Como lidar com paranoia por uso de LSD?

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“…infelizmente, os episódios reaparecem, semanas, meses ou até anos após o último consumo dessa substância psicoativa.”

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“Olá! Existe algum tipo de tratamento que posso tentar para ajudar a tirar da mente pensamentos e paranoias que surgiram após uma bad trip? Tive uma bad trip com LSD há um ano. Fiquei sem noção da realidade por cerca de cinco horas. Nesse período, tive experiências horríveis e tenho problemas com isso até hoje, mesmo nunca mais tendo usado LSD. Por muitas vezes, vem-me à cabeça que o suicídio é a única maneira de obter respostas para minhas loucuras. Não tenho a menor vontade de me suicidar, mas pensamentos assim surgem com  certa frequência; e eu não sei o que fazer para eliminar isso de mim.”

Resposta

Vários tipos de alucinógenos, como o LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico) consistem em um grupo de substâncias que podem muitas vezes provocar um transitório e às vezes reversível quadro de intoxicação caracterizado, principalmente, por alterações na percepção visual.

Uma das mais temidas complicações do uso do LSD é o chamado Transtorno Perceptivo Persistente, ou flashbacks. São revivescências do momento da intoxicação, dias, semanas ou meses após o último uso da substância.

Os sintomas mais amiúde reportados pelos usuários nestes flashbacks são:

a) alucinações visuais, muitas vezes com aspectos geométricos;
b) falsas percepções de que algo está se movimentando;
c) flashes de cores;
d) intensificação das cores;
e) visões de contornos (inexistentes) ao redor de objetos (halos);
f) visões de objetos em tamanhos diferentes do real;
g) percepção distorcida de distância;
h) intensa ansiedade decorrente das percepções amplamente distorcidas;
i) enxergar recorrentemente imagens dentro de outras imagens;
j) sensação de visão em câmera lenta.

Embora a causa destes distúrbios perceptivos seja ainda elusiva, alguns autores têm investigado possibilidades, tais como a de o LSD poder alterar de forma incisiva mecanismos cerebrais responsáveis pelo processamento de ver e de interpretar e organizar imagens provenientes do ambiente externo. Isso significaria, grosso modo, que o LSD poderia induzir grave disfunção em determinados sistemas serotoninérgicos e gabaérgicos (sistemas de neurotransmissores), impedindo que o cérebro processe corretamente os estímulos visuais externos, gerando percepções e sensações distorcidas e irreais. Por esta razão, algumas medicações psiquiátricas devem ser evitadas durante o manejo desta complicação causada pelo uso do LSD e um especialista deve ser procurado para sanar o problema.

É notável ressaltar que diferentes tipos de Transtornos Perceptivos Persistentes pelo LSD têm sido descritos pelos usuários, como delineio brevemente abaixo:

a) Tipo I: são experiências bastante transitórias, espontâneas mas que não perturbam o usuário. O consumidor sabe que tais sintomas são recorrentes, mas breves e não amedrontadores. Estes usuários costumam chamar tais episódios de uma “viagem de liberdade.” Raramente procuram auxílio médico e consideram tais episódios como um momento de desligamento do real. Por vezes, este tipo de usuário sabe quando as experiências perceptivas vão começar, como se ocorresse um tipo de “aura.” Esta “aura” é caracterizada por sentimento de autoestranheza, separação do corpo.

b) Tipo II: são experiências mais recorrentes, crônicas, espontâneas, amedrontadoras e provocadoras de importantes prejuízos sociais, familiares, laborais etc para o usuário. Os usuários deste tipo reconhecem que os sintomas foram causados pelo LSD (ou outro alucinógeno) e tentam buscar auxílio médico, mesmo que tardiamente. Muitas vezes, este usuário, apesar do intenso e repetitivo sofrimento e prejuízos decorrentes, retarda na busca por um tratamento especializado. As “auras” que podem ocorrer entre os usuários deste tipo são mais assustadoras, com sensação de estranheza, perda do controle sobre o próprio corpo e sobre o ambiente externo.

Naturalmente, fatores precipitantes são importantes na geração de tais problemas. Além dos fatores extrínsecos ao usuário, tais como a pureza da substância, quantidade consumida, frequência do uso, consumo concomitante com outras substâncias psicoativas, aspectos genéticos ou constitucionais, existem os ditos fatores intrínsecos ao consumidor. Dentre estes fatores intrínsecos, podemos citar prévios sintomas de ansiedade, depressão, transtornos do sono (insônias) e alterações do pensamento já causadas por algum outro transtorno mental.

Também cabe aludir neste texto que aqueles que já padecem do Transtorno Perceptivo Persistente pelo LSD (ou por outro alucinógeno) podem ter os seus sintomas desencadeados por meio de diversas situações, tais como:

a) ao adentrar ambientes escuros, como cinemas;
b) no intercurso sexual;
c) ao fazer atividades físicas ou ouvir barulhos intensos;
d) ao usar outras substâncias, incluindo tabaco e maconha;
e) ao visualizar luzes estroboscópicas;
f) em quadros clínicos com sintomas de depressão e ansiedade.

Trata-se, portanto, de condição que demanda tratamento médico especializado.

Portadores, especialmente do chamado Tipo II, podem progressivamente manifestar desesperança, prejuízos sociais e financeiros, limitações para angariar oportunidades de trabalho e relacionamentos salutares, ideação de morte, sensação de que nada poderá ser feito para aliviar seu problema.

Faz parte deste quadro que, após um episódio de flashback, o portador apresente um período de latência, ou seja, um tempo no qual nenhum episódio surge. No entanto e infelizmente, os episódios reaparecem, semanas, meses ou até anos após o último consumo da substância psicoativa.

No caso descrito, parece-me que não há como fugir de uma adequada e rigorosa avaliação médica especializada. Você não deve mais perder tempo esperando que tais sintomas perturbadores desapareçam com o tempo. Você deve procurar um médico psiquiatra especializado na área, explicar em detalhes todos os seus sintomas e iniciar o tratamento a ser prescrito.

Boa sorte!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

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