Há diferentes formas de manejo para a retirada desse tipo de medicação após uso prolongado
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“Este método abaixo citado em sua coluna também pode me ajudar a largar o uso de tranquilizantes? ‘Bromazepam 6mg sinto que eles estão é me acabando os nervos. De uma forma bastante geral, recomenda-se uma alimentação: a) com menos açúcares; b) com menos carboidratos refinados; c) com mais proteínas; d) com mais fibras; e) com mais gorduras saudáveis, principalmente as ricas em ômega 3; f) menos alimentos processados; g) menos cafeína.’
Resposta: A orientação nutricional, aliada à prática supervisionada de atividades físicas, pode fazer parte da ampla gama de fórmulas de tratamentos para os portadores de problemas com o uso de substâncias psicoativas. Trata-se de estratégia para instrumentalizar o portador desses problemas objetivando lidar melhor com a fissura, com a própria aparência física, autoestima e funcionamento social.
É importante ressaltar que, dependendo da condição física do portador, as orientações quanto à ingestão de proteínas, carboidratos, gorduras e fibras deverão ser individualizadas.
Você não mencionou no corpo da sua mensagem a razão ou recomendação médica para o início do consumo deste benzodiazepínico (Bromazepam). Da mesma forma, você não comentou se sente ou sentiu a necessidade de aumentar a dose para atingir os mesmos efeitos obtidos preteritamente. Outro dado importante é se você fez ou faz uso de alguma outra substância psicoativa concomitantemente. Estas três observações são importantes pelos seguintes motivos:
a) quando foram introduzidos no mercado, acreditava-se que tais medicações benzodiazepínicas apresentavam baixo risco para induzir quadros de abuso ou de dependência. O tempo demonstrou que esta crença é falsa;
b) um dos principais sintomas de um quadro de dependência fisiológica ou mesmo de uma síndrome de dependência é a tolerância ao fármaco, ou seja, a necessidade de doses progressivamente maiores para se atingir os efeitos anteriores;
c) muitos dos indivíduos que abusam de medicações benzodiazepínicas também abusam de outras drogas. Entre dependentes de álcool etílico, estima-se uma taxa de prevalência de 30% para dependência concomitante de medicações benzodiazepínicas. As taxas de prevalência para dependência ou abuso de medicações benzodiazepínicas tendem a ser maiores entre dependentes de opioides (heroína, por exemplo), atingindo cifras de até 60%.
Os benzodiazepínicos, como o bromazepam, clonazepam, alprazolam, diazepam, lorazepam, são medicações importantes para o manejo de diversos problemas de saúde. Tais medicações sempre devem ser prescritas por médico habilitado, com indicações precisas e claras. Tempo de uso, acompanhamento rigoroso pelo médico, avaliação dos riscos e dos benefícios, observância quanto ao risco de dependência fisiológica e da síndrome de dependência são itens básicos que merecem atenção intensa tanto dos profissionais da saúde quanto dos próprios pacientes.
Grosso modo, as principais indicações médicas para o uso das medicações benzodiazepínicas são:
a) Transtornos do sono (Insônias);
b) Transtornos de ansiedade;
c) Quadros de epilepsia.
Na maioria das ocorrências, recomenda-se que, caso um benzodiazepínico seja aventado para prescrição, seu uso seja de curta duração (entre 1 e 2 meses), enquanto outras estratégias terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas são utilizadas e testadas. Obviamente, existem situações graves nas quais tais medicações benzodiazepínicas precisam ser mantidas por tempo prolongado; nessas condições, o seguimento médico deve ser intensivo e continuado.
Na Tabela 01, aponto os principais efeitos agudos dos benzodiazepínicos
• Relaxamento muscular
• Redução dos sintomas de ansiedade
• Sonolência
• Fala empastada
• Prejuízo da coordenação motora
• Lentidão do pensamento
• Prejuízos da atenção, concentração e memória
É importante notar que os benzodiazepínicos podem diminuir a duração de uma das fases do sono (conhecida como fase REM), e provocar, em consequência, a sensação de sono não reparador.
Existem indivíduos que apresentam sintomas totalmente inversos aos mencionados na Tabela 01, fato que denominamos de reação idiossincrática. Isso significa que tais pessoas, após o uso da medicação, podem tornar-se eufóricas, agitadas ou inquietas, agressivas verbal e fisicamente. Não são situações comuns, mas podem ocorrer.
Quando o usuário mantém o consumo das medicações benzodiazepínicas por tempo prolongado (superior a 3-6 meses), sintomas outros podem surgir.
Na Tabela 02, aponto alguns deles.
Tabela 02. Sintomas do uso crônico dos benzodiazepínicos
• Aumento da ansiedade (nervosismo)
• Prejuízos duradouros nas habilidades cognitivas (memória, atenção, concentração)
• Indução ou agravamento de sintomas depressivos
• Amnésia
• Síndrome de abstinência (quando o usuário cessa ou reduz abruptamente a dose usualmente consumida): ansiedade extrema, confusão mental, agitação psicomotora, tremores, crises convulsivas, diarreia, náuseas, vômitos, fadiga, alucinações, sensação de formigamento em pernas e braços, zumbido, sintomas semelhantes aos de um resfriado
As medicações benzodiazepínicas são efetivas, quando adequadamente prescritas e os pacientes usuários rigorosamente acompanhados. Os problemas com tais substâncias provêm realmente do seu uso prolongado.
Existem diferenciadas formas de manejo para a retirada da medicação benzodiazepínica após um uso prolongado. No entanto, não existe fórmula única nem tampouco mágica.
Vários fatores precisam ser avaliados, como por exemplo, a razão pela qual você iniciou o consumo dessa medicação. Se o uso não foi orientado por médico, a situação tende a se complicar.
Você deve procurar um médico psiquiatra e explicar todos os detalhes do seu caso. A partir disso, o médico poderá formular uma estratégia terapêutica para auxiliá-lo na redução e parada do consumo dessa substância, sempre investigando algum outro quadro médico subjacente ao uso da droga.
Você deve iniciar o tratamento e seguir adequadamente as recomendações médicas. Comumente, o tratamento é longo e demanda colaboração e paciência.
Não perca tempo!
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.