O Mapa do Amor, cunhado por John Money (1986), é definido como uma entidade funcional e sincronizada no cérebro e no comportamento, semelhante à língua nativa. É formalmente descrito como um modelo de desenvolvimento (ou uma representação), no qual se internalizam tanto o amante/objeto ideal e o tipo de “affair” planejado quanto a atividade sexual/erótica com este tipo de amante/objeto. Este modelo é fundamentado em imagens e/ou ideias, bem como em atividades sexuais reais.
O Mapa do Amor é cronológico na medida em que se desenvolve ou se desdobra ao longo do tempo. É amplo, uma vez que é multicausal e multifacetado – em outras palavras, diversos fatores são incorporados de forma coerente em um todo aparentemente conexo. Os fatores intrínsecos que os determinam podem ser classificados em genéticos, neurais, hormonais, imunológicos, nutricionais, tóxicos, intrapsíquicos e assim por diante.
O conceito de Mapa do Amor é baseado no Determinismo Biográfico; dessa forma, o Mapa do Amor é diversificado, assim como as biografias também o são, e tem consequências diversas. No que diz respeito à biografia sexual, o resultado pode ser tão diverso quanto uma normofilia ou uma parafilia. A parafilia é uma manifestação de um mapa amoroso que é, segundo o critério ideológico da ortodoxia cotidiana, pouco ou nada ortodoxo.
Histórica, geográfica e sociologicamente, a resposta cultural às manifestações abertas de mapas amorosos parafílicos tem variado.
Ainda é necessário investigar até que ponto a genética pode ser responsável pela programação dos componentes pré-natais do Mapa do Amor. Para que um Mapa do Amor seja saudável e intacto, é necessário que o cérebro esteja saudável e livre de toxinas.
John Money fez uma comparação com a formatação da língua mãe (nativa). Poucos negarão que a língua nativa real penetra no cérebro saudável através dos ouvidos, ou, ainda, pelos olhos dos que não ouvem ou do tato dos que não têm visão ou audição, corroborando para a fixação da linguagem em todas as suas manifestações e posterior expressão. De acordo com evidências experimentais e clínicas, a estrutura profunda de um mapa amoroso, provavelmente, predispõe o possuidor à assimilação e manifestação de estereótipos de gênero masculino, feminino, ambivalente, polivalente etc.
Apesar de considerar este mapa pré-natal (predisposição), o Mapa do Amor também depende de estímulos pós-natais obtidos através dos sentidos. Ainda não foram identificadas características relevantes da estrutura interna do mapa amoroso, como, por exemplo, as diferentes predisposições masculinas/femininas para a dominância do acasalamento, a dependência dos olhos sobre os sentidos da pele para a excitação sexual e/ou erótica, ou para síndromes parafílicas versus hipofílicas (quando a diferenciação do mapa amoroso der errado). Além da genética, outras influências pré-natais, como a hormonização sexual pré-natal, devem ser levadas em conta. A variação individual na estrutura profunda do Mapa do Amor, durante o pré-natal, pode ser exagerada, reduzida ou mantida inalterada ao longo da conclusão do modelo, após o nascimento.
As intrusões parafílicas no curso de sua conclusão podem ser intrínsecas ou extrínsecas. As intrusões intrínsecas que já foram identificadas em alguns parafílicos juvenis são a impulsividade patológica secundária, lesões cerebrais mínimas, traumatismo cranioencefálicos com lesão residual do lobo temporal, exposição cerebral a tóxicos, genes com polimorfismos recentemente candidatos, dentre outras.
Já as intrusões extrínsecas que podem direcionar a formatação pós-natal do modelo do Mapa do Amor para a parafilia estão, de acordo com os dados presentes, relacionadas com vivências sexuais vandalizadas na infância, especialmente no período entre 4 e 11 anos de idade.
As estratégias de vandalismo incluem a indiferença e a negligência em vez da promoção ativa do desenvolvimento, da educação sexual e da adequada e afetiva supervisão parental; humilhação, inibição e punição abusiva de crianças e pré-púberes; abuso sexual, físico e coerção são apenas algumas das formas do dito vandalismo.
Independentemente da intrusão indutora da parafilia na conclusão do mapa amoroso ser intrínseca, extrínseca ou ambas, o caminho comum final pode ser aquele recheado com interesses sexuais desviados, nascidos de uma Mapa do Amor vandalizado.
Muitas vezes, na elaboração do Mapa do Amor, experiências negativas que foram traumatizantes, prejudiciais, humilhantes, repugnantes ou puníveis se transmutam de negativas para “positivas”.Em vez de serem evitadas, são procuradas. Em vez de serem punidas, elas são reconduzidas – com o orgasmo habitual. Elas, ao invés de serem assoladas, tornam-se eroticamente emocionantes.
Uma “Lei do Oponente” seria possível, uma vez que a aversão se transforma em vício. Por exemplo, fazendo um paralelo grosseiro, imagine um médico que, é claro, sabe do horror da dependência física causada por opioides; mas, ainda assim, experimenta o uso e se torna dependente. A teoria psicofarmacológica sugere que o fenômeno do flip-flop ocorre quando o medo no cérebro estimula uma descarga de opioides cerebrais que produzem uma euforia exagerada. Isso auxiliaria na conversão do médico exemplificado em um dependente de opioides injetáveis.
A partir deste modelo, na história do parafílico, há uma ligação entre o terror sexual e o êxtase sexual. O estímulo que tinha sido aversivo tornou-se viciante. Sua busca é reiterada, repetidamente. O vício é estimulado, por exemplo, pelo fetiche do fetichista ou pelo arrepio e chicote do masoquista. A parafilia é a busca pelo estímulo, sendo cada repetição ritualística uma replicação das anteriores. Este é o ritual parafílico. A reiteração do ritual parafílico ocorre em sonhos e fantasias, bem como na performance real. É insistente e exigente e, à maneira autônoma do sonambulismo, ganha vida própria, desafiando a racionalidade, as consequências e o controle voluntário. Ela é dificilmente controlada pela força de vontade e não responde à punição ou mesmo à ameaça de penalização. A euforia viciante ou o êxtase do ritual parafílico é erótico ou orgásmico, tanto que grande parte dos parafílicos, homens e mulheres, são sexualmente impulsivos.
Existem vários modelos médicos, antropológicos, psicossociais para explicar o fenômeno das Parafilias. Geralmente, um único modelo explanatório é insuficiente; portanto, conhecer diversas teorias a respeito da sua origem pode contribuir significativamente para uma abordagem qualificada e polimórfica dos diversos quadros parafílicos que requerem um tratamento mais aprofundado e sofisticado.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.