Mentira – Umas das formas do Heteroengano

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Mentir é o ato de falsear a verdade por meio de palavras ou códigos linguísticos equivalentes. Sem a linguagem (principalmente verbal) não pode haver mentira, mas apenas simulação, dissimulação ou qualquer outra forma de engano voluntário. Um homem mudo pode também mentir, mas, para isso, deve usar seus códigos convencionais, que psicológica e socialmente equivalem à palavra falada ou escrita. 

É muito provável que os mentirosos usem a imaginação para criar histórias falsas, mas mentir é mais do que apenas criar uma história falsa. É literalmente uma declaração falsa feita com a intenção deliberada de enganar. 

A definição acima envolve então dois componentes:  

1. A inverdade da informação
2. A intenção enganosa dolosa do comunicador. 

Portanto, para que uma pessoa possa mentir, é preciso elaborar um “conto” e “persuadir” o ouvinte. Usualmente, os mentirosos olham para o ouvinte para perscrutar se ele está acreditando e tentam dizer algo plausível que não cause espanto e/ou desconfiança no observador. De fato, é pouco provável que acontecimentos implausíveis sejam acreditados e/ou respaldados mesmo por ouvintes precariamente interessados. 

Perguntas que o entrevistador deve se fazer antes, durante e após a entrevista com um presumido mentiroso: 

Componente de Decisão 

1. O conto foi elaborado em antecipação a uma solicitação específica pela verdade?

2. O conto está inserido em um contexto social complexo?

3. O conto parece ter sido elaborado de súbito?

Componente de construção

4. O conto é internamente consistente? Essa consistência pode ser mantida ao longo do tempo?

5. O conto é externamente consistente (congruente com estatísticas, análises de casos similares? Informações de terceiros são embasadas?)

6. O conto é suficientemente detalhado com informações multimodais ou um cronograma realista que convence?

Componente de ação 

7. O entrevistado tem razões para estar altamente motivado para mentir?

8. Quanto monitoramento e controle sobre si mesmo o entrevistado está exercendo para parecer sincero ou permanecer em seu papel enganoso?

9. Quanto o entrevistado monitora o comportamento do entrevistador para ver se a mentira é convincente?

10. A verdade está profundamente arraigada, dizer a verdade provoca emoções fortes ou a resposta verdadeira é habitual? 

11. O conto parece ter sido ensaiado?

12. O entrevistado está altamente ansioso?

13. O mentiroso precisa parar para repensar na história já contada em outras situações?

Fatores que aumentam o ônus cognitivo de contar a verdade 

14. Se o entrevistado dissesse a verdade, ele ficaria muito ansioso para que os outros acreditassem?

15. Se o entrevistado dissesse a verdade, ele estaria altamente motivado para ser acreditado?

16. O acesso à verdade exigiria a recuperação de memórias episódicas ou semânticas que se deterioraram ou não foram recuperadas recentemente, ou é a verdade indisponível na memória?

17. Uma resposta enganosa é bem ensaiada em comparação com a resposta verdadeira correspondente?

18. Uma resposta verdadeira requer elaboração ou qualificação para ser compreendida com precisão pelos entrevistados? 

19. Uma resposta verdadeira requer a geração de uma nova opinião, julgamento, avaliação ou reação emocional?

20. A comunicação honesta exige a transmissão de ideias complexas que necessitam de uma tradução cuidadosa para serem compreendidas pelos entrevistadores?

 

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