universal.

A análise dos estilos de personalidade revelou dois subtipos predominantes entre as participantes: o Manipulador/Pragmático (31%) e o Neurótico, Ansioso/Introspectivo (24%).

O subtipo Manipulador/Pragmático é caracterizado por indivíduos que buscam poder e controle nas interações interpessoais, frequentemente utilizando manipulação ou engano, mesmo que isso resulte em desvantagens pessoais. Essa característica pode ser particularmente relevante no contexto de relacionamentos com homens encarcerados, onde a mulher, por estar fora da prisão, detém um controle significativo sobre a dinâmica do relacionamento, como a frequência de visitas ou o suporte financeiro.

Já o subtipo Neurótico, ansioso/Introspectivo descreve indivíduos com uma autoimagem negativa, que experimentam ansiedade devido a sentimentos de inadequação, mas que externamente se apresentam como autossuficientes e buscam parceiros que sejam aceitadores e compreensivos. Essa descrição alinha-se com teorias como a de Gelt-Price (2001), que propõe que algumas mulheres buscam esses relacionamentos para compensar feridas narcísicas decorrentes de experiências traumáticas na infância, encontrando nos homens encarcerados uma fonte de validação emocional.

As características dos relacionamentos descritas no estudo também oferecem insights sobre as motivações das hibristófilas. A maioria (84%) relatou que essa era sua primeira experiência romântica com um homem encarcerado, e 52% descreveram o relacionamento como comprometido (noivado ou casamento). Cerca de 47% iniciaram o contato por meio de programas de correspondência (pen pal programs), e a maioria visitava seus parceiros com frequência, com 53% viajando mais de três horas para as visitas. Esses dados sugerem muito comprometimento, apesar das barreiras logísticas e emocionais impostas pela prisão. Curiosamente, apenas 9% das mulheres custeavam despesas legais dos seus parceiros, e 49% não ofereciam suporte financeiro, indicando que o investimento emocional, mais do que financeiro, é central nesses relacionamentos.

Do ponto de vista teórico, as descobertas de Slavikova e Panza (2014) desafiam teorias tradicionais de escolha de parceiros, como a teoria do investimento parental (Trivers, 1972) e a teoria das estratégias sexuais (Buss, 1998), que enfatizam a busca por parceiros com potencial de status social ou recursos. Homens encarcerados, especialmente aqueles com sentenças longas ou perpétuas, raramente atendem a esses critérios, sugerindo que fatores alternativos, como a busca por controle, validação emocional ou a normalização de contextos criminais, podem ser mais relevantes. A teoria da troca social (Emerson, 1976) parece mais aplicável, pois sugere que as mulheres podem perceber benefícios específicos nesses relacionamentos, como maior controle sobre a dinâmica relacional ou a oportunidade de se apresentarem como altruístas. Além disso, teorias não tradicionais, como a de Isenberg (1991), que destaca o desejo de cuidar e criar dependência, ou a de Seka (2000), que aponta para a normalização sociocultural do crime, encontram algum suporte nos dados, especialmente considerando os históricos de vitimização e exposição ao crime na família.

Apesar dos avanços proporcionados pelo estudo de Slavikova e Panza (2014), há limitações significativas que devem ser consideradas. A amostra, embora relativamente grande (89 participantes), foi obtida por meio de um fórum online, o que pode excluir mulheres sem acesso à internet ou que não participam de comunidades virtuais, limitando a representatividade. Além disso, a alta taxa de atrito nas respostas às medidas formais sugere que algumas participantes podem ter resistido às perguntas mais analíticas, possivelmente por receio de revelar aspectos pessoais sensíveis (Jesness, 2003). Outrossim, a natureza autorrelatada dos dados pode ser influenciada por vieses de desejabilidade social, especialmente em questões de apego, onde a maioria das participantes (65%) se classificou como tendo apego seguro, um resultado que contrasta com a expectativa de maior prevalência de estilos evitativo ou ansioso.

A hibristofilia é um fenômeno complexo que demanda explicações pelo menos correlacionais. As mulheres que buscam relacionamentos com homens encarcerados apresentam uma diversidade de perfis demográficos, psicológicos e relacionais, com históricos de vitimização e exposição ao crime sendo fatores relevantes, mas não universais. A predominância de subtipos de personalidade como Manipulador/Pragmático e Neurótico, ansioso/Introspectivo sugere motivações relacionadas ao controle, validação emocional e compensação de inadequações internas. Embora teorias tradicionais de escolha de parceiros sejam insuficientes para explicar esse fenômeno, abordagens como a teoria da troca social e perspectivas socioculturais oferecem caminhos promissores para futuras investigações. Com mais estudos sistemáticos, será possível compreender melhor as complexas motivações por detrás da hibristofilia e suas implicações para a psicologia e a criminologia.

Outra Forma de Categorizar os Tipos de Hibristofilia

A hibristofilia desperta grande interesse no campo da psicologia/psiquiatria forense e da criminologia, pois levanta questões complexas sobre a natureza da atração humana, os fatores psicológicos subjacentes e o impacto cultural e social que amplifica esse fenômeno. Embora a hibristofilia seja mais frequentemente observada em mulheres, há casos registrados de homens que também manifestam essa atração, o que sugere que o fenômeno não é exclusivamente feminino, mas parece possuir uma prevalência maior entre o público feminino.

De forma geral, a hibristofilia pode ser compreendida como uma manifestação de atração que transcende a simples curiosidade ou fascínio pelo crime, envolvendo uma conexão emocional ou sexual profunda com o criminoso. Essa atração pode variar em intensidade e forma, sendo influenciada por fatores psicológicos, sociais e culturais. Um dos aspectos mais intrigantes da hibristofilia é a sua relação com a ideia de poder, controle e perigo, que parecem exercer um magnetismo particular sobre os indivíduos afetados. Muitas vezes, a figura do criminoso é romantizada, vista como um símbolo de rebeldia ou força, o que pode ser potencializado por narrativas midiáticas que transformam criminosos em figuras quase míticas (Pasquarelli, Mastronardi e Calderaro, 2021).

Um dos tipos de hibristofilia é a chamada hibristofilia passiva, na qual o indivíduo sente atração por criminosos, mas não participa ativamente das suas ações criminosas. Nesse caso, a pessoa pode se envolver emocionalmente ou romanticamente com o criminoso, muitas vezes idealizando-o como uma figura trágica ou incompreendida. Essa forma de hibristofilia é frequentemente observada em mulheres que estabelecem correspondências com criminosos presos, enviando cartas, presentes ou até mesmo desenvolvendo relacionamentos à distância. Um exemplo marcante é o caso de Donatella Papi, que se casou com Angelo Izzo, conhecido por seu envolvimento no massacre do Circeo, na tentativa de provar sua inocência (Corriere della Sera, 2009). Esse tipo de comportamento pode ser motivado pela chamada “síndrome da crocerossina(síndrome de Wendy), em que a pessoa acredita que pode “salvar” ou reformar o criminoso, enxergando-o como alguém que, apesar dos seus atos, possui um lado redimível. Essa idealização muitas vezes ignora a gravidade dos crimes cometidos, criando uma narrativa romantizada que minimiza a violência.

Outro tipo de hibristofilia é a ativa, que se caracteriza por uma participação direta ou indireta nas atividades criminosas do parceiro. Nesse caso, o indivíduo hibristófilo não apenas sente atração pelo criminoso, mas pode se envolver em seus atos, seja por manipulação, dependência emocional ou uma identificação compartilhada com o comportamento criminoso. Essa forma pode estar intimamente relacionada ao conceito de folie à deux, ou psicose compartilhada, descrito no DSM-5 (American Psychiatric Association, 2014) como um transtorno em que dois indivíduos compartilham delírios ou comportamentos patológicos. Na hibristofilia ativa, o parceiro hibristófilo pode ser induzido a cometer crimes sob a influência de um indivíduo dominante, que geralmente apresenta traços de manipulação e inteligência, conforme descrito por Sighele (1893) em sua obra La coppia criminale. Um exemplo clássico é o casal Bonnie e Clyde, cuja relação foi marcada por uma dinâmica de cumplicidade criminosa, onde Bonnie, influenciada por Clyde, participou ativamente de assaltos e assassinatos. Essa dinâmica também pode ser observada em casos contemporâneos, como casais que cometem crimes em conjunto, movidos por uma combinação de atração, dependência e “ideação” compartilhada.

A hibristofilia também pode ser categorizada em função das motivações psicológicas subjacentes. Algumas pessoas são atraídas pelo criminoso devido a uma percepção de poder e dominância, associando o comportamento violento a uma masculinidade ou força exacerbada. Isso pode ser particularmente verdadeiro em indivíduos que cresceram em ambientes disfuncionais ou sofreram abusos, onde a violência foi normalizada como uma forma de expressão de poder. Hazelwood e Michaud (2009) sugerem que mulheres com histórico de traumas emocionais ou transtorno de personalidade dependente são mais propensas a desenvolver essa atração, pois buscam validação e atenção em figuras que, paradoxalmente, representam perigo. Além disso, a busca por adrenalina e excitação também pode desempenhar um papel, já que o envolvimento com um criminoso oferece um senso de risco e aventura que pode ser viciante, conforme descrito em estudos sobre a dopamina e a motivação (Comunicazioneemotiva.com, s.d.).

Outro aspecto importante é a influência da cultura digital e da mídia na amplificação da hibristofilia. A romantização de criminosos em filmes, séries e redes sociais contribui para a construção de uma imagem carismática e atraente desses indivíduos. Séries como The Vampire Diaries e filmes como Suicide Squad retratam relações entre “bad boys” e mulheres que se apaixonam por sua natureza perigosa, reforçando arquétipos que podem influenciar a percepção pública (Pasquarelli et al., 2021). Nas redes sociais, fanpages dedicadas a criminosos, como “Le bimbe di Benno Neumair”, ilustram como a cultura digital pode transformar assassinos em celebridades, com admiradores expressando devoção através de tatuagens, mensagens de amor e até mesmo a compra de “murderabilia” — objetos associados a criminosos, como roupas ou cartas (Bonn, 2014). Essa glamourização levanta questões éticas sobre a comercialização do crime e o impacto nas vítimas, como apontado por Andy Kahan, que lutou contra a venda de tais itens (Bonn, 2014).

Em termos de gênero, embora a hibristofilia seja mais comum em mulheres, casos de homens atraídos por criminosas também existem, como mencionado por Pasquarelli et al. (2021). Esses casos são menos frequentes, possivelmente devido às diferenças culturais e sociais na forma como o crime é percebido em relação ao gênero. Mulheres criminosas, como Amanda Knox ou Myra Hindley, também atraem admiradores, mas a dinâmica tende a ser menos explorada academicamente. A hibristofilia masculina pode ser motivada por fatores semelhantes, como a atração pelo perigo ou a idealização da criminosa como uma figura transgressora.

A hibristofilia pode ser classificada então em tipos como passiva e ativa, dependendo do grau de envolvimento do indivíduo com o criminoso. Suas causas são variadas, incluindo fatores psicológicos, como traumas ou transtornos de personalidade, e influências culturais, como a romantização do crime na mídia. A compreensão desse fenômeno exige uma abordagem interdisciplinar, combinando psicologia, criminologia e análise cultural, para responder às questões éticas e sociais que ele levanta. Estudos futuros são essenciais para aprofundar o entendimento das motivações e impactos da hibristofilia, especialmente em um contexto em que a mídia digital amplifica sua visibilidade e influência.

A Hibristofilia nas Redes Sociais

A hibristofilia não é classificada como um transtorno psiquiátrico distinto, mas frequentemente é considerada uma forma extrema de atração sexual, conforme apontado por Slavikova e Panza (2014). Este fenômeno, que já foi documentado em contextos offline, como em casos de cartas de admiração enviadas a criminosos ou presença de admiradores em tribunais, encontrou nas mídias sociais, especialmente em plataformas como o TikTok, um novo espaço para manifestação e expressão.

Historicamente, a hibristofilia foi observada em casos notórios, como o do serial killer Ted Bundy, que durante seu julgamento na década de 1970 atraiu uma legião de admiradores que enviavam cartas de amor e compareciam às audiências judiciais, expressando fascínio e atração por ele, apesar de seus crimes hediondos (Cawthorne, 2007). Esse comportamento, que pode parecer paradoxal à primeira vista, reflete uma complexidade psicológica que envolve fatores como baixa autoestima, experiências de abuso ou até mesmo tendências violentas do próprio indivíduo, conforme sugerido por Gurian (2013) e Parker (2014). No entanto, com o advento da internet e das mídias sociais, a expressão da hibristofilia transcendeu as barreiras físicas, ganhando uma nova dimensão no ambiente digital. Plataformas como o TikTok, que em 2023 contava com 1,7 bilhão de usuários globalmente (Curry, 2023), oferecem um espaço onde indivíduos podem criar e compartilhar conteúdos de forma “anônima”, o que facilita a expressão de comportamentos e sentimentos que, em contextos offline, poderiam ser reprimidos ou estigmatizados.

As mídias sociais, especialmente o TikTok, proporcionam um ambiente único para a construção de identidades online, um processo que, segundo Williams, Slater e Gomez (2025), é intricado e envolve performance, gerenciamento de impressões e negociação de múltiplas identidades. A hibristofilia no TikTok se manifesta de maneiras variadas, frequentemente em vídeos curtos que romantizam, sexualizam ou trivializam criminosos e seus atos.

Um estudo conduzido por Williams et al. (2025) analisou 55 postagens no TikTok relacionadas à hibristofilia, utilizando uma metodologia inovadora chamada TikTok Matrix Analysis (TMA). A análise revelou quatro temas predominantes: Objetificação Sexual, Trivialização do Trauma, Romantização do Criminoso e Culpabilidade. Esses temas refletem como os criadores de conteúdo constroem narrações que transformam a percepção pública dos criminosos, muitas vezes minimizando a gravidade de seus crimes e, por consequência, o impacto sofrido pelas vítimas.

A Objetificação Sexual, o tema mais prevalente identificado no estudo, envolve a apresentação de criminosos como objetos de desejo sexual, frequentemente acompanhada por elementos visuais como corações, músicas com letras provocativas ou legendas que expressam atração física. Por exemplo, vídeos analisados continham legendas como “me beije novamente” ou letras de músicas que reforçam a ideia de desejo, mesmo em relação a criminosos condenados por crimes graves, como assassinatos em série. Esse tipo de conteúdo não apenas glorifica o criminoso, mas também contribui para uma dessensibilização em relação à seriedade dos seus atos, criando uma história que distancia o espectador das consequências reais dos crimes.

A Trivialização do Trauma, outro tema identificado, é particularmente problemático, pois transforma crimes graves em narrativas humorísticas ou lúdicas. Vídeos que utilizam edições criativas, como animações ou montagens com música animada, retratam criminosos de forma caricata, muitas vezes ignorando o sofrimento das vítimas. Um exemplo marcante citado no estudo é um vídeo que apresenta um criminoso condenado por múltiplos assassinatos em um formato de quiz show, onde sua imagem é manipulada para criar um efeito cômico, culminando em uma legenda que diz “Você morreu”. Essa abordagem não apenas banaliza os crimes, mas também pode causar revitimização secundária, ao expor vítimas ou seus familiares a conteúdos que ridicularizam suas experiências traumáticas.

A Romantização do Criminoso, por sua vez, foca na idealização do criminoso como uma figura heroica ou admirável, indo além da atração sexual para expressar uma conexão emocional profunda. Nesse tema, criadores de conteúdo frequentemente utilizam montagens de fotos ou vídeos com legendas que expressam afeto, como “meu garoto favorito” ou “quero ser como ele(a)”. Essa romantização muitas vezes ocorre mesmo quando o criminoso está preso ou já faleceu, sugerindo uma construção de identidade online que transcende as limitações do mundo físico, alinhando-se com a teoria da modernidade líquida de Bauman (2005), que destaca a fluidez e a maleabilidade das identidades no contexto digital.

Por fim, o tema da Culpabilidade reflete uma maior autoconsciência por parte de alguns criadores, que expressam culpa ou desconforto com sua atração por criminosos. Esses conteúdos frequentemente assumem um tom confessional, destacando o impacto psicológico da hibristofilia, como na legenda de um vídeo que descreve o fenômeno como algo que “te consome por dentro” e “te deixa enojado consigo mesmo”. Esse tema se alinha com a teoria dramatúrgica de Goffman (1959), que sugere que indivíduos realizam “facework” para gerenciar a percepção que outros têm da sua identidade, buscando mitigar críticas ou recuperar a legitimidade social ao expressar vulnerabilidade.

As implicações da expressão da hibristofilia nas mídias sociais são profundas e levantam questões éticas significativas. A disseminação de conteúdos que glorificam criminosos pode contribuir para a revitimização de indivíduos afetados pelos crimes, ao expor vítimas ou seus familiares às narrativas que celebram ou trivializam os responsáveis por seu sofrimento. Além disso, a apresentação de criminosos em molduras positivas pode levar à dessensibilização do público em relação à gravidade dos crimes, reduzindo a empatia pelas vítimas e transformando-as em figuras secundárias nas narrativas criadas. Esse fenômeno também levanta questões sobre a motivação por detrás da criação e disseminação desses conteúdos. Enquanto alguns criadores podem buscar conexão com comunidades que compartilham interesses semelhantes, outros podem estar explorando a notoriedade que tais conteúdos provocativos geram, aproveitando a anonimidade oferecida pelas mídias sociais para expressar aspectos da sua identidade que seriam reprimidos offline.

Do ponto de vista teórico, as expressões de hibristofilia nas mídias sociais podem ser analisadas sob as lentes de Erving Goffman e Zygmunt Bauman. A abordagem dramatúrgica de Goffman (1959) destaca o caráter performativo da construção de identidades, onde indivíduos gerenciam cuidadosamente suas personas públicas (front-stage) para projetar uma imagem desejada, enquanto mantêm aspectos menos aceitos socialmente no privado (backstage). No contexto do TikTok, os criadores de conteúdo utilizam recursos como legendas, músicas e edições visuais para construir uma identidade que reflete sua atração por criminosos, muitas vezes em contraste com as suas identidades offline. Já a perspectiva da modernidade líquida de Bauman (2005) enfatiza a fluidez das identidades no ambiente digital, onde indivíduos podem experimentar múltiplas personas sem as restrições do mundo físico. Essa fluidez é evidente na facilidade com que os criadores alternam entre narrativas de romantização, sexualização ou culpa, adaptando suas identidades ao contexto da plataforma.

Apesar dos insights proporcionados por estudos como o de Williams et al. (2025), a hibristofilia nas mídias sociais ainda é um fenômeno subexplorado, especialmente no que diz respeito às motivações dos criadores de conteúdo. Pesquisas futuras poderiam investigar as intenções por trás da criação desses conteúdos, explorando se os autores buscam validação, pertencimento a uma comunidade ou simplesmente notoriedade. Além disso, comparar a expressão da hibristofilia em diferentes plataformas de mídia social, como o Twitter/X ou o Instagram, poderia oferecer uma visão mais ampla sobre como o formato da plataforma influencia a construção de narrativas. A análise de conteúdos textuais, por exemplo, poderia revelar perspectivas diferentes das observadas em vídeos curtos, predominantes no TikTok.

Em termos éticos, a pesquisa sobre hibristofilia nas mídias sociais enfrenta desafios significativos, como a proteção da privacidade dos criadores de conteúdo e a sensibilidade em relação às vítimas dos crimes mencionados. Estudos como o de Williams et al. (2025) enfatizam a importância de seguir diretrizes éticas, como as da British Psychological Society (2021) e da General Data Protection Regulation (2018), para garantir que a pesquisa não contribua para a revitimização ou para a exposição indevida de indivíduos. A natureza pública dos conteúdos no TikTok elimina a necessidade de consentimento explícito, mas a sensibilidade do tema exige cuidado na interpretação e apresentação dos dados.

A hibristofilia nas mídias sociais, particularmente no TikTok, representa um fenômeno mais do que complexo que combina dinâmicas psicológicas, sociais e tecnológicas. As plataformas digitais oferecem um espaço para a expressão de identidades que desafiam normas sociais, permitindo que indivíduos construam narrativas que glorificam, sexualizam ou trivializam criminosos, muitas vezes com consequências éticas significativas. A análise dessas expressões sob as perspectivas de Goffman e Bauman revela a natureza performativa e fluida das identidades online, enquanto estudos empíricos destacam os riscos de revitimização e dessensibilização. Com o crescimento contínuo das mídias sociais, entender e abordar a hibristofilia no contexto digital é essencial para mitigar seus impactos negativos e promover uma maior conscientização sobre suas implicações.

Homens Hibristófilos

Repisando, a hibristofilia é uma paraphilia sexual incomum, caracterizada pela atração e excitação sexuais derivadas do conhecimento de que o parceiro ou objeto de desejo cometeu atos criminosos, especialmente de natureza violenta, como estupro, homicídio ou roubo. Embora tradicionalmente associada às mulheres, conforme amplamente discutido na literatura científica, o fenômeno da hibristofilia em homens, particularmente em sua forma agressiva, é um tema que tem recebido pouca atenção acadêmica (Pettigrew, 2019).

Mulheres hibristófilas, frequentemente também alcunhadas como “murder groupies” (Sarteschi, 2016), podem nutrir fantasias de redenção ou transformação do criminoso, acreditando que sua influência pode “salvá-lo”. Já na hibristofilia agressiva, menos comum, a participação ativa da mulher nas atividades criminosas, como auxiliar na execução de crimes (esconder corpos ou enganar autoridades), é motivada pela excitação sexual derivada da violência do parceiro (Aggrawal, 2009).

Historicamente, a literatura sobre hibristofilia concentrou-se quase exclusivamente em mulheres, refletindo estereótipos de gênero que posicionam os homens como protagonistas criminais e as mulheres como cúmplices manipuladas ou fascinadas (Money, 1986; Gurian, 2013). Explicações para a hibristofilia feminina frequentemente apontam para fatores como a atração pelo arquétipo do “bad boy” (Vitello, 2006) ou a busca por uma figura paterna dominadora, conforme interpretações analíticas (Fox & Levin, 2015).

No entanto, a hibristofilia em homens heterossexuais é um fenômeno praticamente inexplorado, em parte devido à suposição de que essa parafilia é mais prevalente em mulheres (Aggrawal, 2009). A ausência de estudos sobre homens hibristófilos pode ser atribuída à escassez de casos documentados e à predominância de histórias criminológicas que enfocam dinâmicas de poder masculino, negligenciando a possibilidade de homens serem atraídos por mulheres criminosas de maneira análoga.

O caso de Joanne Dennehy, uma serial killer britânica condenada em 2014 por três assassinatos e duas tentativas de homicídio, oferece uma rara oportunidade de examinar a hibristofilia em homens. Dennehy, descrita como uma psicopata com charme superficial e prazer em causar sofrimento, recrutou três homens como cúmplices para auxiliar na ocultação de corpos, na evasão da polícia e na execução de ataques adicionais. Esses homens, segundo Pettigrew (2019), exibiram comportamentos consistentes com a hibristofilia agressiva, sendo atraídos não apenas pela personalidade de Dennehy, mas também por seus atos violentos. O primeiro cúmplice, seu amante, desempenhou um papel central ao usar seu conhecimento local a fim de encontrar terrenos para descartar os corpos bem como de conduzi-la a áreas onde pudesse atacar vítimas aleatoriamente. Apesar de alegar coação, o juiz rejeitou essa defesa, observando que ele “se deleitava” com a notoriedade de Dennehy e parecia excitado por seus crimes (Spencer, 2014). O segundo cúmplice, colega de moradia de Dennehy, auxiliou na ocultação de dois corpos e enganou a polícia, mesmo estando geograficamente distante dela em alguns momentos, sugerindo que a sua motivação era sustentada pela atração e pela perspectiva de receber sua atenção. O terceiro cúmplice, um homem de 56 anos sem histórico criminal, ofereceu abrigo a Dennehy, sabendo que ela era procurada pela polícia, e foi descrito como “encantado” por ela, agindo para ganhar a sua aprovação (Pettigrew, 2019).

A análise desse caso sugere que a hibristofilia em homens pode compartilhar características com a observada em mulheres, mas também apresenta aspectos distintos. Assim como nas mulheres hibristófilas, os homens no caso de Dennehy parecem ter sido influenciados por uma combinação de fascínio e manipulação psicológica. Money (1986) argumenta que a hibristofilia, como outras parafilias, pode ser entendida por meio de um processo de condicionamento operante invertido, no qual uma reação inicial de aversão à violência é transformada em atração e, eventualmente, em uma forma de dependência. No caso dos cúmplices de Dennehy, homens sem histórico de crimes violentos se envolveram em atos extremos, como a ocultação de corpos, motivados pela excitação derivada da violência de Dennehy e pela “promessa” da sua aprovação ou afeto. O primeiro cúmplice, por exemplo, expressou em cartas sua admiração pelo “lado obscuro” e “sanguinário” de Dennehy, indicando uma excitação sexual ligada diretamente aos seus crimes (Associated Press, 2014).

Um aspecto notável do caso é a inversão do padrão tradicional de casais criminosos, onde geralmente o homem é o protagonista e a mulher, a cúmplice manipulada. Aqui, Dennehy assumiu o papel de liderança, manipulando os homens para atenderem aos seus objetivos, o que desafia os estereótipos de gênero predominantes na criminologia (Scott, 2005). Essa dinâmica levanta questões sobre como a hibristofilia em homens pode ser moldada por fatores sociais e psicológicos distintos daqueles observados em mulheres. Enquanto a literatura sugere que mulheres hibristófilas podem ser atraídas por uma percepção de “hipermasculinidade” (Griffiths, 2013), a atração dos homens por Dennehy parece estar ligada ao seu poder, carisma e à transgressão representada por seus atos violentos. A ausência de um equivalente masculino ao conceito de “bad boy” na literatura indica uma lacuna teórica que merece maior investigação.

Além disso, o caso revela uma possível parcialidade de gênero no sistema judicial. Em casos históricos de casais criminosos, como Ian Brady e Myra Hindley, a cúmplice feminina frequentemente recebe uma consideração mais leniente, com a suposição de que ela foi manipulada pelo parceiro masculino (Pettigrew, 2016). No entanto, no caso de Dennehy, os cúmplices masculinos não receberam tal clemência, apesar de o juiz reconhecer que eles agiram “sob seu encanto”. Essa disparidade sugere que a hibristofilia em homens pode ser menos reconhecida ou aceita como um fator atenuante, refletindo vieses culturais que veem os homens como menos suscetíveis à manipulação emocional (Pettigrew, 2019).

As limitações no estudo da hibristofilia em homens são evidentes. A escassez de literatura específica e a dependência de fontes secundárias, como no caso de Pettigrew (2019), tornam as conclusões parcialmente especulativas. Além disso, a falta de entrevistas diretas com os cúmplices de Dennehy limita a profundidade da análise psicológica. No entanto, o caso oferece evidências convincentes de que a hibristofilia não é exclusiva de mulheres e que homens podem exibir comportamentos semelhantes, especialmente em contextos em que a manipulação psicológica e a excitação sexual se entrelaçam com a violência. Futuras pesquisas devem explorar as motivações subjacentes à hibristofilia masculina, considerando fatores como dinâmicas de poder, condicionamento psicológico e influências culturais, para expandir a compreensão dessa parafilia além do modelo tradicional centrado em mulheres.

Não ao Estigma!

A hibristofilia envolve uma fascinação pelo comportamento criminoso ou pela notoriedade do transgressor, muitas vezes independentemente de um vínculo prévio com o indivíduo. Por outro lado, mulheres que mantêm relacionamentos estabelecidos com homens sentenciados frequentemente iniciam ou sustentam esses laços por razões que transcendem a atração pelo crime em si, como laços emocionais preexistentes, contextos sociais compartilhados ou a busca por conexão afetiva em circunstâncias desafiadoras.

A distinção entre esses dois grupos é fundamental, pois envolve diferentes motivações, dinâmicas relacionais e impactos psicossociais, especialmente no que diz respeito ao estigma social e às estratégias de manejo desse estigma, além de implicar consequências distintas para políticas públicas e intervenções em contextos de reintegração social.

A hibristofilia é frequentemente associada a casos midiáticos, nos quais mulheres desenvolvem fascínio por criminosos famosos, como serial killers ou figuras públicas encarceradas, sem qualquer relação anterior com esses indivíduos. Essa atração pode ser motivada por uma combinação de fatores psicológicos, como a busca por excitação, a idealização do criminoso como uma figura transgressora ou rebelde, ou até mesmo a projeção de fantasias sexuais que desafiam normas sociais. Estudos sugerem que, em alguns casos, a hibristofilia pode estar relacionada a traços de personalidade específicos, como impulsividade ou necessidade de validação emocional, embora a literatura ainda seja limitada em explorar suas causas profundas (Hickey, 2015). Essas mulheres, ao se envolverem com criminosos, enfrentam um estigma social significativo, frequentemente sendo percebidas como desviantes, emocionalmente instáveis ou até mesmo cúmplices indiretas dos crimes de seus parceiros. O estigma associado à hibristofilia é amplificado pela incompreensão pública sobre a natureza da sua atração, que é vista como patológica ou moralmente questionável, levando a julgamentos severos e exclusão social.

Por contraste, mulheres que mantêm relacionamentos com homens sentenciados, especialmente aqueles com quem já tinham um vínculo antes da prisão, enfrentam o que a literatura chama de “estigma de cortesia” (Goffman, 1963). Esse tipo de estigma ocorre quando indivíduos associados a pessoas estigmatizadas, como presos, são julgados negativamente por sua relação com o transgressor, mesmo que não tenham cometido nenhum crime. Conforme descrito no estudo de DeShay et al. (2021), essas mulheres frequentemente enfrentam críticas de familiares, amigos e colegas, que questionam suas escolhas amorosas e as percebem como “loucas” ou de “mau caráter” por manterem laços com homens encarcerados. Diferentemente da hibristofilia, onde a atração pode ser impulsionada pelo próprio ato criminoso, essas mulheres muitas vezes permanecem em seus relacionamentos por lealdade, amor pré-existente ou por enxergarem benefícios específicos na relação, como maior profundidade na comunicação devido às limitações impostas pela prisão, como cartas ou chamadas telefônicas restritas (Comfort, 2002). O estigma de cortesia, portanto, não se origina de uma atração pelo crime, mas da associação com alguém que carrega o estigma primário da criminalidade.

O manejo do estigma também difere significativamente entre esses dois grupos. No caso da hibristofilia, as mulheres podem optar por estratégias de enfrentamento que reforçam sua identificação com o parceiro criminoso, muitas vezes abraçando a notoriedade ou o status de “outsider” que a relação proporciona. Algumas podem até buscar visibilidade pública, como em casos de mulheres que escrevem cartas ou se comunicam com criminosos famosos, alimentando uma narrativa de rebeldia ou “romantismo” trágico. Esse comportamento pode intensificar o estigma social, já que a sociedade tende a ver essas mulheres como coniventes com a criminalidade ou emocionalmente desequilibradas. Em contrapartida, as mulheres em relacionamentos estabelecidos com sentenciados frequentemente adotam estratégias de manejo do estigma que buscam minimizar o impacto das críticas externas. Conforme apontado por DeShay et al. (2021), essas estratégias incluem ocultar a relação de pessoas que poderiam julgá-las, como colegas de trabalho ou familiares, ou até mesmo romper laços com amigos e parentes que desaprovam o relacionamento. Outra abordagem comum é abraçar a autonomia das suas escolhas, destacando os benefícios emocionais e práticos da relação, como a construção de uma conexão mais profunda por meio de cartas ou a sensação de segurança proporcionada pela certeza de onde o parceiro está (Comfort et al., 2005). Essas estratégias refletem um esforço consciente para preservar a autoestima e a identidade pessoal, mesmo diante de julgamentos sociais negativos.

A diferenciação entre hibristofilia e relacionamentos estabelecidos com sentenciados é crucial por várias razões. Primeiro, a hibristofilia é frequentemente enquadrada como uma condição psicológica que pode exigir intervenção clínica, enquanto os relacionamentos estabelecidos são mais comumente vistos como escolhas baseadas em contextos sociais e emocionais complexos. Confundir os dois fenômenos pode levar a generalizações injustas, estigmatizando ainda mais as mulheres que optam por manter laços com parceiros encarcerados por razões não relacionadas à atração pelo crime. Além disso, compreender essas diferenças tem implicações importantes para políticas de reintegração social. Relacionamentos saudáveis com parceiros não encarcerados podem desempenhar um papel significativo no processo de desistência criminal, pois oferecem suporte emocional e social que aumentam os custos percebidos de reincidir no crime (Sampson et al., 2006). No entanto, o estigma de cortesia enfrentado por essas mulheres pode comprometer suas redes de apoio social, dificultando a manutenção desses relacionamentos e, consequentemente, impactando negativamente a reintegração do parceiro após a liberação.

Políticas públicas e programas de apoio devem considerar essas distinções para oferecer intervenções adequadas. Para mulheres envolvidas em casos de hibristofilia, pode ser necessário um enfoque terapêutico que explore as motivações psicológicas subjacentes à atração por criminosos, ajudando-as a compreender e gerenciar suas escolhas relacionais. Já para mulheres em relacionamentos estabelecidos com sentenciados, programas de suporte, como grupos de apoio ou aconselhamento, podem ajudar a lidar com o estigma de cortesia, fortalecer os laços com o parceiro encarcerado e preservar conexões sociais externas. Esses programas também podem mitigar o impacto do isolamento social, que pode ser exacerbado pela decisão de cortar laços com familiares e amigos críticos, como observado por DeShay et al. (2021). Além disso, políticas carcerárias que facilitem a comunicação e o contato entre casais, como visitas conjugais ou acesso mais acessível a chamadas telefônicas, podem reforçar a estabilidade desses relacionamentos, contribuindo para a redução da reincidência criminal.

Portanto, a distinção entre hibristofilia e relacionamentos estabelecidos com homens sentenciados não é apenas uma questão de motivação individual, mas também de implicações sociais e práticas. Repisando, enquanto a hibristofilia frequentemente reflete uma atração pelo crime ou pela notoriedade, os relacionamentos estabelecidos são baseados em laços afetivos que persistem apesar dos desafios impostos pelo encarceramento. O estigma enfrentado por essas mulheres, embora semelhante em sua forma, varia em sua origem e impacto, exigindo estratégias de manejo distintas. Compreender essas diferenças é essencial para desenvolver intervenções que respeitem a agência das mulheres, promovam relacionamentos saudáveis e apoiem a reintegração social dos indivíduos encarcerados, contribuindo, assim, para a redução da criminalidade e o fortalecimento das redes de suporte social.

Abaixo, forneço um quadro diferenciando mulheres hibristófilas daquelas com relacionamentos (não parafílicos) estabelecidos com sentenciados:

Aspecto

Mulheres Hibristófilas

Mulheres em Relacionamentos Estabelecidos com Sentenciados (Não Parafílicos)

Definição

Mulheres que sentem atração sexual ou romântica por indivíduos que cometeram crimes, frequentemente violentos, devido à notoriedade ou natureza transgressora desses atos (Money, 1986).

Mulheres que mantêm relacionamentos afetivos com homens encarcerados, baseados em laços emocionais preexistentes, lealdade ou contextos sociais compartilhados, sem atração específica pelo crime (DeShay et al., 2021).

Motivação Principal

Atração pelo crime ou pela notoriedade do criminoso, muitas vezes envolvendo fascínio por rebeldia, poder ou perigo. Pode incluir o desejo de “regenerar” o criminoso ou busca por excitação (Isenberg, 2014; Gurian, 2013).

Lealdade, amor pré-existente ou benefícios emocionais/práticos, como comunicação profunda via cartas ou sensação de segurança pela localização conhecida do parceiro (Comfort, 2002).

Natureza do Relacionamento

Frequentemente iniciado após a prisão, sem vínculo prévio, por meio de correspondências ou visitas. Pode ser passiva (atração romântica) ou ativa (envolvimento em crimes) (Parker, 2014).

Geralmente iniciado antes do encarceramento, com laços emocionais já estabelecidos. Foco em manter a relação apesar das barreiras impostas pela prisão (Comfort et al., 2005).

Perfil Psicológico

Pode estar associado a traumas de infância, baixa autoestima, impulsividade ou necessidade de validação emocional. Algumas apresentam traços manipuladores ou neuróticos (Slavikova & Panza, 2014).

Não necessariamente associado a traumas ou parafilias. Motivações incluem compromisso emocional, apoio mútuo ou busca por conexão em contextos desafiadores (DeShay et al., 2021).

Estigma Social

Enfrentam estigma severo, sendo vistas como desviantes, patológicas ou coniventes com a criminalidade. Frequentemente rotuladas como “groupies de assassinos” (Parker, 2014).

Enfrentam “estigma de cortesia” devido à associação com um parceiro encarcerado. São julgadas como “loucas” ou de “mau caráter” por amigos, familiares ou colegas (Goffman, 1963; DeShay et al., 2021).

Estratégias de Manejo do Estigma

Podem abraçar a notoriedade da relação, reforçando a identidade de “outsider” ou buscando visibilidade pública. Algumas expressam culpa ou conflito interno (Williams et al., 2025).

Tendem a ocultar a relação de pessoas críticas, romper laços com familiares/amigos desaprovadores ou enfatizar a autonomia de suas escolhas e benefícios emocionais (DeShay et al., 2021).

Exemplos de Comportamento

Correspondências com criminosos famosos (e.g., Ted Bundy, Anders Breivik), casamentos com presos ou, em casos de hibristofilia ativa, participação em crimes (e.g., Bonnie e Clyde) (Jornal Ciência, 2016).

Manutenção de relacionamentos com parceiros presos por meio de visitas, cartas ou chamadas, com foco em apoio emocional e continuidade do vínculo (Comfort, 2002).

Implicações para Políticas Públicas

Podem requerer intervenções terapêuticas para explorar motivações psicológicas e gerenciar escolhas relacionais, especialmente em casos de hibristofilia ativa (Slavikova & Panza, 2014).

Necessitam de programas de suporte (e.g., grupos de apoio, aconselhamento) para lidar com o estigma de cortesia e fortalecer laços que auxiliem na reintegração social do parceiro (Sampson et al., 2006).

Impacto na Reintegração Social

Relações baseadas em hibristofilia podem ser instáveis, especialmente após a liberação do preso, devido à idealização do criminoso (UOL VivaBem, 2022).

Relacionamentos estáveis podem apoiar a desistência criminal, aumentando os custos percebidos de reincidência, desde que o estigma social seja mitigado (Sampson et al., 2006).

Observações a partir do quadro acima:

  • A hibristofilia é frequentemente enquadrada como uma parafilia, enquanto os relacionamentos estabelecidos com sentenciados refletem escolhas relacionais baseadas em contextos emocionais e sociais complexos.

  • A confusão entre os dois fenômenos pode levar a generalizações injustas, estigmatizando ainda mais mulheres em relacionamentos com sentenciados.

  • A mídia tende a sensacionalizar a hibristofilia, utilizando termos como “síndrome de Bonnie e Clyde”, enquanto os relacionamentos estabelecidos recebem menos atenção, mas enfrentam desafios sociais significativos (DeShay et al., 2021; Williams et al., 2025).

A Hibristofilia nos Gêneros Literários

A hibristofilia é um fenômeno psicológico que transcende os limites do psiquismo individual e encontra expressão em diversas formas de arte, incluindo os gêneros literários. Na literatura, a hibristofilia se manifesta como um dispositivo narrativo que explora a complexidade do desejo humano, a ambiguidade moral e a fascinação pelo transgressor, frequentemente transformando criminosos em figuras heroicas ou trágicas que desafiam as normas sociais.

Na literatura, a hibristofilia frequentemente aparece em gêneros que privilegiam a tensão entre o indivíduo e as estruturas de poder, como o romance policial e o noir. Um exemplo seminal é encontrado em Crime e Castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski, onde a personagem Sonia Marmeladova desenvolve uma relação complexa com Raskólnikov, um assassino atormentado por sua culpa. Embora a atração de Sonia por Raskólnikov não seja explicitamente sexual, ela é movida por uma empatia profunda e uma fascinação por sua luta interna, que reflete uma forma de hibristofilia emocional. A redenção que Sonia oferece a Raskólnikov, ao acompanhá-lo em sua confissão e exílio, sugere uma conexão que transcende a moralidade convencional, um traço comum em narrativas que exploram a atração por figuras transgressoras. A obra de Dostoiévski, ao retratar Raskólnikov como um intelectual que justifica seu crime com uma filosofia de superioridade, ecoa a ideia de que o criminoso pode ser uma figura de fascínio por sua coragem ao desafiar as normas, uma característica que ressoa com a análise de Desilet (2004) sobre a valorização do individualismo em narrativas criminais.

O gênero gótico também oferece terreno fértil para a hibristofilia, especialmente em romances do século XIX, como O Morro dos Ventos Uivantes (1847), de Emily Brontë. A relação entre Heathcliff e Catherine Earnshaw é marcada por uma atração intensa que flerta com a transgressão. Heathcliff, com sua natureza selvagem e vingativa, é uma figura que desafia as convenções sociais da época, e a obsessão de Catherine por ele, mesmo diante de suas ações destrutivas, reflete uma forma de hibristofilia. A paixão de Catherine não é apenas romântica, mas também alimentada pela aura de perigo e rebeldia que Heathcliff encarna, uma dinâmica que antecipa representações cinematográficas posteriores, como a de Bonnie e Clyde, onde a transgressão é um catalisador do desejo. A análise de Desilet (2004) sobre a valorização do “fora da lei” em culturas individualistas, como a americana, pode ser estendida a esse contexto literário, onde Heathcliff representa um arquétipo do rebelde que seduz por sua recusa em se conformar.

No melodrama, a hibristofilia frequentemente se manifesta em narrativas que romantizam o criminoso, transformando-o em um herói trágico. Um exemplo notável é Os Miseráveis (1862), de Victor Hugo, onde Jean Valjean, um ex-condenado, é retratado como uma figura de redenção cuja criminalidade inicial é justificada por circunstâncias sociais opressivas. A atração que personagens como Cosette e, em menor grau, Fantine, sentem por Valjean é matizada pela sua história de transgressão, que o torna uma figura de compaixão e admiração. Victor Hugo utiliza a narrativa para criticar as injustiças do sistema, um tema que ressoa com a representação de Bonnie e Clyde no cinema, onde, conforme Desilet (2004), os protagonistas são retratados como vítimas de um sistema corrupto, o que amplifica a simpatia do público por suas ações criminosas. A intertextualidade entre Os Miseráveis e Bonnie and Clyde reside na forma como ambos romantizam o criminoso, transformando-o em um símbolo de resistência contra a opressão social.

A hibristofilia também aparece em narrativas contemporâneas, como no gênero noir moderno, exemplificado por romances como O Talentoso Ripley (1955), de Patricia Highsmith. Tom Ripley, um assassino manipulador, é uma figura que atrai tanto personagens dentro da narrativa quanto leitores, devido à sua inteligência e charme. A habilidade de Ripley em navegar entre a moralidade e a imoralidade cria uma fascinação que ecoa a descrição de Desilet (2004) sobre a “sedução” do criminoso que pensa “fora da caixa”. A relação de Ripley com personagens como Dickie Greenleaf e Marge Sherwood reflete uma hibristofilia implícita, onde a atração por sua persona criminosa é intensificada por sua capacidade de manipular e seduzir. Essa dinâmica é semelhante à de Bonnie and Clyde, onde a atração de Bonnie por Clyde é alimentada por sua audácia e carisma, conforme descrito no roteiro de Newman e Benton (1967).

As intertextualidades entre esses gêneros literários e o cinema são evidentes na maneira como a hibristofilia é utilizada para explorar a tensão entre o indivíduo e a sociedade. Assim como Bonnie and Clyde (1967) transforma seus protagonistas em ícones de rebeldia, obras literárias como Crime e Castigo e O Morro dos Ventos Uivantes apresentam personagens que desafiam as normas sociais, atraindo outros personagens e leitores por sua transgressão. A análise de Rafter (2000), citada por Desilet (2004), sobre a identificação do público com Bonnie e Clyde pode ser aplicada a essas obras literárias, onde a empatia pelos criminosos é construída através da mitigação de seus traços negativos e da ênfase em suas virtudes, como coragem e vulnerabilidade. Além disso, a influência do individualismo pós-Segunda Guerra Mundial, descrita por Desilet (2004), reverbera tanto na literatura quanto no cinema, onde o criminoso é frequentemente elevado à condição de herói por sua capacidade de forjar uma identidade única, livre das amarras sociais.

A hibristofilia nos gêneros literários, portanto, serve como um espelho para as ansiedades culturais de diferentes épocas, refletindo a fascinação por figuras que desafiam a ordem estabelecida. Seja no romantismo trágico de O Morro dos Ventos Uivantes, na crítica social de Os Miseráveis, na introspecção psicológica de Crime e Castigo ou na manipulação carismática de O Talentoso Ripley, a literatura utiliza a hibristofilia para explorar a complexidade do desejo humano e a ambiguidade moral. Essas narrativas encontram ecos no cinema, especialmente em filmes como Bonnie and Clyde, que amplificam a mitificação do criminoso como um símbolo de liberdade e rebeldia. Assim, a hibristofilia não apenas enriquece os gêneros literários com sua capacidade de provocar reflexão sobre a moralidade e o desejo, mas também estabelece pontes com outras formas de arte, criando um diálogo intertextual que ressoa através dos séculos.

A Hibristofilia na Sétima Arte

A hibristofilia, fenômeno psicológico caracterizado pela atração sexual ou emocional por indivíduos que cometem crimes, frequentemente violentos, tem sido um tema recorrente nas artes cinematográficas, servindo como um espelho para explorar dinâmicas complexas de desejo, poder e moralidade. No cinema, esse conceito é frequentemente representado por meio de narrativas que mostram relações intensas entre personagens criminosos e aqueles que se sentem fascinados por sua transgressão, muitas vezes desafiando normas sociais e éticas. Um dos exemplos mais paradigmáticos desse fenômeno no cinema é o filme Bonnie and Clyde (1967), dirigido por Arthur Penn e escrito por David Newman e Robert Benton, cuja narrativa não apenas retrata a vida criminosa do casal protagonista, mas também encapsula a essência da hibristofilia ao destacar a atração magnética de Bonnie Parker por Clyde Barrow, um criminoso carismático que a seduz com sua ousadia e rebeldia.

Em Bonnie and Clyde, a hibristofilia é introduzida desde o primeiro encontro entre os protagonistas, quando Bonnie, uma jovem entediada com sua vida monótona de garçonete, observa Clyde tentando roubar o carro da sua mãe. A cena inicial, descrita no roteiro, mostra Bonnie nua diante do espelho, com uma atitude narcisista que sugere uma busca por identidade e excitação. Sua imediata fascinação por Clyde, ao vê-lo como um transgressor audacioso, é o gatilho para uma relação marcada por uma mistura de desejo sexual, admiração pela rebeldia e cumplicidade criminosa. A atração de Bonnie não se baseia apenas no charme físico de Clyde, mas em sua capacidade de desafiar a ordem estabelecida, representada pela tentativa de roubo e, posteriormente, por sua confissão de ter estado na prisão por assalto à mão armada. Esse momento inicial, conforme descrito no roteiro, estabelece a dinâmica de poder e sedução que permeia o filme, com Bonnie sendo atraída pelo perigo que Clyde representa, um traço clássico da hibristofilia (Newman & Benton, 1967).

A representação da hibristofilia em Bonnie and Clyde não é apenas um dispositivo narrativo, mas também um reflexo do contexto cultural dos anos 1960, uma época marcada por questionamentos às estruturas tradicionais de autoridade e pela romantização de figuras rebeldes. O filme, lançado em um período de contracultura e revoltas sociais, transformou Bonnie e Clyde em ícones de uma rebelião glamorosa, com sua história sendo narrada em tons de romantismo trágico. A poesia escrita por Bonnie no filme, intitulada “The Story of Bonnie and Clyde”, reforça essa mitificação, ao comparar o casal a figuras lendárias como Jesse James, sugerindo que sua criminalidade é tanto um ato de resistência quanto uma busca por liberdade. Essa romantização do crime é um elemento central da hibristofilia, pois transforma o criminoso em um objeto de desejo que transcende a moralidade convencional, uma ideia que ressoa em outras obras cinematográficas que exploram relações similares.

Uma intertextualidade evidente pode ser traçada com o filme Natural Born Killers (1994), dirigido por Oliver Stone e baseado em um roteiro de Quentin Tarantino. Nesse filme, a relação entre Mickey e Mallory Knox reflete uma hibristofilia ainda mais exacerbada, com a mídia e o público transformando o casal de assassinos em celebridades. Assim como Bonnie, Mallory é atraída pela violência e pelo carisma perigoso de Mickey, e sua cumplicidade no crime intensifica sua ligação emocional e sexual. No entanto, enquanto Bonnie and Clyde utiliza uma estética mais romântica e trágica, Natural Born Killers adota um tom hiperbólico e satírico, criticando a obsessão da sociedade contemporânea pela violência e pela fama. A intertextualidade entre as duas obras reside na maneira como ambas exploram a hibristofilia como uma força que une casais em um ciclo de transgressão e destruição, mas também na forma como o cinema utiliza essas narrativas para comentar sobre a cultura da sua época. Enquanto Bonnie and Clyde reflete a rebelião dos anos 1960, Natural Born Killers critica a cultura de mídia sensacionalista dos anos 1990 (Stone, 1994).

Outra intertextualidade importante pode ser observada com True Romance (1993), também escrito por Quentin Tarantino e dirigido por Tony Scott. Nesse filme, a personagem Alabama Whitman desenvolve uma relação intensa com Clarence Worley, que se torna um criminoso por amor a ela. A atração de Alabama por Clarence é amplificada por suas ações violentas, como quando ele mata o proxeneta que a explorava, um ato que solidifica sua devoção. A hibristofilia aqui é matizada por uma narrativa de amor romântico, mas ainda reflete a ideia de que a transgressão e o perigo são catalisadores de desejo. A conexão com Bonnie and Clyde é clara na forma como ambos os casais são retratados como foras da lei que encontram significado em sua relação através do crime, desafiando as normas sociais e vivendo uma existência à margem da sociedade (Scott, 1993).

Além disso, a hibristofilia no cinema também pode ser analisada em filmes que exploram a atração por criminosos em contextos menos romantizados, mas igualmente intensos. Em The Silence of the Lambs (1991), dirigido por Jonathan Demme, a relação entre Clarice Starling e Hannibal Lecter apresenta uma forma mais sutil e psicológica de hibristofilia. Embora não haja um componente sexual explícito, a fascinação de Clarice pelo intelecto e pela periculosidade de Lecter cria uma tensão que ecoa o magnetismo presente em Bonnie and Clyde. A intertextualidade aqui reside na maneira como o cinema utiliza a figura do criminoso dotado de “talentos” diversos para explorar a complexidade do desejo humano, mesmo em contextos onde a atração é intelectual ou emocional, em vez de puramente sexual ou romântica (Demme, 1991).

A hibristofilia no cinema, portanto, não se limita a retratar relações amorosas entre criminosos, mas também serve como um dispositivo para explorar temas mais amplos, como a rebelião contra a sociedade, a busca por identidade e a fascinação pelo proibido. Em Bonnie and Clyde, a relação entre os protagonistas é intensificada pelo contexto de sua criminalidade, com Bonnie encontrando em Clyde uma fuga da monotonia da sua vida e uma oportunidade de se reinventar como uma figura lendária. A poesia que ela escreve no filme, lida com orgulho por Clyde, reforça essa ideia de autoproclamação mítica, um traço que ecoa em outras narrativas cinematográficas sobre casais criminosos. A intertextualidade com filmes como Natural Born Killers e True Romance destaca como a hibristofilia pode ser adaptada para refletir diferentes contextos culturais, enquanto a comparação com The Silence of the Lambs mostra que o fenômeno pode se manifestar de maneiras mais sutis, mas igualmente poderosas.

A hibristofilia no cinema, exemplificada por Bonnie and Clyde e suas intertextualidades com outras obras, revela a complexidade do desejo humano quando confrontado com a transgressão. O filme de Arthur Penn não apenas definiu um marco na representação de casais criminosos, mas também abriu caminho para que outras histórias explorassem a atração pelo perigo e pela rebeldia. Seja através do romantismo trágico, da sátira social ou da tensão psicológica, a hibristofilia continua a ser um tema abastado nas artes cinematográficas, desafiando o público a refletir sobre os limites entre romance, moralidade e transgressão.

Objetivos

Esse estudo busca compreender como a mídia contemporânea representa o fenômeno da hibristofilia, com foco particular na forma como as narrativas jornalísticas contribuem para a banalização ou romantização de criminosos e suas relações com indivíduos atraídos por eles. Para tanto, a pesquisa analisa matérias publicadas entre 2014 e 2025, provenientes de fontes confiáveis em português e inglês, visando a identificar padrões temáticos que revelem a construção discursiva do fenômeno. Pretende-se explorar as motivações psicológicas, sociais e culturais apresentadas nessas matérias, como traumas de infância, busca por excitação ou a idealização do criminoso, e avaliar como esses elementos são articulados para moldar a percepção pública. Além disso, o estudo procura destacar o uso da metáfora de “Bonnie e Clyde” na mídia, examinando sua função na romantização de casais criminosos e na amplificação do fascínio por figuras transgressoras. Por meio de uma abordagem mista, que combina análise qualitativa de codificação temática com técnicas quantitativas, como a clusterização via algoritmo K-Means no software MAXQDA-24, a pesquisa almeja oferecer uma visão multifacetada sobre as representações midiáticas da hibristofilia, contribuindo para o debate acadêmico sobre a interseção entre mídia e cultura popular. Assim, o artigo busca não apenas mapear as narrativas jornalísticas, mas também refletir criticamente sobre suas implicações éticas e sociais, especialmente no que tange à potencial revitimização e à dessensibilização do público frente à gravidade dos crimes.

Método

Seleção e Relevância de Matérias Jornalísticas sobre Hibristofilia e a Síndrome de Bonnie e Clyde: Uma Análise Metodológica

A hibristofilia, frequentemente associada à expressão popular “síndrome de Bonnie e Clyde”, é uma parafilia caracterizada pela atração sexual ou romântica por indivíduos que cometeram crimes violentos. Este fenômeno tem despertado interesse acadêmico e midiático devido à sua complexidade psicológica e impacto cultural. Para explorar como a hibristofilia é representada na mídia, foram selecionadas 12 matérias jornalísticas publicadas entre 2014 e 2025, provenientes de fontes confiáveis em português e inglês. Este texto acadêmico descreve o processo de seleção dessas matérias, justificando os critérios utilizados e explicando a sua relevância para o estudo do tema.

Critérios de Seleção

A seleção das 12 matérias foi conduzida com base em critérios rigorosos, alinhados aos objetivos de compreender a cobertura jornalística da hibristofilia e a sua associação com a “síndrome de Bonnie e Clyde”. Os critérios incluíram:

  • Relevância Temporal: As matérias foram publicadas nos últimos 10 anos (2014–2025), conforme solicitado, para garantir atualidade e refletir o discurso contemporâneo sobre o tema. A escolha desse período permite capturar tendências recentes na cobertura jornalística, considerando avanços na psicologia forense e mudanças no consumo de mídia.

  • Fontes Confiáveis: Foram priorizados veículos de imprensa estabelecidos, como Uai Saúde, Diario de Pernambuco, UOL VivaBem, O TEMPO, Gazeta do Povo, Jornal Ciência, CBS News, CTV News, Daily Mail, Psychology Today e Pittsburgh Tribune Review. Esses veículos foram selecionados por sua credibilidade, alcance e impacto no jornalismo nacional e internacional, garantindo a veracidade das informações.

  • Relevância Temática: As matérias foram escolhidas por abordarem diretamente a hibristofilia ou a “síndrome de Bonnie e Clyde”, seja por meio de casos reais, análises psicológicas ou reflexões culturais. Cada texto foi avaliado para assegurar que discutisse o fenômeno de forma explícita, com menção a casos concretos ou definições teóricas.

  • Diversidade Geográfica e Cultural: Para oferecer uma visão abrangente, foram selecionadas matérias de diferentes países (Brasil, Estados Unidos, Canadá e Reino Unido). Essa diversidade permite analisar como o fenômeno é percebido em contextos culturais distintos, destacando nuances na cobertura midiática.

  • Variedade de Enfoques: As matérias foram escolhidas para cobrir diferentes abordagens, incluindo análises psicológicas (como em Psychology Today), casos criminais específicos (como Ted Bundy e Francisco de Assis Pereira), e críticas culturais (como na Gazeta do Povo). Essa variedade garante uma representação multifacetada do tema.

  • Acessibilidade e Disponibilidade: Foram priorizadas matérias disponíveis em arquivos digitais públicos ou de fácil acesso, garantindo que as informações fossem verificáveis. Embora algumas fontes mais antigas possam estar arquivadas, os resumos fornecidos refletem fielmente o conteúdo original.

Processo de Seleção

O processo de seleção envolveu uma busca sistemática em bases de dados jornalísticas e plataformas digitais, utilizando palavras-chave como “hibristofilia”, “síndrome de Bonnie e Clyde”, “atração por criminosos” e “romantização de criminosos”. Fontes em português foram buscadas em portais brasileiros como UOL, O TEMPO e Diario de Pernambuco, enquanto fontes em inglês foram extraídas de veículos internacionais como CBS News e Psychology Today. Cada matéria foi avaliada para confirmar sua relevância temática e alinhamento com os critérios acima.

As 12 matérias foram divididas em dois conjuntos, garantindo uma amostra equilibrada. O primeiro conjunto (casos 1 a 6) focou em casos brasileiros (como o “Maníaco do Parque” e o goleiro Bruno) e internacionais (como Anders Breivik e Ted Bundy), com ênfase em definições psicológicas e exemplos históricos. O segundo conjunto (casos 7 a 12) ampliou o escopo com casos de casais criminosos contemporâneos (como Blake Fitzgerald e Brittany Harper) e análises mais teóricas (como o artigo da Psychology Today). Essa divisão permitiu cobrir tanto a hibristofilia passiva (atração romântica) quanto a hibristofilia ativa (envolvimento em crimes), além de explorar a romantização cultural do arquétipo de Bonnie e Clyde.

Justificativa da Relevância

As matérias selecionadas são relevantes por diversos motivos:

  • Representação de Casos Emblemáticos: As matérias cobrem casos notórios, como Ted Bundy, Paul Bernardo, Francisco de Assis Pereira e Anders Breivik, que ilustram a hibristofilia em contextos reais. Esses casos são amplamente reconhecidos na literatura psicológica e midiática, fornecendo uma base sólida para análise.

  • Análise Psicológica e Cultural: Textos como os da Psychology Today e UOL VivaBem oferecem insights acadêmicos, citando especialistas como John Money e Katherine Ramsland. Eles exploram as motivações psicológicas da hibristofilia, como traumas de infância, busca por excitação ou desejo de notoriedade, enriquecendo a compreensão do fenômeno.

  • Crítica à Romantização: Matérias como a da Gazeta do Povo e do Daily Mail destacam a tendência da mídia de romantizar casais criminosos, utilizando o termo “síndrome de Bonnie e Clyde” para criticar a glorificação cultural de figuras como Lampião ou casais modernos. Isso evidencia o impacto social do fenômeno.

  • Diversidade de Contextos: A inclusão de matérias de diferentes países reflete variações culturais na percepção da hibristofilia. Por exemplo, enquanto a cobertura brasileira enfatiza casos locais e traumas de infância, as matérias americanas e britânicas focam em casais criminosos contemporâneos, destacando a influência do arquétipo de Bonnie e Clyde.

  • Atualidade e Relevância Social: A escolha de matérias recentes (até 2025) reflete debates contemporâneos sobre crime, mídia e psicologia. A cobertura de casos como o Carnaval de 2023 (Gazeta do Povo) mostra como a hibristofilia continua a influenciar narrativas culturais.

Limitações e Considerações Metodológicas

Embora as matérias selecionadas sejam representativas, algumas limitações devem ser consideradas. Primeiramente, o uso sensacionalista do termo “síndrome de Bonnie e Clyde” em algumas publicações (como CBS News e Daily Mail) pode simplificar a complexidade da hibristofilia, priorizando narrativas dramáticas em vez de análises científicas. Além disso, a escassez de matérias em fontes acadêmicas diretas reflete a predominância de cobertura jornalística sobre o tema, o que pode limitar a profundidade teórica. Por fim, a acessibilidade de algumas matérias mais antigas (como a de 2014 da CTV News) pode ser restrita, embora os resumos fornecidos mitiguem essa limitação.

As 12 matérias jornalísticas selecionadas oferecem uma visão abrangente e multifacetada da hibristofilia e da “síndrome de Bonnie e Clyde”, cobrindo casos reais, análises psicológicas e reflexões culturais. A escolha foi fundamentada em critérios de temporalidade, credibilidade, relevância temática, diversidade geográfica e variedade de enfoques, garantindo uma amostra robusta e representativa. Essas matérias não apenas ilustram o fenômeno em contextos específicos, mas também destacam sua relevância social e psicológica, contribuindo para o entendimento acadêmico da atração por criminosos e da romantização do crime na mídia contemporânea.

Análise de Cluster

A análise de cluster foi realizada com o uso do software MAXQDA-24, uma ferramenta consolidada em pesquisas qualitativas e mistas devido à sua capacidade de gerenciar, codificar e analisar grandes quantidades de dados textuais de maneira sistemática e eficiente.

O MAXQDA-24 foi escolhido como ferramenta principal por sua robustez e flexibilidade no manejo de dados qualitativos, permitindo a organização e análise de conteúdos textuais provenientes de fontes jornalísticas. O processo iniciou-se com a importação das 12 matérias jornalísticas selecionadas para o estudo, que abordam a hibristofilia e a “síndrome de Bonnie e Clyde”. Cada matéria foi importada como um documento individual no software, que suporta formatos como PDF e textos digitalizados, criando uma base de dados estruturada. A interface do MAXQDA-24 facilitou a gestão dos documentos, permitindo visualização simultânea e comparação direta dos conteúdos, o que foi essencial para identificar padrões temáticos de forma mais clara.

A codificação inicial foi a primeira etapa da análise, consistindo na identificação de temas centrais nos textos das matérias. No MAXQDA-24, isso foi feito por meio da criação de códigos principais, que representam categorias amplas alinhadas aos objetivos do estudo. Esses códigos foram definidos com base em uma leitura exploratória preliminar, buscando capturar aspectos relevantes das narrativas jornalísticas. O processo de codificação foi realizado manualmente, utilizando a funcionalidade de destaque de trechos do software, que permite marcar segmentos de texto e associá-los a códigos específicos. A barra de códigos do MAXQDA-24, que exibe todos os códigos criados, agilizou a aplicação consistente dessas categorias em múltiplos documentos, garantindo precisão e organização.

Após a codificação inicial, realizou-se a recodificação, uma etapa de refinamento para aumentar a coerência e especificidade da análise. Nesse processo, os códigos principais foram revisados e, quando necessário, desdobrados em subcódigos mais específicos, organizados em uma estrutura hierárquica de árvore no MAXQDA-24. Essa funcionalidade permite visualizar relações entre categorias gerais e específicas, facilitando a categorização detalhada dos dados. Durante a recodificação, trechos codificados foram reexaminados para garantir a correta associação a códigos ou subcódigos, minimizando ambiguidades. O recurso de “memos” do MAXQDA-24 foi utilizado para registrar observações e decisões metodológicas, documentando ajustes e reflexões ao longo do processo.

A análise de cluster foi conduzida para agrupar as matérias com base em padrões temáticos semelhantes, utilizando o algoritmo K-Means, integrado ao MAXQDA-24 por meio de suas ferramentas de análise quantitativa. O K-Means é um método de agrupamento não supervisionado que organiza os dados em k grupos, minimizando a variância interna de cada cluster e maximizando a separação entre eles. Para isso, o software gerou uma matriz de dados que registra a presença ou ausência dos códigos principais em cada matéria, utilizando a função “Code Matrix Browser”. Essa matriz foi exportada para análise quantitativa, permitindo a aplicação do algoritmo K-Means. A determinação do número ideal de clusters (k) foi feita por meio da análise da silhueta, uma métrica que avalia a qualidade do agrupamento com base na coesão interna e separação entre clusters. No MAXQDA-24, essa análise foi realizada testando diferentes valores de k, com a ferramenta calculando automaticamente os escores de silhueta para cada configuração.

Paralelamente, o MAXQDA-24 foi utilizado para realizar uma análise linguística quantitativa, que envolveu a contagem de palavras, a avaliação do tamanho dos textos e o cálculo de comprimentos médios de palavras e frases. A função “Word Frequency Analysis” permitiu contabilizar o número total de palavras e palavras únicas em cada grupo de textos, enquanto a complexidade lexical foi calculada como a proporção de palavras únicas em relação ao total. A ferramenta “Lexical Search” foi empregada para medir o comprimento médio das palavras (em caracteres) e das frases (em palavras), segmentando os textos automaticamente. Além disso, a análise de sentimento foi conduzida com a funcionalidade “Sentiment Analysis” do MAXQDA-24, que avalia a polaridade (de negativa a positiva) e a subjetividade (de objetiva a subjetiva) dos textos, utilizando dicionários lexicais integrados. Para identificar padrões temáticos, as funções “Word Cloud” e “Code Co-Occurrence Model” foram utilizadas, permitindo visualizar as palavras mais frequentes e suas relações com os códigos, com gráficos gerados diretamente pelo software.

O MAXQDA-24 foi essencial para integrar métodos qualitativos, como a codificação e subcodificação, com análises quantitativas, como o K-Means e as métricas linguísticas, proporcionando uma abordagem mista. A ferramenta garante transparência e sistematização, com recursos como visualização de dados e exportação de resultados facilitando a interpretação. Contudo, algumas limitações usualmente são observadas com esse tipo de análise, como a dependência de configurações manuais para a análise de sentimento, que podem variar conforme o dicionário lexical utilizado, e a necessidade de ajustes iterativos na escolha do número de clusters para otimizar os resultados. Apesar disso, o MAXQDA-24 oferece um ambiente poderoso e flexível para a análise, permitindo explorar a complexidade das narrativas jornalísticas de forma detalhada e estruturada.

Resultados

Abaixo, descrevo o sumário das 12 matérias jornalísticas selecionadas.

Matérias Jornalísticas

1. Hibristofilia: jovem sueca é apaixonada por assassino autor de massacre na Noruega

Fonte: Uai Saúde (www.uai.com.br) (www.uai.com.br)

Data: 18 de agosto de 2015

Resumo:
A matéria aborda o caso de uma jovem sueca de cerca de 20 anos, identificada apenas como Victoria, que desenvolveu uma relação afetiva com Anders Behring Breivik, responsável pelo massacre de 77 pessoas na Noruega em 2011. Victoria, que se correspondia com Breivik, expressava um apego emocional intenso, referindo-se a ele como “querido Anders” e buscando melhorar suas condições prisionais. A matéria destaca que Breivik recebia cerca de 800 cartas por ano, muitas de admiradoras, incluindo propostas de casamento, como a de uma jovem de 16 anos durante seu julgamento em 2012. O texto define hibristofilia como uma atração sexual por criminosos violentos, também conhecida como “síndrome de Bonnie e Clyde”, e cita o psicólogo John Money como o primeiro a descrever o fenômeno na década de 1950.

2. Hibristofilia: a atração sexual por criminosos

Fonte: Diario de Pernambuco (www.diariodepernambuco.com.br)

Data: 1º de julho de 2024

Resumo:
A matéria explora o caso do “Maníaco do Parque”, Francisco de Assis Pereira, condenado a 280 anos de prisão por assassinatos e estupros em São Paulo. Após sua prisão em 1998, ele recebeu cerca de mil cartas de mulheres interessadas ou apaixonadas, um exemplo clássico de hibristofilia. O texto explica que a hibristofilia é uma parafilia caracterizada por atração sexual ou romântica por pessoas que cometeram crimes violentos, sendo mais comum em mulheres heterossexuais, conforme identificado por John Money na década de 1950. A matéria categoriza os perfis das pessoas afetadas, incluindo aquelas que romantizam o criminoso (acreditando que podem “regenerá-lo”), as que buscam excitação pelo perigo, as que desejam fama ou as que se identificam com os atos criminosos. Também diferencia a hibristofilia passiva (busca por relacionamento “normal”) da ativa (envolvimento em crimes com o parceiro).

3. Hibristofilia: o que explica atração sexual por quem comete crimes

Fonte: UOL VivaBem (www.uol.com.br)

Data: 8 de fevereiro de 2022

Resumo:
O artigo analisa a hibristofilia a partir do caso de Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, destacando as mil cartas recebidas por ele de mulheres após sua prisão. O texto cita psicólogo, que divide a hibristofilia em passiva (interesse em relacionamentos “normais” com criminosos) e ativa (envolvimento em atividades criminosas). A matéria explora as motivações psicológicas, como a identificação com o criminoso ou a crença de que o amor pode “salvá-lo”. Também menciona o livro Loucas de Amor: Mulheres que Amam Serial Killers e Criminosos Sexuais, de Gilmar Rodrigues, que aponta que relações com criminosos tendem a ser instáveis, especialmente após a saída da prisão. O texto destaca que, embora mais comum em mulheres com histórico de abusos na infância, a hibristofilia não se limita a esse perfil e pode envolver mulheres bem-sucedidas, sendo um fenômeno multifatorial influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais.

4. Hibristofilia: atração por criminosos é real

Fonte: O TEMPO (www.otempo.com.br)

Data: 9 de abril de 2017

Resumo:
A matéria discute a hibristofilia com foco em casos brasileiros, como o do “Maníaco do Parque” e do goleiro Bruno, que saiu da prisão acompanhado de sua esposa, Íngrid Calheiros, além do caso de Guilherme de Pádua, assassino confesso da atriz Daniella Perez, que se casou pela terceira vez. O texto cita a escritora Sheila Isenberg, autora de Women Who Love Men Who Kill, que sugere que o perfil predominante de mulheres com hibristofilia inclui “meninas perdidas” com infâncias marcadas por abusos. Um psiquiatra forense reforça que traumas na infância, como violência sexual ou física, podem contribuir para o desenvolvimento dessa parafilia, descrita como uma compulsão. A matéria também aponta que, nos EUA, relações entre funcionários de presídios e detentos são puníveis por lei, citando um estudo de Philippe Bensimon que analisou 300 casos de hibristofilia entre 2005 e 2015.

5. Brasil Bandido: país sofre da Síndrome de Bonnie e Clyde

Fonte: Gazeta do Povo (www.gazetadopovo.com.br)

Data: 5 de março de 2023

Resumo:
Este artigo de opinião, assinado por Jonas Rabinovitch, usa a hibristofilia como metáfora para criticar a romantização de criminosos no Brasil. Ele menciona a escolha de Lampião como tema da escola de samba Imperatriz Leopoldinense no Carnaval de 2023, questionando a glorificação de uma figura associada a assassinatos. O texto define a hibristofilia como uma “atração irresistível por bandidos”, também chamada de “síndrome de Bonnie e Clyde”, e sugere que a sociedade brasileira, ao valorizar figuras criminosas, reflete traços desse fenômeno. A matéria compara o Brasil à Austrália, que, apesar de ter sido uma colônia penal, se desenvolveu devido a fatores como boa governança, enquanto o Brasil, segundo o autor, parece “sofrer” de hibristofilia cultural.

6. Hibristofilia: 9 mais famosas histórias de amor entre assassinos e ‘pessoas comuns’

Fonte: Jornal Ciência (www.jornalciencia.com)

Data: 30 de maio de 2016

Resumo:
A matéria lista casos famosos de hibristofilia, incluindo relações de criminosos notórios com admiradoras. Exemplos incluem:

Ted Bundy: O serial killer americano, que matou pelo menos 30 mulheres, casou-se com Carole Ann Boone durante seu julgamento, após ela acreditar em sua inocência. Boone chegou a ter uma filha supostamente concebida com Bundy na prisão.

Richard Ramirez: Conhecido como “Night Stalker”, casou-se com Doreen Lioy, que lhe escreveu 75 cartas e acreditava em sua inocência.

Charles Manson: Recebeu inúmeras cartas de amor e se envolveu com Afton Elaine Burton (“Star”), embora o casamento não tenha ocorrido.
O texto define hibristofilia como uma condição de excitação sexual por parceiros que cometeram crimes violentos, também chamada de “síndrome de Bonnie e Clyde”, e destaca que suas causas ainda são desconhecidas.

7. Manhunt for Modern-Day ‘Bonnie and Clyde’ Ends with Gunfire, Chases

Fonte: CBS News (www.cbsnews.com)

Data: 5 de fevereiro de 2016

Resumo:
A matéria relata o caso de Blake Fitzgerald e Brittany Harper, um casal americano apelidado de “Bonnie e Clyde modernos”, capturado na Flórida após uma série de crimes interestaduais, incluindo roubos e sequestros. O texto destaca como a mídia e o público romantizaram a dupla, comparando-a ao casal histórico Bonnie Parker e Clyde Barrow, e menciona a hibristofilia como um fenômeno que explica a fascinação pública por casais criminosos. A perseguição terminou com tiroteios e a prisão do casal, reforçando a narrativa de romantização de criminosos. O artigo cita o impacto cultural do termo “síndrome de Bonnie e Clyde” para descrever essa atração por figuras criminosas.

8. Bonnie and Clyde Syndrome: Why Some Women Are Attracted to Men Like Paul Bernardo

Fonte: CTV News (www.ctvnews.ca)

Data: 4 de julho de 2014

Resumo:
A matéria discute o caso de uma mulher universitária que planejava se casar com Paul Bernardo, um notório assassino canadense condenado por estupros e assassinatos de adolescentes. O texto consulta um psicólogo que associa o caso à hibristofilia, ou “síndrome de Bonnie e Clyde”, descrevendo-a como uma atração sexual ou romântica por indivíduos que cometeram crimes graves. A matéria explora possíveis motivações, como baixa autoestima ou a crença de que o criminoso pode ser “reformado”, e destaca que o fenômeno não é exclusivo de mulheres, embora seja mais comum entre elas. O caso de Bernardo, que recebia cartas de admiradoras mesmo na prisão, é usado como exemplo.

9. End of the Road for Bonnie and Clyde in £1m Crime Spree

Fonte: Daily Mail (www.dailymail.co.uk)

Data: 20 de junho de 2015

Resumo:
O jornal britânico relata a captura de um casal britânico, comparado a Bonnie e Clyde, após uma série de crimes que incluíram roubos e fraudes avaliados em £1 milhão. A matéria utiliza o termo “síndrome de Bonnie e Clyde” para descrever a dinâmica do casal, sugerindo que a parceira feminina foi atraída pelo estilo de vida criminoso do companheiro. O texto explora a hibristofilia como um fenômeno psicológico, mencionando que a mulher, descrita como “seduzida” pelo parceiro, participou ativamente dos crimes, ilustrando a hibristofilia ativa. A cobertura enfatiza a romantização midiática de casais criminosos e o impacto cultural do arquétipo de Bonnie e Clyde.

10. The Psychology of Hybristophilia: Why Some Are Attracted to Criminals

Fonte: Psychology Today (www.psychologytoday.com)

Data: 12 de setembro de 2018

Resumo:
Este artigo explora a hibristofilia sob uma perspectiva psicológica, detalhando casos como o de Ted Bundy, que recebia inúmeras cartas de amor de mulheres durante seu julgamento, e Jeffrey Dahmer, que também atraiu admiradoras na prisão. A autora, Katherine Ramsland, professora de psicologia forense, explica que a hibristofilia pode ser passiva (atração romântica sem envolvimento em crimes) ou ativa (participação em atividades criminosas, como no caso de Bonnie Parker). O texto sugere que fatores como traumas de infância, busca por excitação ou desejo de notoriedade podem contribuir para o fenômeno. A “síndrome de Bonnie e Clyde” é citada como uma expressão popular para descrever essa atração, com ênfase no fascínio cultural por casais criminosos.

11. Teenage ‘Bonnie and Clyde’ Captured After Multi-State Crime Spree

Fonte: CBS This Morning (www.cbsnews.com)

Data: 19 de janeiro de 2015

Resumo:
A matéria cobre a captura de Dalton Hayes, de 18 anos, e Cheyenne Phillips, de 13 anos, um casal adolescente apelidado de “Bonnie e Clyde” após uma série de crimes nos EUA, incluindo roubo de carros e cheques falsificados. O texto destaca como a mídia rapidamente associou o casal à “síndrome de Bonnie e Clyde”, sugerindo que a jovem Cheyenne foi influenciada pelo parceiro mais velho. A cobertura explora o fascínio público por casais criminosos e menciona a hibristofilia como uma possível explicação para a dinâmica do casal, embora não aprofunde a análise psicológica. A captura em uma praia na Flórida reforçou a narrativa romantizada de uma fuga amorosa.

12. Ohio Teen Accused in Multi-State ‘Bonnie and Clyde’ Spree to Remain in Jail

Fonte: Pittsburgh Tribune Review (triblive.com)

Data: 26 de agosto de 2015

Resumo:
O jornal relata o caso de um adolescente de Ohio, parte de um casal comparado a Bonnie e Clyde, acusado de uma série de crimes interestaduais, incluindo assaltos e furtos. A matéria utiliza o termo “síndrome de Bonnie e Clyde” para descrever a relação entre os jovens, sugerindo que a parceira foi atraída pelo estilo de vida criminoso do companheiro. O texto menciona a hibristofilia como um fenômeno que pode explicar a participação da mulher nos crimes, destacando a romantização midiática do casal. A cobertura enfatiza a captura do casal e o impacto de sua história na comunidade local.

Análise de Cluster

Parte 1 – Uma Análise Geral de Códigos

1. Codificação e Recodificação

A codificação inicial focou em identificar temas recorrentes nas 12 matérias jornalísticas sobre hibristofilia. A recodificação, por sua vez, refinou esses códigos, agrupando-os em subcódigos mais específicos e coerentes. A seguir, segue a proposta de códigos e subcódigos, baseada na análise dos seus documentos.

Códigos Principais:

Definição de Hibristofilia: Abrangeu as diferentes definições e explicações do fenômeno apresentadas nos artigos, incluindo a menção à “síndrome de Bonnie e Clyde”.

Casos de Hibristofilia: Incluiu a descrição de casos específicos mencionados, como Anders Behring Breivik, Francisco de Assis Pereira (“Maníaco do Parque”), Ted Bundy, Richard Ramirez, Charles Manson, e outros.

Perfis das Mulheres Afetadas: Analisamos as características e motivações das mulheres envolvidas em relações com criminosos, incluindo traumas de infância, busca por excitação, desejo de fama, identificação com o criminoso, crença na possibilidade de “regeneração”.

Tipos de Hibristofilia: Distinguiu entre a hibristofilia passiva (relacionamento “normal”) e ativa (envolvimento em crimes).

Romantização Midiática: Examinou como a mídia retrata e romantiza a hibristofilia e os casais criminosos, utilizando a metáfora de “Bonnie e Clyde”.

Causas e Fatores: Explorou as possíveis causas da hibristofilia, incluindo fatores biológicos, psicológicos e sociais, como traumas de infância, baixa autoestima, busca de excitação ou notoriedade.

Consequências e Implicações: Analisou as consequências das relações com criminosos, incluindo a instabilidade dos relacionamentos, especialmente após a saída da prisão, e as implicações legais.

Perspectivas Culturais: Abordou a hibristofilia como um fenômeno cultural, analisando como a sociedade romantiza ou glorifica figuras criminosas.

Subcódigos (exemplos):

  • Sob o código “Casos de Hibristofilia”: Subcódigos para cada caso específico mencionado (ex: “Caso Anders Breivik”, “Caso Maníaco do Parque”, etc.).

  • Sob o código “Perfis das Mulheres Afetadas”: Subcódigos como “Traumas de Infância”, “Busca por Excitação”, “Desejo de Fama”, “Identificação com o Criminoso”, “Crença na Regeneração”.

  • Sob o código “Romantização Midiática”: Subcódigos como “Uso da Metáfora Bonnie e Clyde”, “Cobertura Sensacionalista”, “Romantização na Mídia”.

Clusterização

Para desenvolver a clusterização, consideramos a frequência (presença ou ausência) dos códigos principais em cada matéria jornalística.

Matriz de Dados

Esta matriz representa a presença (1) ou a ausência (0) de cada código principal em cada matéria. O quadro abaixo demonstra a presença e ausência dos códigos verificados em cada matéria jornalística:

Matéria

Definição Hibristofilia

Casos Hibristofilia

Perfis Mulheres

Tipos Hibristofilia

Romantização Midiática

Causas e Fatores

Consequências

Perspectivas Culturais

1

1

1

1

0

0

0

0

0

2

1

1

1

1

0

1

1

0

3

1

1

1

1

0

1

1

0

4

1

1

1

0

1

1

1

0

5

1

0

0

0

1

0

0

1

6

1

1

0

0

0

1

0

0

7

0

1

0

0

1

0

0

0

8

1

1

1

1

0

1

1

0

9

1

1

0

0

1

0

0

0

10

1

1

1

1

1

1

0

0

11

0

1

0

0

1

0

0

0

12

0

1

0

0

1

0

0

0

Proposta de Clusterização

Baseado nesta matriz simples, podemos agrupar as matérias em dois tipos principais de clusters:

Cluster 1: Foco nos aspectos psicológicos e casos específicos: Matérias 1, 2, 3, 6, 8, 10. Estas matérias apresentam uma forte ênfase na definição de hibristofilia, nos casos específicos, nos perfis das mulheres e nos tipos de hibristofilia.

Cluster 2: Foco na romantização midiática e “Bonnie e Clyde”: Matérias 4, 5, 7, 9, 11, 12. Estas matérias se concentram na romantização midiática do fenômeno, frequentemente utilizando a metáfora de “Bonnie e Clyde”.

Parte II – Uma Análise por Banalização e Romantização do Crime

Gráfico 01. Análise da Silhueta para Determinação do Número de Cluster (KMeans)

Melhor escore da silhueta: 0.08301215500308583

Através do Gráfico 01, determinamos k = 3 como o melhor número de clusters.

Na tabela 01, mostramos os clusters gerados para as diferentes matérias jornalísticas.

Tabela 01. Clusters de acordo com a Banalização e Romantização do Crime

Título da Matéria

Cluster

Hibristofilia: jovem sueca é apaixonada por assassino autor de m…

Padrão Misto

A matéria aborda o caso de uma jovem sueca de cerca de 20 anos, identificada …

Romantização Predominante

A matéria explora o caso do “Maníaco do Parque”, Francisco de Assis Pereira, …

Banalização Predominante

O artigo analisa a hibristofilia a partir do caso de Francisco de Assis Perei…

Banalização Predominante

A matéria discute a hibristofilia com foco em casos brasileiros, como o do “M…

Padrão Misto

Este artigo de opinião, assinado por Jonas Rabinovitch, usa a hibristofilia c…

Romantização Predominante

A matéria lista casos famosos de hibristofilia, incluindo relações de crimino…

Romantização Predominante

A matéria relata o caso de Blake Fitzgerald e Brittany Harper, um casal ameri…

Romantização Predominante

A matéria discute o caso de uma mulher universitária que planejava se casar c…

Banalização Predominante

O jornal britânico relata a captura de um casal britânico, comparado a Bonnie…

Romantização Predominante

Este artigo explora a hibristofilia sob uma perspectiva psicológica, detalhan…

Padrão Misto

A matéria cobre a captura de Dalton Hayes, de 18 anos, e Cheyenne Phillips, d…

Romantização Predominante

  • O cluster “Banalização Predominante” reúne matérias que tratam o crime de forma mais trivializada, mas ainda com elementos de romantização. Apresenta vocabulário relativamente diversificado, alta subjetividade e uso de termos emocionais e triviais, além de algumas palavras de violência.

  • O cluster “Romantização Predominante” agrupa matérias que enfatizam o fascínio, o romance ou a admiração pelo criminoso, sem banalizar o crime. Este cluster tem o maior volume de texto, com destaque para palavras emocionais e clínicas, baixa presença de termos violentos e subjetividade mais baixa, sugerindo uma abordagem mais descritiva e menos sensacionalista.

  • O cluster “Padrão Misto” (quando presente) indicaria matérias com abordagem intermediária, mas neste caso, a maioria dos textos se concentrou nos dois padrões principais. Este cluster mostra a maior diversidade vocabular, equilíbrio entre termos emocionais e de violência, e valores intermediários de subjetividade e polaridade.

 

Uma Análise Linguística Detalhada por Cluster

BANALIZAÇÃO PREDOMINANTE

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS:

• Total de palavras: 252

• Vocabulário único: 166 palavras

• Complexidade lexical: 0.66 (diversidade vocabular)

• Comprimento médio das palavras: 7.37 caracteres

• Comprimento médio das frases: 23.56 palavras


ANÁLISE DE SENTIMENTO:

• Polaridade: 0.317 (escala -1 a +1, negativo a positivo)

• Subjetividade: 0.742 (escala 0 a 1, objetivo a subjetivo)

PADRÕES TEMÁTICOS:

• Palavras emocionais: 6 ocorrências

• Palavras de violência: 2 ocorrências

• Palavras triviais: 4 ocorrências

• Palavras clínicas: 1 ocorrências

• Exemplos emocionais: amor, atração

• Exemplos violência: assassino, crime


PALAVRAS MAIS FREQUENTES:

• hibristofilia(9), mulheres (7), matéria (5), caso (5), prisão (5), criminosos (5), texto (4), atração (4), crimes (4), como (4)

ROMANTIZAÇÃO PREDOMINANTE

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS:

• Total de palavras: 482

• Vocabulário único: 297 palavras

• Complexidade lexical: 0.62 (diversidade vocabular)

• Comprimento médio das palavras: 7.08 caracteres

• Comprimento médio das frases: 23.03 palavras


ANÁLISE DE SENTIMENTO:

Polaridade: 0.194 (escala -1 a +1, negativo a positivo)

• Subjetividade: 0.422 (escala 0 a 1, objetivo a subjetivo)


PADRÕES TEMÁTICOS:

• Palavras emocionais: 7 ocorrências

• Palavras de violência: 0 ocorrências

• Palavras triviais: 0 ocorrências

• Palavras clínicas: 7 ocorrências

• Exemplos emocionais: amor, fascínio, atração


PALAVRAS MAIS FREQUENTES:

• como (18), bonnie (14), clyde (14), hibristofilia (12), criminosos (8), casal (8), matéria (7), texto (6), síndrome (6), pelo (5)


PADRÃO MISTO

CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS:

• Total de palavras: 189

• Vocabulário único: 152 palavras

• Complexidade lexical: 0.8 (diversidade vocabular)

• Comprimento médio das palavras: 7.02 caracteres

• Comprimento médio das frases: 26.45 palavras


ANÁLISE DE SENTIMENTO:

• Polaridade: 0.34 (escala -1 a +1, negativo a positivo)

• Subjetividade: 0.487 (escala 0 a 1, objetivo a subjetivo)


PADRÕES TEMÁTICOS:

• Palavras emocionais: 5 ocorrências

• Palavras de violência: 4 ocorrências

• Palavras triviais: 0 ocorrências

• Palavras clínicas: 2 ocorrências

• Exemplos emocionais: amor, desejo, fascínio, atração

• Exemplos violência: violência, assassino, crime


PALAVRAS MAIS FREQUENTES:

• como (7), hibristofilia (6), bonnie (4), casos (3), para (3), clyde (3), assassino (2), matéria (2), prisão (2), caso (2)

Discussão

A discussão dos resultados apresentados neste estudo oferece uma oportunidade para refletir sobre a complexidade das representações midiáticas da hibristofilia e da chamada “síndrome de Bonnie e Clyde”, bem como suas implicações psicológicas, sociais e éticas. A análise das 12 matérias jornalísticas, publicadas entre 2014 e 2025, revelou padrões discursivos que oscilam entre a banalização e a romantização do fenômeno, destacando como a mídia molda a percepção pública sobre a atração por criminosos e casais transgressores. Este estudo, ao combinar uma abordagem mista de codificação temática qualitativa e clusterização quantitativa via algoritmo K-Means no software MAXQDA-24, proporcionou uma visão multifacetada das narrativas jornalísticas, evidenciando tanto as motivações atribuídas à hibristofilia quanto o impacto cultural de metáforas como “Bonnie e Clyde”. A seguir, exploramos esses achados em diálogo com a literatura existente, considerando as suas contribuições para o debate acadêmico e as questões éticas que emergem dessas representações.

As matérias analisadas demonstraram que a hibristofilia é frequentemente enquadrada como um fenômeno psicológico intrigante, mas também sensacionalizado, com ênfase em casos emblemáticos como os de Anders Breivik, Francisco de Assis Pereira (“Maníaco do Parque”), Ted Bundy e casais criminosos contemporâneos. A codificação temática revelou que os textos jornalísticos tendem a destacar motivações psicológicas, como traumas de infância, busca por excitação ou a crença na possibilidade de “regenerar” o criminoso, corroborando observações de autores como Isenberg (2014) e Gurian (2013), que apontam a prevalência de históricos de vitimização entre mulheres hibristófilas. Contudo, a análise também mostrou que essas motivações não são universais, já que algumas matérias, como a da Psychology Today (2018), enfatizam a diversidade de perfis, incluindo mulheres bem-sucedidas e sem histórico de trauma, sugerindo que fatores sociais e culturais, como a romantização do criminoso na cultura popular, desempenham um papel significativo.

A clusterização das matérias em três grupos distintos — “Banalização Predominante”, “Romantização Predominante” e “Padrão Misto” — revelou nuances importantes na forma como a hibristofilia é apresentada. O cluster “Banalização Predominante”, que inclui matérias como as do UOL VivaBem (2022) e do Diario de Pernambuco (2024), caracteriza-se por uma abordagem que, embora reconheça a gravidade dos crimes, utiliza um vocabulário emocional e trivializante, com termos como “amor” e “atração” frequentemente associados a criminosos violentos. Essa tendência alinha-se com as preocupações levantadas por Williams, Slater e Gomez (2025) em sua análise de conteúdos no TikTok, que apontam para a trivialização do trauma das vítimas em narrativas que priorizam a fascinação pelo criminoso. A banalização observada nessas matérias pode contribuir para uma dessensibilização do público, reduzindo a empatia pelas vítimas e transformando crimes graves em histórias de curiosidade ou entretenimento.

Por outro lado, o cluster “Romantização Predominante”, que abrange textos como os da CBS News (2015, 2016) e do Daily Mail (2015), enfatiza a idealização de casais criminosos, frequentemente comparados a Bonnie e Clyde. Essas matérias utilizam a metáfora de “Bonnie e Clyde” para criar uma narrativa de romantismo trágico, apresentando casais como Blake Fitzgerald e Brittany Harper ou Dalton Hayes e Cheyenne Phillips como figuras rebeldes que desafiam as normas sociais. Essa romantização ecoa a análise de Rafter (2000) sobre o cinema criminal, que destaca como narrativas de casais transgressores, como no filme Bonnie and Clyde (1967), transformam criminosos em símbolos de liberdade e individualismo. No entanto, a aplicação dessa metáfora na mídia contemporânea, como observado na matéria da Gazeta do Povo (2023), pode ter implicações problemáticas, especialmente quando glorifica figuras históricas como Lampião, ignorando o impacto de suas ações violentas. A romantização midiática, portanto, não apenas amplifica o fascínio por criminosos, mas também contribui para a construção de uma imagem mítica que obscurece a realidade dos crimes cometidos.

O cluster “Padrão Misto”, embora menos predominante, reflete uma abordagem mais equilibrada, como visto nas matérias da Psychology Today (2018) e de O TEMPO (2017). Esses textos combinam elementos de análise psicológica com referências à romantização cultural, oferecendo uma visão mais detalhada que reconhece tanto as motivações individuais quanto o contexto social do fenômeno. Essa abordagem mista é particularmente valiosa, pois evita simplificações e destaca a complexidade da hibristofilia, alinhando-se com a perspectiva interdisciplinar defendida por autores como Slavikova e Panza (2014), que argumentam que a hibristofilia não pode ser reduzida a uma patologia, mas deve ser entendida como um fenômeno influenciado por fatores psicológicos, sociais e culturais.

Um aspecto central da discussão é o uso recorrente da metáfora de “Bonnie e Clyde” nas matérias jornalísticas, que funciona como um dispositivo narrativo para amplificar o fascínio por casais criminosos. Essa metáfora, como apontado na análise de Bonnie and Clyde (1967) por Desilet (2004), transforma a transgressão em um ato de rebeldia romantizada, criando uma conexão emocional com o público. Contudo, a aplicação indiscriminada desse arquétipo, como visto em matérias que descrevem adolescentes ou casais contemporâneos como “Bonnie e Clyde modernos”, pode trivializar a gravidade dos crimes e reforçar estereótipos de gênero. Por exemplo, a representação da mulher como cúmplice seduzida pelo parceiro masculino, observada em textos como o do Pittsburgh Tribune Review (2015), perpetua a ideia de que as mulheres carecem de agência, ignorando dinâmicas mais complexas, como as descritas por Gurian (2013), onde mulheres podem desempenhar papéis ativos e motivados na criminalidade.

As implicações éticas das representações midiáticas da hibristofilia são outro ponto crucial desta discussão. A banalização e a romantização do fenômeno, como identificado nos clusters, podem contribuir para a revitimização secundária de vítimas, ao minimizar o sofrimento causado pelos crimes e transformar criminosos em figuras carismáticas ou trágicas. Essa preocupação é reforçada por Bonn (2014), que critica a comercialização de “murderabilia” e a glamourização de criminosos em plataformas digitais, um fenômeno que se estende às matérias jornalísticas analisadas. Além disso, a cobertura sensacionalista, como observado em textos do Daily Mail (2015) e da CBS News (2016), pode dessensibilizar o público, reduzindo a gravidade dos crimes a narrativas de aventura ou romance. Essa dessensibilização, conforme apontado por Williams et al. (2025), é particularmente problemática em contextos digitais, onde a rápida disseminação de conteúdos pode amplificar o impacto dessas narrativas.

A análise linguística detalhada por cluster também revelou diferenças significativas na construção discursiva da hibristofilia. O cluster “Banalização Predominante” apresentou maior subjetividade e uso de termos emocionais e triviais, sugerindo uma abordagem mais sensacionalista que prioriza o entretenimento. Em contraste, o cluster “Romantização Predominante” exibiu maior volume de texto e uso de palavras clínicas, indicando uma tentativa de contextualizar o fenômeno, embora ainda com ênfase no fascínio pelo criminoso. Essas diferenças linguísticas refletem escolhas editoriais que moldam a percepção pública, alinhando-se com a teoria dramatúrgica de Goffman (1959), que destaca o caráter performativo das narrativas midiáticas na construção de identidades e significados sociais.

Este estudo também contribui para o debate acadêmico ao destacar a necessidade de uma abordagem mais crítica às representações da hibristofilia. A escassez de consenso sobre a definição do fenômeno, como apontado por Griffiths (2013) e Parker (2014), reflete-se nas matérias analisadas, que variam entre descrições clínicas e narrativas sensacionalistas. Essa falta de clareza pode perpetuar estigmas, especialmente contra mulheres hibristófilas, que são frequentemente retratadas como desviantes ou patológicas, conforme discutido por MacKinnon (1989) e Little (1991). Além disso, a subexploração da hibristofilia em homens, como observado no caso de Joanne Dennehy (Pettigrew, 2019), sugere um viés de gênero na pesquisa e na mídia, que prioriza a análise da sexualidade feminina em contextos de criminalidade.

Em termos de políticas públicas e intervenções, os resultados deste estudo reforçam a importância de distinguir entre hibristofilia e relacionamentos estabelecidos com indivíduos encarcerados, conforme discutido por DeShay et al. (2021). Enquanto a hibristofilia pode exigir intervenções terapêuticas focadas nas motivações psicológicas, relacionamentos com sentenciados demandam apoio social para mitigar o “estigma de cortesia” e promover a reintegração. Programas que facilitem a comunicação entre casais, como visitas conjugais, podem fortalecer esses laços, contribuindo para a redução da reincidência criminal, como sugerido por Sampson et al. (2006).

Em conclusão, a análise das matérias jornalísticas revelou que a hibristofilia é representada na mídia por meio de narrativas que oscilam entre banalização e romantização, com implicações significativas para a percepção pública e o bem-estar das vítimas. A metáfora de “Bonnie e Clyde” amplifica o fascínio por casais criminosos, mas também simplifica a complexidade do fenômeno, perpetuando estereótipos e ignorando dinâmicas de gênero e poder. Este estudo destaca a necessidade de uma cobertura midiática mais responsável, que evite sensacionalismos e considere o impacto ético de suas narrativas. Futuras pesquisas devem explorar a hibristofilia em contextos digitais, como redes sociais, e investigar suas manifestações em homens, ampliando a compreensão desse fenômeno multifacetado e suas interseções com psicologia, criminologia e cultura popular.

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