“John, um estudante de 17 anos, relatou que começou a se masturbar na idade de sete anos com pensamentos envolvendo meninas e mulheres jovens. Porém, após o início da adolescência, aos 12 anos, ele também começou a se interessar sexualmente por outros meninos. Ele afirmou que eram principalmente os pescoços dos meninos que o atraíam, mas apenas se fossem “lisos e de aparência feminina”; pelos faciais não o atraíam…
Ele também descreveu como, desde os 15 anos, ele começou a se “enforcar” mais ou menos uma vez por semana. Durante essas sessões de “enforcamento” ele se masturbava com fantasias de fazer sexo tanto com homens quanto com mulheres. Ele explicou que uma de suas fantasias envolvia uma outra pessoa estrangulando-o e que ele poderia ficar sexualmente excitado simplesmente pensando nessa cena. Ele afirmou que foi essencialmente aquela “sensação de asfixia” que o despertara sexualmente.
Ele negava qualquer interesse sexual em travestismo, escravidão ou qualquer outra parafilia. Ele indicou ainda que não gostava de qualquer tipo de dor.
John não conseguia se lembrar do que o levou a tentar a autoasfixia, mas acreditava que ele havia descoberto por acidente. Ele amarrava as duas pontas de uma corda a um gancho preso na parede acima da cama, deitava-se e colocava a cabeça no laço. Geralmente ele fazia esse enforcamento enquanto estava vestido e se masturbava por cima das roupas ao invés de tirar o pênis. Às vezes, porém, ele asfixiava-se nu após sair do chuveiro. Como técnica alternativa de asfixia ele enterrava o rosto em um travesseiro enquanto se masturbava.
Ele era ambivalente em relação a esses comportamentos sexuais, dizendo: “Quanto mais incomum, maior é a minha excitação”. E ele saboreava a sua “vida secreta”. Ao mesmo tempo, ele tinha medo de que, de forma inadvertida, deixasse escapar o seu mais “nobre” segredo.
John estava bem ciente dos riscos envolvidos com a prática da autoasfixiofilia, porque já tinha ouvido falar sobre outros jovens que haviam tido um desenlace infeliz com tal comportamento sexual. Em uma ocasião, ele desmaiou enquanto estava suspenso, mas recuperou a consciência.
As ocasiões em que ele se sentiu mal devido à asfixia faziam-no assustado e ele chegou a tentar cessar o comportamento por várias vezes, mas sem sucesso. O impulso sempre retornava… Na época em que ele procurou ajuda médica, John afirmou que não corria perigo algum, porque colocava a corda de tal uma maneira que ele poderia “escapar facilmente”. Acrescentou, no entanto, que esperava poder diminuir esse comportamento e, às vezes, conseguia reduzir a frequência.
Ele também descreveu sentimentos de depressão e dificuldades de socialização com seus colegas de tal forma que ele frequentemente tinha pensamentos suicidas. Estes pensamentos depressivos estavam amalgamados com as suas fantasias e comportamentos sexuais. John costumava afirmar: “parece uma estranha relação entre o prazer inenarrável do sexo e a morte por suicídio”.
O parto de John foi difícil e o seu cordão umbilical ficou enrolado no seu pescoço, causando algum dano cerebral relacionado com a hipóxia. Apresentou retardo no seu desenvolvimento neuropsicomotor. Ele também andava desajeitadamente e tinha dificuldades com o controle motor fino. Testes psicológicos foram feitos à época da busca por auxílio médico e os relacionados à inteligência indicaram um QI verbal superior (WAIS-R), mas pontuações médias em itens como desempenho. Havia problemas com a sua destreza manual e com a velocidade da resposta; todavia, a sua memória, a atenção e a concentração estavam todas intactas.
Após as avaliações neuropsicológicas e um período breve de acompanhamento médico especializado, John desapareceu de vista até que, meses depois, a equipe médica e de psicólogos que o seguia foi informada de que John morrera por enforcamento aos 21 anos de idade. Dentre várias avaliações pericias post-mortis, o seu computador pessoal revelou que John estava participando de um grupo de autoasfixiofílicos, trocando mensagens e fotos privadas com o membros do dito grupo” (Hucker, 2017).
Referência
Hucker, S. (2017). Autoerotic Asphyxia and Asphyxiophilia. In B. A. Sharpless (Ed.), Unusual and Rare Psychological Disorders: A Handbook for Clinical Practice and Research. (pp. 149-166.). New York: Oxford University Press.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.