Perfilagem Clínico-Forense: Parte II

Habilidades, Métodos e Futuro

“Em um caso de homicídio ritualístico, a dedução apontou para um agressor organizado (pela limpeza da cena), mas a indução — guiada por marcas simbólicas no corpo — revelou um perfil esquizotípico não catalogado em bancos de dados. A integração das duas abordagens foi essencial.”

(Anônimo)

Excerto – Intuição Inferencial é essencial; porém, nunca isolada

Em um caso de homicídio ritualístico, a análise do discurso revela uma tensão entre duas formas de conhecimento: a dedução, que parte de evidências concretas, e a indução, que interpreta sinais simbólicos. A cena do crime, aparentemente limpa e organizada, sugeria inicialmente um agressor metódico, talvez um criminoso habitual com padrões reconhecíveis. No entanto, as marcas deixadas no corpo da vítima — gestos simbólicos, cortes ritualísticos, assinatura, sinais que não se encaixavam em nenhum molde conhecido — apontavam para algo mais complexo.

Aqui, a dedução clássica, baseada em dados objetivos, esbarrava em seus limites. Enquanto a lógica tradicional classificaria o assassino como “organizado”, a intuição guiada por esses símbolos estranhos revelava um perfil esquizomorfo, alguém movido por uma lógica interna distorcida, não catalogada em bancos de dados criminais. O agressor não seguia um script conhecido; ele criava o seu próprio.

A verdadeira solução veio da integração dessas duas abordagens. A limpeza da cena, vista de forma isolada, era um dado frio. Mas quando lida à luz das marcas simbólicas, ganhava novo sentido: talvez não fosse apenas uma tentativa de apagar vestígios, mas parte do próprio ritual. O que parecia organização racional podia ser, na verdade, a expressão de uma esquisitice não ainda elucidada.

Esse caso exemplifica como a perfilagem criminal não pode se apoiar apenas em métodos rígidos ou apenas em interpretações subjetivas. Dados objetivos são essenciais, mas sem a capacidade de ler o que está além deles — os significados ocultos, as rupturas de padrão —, investigações como essa permaneceriam incompletas. A união entre dedução e indução não apenas auxiliará na resolução do crime, mas também exporá falhas nos sistemas de classificação: há mentes reae que escapam às categorias prontas, e só as lentes combinadas da lógica e da intuição podem decifrá-las.

Introdução

A prática de criminal profiling, ou perfilagem criminal, tem sido amplamente discutida no âmbito das ciências forenses e da psicologia/psiquiatria jurídica, embora sua eficácia e as habilidades específicas necessárias para sua execução ainda sejam temas de debates. Kocsis et al. (2000), por exemplo, ofereceram uma abordagem sobre as habilidades dos profissionais envolvidos na construção de perfis criminais, destacando a importância de competências dedutivas e indutivas para a prática profissional. Os perfiladores criminais, conforme descrito na literatura, utilizam informações coletadas em cenas de crime para elaborar descrições biográficas detalhadas dos possíveis autores, incluindo traços de personalidade, tendências comportamentais e características sociodemográficas (Bartol & Bartol, 1994; Holmes & Holmes, 1996). Esse processo exige não apenas conhecimento técnico, mas também habilidades cognitivas específicas, como a capacidade de analisar dados de forma lógica e objetiva, bem como a intuição para inferir (intuição inferencial) padrões comportamentais a partir de evidências fragmentadas.

As habilidades dedutivas são essenciais para os perfiladores, pois permitem que eles partam de premissas gerais — como teorias psicológicas ou padrões criminais conhecidos — para chegar às conclusões específicas sobre um determinado caso. Por exemplo, a análise de modus operandi e a identificação de assinaturas comportamentais em cenas de crime são processos que dependem fortemente do raciocínio dedutivo (Douglas et al., 1986). Por outro lado, as habilidades indutivas são igualmente importantes, pois envolvem a capacidade de generalizar a partir de observações específicas, como detalhes da cena do crime ou depoimentos de testemunhas, para construir um perfil abrangente do suspeito. Kocsis et al. (2000) observaram que os perfiladores profissionais demonstraram maior precisão na identificação de características cognitivas e comportamentais dos criminosos em comparação com outros grupos, como policiais, psicólogos e estudantes, sugerindo que a combinação de experiência investigativa e conhecimento psicológico é fundamental para o sucesso na prática.

De qualquer forma, durante o processo de perfilagem criminal a importância de uma abordagem equilibrada entre a análise objetiva e a intuição deve ser destacada. Hazelwood et al. (1995) argumentam que a intuição, quando baseada em experiência e conhecimento, pode ser uma ferramenta valiosa para os perfiladores, embora essa afirmação seja frequentemente contestada por críticos que associam tal prática a métodos não científicos. A pesquisa de Kocsis et al. (2000) reforça que a intuição, quando desvinculada de estereótipos sociais, pode contribuir para a construção de perfis mais precisos, mas ressalta que a dependência exclusiva de suposições intuitivas — como no caso de autodeclarados psíquicos — tende a resultar em perfis genéricos e nada úteis.

A perfilagem criminal demanda um conjunto diversificado de habilidades, incluindo raciocínio dedutivo para aplicar teorias a casos concretos, raciocínio indutivo para identificar padrões em evidências fragmentadas e intuição informada por experiência e conhecimento. A integração dessas competências, aliada a uma base sólida em psicologia e métodos investigativos, parece ser o diferencial dos perfiladores profissionais, conforme reportado aqui. No entanto, a escassez de pesquisas empíricas e a relutância de muitos perfiladores em participar de estudos científicos ainda limitam a compreensão plena dessas dinâmicas (Kocsis et al., 2000).

Por Que As Salas de Aula Não Bastam para Formar um Bom Perfilador Criminal?

A formação de um perfilador criminal eficaz vai muito além do conhecimento teórico adquirido em salas de aula. O estudo de Kocsis et al. (2000), novamente, demonstra que, embora a educação em psicologia e ciências comportamentais seja relevante, a experiência prática e as habilidades específicas são componentes essenciais para o sucesso na área. Os autores compararam o desempenho de diferentes grupos — incluindo perfiladores profissionais, policiais, psicólogos, estudantes e autodeclarados psíquicos — na elaboração de perfis criminais e observaram que os perfiladores se destacaram devido a uma combinação única de conhecimento teórico e experiência aplicada.

Um dos principais argumentos apresentados no estudo é que a compreensão da mente criminosa (mens rea) não pode ser plenamente desenvolvida apenas por meio de livros e aulas. Hazelwood et al. (1995) enfatizam que “nenhuma quantidade de educação pode substituir a experiência de investigar crimes” (Kocsis et al., 2000, p. 313). Essa afirmação é corroborada pelos resultados da pesquisa, que mostraram que policiais com experiência em investigações criminais tiveram um desempenho superior ao de estudantes universitários, mesmo estes últimos possuindo treinamento em análise lógica. Isso sugere que a vivência em casos reais proporciona insights que a teoria isolada não consegue reproduzir.

Além disso, o estudo revela que os psicólogos especializados na área forense, apesar de seu conhecimento aprofundado sobre o comportamento humano e seus desvios, não superaram consistentemente os perfiladores profissionais nas tarefas específicas de perfilagem. Isso indica que a aplicação prática desse conhecimento em contextos criminais específicos requer habilidades que vão além da psicologia acadêmica. Por exemplo, a capacidade de interpretar evidências da cena de um crime, identificar padrões comportamentais e correlacioná-los com características demográficas e psicológicas exige não apenas teoria, mas também um treinamento especializado e exposição a casos reais.

Outro aspecto crítico é a intuição, frequentemente mencionada como uma habilidade valiosa na perfilagem criminal. Embora seja um tema controverso, Kocsis et al. (2000) destacam que a intuição dos perfiladores profissionais difere significativamente daquela apresentada por psíquicos, que muitas vezes se baseiam em estereótipos sociais e culturais. A intuição no contexto profissional é moldada pela experiência, permitindo que o perfilador faça conexões rápidas e precisas entre comportamentos e características do criminoso. Essa habilidade não pode ser ensinada apenas em ambientes acadêmicos, pois se desenvolve por meio da imersão em investigações e da análise de múltiplos casos.

A formação de um bom perfilador criminal demanda uma combinação de educação teórica, experiência prática e habilidades desenvolvidas no campo. As salas de aula fornecem a base necessária, mas são insuficientes para capacitar profissionais a lidar com a complexidade e as nuances dos crimes reais. Como concluem Kocsis et al. (2000), é essencial que os aspirantes a perfiladores complementem sua formação acadêmica com treinamento prático e colaboração direta com agências de aplicação da lei, a fim de desenvolver as competências necessárias para um desempenho eficaz.

Guia para Perfilagem Criminal na Cena do Crime

A perfilagem criminal é uma ferramenta investigativa que combina conhecimentos de psicologia, criminologia e técnicas policiais para identificar características de suspeitos com base em evidências da cena do crime.). Este guia apresenta um esquema estruturado para conduzir uma perfilagem eficaz:

1. Preservação e Análise Inicial da Cena do Crime

    • Isolamento e documentação completa do local (fotografias, vídeos, diagramas)

    • Coleta meticulosa de evidências físicas (armas, impressões digitais, DNA)

    • Registro detalhado da posição do corpo e padrões de sangue

    • Análise de pontos de entrada/saída e possíveis rotas de fuga

2. Avaliação do Modus Operandi e Assinatura do Criminoso

    • Identificação de padrões comportamentais (ritualismo, organização/desorganização)

    • Análise da seleção de vítimas e métodos de abordagem

    • Distinção entre aspectos funcionais do crime (MO) e manifestações psicológicas (assinatura)

    • Avaliação de possíveis “troféus” ou objetos levados da cena

3. Reconstrução do Comportamento do Criminoso

    • Análise da interação criminoso-vítima (nível de violência, diálogo)

    • Identificação de possíveis estágios de fantasia prévia ao crime

    • Avaliação do grau de planejamento (espontâneo vs. meticuloso)

    • Análise de comportamentos pós-crime (disfarce de evidências, retorno à cena)

4. Desenvolvimento do Perfil Demográfico

    • Estimativa de faixa etária com base em padrões criminais conhecidos

    • Análise de possíveis características físicas (habilidades necessárias para o crime)

    • Inferência sobre nível educacional e ocupação

    • Avaliação de possíveis relacionamentos interpessoais e status conjugal

5. Análise Psicológica do Suspeito

    • Identificação de possíveis transtornos de personalidade relevantes

    • Avaliação de motivações (poder, controle, vingança, ganho material)

    • Análise de possíveis gatilhos emocionais para o crime

    • Estimativa de risco de reincidência e possível escalada de violência

6. Integração de Dados e Formulação do Perfil

    • Correlação entre as evidências físicas e as características psicológicas

    • Desenvolvimento de cenários alternativos

    • Identificação de características mais prováveis versus menos prováveis

    • Criação de estratégias para abordagem e interrogatório do suspeito

7. Validação e Ajuste do Perfil

    • Comparação com casos similares e bancos de dados

    • Ajuste do perfil conforme novas evidências surgem

    • Colaboração com equipe investigativa para testar hipóteses

    • Documentação de acertos e erros para aprendizado contínuo

Considerações Importantes:

    • Evitar confiar em estereótipos ou intuições não fundamentadas

    • Manter mente aberta para múltiplas hipóteses

    • Combinar abordagens dedutivas (geral para específico) e indutivas (específico para geral)

    • Reconhecer as limitações da técnica e usá-la como ferramenta complementar.

Como demonstrada acima, a perfilagem mais eficaz combina conhecimento teórico com experiência prática. Este guia deve ser adaptado às particularidades de cada caso, sempre em conformidade com procedimentos legais e padrões éticos vigentes.

Diferenças entre Métodos Indutivos e Dedutivos na Perfilagem Criminal

A perfilagem criminal utiliza duas abordagens cognitivas fundamentais para a construção de perfis de suspeitos: o raciocínio indutivo e o raciocínio dedutivo. Estas metodologias, embora complementares, possuem naturezas distintas e são aplicadas em diferentes contextos investigativos, conforme demonstrado nos trabalhos referenciais do FBI sobre análise comportamental.

O método dedutivo na perfilagem criminal parte de princípios gerais conhecidos para chegar a conclusões específicas sobre um caso concreto. Esta abordagem se assemelha a um processo de filtragem progressiva, onde o perfilador inicia com teorias criminológicas estabelecidas e padrões comportamentais documentados, aplicando-os metodicamente às evidências particulares da cena do crime. Por exemplo, ao se deparar com um crime sexual com características específicas de organização e ritualismo, o perfilador pode deduzir características do agressor baseando-se em pesquisas prévias sobre ofensores sexuais organizados. O grande valor do método dedutivo reside em sua objetividade e replicabilidade, pois está fundamentado em dados empíricos e estatísticos compilados a partir de casos semelhantes. No entanto, sua limitação manifesta-se quando confrontado com crimes atípicos ou quando as bases de dados disponíveis são insuficientes para estabelecer comparações válidas ou sólidas.

Em contrapartida, o método indutivo opera numa direção inversa, construindo generalizações a partir de observações particulares da cena do crime. Esta abordagem é essencialmente criativa e interpretativa, exigindo do perfilador a capacidade de identificar padrões únicos e conexões não óbvias entre as diversas evidências. Um perfilador utilizando raciocínio indutivo pode, por exemplo, inferir características psicológicas do criminoso analisando minuciosamente a disposição do corpo da vítima, os objetos manipulados na cena e a sequência de ações perpetradas. A força da indução está em sua capacidade de abordar casos singulares e crimes inovadores, onde os modelos existentes mostram-se inadequados. Contudo, este método carrega maior subjetividade e está mais suscetível a vieses cognitivos do perfilador, especialmente quando não há suficientes pontos de referência para validar as inferências realizadas.

Na prática investigativa, os perfiladores mais eficazes são aqueles que conseguem harmonizar estas duas abordagens. A dedução fornece a estrutura teórica e o rigor metodológico, enquanto a indução permite a adaptação necessária às peculiaridades de cada caso. Esta integração é particularmente evidente no processo de análise da assinatura do criminoso – enquanto aspectos do modus operandi são frequentemente abordados de forma dedutiva (por se tratarem de padrões funcionais e repetitivos), os elementos de assinatura exigem uma análise mais indutiva, por representarem expressões psicológicas únicas do ofensor.

A experiência prática mostra ainda que o método dedutivo tende a predominar nas fases iniciais da investigação, quando se estabelecem as primeiras hipóteses sobre o tipo de criminoso procurado. Já o raciocínio indutivo torna-se mais relevante à medida que a investigação avança e surgem novas evidências que podem não se encaixar nos modelos pré-estabelecidos. Esta dinâmica tem sido corroborada por alguns estudos, os quais têm associado a superioridade dos perfiladores profissionais justamente com sua capacidade de transitar competentemente entre estas duas formas de pensamento, combinando conhecimento teórico com insights comportamentais aguçados pela experiência prática.

A Intuição – Uma Função Psíquica ou um Método Investigatório?

A intuição, frequentemente descrita como um “pressentimento” ou “sensação visceral”, tem sido objeto de estudo em diversas áreas, desde a psicologia até a tomada de decisões em contextos forenses. Tradicionalmente, a intuição é entendida como um processo psíquico rápido e aparentemente não sobrepesado que influencia julgamentos e decisões sem a mediação de análises racionais explícitas (Dane & Pratt, 2007). No entanto, seu papel como método de investigação forense ainda é controverso, levantando questões sobre sua confiabilidade e validade em ambientes que demandam precisão e objetividade.

Na psicologia/psiquiatria, a intuição é considerada uma função psíquica complexa e multifacetada. Pretz et al. (2014) identificaram três tipos principais de intuição: inferencial, afetiva e holística. A intuição inferencial baseia-se em conhecimentos prévios que se tornam automáticos com a experiência, como quando um médico reconhece sintomas de uma doença sem uma análise detalhada. A intuição afetiva está ligada a respostas emocionais, enquanto a holística envolve a integração de múltiplas informações para formar uma visão geral. Esses tipos de intuição são influenciados por fatores como gênero, formação acadêmica e cultura (Cai Shi & Lucietto, 2022). Por exemplo, mulheres tendem a depender mais da intuição afetiva, enquanto homens podem privilegiar a intuição inferencial (Ward & King, 2020). Além disso, culturas como as do Leste Asiático valorizam a intuição de forma mais positiva em comparação com culturas ocidentais, que priorizam o pensamento analítico (Buchtel & Norenzayan, 2008).

No contexto forense, a intuição é frequentemente associada à expertise de profissionais como investigadores, peritos e perfiladores criminais. Por exemplo, um perfilador criminal pode usar a intuição para identificar padrões em evidências complexas, enquanto um policial pode confiar em “sensações” para avaliar situações de risco. Estudos mostram que a intuição baseada em experiência (inferencial) pode ser valiosa em ambientes de alta incerteza, onde a análise racional é limitada pela falta de tempo ou informação (Khatri & Ng, 2000). No entanto, a intuição afetiva, por ser emocional, pode levar a vieses, como estereótipos ou julgamentos precipitados (Pennycook et al., 2015). Isso é particularmente problemático em investigações forenses, onde decisões intuitivas podem resultar em erros judiciais, como falsas condenações.

A relação entre intuição e métodos forenses também é explorada em pesquisas sobre tomada de decisão. Enquanto alguns defendem que a intuição é essencial para lidar com a complexidade de casos criminais (Pretz, 2008), outros alertam para sua susceptibilidade a vieses cognitivos, como o efeito de ancoragem ou a confirmação (Kahneman, 2011). Por exemplo, um estudo de Taleyarkhan et al. (2023) com estudantes de tecnologia de engenharia mostrou que, em situações de estresse, há uma tendência a depender mais da intuição do que da lógica, o que pode ser extrapolado para contextos forenses de alta pressão ou risco.

O efeito de ancoragem, como o próprio nome sugere, ocorre quando a mente se fixa em uma informação inicial, a “âncora”, e a utiliza como referência para estimativas e julgamentos subsequentes. Ao tomar decisões intuitivas, a âncora pode ser uma experiência passada, uma crença arraigada ou até mesmo uma sugestão aleatória. Essa âncora, mesmo que irrelevante, exerce uma influência desproporcional na avaliação das opções, distorcendo a percepção da realidade e levando a escolhas subótimas.

Já o efeito de confirmação se manifesta na tendência de buscar e valorizar informações que confirmem as crenças e intuições preexistentes, ignorando ou minimizando evidências contrárias. Ao confiar na intuição, o indivíduo pode seletivamente buscar dados que corroborem sua percepção inicial, reforçando a convicção e dificultando a revisão crítica da decisão. Esse viés pode levar a uma visão distorcida da situação, impedindo a identificação de situações de risco bem como de oportunidades relevantes.

A combinação dos efeitos de ancoragem e confirmação pode ser particularmente perigosa na tomada de decisões intuitivas. A âncora inicial, influenciada por experiências passadas ou crenças pessoais, direciona a busca por informações que a confirmem, criando um ciclo vicioso de reforço da intuição. Esse processo pode levar a decisões precipitadas e mal fundamentadas, com consequências negativas para o indivíduo ou para a organização.

Para mitigar os efeitos de ancoragem e confirmação na tomada de decisões intuitivas, é fundamental adotar uma postura crítica e reflexiva. É importante questionar as próprias crenças e intuições, buscando ativamente informações que as contradigam. A diversificação das fontes de informação e a consulta a diferentes perspectivas podem ajudar a evitar a armadilha da confirmação. Além disso, é recomendável analisar cuidadosamente as informações iniciais, buscando identificar possíveis âncoras que possam estar influenciando o julgamento.

Ao reconhecer e combater os efeitos de ancoragem e confirmação, é possível aproveitar a intuição de forma menos visceral e mais eficaz, tomando decisões mais racionais e alinhadas com os objetivos desejados.

De uma forma geral, a intuição é uma função psíquica essencial, moldada por fatores individuais e culturais, mas a sua aplicação como método de investigação forense requer cautela. Enquanto a intuição baseada em expertise pode ser uma ferramenta valiosa, sua natureza subjetiva exige mecanismos de verificação para evitar erros. Pesquisas têm explorado como equilibrar intuição e análise lógica em ambientes forenses, garantindo decisões precisas e justas. A integração de instrumentos validados, como a Escala de Tipos de Intuição (TIntS), pode ajudar a distinguir quando a intuição é confiável e quando deve ser suplementada por métodos analíticos (Pretz et al., 2014).

A Escala de ‘Tipos de Intuição’

A Escala de Tipos de Intuição (TIntS), desenvolvida por Pretz e colaboradores (2014), oferece uma estrutura valiosa para a compreensão da intuição como um fenômeno multifacetado, distinguindo entre diferentes tipos de processos intuitivos e, consequentemente, auxiliando na determinação da sua confiabilidade em contextos decisórios. Ao invés de tratar a intuição como um constructo monolítico, a TIntS a decompõe em dimensões como a intuição inferencial, baseada em experiências passadas e conhecimento tácito; a intuição afetiva, influenciada por emoções e sentimentos; e a intuição holística, que integra informações de forma abrangente para formar uma compreensão geral (Pretz et al., 2014).

A utilidade da TIntS reside na sua capacidade de fornecer insights sobre a natureza do processo intuitivo em ação. Por exemplo, a intuição inferencial, por estar enraizada em experiências prévias e conhecimento acumulado, tende a ser mais confiável em domínios onde o indivíduo possui expertise e um histórico de decisões bem-sucedidas. Nesses casos, a TIntS pode confirmar que a intuição é um atalho cognitivo válido, permitindo decisões rápidas e eficientes (Dane & Pratt, 2007). No entanto, em situações novas ou complexas, onde a experiência é limitada, a intuição inferencial pode ser enganosa, levando a decisões baseadas em analogias superficiais ou generalizações imprecisas.

Por outro lado, a intuição afetiva, embora possa ser uma fonte valiosa de insights em contextos interpessoais e criativos, é particularmente suscetível a vieses emocionais e pode comprometer a objetividade em decisões que exigem análise racional (Slovic & Västfjäll, 2010). A TIntS, ao identificar a predominância da intuição afetiva em uma decisão, pode sinalizar a necessidade de suplementar o processo intuitivo com métodos analíticos que minimizem a influência de emoções e sentimentos.

A intuição holística, por sua vez, pode ser útil para identificar padrões e conexões que escapam à análise linear, mas também pode ser vaga e imprecisa, exigindo validação por meio de dados e evidências concretas (Sinclair, 2011). A TIntS, ao revelar a natureza holística de uma intuição, pode alertar para a importância de complementar o processo intuitivo com métodos analíticos que forneçam uma base sólida para a tomada de decisão.

Na verdade, a TIntS não apenas distingue entre diferentes tipos de intuição, mas também oferece um framework para avaliar a confiabilidade da intuição em diferentes contextos. Ao identificar o tipo de intuição predominante em uma decisão, a TIntS pode auxiliar na determinação de quando a intuição é uma ferramenta valiosa e quando deve ser suplementada por métodos analíticos para garantir decisões mais racionais e eficazes. A aplicação da TIntS, portanto, representa um passo importante para aprimorar a tomada de decisões, integrando a intuição e a análise de forma complementar e estratégica.

Exemplos de Questões para Testar Diferentes Tipos de Intuição em Perfiladores Criminais

A Escala de Tipos de Intuição (TIntS) identifica três tipos principais de intuição: holística, inferencial e afetiva. Para verificar qual tipo predomina em perfiladores criminais, poderiam ser utilizadas questões adaptadas ao contexto da análise criminal, como as seguintes:

1. Intuição Holística (Integração de Informações)

    • “Ao analisar um caso complexo, confio mais na minha capacidade de conectar padrões diversos (como comportamento, evidências e contexto) do que em detalhes isolados.”

    • “Prefiro focar no ‘quadro geral’ de um crime, mesmo que isso signifique ignorar alguns detalhes específicos no momento.”

    • “Minhas conclusões surgem de forma súbita, como um ‘insight’ que integra múltiplas pistas não óbvias.”

2. Intuição Inferencial (Baseada em Expertise Automatizada)

    • “Quando enfrento um caso semelhante a outros que já trabalhei, confio em minha experiência para tomar decisões rápidas, mesmo sem analisar tudo minuciosamente.”

    • “Se pressionado a justificar uma decisão, consigo explicar logicamente por que acredito em certas hipóteses, mesmo que inicialmente tenha sido uma ‘sensação’.”

    • “Minhas intuições sobre perfis criminais são mais precisas em áreas onde tenho vasta experiência (ex.: crimes seriais).”

3. Intuição Afetiva (Baseada em Emoções)

    • “Às vezes, desconfio de um suspeito porque algo ‘não me parece certo’, mesmo sem evidências concretas.”

    • “Valorizo minhas reações emocionais (como desconfiança ou empatia) tanto quanto os fatos objetivos ao avaliar um caso.”

    • “Se meu ‘instinto’ me diz que uma cena de crime foi manipulada, levo isso a sério, mesmo que os dados preliminares não apoiem essa ideia.”

Análise do Perfil Predominante

    • Perfiladores com intuição holística tendem a ser inovadores, identificando conexões não óbvias entre crimes.

    • Perfiladores com intuição inferencial são metódicos e confiam em padrões aprendidos com a experiência.

    • Perfiladores com intuição afetiva podem ser mais sensíveis a nuances comportamentais, mas também mais suscetíveis a vieses emocionais.

Aplicação Prática

Um questionário baseado na TIntS poderia ser aplicado a perfiladores para mapear seus estilos de decisão. Por exemplo:

    • Se a holística predominar, a equipe pode priorizar técnicas de análise sistêmica.

    • Se a inferencial for mais forte, treinamentos focados em diversificar experiências podem ser úteis.

    • Se a afetiva for marcante, é importante equilibrá-la com métodos analíticos para evitar conclusões prematuras.

Essa abordagem ajudaria a entender como os diferentes tipos de intuição impactam a eficácia da perícia criminal.

Psicólogos e Psiquiatras Forenses versus Perfiladores Criminais: Ainda Rusgas?

Há mais de 25 anos, eu confesso que tinha preconceitos quanto àqueles que elaboravam os chamados perfis psicológico-criminais a partir da cena de um crime. Apesar da seriedade evidente daqueles que eu conheci na época, uma certa prepotência médica dominava o meu julgamento. Com a maturidade e com o progresso acadêmico-científico das perfilagens criminais, a minha perspectiva modificou-se completamente e a maturidade acadêmica e pessoal falou mais alto. Os perfiladores sérios obtêm dados que, nós, médicos, muito amiúde não conseguimos a partir das avaliações clínico-forenses limitadas a determinados settings. Dessa forma, a parceria entre as ciências é vital para o sucesso inclusive das conclusões diagnósticas e prognósticas.

É verdade que a relação entre psicólogos forenses, psiquiatras forenses e perfiladores criminais tem sido marcada por tensões e divergências (Torres, Boccaccini e Miller, 2006). Enquanto os perfiladores criminais focam na análise comportamental para auxiliar investigações policiais, psicólogos e psiquiatras forenses tendem a questionar a validade científica e a base empírica dessas práticas. Essa dicotomia reflete não apenas diferenças metodológicas, mas também disputas sobre a legitimidade e a aplicabilidade do profiling no sistema de justiça criminal.

O estudo de Torres et al. (2006) revelou que apenas 10% dos psicólogos e psiquiatras forenses pesquisados haviam participado ativamente de atividades de perfilagem criminal, enquanto mais de 70% expressaram ceticismo quanto à validade científica dessas técnicas. Essa desconfiança é alimentada pela percepção de que a perfilagem muitas vezes carece de rigor metodológico e de suporte empírico robusto, diferentemente de outras práticas forenses, como avaliações de risco ou análises de competência mental. A pesquisa de Torres et al. (2006) também destacou que os profissionais de saúde mental tendem a ver a perfilagem como uma ferramenta mais útil para a aplicação da lei do que como uma técnica cientificamente validada, o que reforça a divisão entre as duas áreas.

Curiosamente, o estudo mostrou que a mera mudança terminológica — de “perfilagem criminal” para “análise investigativa criminal” — influenciou significativamente as percepções dos profissionais. Quando o termo “análise investigativa criminal” foi utilizado, os respondentes demonstraram maior inclinação a considerar a técnica como válida e confiável, embora a definição operacional permanecesse a mesma. Esse achado sugere que as resistências podem estar parcialmente enraizadas em preconceitos contra o termo “perfilagem”, muitas vezes associado a representações midiáticas distorcidas, em vez de em objeções concretas à metodologia subjacente.

Apesar das rusgas, há pontos de convergência. Tanto perfiladores quanto profissionais de saúde mental reconhecem a necessidade de mais pesquisas empíricas para solidificar as bases da perfilagem criminal. Além disso, muitos psicólogos e psiquiatras forenses admitem que a técnica pode ser valiosa para orientar investigações policiais, mesmo que não atenda aos critérios de admissibilidade em tribunais. Essa postura pragmática indica que, embora as críticas persistam, há espaço para diálogo e colaboração entre as áreas, especialmente se houver avanços na validação científica dos métodos de perfilagem.

Dito isso, as tensões entre psicólogos/psiquiatras forenses e perfiladores criminais persistem, mas não são intransponíveis. O caminho para uma relação mais harmoniosa parece passar pelo fortalecimento da base empírica da perfilagem, pela clarificação de suas limitações e pela adoção de uma linguagem que minimize estigmas. O futuro dessa interação dependerá da capacidade de ambas as áreas de conciliar rigor científico com utilidade prática, superando assim as rusgas que ainda as separam.

Palavras Finais

Como médico psiquiatra com experiência em contextos clínico-forenses, testemunhei a evolução da perfilagem criminal de uma prática marginalizada para uma ferramenta investigativa legitimada — ainda que cercada de controvérsias. Meu percurso profissional reflete essa transição: de um ceticismo inicial, enraizado na formação médica tradicional, para uma aceitação crítica, fundamentada na observação de que a intuição disciplinada pela experiência e o método científico podem coexistir. Os achados do texto acima ressoam profundamente com essa jornada, especialmente no que tange aos três pilares da perfilagem eficaz: habilidades cognitivas, intuição informada e a integração entre teoria e prática.

A perfilagem criminal exige um equilíbrio sutil entre o raciocínio dedutivo (aplicação de teorias gerais a casos específicos) e o indutivo (generalização a partir de evidências fragmentadas). Na prática clínico-forense, essa dualidade é familiar.

Assim como diagnósticos psiquiátricos baseiam-se em critérios do DSM ou CID, perfiladores utilizam padrões criminais conhecidos (ex.: modus operandi de serial killers) para inferir características de um agressor. Minha experiência em avaliar transtornos de personalidade — como psicopatia ou narcisismo maligno — mostrou que a aplicação rigorosa de modelos teóricos reduz vieses, mas pode falhar em casos atípicos.

Também, a análise de comportamentos únicos em cenas de crime assemelha-se à avaliação de sintomas psicóticos (como delírios), onde detalhes aparentemente desconexos revelam padrões subjacentes. Aqui, a intuição inferencial (baseada em expertise) torna-se crucial, mas requer validação cruzada com dados objetivos para evitar armadilhas cognitivas, como o viés de confirmação.

O presente texto destaca a Escala de Tipos de Intuição (TIntS), que categoriza a intuição em holística, inferencial e afetiva. Como psiquiatra, reconheço que essas dimensões permeiam também a prática clínica:

Intuição Inferencial: A rapidez com que um psiquiatra identifica um quadro depressivo mascarado por queixas somáticas é análoga à habilidade de um perfilador em reconhecer padrões de stalking. Ambas dependem de experiência acumulada e automatizada. Estudos citados (Kocsis et al., 2000) corroboram que perfiladores experientes superam novatos justamente por essa capacidade.

Intuição Afetiva: Embora útil para detectar mentiras ou tensão em interrogatórios, é vulnerável a estereótipos (ex.: associar jovens de baixa classe social com maior periculosidade). Na psiquiatria, o equivalente seria diagnosticar borderline em mulheres com base em estereótipos de gênero — um erro que exige checagem analítica.

Intuição Holística: A síntese de dados dispersos (ex.: histórico familiar, traumas e sintomas) para formular um diagnóstico global é paralela à construção de perfis criminais a partir de múltiplas evidências. Porém, a intuição holística deve ser testada contra hipóteses alternativas.

O texto também menciona as “rusgas” entre psiquiatras e perfiladores — uma tensão que vivi em primeira mão. Inicialmente, via a perfilagem como especulação não validada; hoje, reconheço seu valor investigativo (não diagnóstico). Os principais pontos chave dessa evolução podem ser aqui sumarizados:

  • Falta de Base Empírica: Assim como a psiquiatria enfrentou críticas por diagnósticos subjetivos (ex.: histeria no século XIX), a perfilagem luta por validação estatística. A solução, como propõe Kocsis, está em estudos controlados e na adoção de métricas replicáveis (ex.: taxas de acerto em perfis cegos).

  • Experiência versus Educação: A máxima de Hazelwood — “nenhuma educação substitui a experiência” — ecoa na psiquiatria. Residentes aprendem teoria, mas só desenvolvem clinical reasoning após anos de prática. Isso vale para perfiladores: salas de aula são necessárias, mas insuficientes.

Os achados do texto reforçam que a perfilagem criminal eficaz é multidimensional: exige método, intuição treinada e humildade para reconhecer limites. Como psiquiatra, traduzo isso em três recomendações para a prática:

  1. Validar a intuição: Use instrumentos como a TIntS para identificar vieses e fortalecer a intuição inferencial (a mais confiável).

  2. Integrar abordagens: Combine análise dedutiva (ex.: critérios de psicopatia) com indução criativa (ex.: padrões de linguagem do indivíduo).

  3. Promover colaboração interdisciplinar: Psiquiatras podem aportar rigor diagnóstico; perfiladores, insights comportamentais. Juntos, reduzem-se erros judiciais.

A perfilagem, como a psiquiatria clínico-forense, não é apenas ciência nem tampouco arte intuitiva — é uma disciplina híbrida que prospera quando equilibra os dois mundos. Meu caminho profissional atesta que, com métodos e parcerias, é possível transformar desconfiança mútua em cooperação produtiva.

Referências

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