Sextorsão: O Lado Sombrio do (Des)Prazer

Introdução

A sextorsão, também conhecida como extorsão sexual, é uma forma de violência facilitada por tecnologias digitais que envolve ameaças de compartilhamento de imagens íntimas ou sexuais para coagir a vítima a cumprir demandas específicas, como pagamento, envio de mais imagens íntimas ou realização de atos indesejados (Henry et al., 2020; Ray & Henry, 2025). Essa prática, que se enquadra no espectro do abuso sexual baseado em imagens (IBSA) e da violência sexual facilitada pela tecnologia (TFSV), tem recebido crescente atenção devido à sua prevalência e aos impactos devastadores nas vítimas (Powell & Henry, 2017). A sextorsão ocorre em diversos contextos, incluindo abuso por parceiros íntimos, ciberbullying, exploração sexual online, tráfico humano, golpes financeiros e crimes organizados, destacando a sua complexidade e o seu alcance (Cross et al., 2022; Finkelhor et al., 2023).

A sextorsão pode ocorrer em diferentes cenários, desde casos em que o perpetrador é um parceiro íntimo que usa as imagens como ferramenta de controle coercitivo (Henry et al., 2023) até situações envolvendo desconhecidos que obtêm imagens por meio de hacking, golpes românticos/sexuais ou grooming online (O’Malley & Holt, 2022; Wittes et al., 2016). A potência dessas ameaças deriva frequentemente do estigma social associado à exposição de imagens íntimas, que pode ser amplificado por fatores como gênero, sexualidade, raça ou idade, tornando a sextorsão uma forma de violência baseada em gênero em muitos casos (Ray & Henry, 2025).

A prevalência da sextorsão varia significativamente entre diferentes grupos demográficos e contextos geográficos; de qualquer forma, os estudos disponíveis sugerem que é um problema crescente (Ray & Henry, 2025). Entre jovens, a prevalência de vitimização por sextorsão varia de 0,7% a 5,0% (Finkelhor et al., 2022; Gámez-Guadix et al., 2022; Patchin & Hinduja, 2020), enquanto entre adultos os números são mais altos, oscilando entre 4,0% e 18,7% (Henry et al., 2019; Henry et al., 2020; Pacheco et al., 2019; Powell & Henry, 2019; Trendell, 2019). Essas taxas, no entanto, podem ser subestimadas devido à baixa propensão das vítimas em relatar os incidentes, influenciada por sentimentos de vergonha, medo de retaliação ou desconfiança das autoridades (Henry & Umbach, 2024; Patchin & Hinduja, 2020; Wolak et al., 2016).

A perpetração de sextorsão também tem sido investigada, com taxas entre 0,7% e 3,0% para adolescentes e entre 1,6% e 8,8% para adultos (Gámez-Guadix et al., 2022; Henry et al., 2020; Patchin & Hinduja, 2020; Trendell, 2019). Estudos indicam que adultos jovens, particularmente aqueles entre 18 e 29 anos, apresentam maior risco de vitimização (Eaton et al., 2022; Henry et al., 2019, 2020; Pacheco et al., 2019), enquanto a perpetração é mais comum entre indivíduos na faixa etária entre 16 e 39 anos (Henry et al., 2020). A sextorsão é particularmente prevalente em contextos em que o acesso à internet e às redes sociais é amplo, facilitando tanto a obtenção de imagens quanto a disseminação das ameaças (Ray & Henry, 2025).

Os fatores de risco para a vitimização por sextorsão estão associados a várias características demográficas e sociais. Jovens e minorias sexuais, como indivíduos lésbicas, gays, bissexuais ou não heterossexuais, são desproporcionalmente afetados, com taxas de vitimização significativamente mais altas do que seus pares heterossexuais (Gámez-Guadix & Incera, 2021; Eaton et al., 2022; Henry et al., 2019; Pacheco et al., 2019; Patchin & Hinduja, 2020). Por exemplo, Gámez-Guadix e Incera (2021) revelaram que 9% dos adolescentes de minorias sexuais sofreram sextorsão, em comparação com 3% dos adolescentes heterossexuais. Quanto ao gênero, os resultados são mistos: alguns estudos apontam que homens e garotos são mais propensos a serem vítimas, especialmente em casos de golpes financeiros (Eaton et al., 2022; Henry et al., 2019, 2020; Patchin & Hinduja, 2020), enquanto outros indicam maior vitimização entre mulheres e garotas, particularmente em contextos de abuso por parceiros íntimos (Finkelhor et al., 2023; Kopecký, 2017). A raça também desempenha um papel, com grupos minoritários, como indígenas, negros e migrantes, apresentando maior vulnerabilidade à vitimização (Eaton et al., 2022; Henry et al., 2019, 2020). Um estudo na Austrália, por exemplo, encontrou que 36% dos respondentes indígenas relataram ameaças de disseminação de imagens íntimas, em comparação com 8% dos não indígenas (Henry et al., 2019). No entanto, poucos estudos exploraram a intersecção entre raça e sextorsão, indicando uma lacuna significativa nessa linha de pesquisa (Ray & Henry, 2025). Além disso, a relação entre vítima e perpetrador é um fator crucial: a maioria dos estudos quantitativos revela que os ofensores são frequentemente parceiros íntimos ou pessoas conhecidas, como amigos ou familiares, em vez de estranhos ou contatos exclusivamente online (Finkelhor et al., 2023; Henry et al., 2019; Patchin & Hinduja, 2020; Wolak et al., 2016, 2018).

As características dos ofensores da sextorsão refletem a diversidade de contextos em que essa prática ocorre. Homens e garotos são significativamente mais propensos a perpetrar sextorsão do que mulheres e garotas, uma tendência consistente em vários estudos (CCCP, 2022; Gámez-Guadix et al., 2022; Henry et al., 2019, 2020; Patchin & Hinduja, 2020; Thorn, 2017; Wolak et al., 2016). Jovens e indivíduos de minorias sexuais também são mais propensos a admitir comportamentos de perpetração, embora os dados sobre perpetração sejam menos abundantes do que os dados sobre vitimização (Henry et al., 2020; Patchin & Hinduja, 2020). Os perpetradores podem variar desde indivíduos agindo isoladamente, como ex-parceiros buscando vingança ou controle (Henry et al., 2023), até membros de redes organizadas de crime que utilizam a sextorsão como parte de esquemas de fraude financeira ou exploração sexual (Cross et al., 2022). As motivações dos ofensores são igualmente variadas, incluindo ganho financeiro, gratificação sexual, exercício de poder e controle, ou retaliação (Ray & Henry, 2025). Em muitos casos, há uma sobreposição entre vitimização e perpetração, sugerindo que algumas vítimas podem se tornar perpetradoras em resposta ao trauma ou como parte de um ciclo de abuso (Ray & Henry, 2025).

Técnicas comuns utilizadas pelos ofensores incluem grooming, hacking de dispositivos, criação de perfis falsos em plataformas de namoro online e envio de e-mails de spam que alegam possuir imagens comprometedoras (O’Malley & Holt, 2022; Paquet-Clouston et al., 2019).

Os impactos da sextorsão são profundos e multifacetados, afetando as vítimas em níveis psicológico, social e econômico. As vítimas frequentemente relatam sentimentos intensos de medo, humilhação, vergonha e auto culpabilização, que podem evoluir para transtornos como depressão, ansiedade, ideação suicida e automutilação (Gámez-Guadix et al., 2022; Mandau, 2021; Trendell, 2019; Walsh & Tener, 2022; Wolak et al., 2018). Em casos extremos, a sextorsão tem sido associada ao suicídio, destacando a gravidade dos seus efeitos (Nilsson et al., 2019). Além disso, as vítimas podem sofrer perdas financeiras significativas ao ceder às demandas, bem como impactos sociais, como deterioração de relacionamentos familiares, mudanças de emprego ou interrupção de trajetórias educacionais (Walsh & Tener, 2022; Wolak et al., 2018).

A baixa taxa de denúncia agrava esses impactos, já que muitas vítimas evitam buscar ajuda devido à vergonha, à falta de evidências, à dificuldade em identificar o perpetrador ou à percepção de que as autoridades não levarão suas queixas a sério (Henry & Umbach, 2024; Patchin & Hinduja, 2020; Wolak et al., 2016). Essa relutância em denunciar é particularmente pronunciada quando o perpetrador é um parceiro íntimo ou alguém conhecido, devido ao desejo de proteger a relação (mesmo que já rasgada) ou evitar represálias (Ray & Henry, 2025).

A sextorsão representa um desafio significativo para a sociedade contemporânea, exigindo esforços coordenados de pesquisadores, legisladores, forças policiais, educadores e provedores de serviços de apoio para mitigar a sua ocorrência e abordar os seus impactos desproporcionais em populações vulneráveis (Ray & Henry, 2025). A pesquisa existente, embora crescente, ainda apresenta lacunas, particularmente em relação à interseção de fatores como raça, etnia e classe social, bem como à compreensão das dinâmicas de perpetração (Ray & Henry, 2025).

Estratégias de prevenção devem incluir educação sobre segurança digital, promoção de canais de denúncia acessíveis e confiáveis, e o desenvolvimento de políticas que responsabilizem tanto os perpetradores individuais quanto as plataformas digitais que facilitam esses abusos. Além disso, é essencial oferecer suporte psicológico e jurídico às vítimas, garantindo que elas possam buscar ajuda sem medo da estigmatização. Ao fortalecer a compreensão da sextorsão por meio de pesquisas adicionais, será possível melhorar a conscientização social, moldar políticas eficazes e aprimorar os serviços de apoio às vítimas, reduzindo assim o impacto dessa forma insidiosa de violência.

As Redes Sociais e Os Aplicativos de Namoro: Iscas Funestas

As redes sociais e os aplicativos de namoro revolucionaram a forma como as pessoas se conectam, oferecendo plataformas acessíveis para interação, troca de informações e busca por relacionamentos sexuais e românticos. Contudo, essas ferramentas digitais, embora facilitem conexões, também se tornaram terrenos propícios para práticas criminosas, como a sextorsão, que explora vulnerabilidades emocionais e psicológicas dos usuários. Este texto explora como redes sociais, como Snapchat, Instagram e Facebook, e aplicativos de namoro, como Tinder, Bumble e Grindr, ao prometerem conexões genuínas, frequentemente se transformam em iscas malditas, atraindo vítimas para situações de manipulação, chantagem e trauma psicológico, com base em estudos empíricos recentes.

As redes sociais e os aplicativos de namoro oferecem aos perpetradores um acesso sem precedentes a milhões de usuários, permitindo a identificação de alvos vulneráveis com facilidade. Plataformas como Snapchat, Instagram e Facebook são amplamente utilizadas para comunicação rápida e, muitas vezes, informal, o que facilita a manipulação da confiança dos usuários. Snapchat, por exemplo, é particularmente atrativo para sextorsionistas devido à sua funcionalidade de mensagens que desaparecem automaticamente, criando uma falsa sensação de segurança para as vítimas que compartilham conteúdos íntimos (Tavakoli et al., 2024). Instagram, com sua ênfase em imagens e stories, permite que perpetradores estabeleçam uma presença visual convincente, muitas vezes utilizando perfis falsos para atrair vítimas. Facebook, por sua vez, com sua vasta base de usuários e grupos de interesses específicos, oferece aos criminosos um amplo campo para encontrar indivíduos em busca de conexão emocional ou romântica (Powell et al., 2018). Esses aplicativos de redes sociais, embora não projetados especificamente para namoro, frequentemente funcionam como plataformas de interação romântica, o que as torna suscetíveis a práticas de sextorsão (Loader & Thomas, 2020).

Entre os aplicativos de namoro, Tinder, Bumble e Grindr destacam-se como os mais citados em estudos sobre sextorsão. O Tinder, conhecido por sua interface de deslizar para matches, é amplamente utilizado devido à sua acessibilidade e popularidade global, atraindo uma grande quantidade de usuários em busca de relacionamentos casuais ou sérios. Essa popularidade o torna um terreno fértil para sextorsionistas, que exploram a rapidez com que os usuários estabelecem conexões (Tavakoli et al., 2024). Bumble, que se diferencia por permitir que mulheres iniciem as conversas, pode criar uma ilusão de maior segurança, mas também é alvo de perpetradores que manipulam essa dinâmica para ganhar confiança. Grindr, voltado principalmente para homens gays e bissexuais, apresenta riscos específicos devido à natureza estigmatizada de algumas interações, o que pode aumentar a relutância das vítimas em denunciar incidentes por medo de exposição ou discriminação (Sinha-Roy & Ball, 2022). Esses aplicativos, projetados para fomentar conexões românticas e sexuais, tornam-se ideais para perpetradores que buscam explorar a vulnerabilidade emocional e situacional dos usuários.

As consequências psicológicas para as vítimas de sextorsão são profundas e duradouras. Como dito, a exposição a esse tipo de violência digital frequentemente resulta em depressão, ansiedade, baixa autoestima e, em casos extremos, ideação suicida (Gavrilović Nilsson et al., 2019). A manipulação emocional e a ameaça de divulgação de materiais comprometedores geram um ciclo de medo e vergonha, que impede muitas vítimas de buscar ajuda ou denunciar os incidentes às autoridades (Cannon, 2018). Esse impacto é agravado pela auto culpabilização das vítimas, que frequentemente se sentem responsáveis por terem confiado no perpetrador, intensificando sentimentos de isolamento e desconfiança em relação a futuras interações (Cross et al., 2022). Em alguns casos, as vítimas tomam medidas drásticas, como mudar de cidade ou abandonar empregos e estudos, na tentativa de escapar do controle ou da perseguição dos sextorsionistas (Eldén et al., 2020).

A prevalência de sextorsão em aplicativos de namoro é particularmente alarmante, uma vez que essas plataformas atraem indivíduos motivados pelo desejo de encontrar um parceiro romântico/sexual. A crença em uma conexão genuína é um fator crítico que facilita a vitimização. Usuários que percebem o perpetrador como genuinamente interessado tendem a baixar a guarda, compartilhando conteúdos que, posteriormente, são usados contra eles (Tavakoli et al., 2024). Por exemplo, em um estudo, 67% dos entrevistados que enviaram imagens explícitas o fizeram porque acreditavam estar em uma conexão romântica/sexual verdadeira (Sundstrom & Wangnerud, 2021). Essa exploração da confiança é especialmente eficaz em aplicativos como Tinder, onde a promessa de romance é o principal atrativo, criando um ambiente ideal para que os perpetradores identifiquem e manipulem suas vítimas.

A demografia das vítimas revela padrões complexos. Embora alguns estudos indiquem que mulheres são mais propensas a serem alvos de sextorsão, especialmente em contextos de busca por relacionamentos românticos (Mumporeze et al., 2021), outras pesquisas sugerem que homens também enfrentam riscos significativos, particularmente quando passam mais tempo em aplicativos de namoro (Gohil & Fido, 2021). Fatores como o nível educacional também influenciam a vulnerabilidade, com indivíduos que possuem até ensino médio ou técnico sendo mais suscetíveis, possivelmente devido a uma menor familiaridade com os riscos digitais (Buil-Gil & Saldaña-Taboada, 2021). A frequência de uso dessas plataformas também desempenha um papel importante, com usuários que acessam aplicativos de namoro regularmente apresentando maior probabilidade de vitimização (Tavakoli et al., 2024). A relutância em denunciar incidentes, muitas vezes motivada por vergonha ou medo do estigma, permite que os perpetradores continuem suas práticas sem consequências (Cannon, 2018).

As implicações desses fenômenos exigem ações coordenadas. Desenvolvedores de aplicativos como Tinder, Bumble e Grindr, bem como de redes sociais como Snapchat, Instagram e Facebook, devem implementar medidas de segurança mais robustas, incluindo verificação de identidade e ferramentas eficazes de denúncia. Campanhas de conscientização pública são cruciais para educar os usuários sobre os perigos de compartilhar informações pessoais, mesmo em interações aparentemente confiáveis. As autoridades precisam investir em estratégias de prevenção e suporte às vítimas, criando ambientes onde elas se sintam seguras para denunciar incidentes. A sociedade, por sua vez, deve reconhecer a sextorsão como uma forma de violência que deixa cicatrizes emocionais profundas, impactando a capacidade das vítimas de formar relacionamentos saudáveis no futuro.

As redes sociais, como Snapchat, Instagram e Facebook, e os aplicativos de namoro, como Tinder, Bumble e Grindr, embora sejam ferramentas poderosas para conexão humana, tornaram-se iscas funestas para práticas de sextorsão. A exploração da confiança, os impactos psicológicos devastadores e a baixa taxa de denúncias destacam a urgência de abordar esse problema. Através de esforços conjuntos entre desenvolvedores, autoridades e sociedade, é possível mitigar os riscos e transformar essas plataformas em espaços seguros para conexões genuínas.

Ouvindo as Vítimas: Conexões Emocionais Destruídas e Ameaças Duradouras

As narrativas dos sobreviventes usualmente revelam que as conexões emocionais com os perpetradores variam amplamente, abrangendo desde interações efêmeras em plataformas online até relacionamentos profundos, como amizades próximas ou parcerias românticas (Walsh & Tener, 2022). Em muitos casos, as vítimas desenvolvem confiança nos perpetradores, seja por meio de conversas aparentemente genuínas em redes sociais como Snapchat, Facebook ou aplicativos de namoro como Tinder e Meet Me, seja em relações presenciais que migram para o ambiente digital. Essa confiança, muitas vezes construída com base em promessas de afeto ou interesse mútuo, é brutalmente traída quando as ameaças começam, transformando um espaço percebido como seguro em uma fonte de medo e humilhação (Tavakoli et al., 2024). Para algumas vítimas, o perpetrador é um estranho que utiliza perfis falsos para enganar, enquanto para outras, é um parceiro íntimo ou amigo próximo, o que intensifica o impacto emocional da traição.

As histórias das vítimas revelam que os pontos de ruptura nas relações frequentemente coincidem com o início das ameaças. Em conexões com baixo apego emocional, como encontros breves online, as ameaças tendem a surgir após o envio de uma imagem íntima ou quando a vítima recusa demandas adicionais, como enviar mais fotos ou encontrar-se pessoalmente (Walsh & Tener, 2022). Já em relacionamentos com forte vínculo emocional, as ameaças muitas vezes emergem quando a vítima tenta encerrar a relação ou quando o perpetrador percebe uma suposta falta de lealdade, utilizando a sextorsão como uma forma de controle ou vingança (Patchin & Hinduja, 2020). Essas ameaças variam em intensidade e duração, desde incidentes isolados até perseguições que se estendem por anos, com algumas vítimas vivendo sob o temor constante de que as imagens sejam divulgadas. Em casos extremos, as ameaças evoluem para violência física ou incluem intimidações contra familiares, ampliando o sentimento de impotência das vítimas.

O impacto psicológico da sextorsão é devastador, marcando profundamente a trajetória de vida das vítimas (Gavrilović Nilsson et al., 2019). A sensação de perda de controle é um tema recorrente, com vítimas relatando que se sentem “à mercê” dos perpetradores, incapazes de prever ou impedir a exposição das suas imagens (Walsh & Tener, 2022). Esse impacto é agravado pela destruição da confiança, não apenas no perpetrador, mas em futuras relações interpessoais, dificultando a formação de novos vínculos. Além disso, a sextorsão frequentemente resulta em danos sociais, especialmente quando as imagens são divulgadas e a vítima enfrenta julgamento ou rejeição por parte de pares (Cross et al., 2022). Para muitas, o evento torna-se um marco central em suas vidas, alterando permanentemente sua autoimagem e percepção do mundo.

As respostas sociais às vítimas desempenham um papel crucial em sua recuperação. Muitas sobreviventes hesitam em revelar o ocorrido, temendo julgamento, punição ou descrença, especialmente em contextos em que fatores como religião ou normas culturais intensificam a vergonha (Walsh & Tener, 2022). No entanto, quando decidem compartilhar as suas experiências, as reações de amigos, familiares ou autoridades variam de apoio empático a respostas neutras ou até prejudiciais. Respostas positivas, como escuta sem julgamento ou ajuda prática, como remover imagens de plataformas online, fortalecem as vítimas, ajudando-as a recontextualizar a experiência como um crime, não como sua culpa (Banyard et al., 2010). Por outro lado, reações negativas, como acusações ou indiferença, aprofundam o isolamento e a angústia, reforçando a percepção de que a vítima é responsável pelo ocorrido (Ullman & Filipas, 2001). A falta de suporte de plataformas digitais, que muitas vezes não respondem às denúncias, também contribui para a frustração das vítimas, que se sentem desamparadas diante da ineficácia dos mecanismos de proteção (Tavakoli et al., 2024).

As narrativas das vítimas sublinham a necessidade de ouvir suas vozes para desenvolver intervenções eficazes. A educação sobre sextorsão deve ser direcionada não apenas às vítimas em potencial, mas também a pais, amigos e profissionais, que frequentemente são os primeiros a quem as vítimas recorrem (Walsh & Tener, 2022). Programas de conscientização devem abordar a conexão entre sextorsão e abuso emocional, destacando que a culpa recai sobre o perpetrador, não sobre a vítima. Além disso, plataformas digitais precisam aprimorar seus sistemas de segurança, oferecendo respostas rápidas e eficazes às denúncias, enquanto as autoridades devem criar canais acessíveis para que as vítimas denunciem sem medo de estigma. Organizações de apoio, como as mencionadas por Walsh e Tener (2022), desempenham um papel vital ao oferecer recursos emocionais e legais, mas seu alcance ainda é limitado, especialmente em contextos fora do mundo ocidental.

As conexões emocionais destruídas pela sextorsão e as ameaças que persistem na vida das vítimas revelam a urgência de abordar esse crime com empatia e ação. Ouvir as sobreviventes não apenas ilumina a complexidade do fenômeno, mas também oferece insights valiosos para proteger futuras vítimas e apoiar aquelas que já sofreram. Através de esforços conjuntos entre sociedade, tecnologia e sistemas de justiça, é possível transformar o ambiente digital em um espaço de segurança, onde conexões emocionais possam florescer sem o risco de exploração.

Resistência às Chantagens: Empoderando as Vítimas

Diante de todo o cenário exposto anteriormente, é fundamental que as vítimas sejam encorajadas a resistir às chantagens, reconhecendo seu poder e buscando apoio para superar as pressões impostas pelos agressores. O empoderamento das vítimas é uma ferramenta essencial para romper o ciclo de coerção e mitigar os danos causados por essa forma de abuso, promovendo resiliência e recuperação.

A sextorsão, como destacado em estudos recentes, é uma prática que explora a vulnerabilidade emocional, social e situacional das vítimas, frequentemente resultando em sentimentos intensos de vergonha, medo e culpa. O’Malley (2023) aponta que as vítimas de sextorsão com motivação financeira enfrentam impactos de curto e longo prazo. Esses efeitos são agravados pela pressão contínua dos agressores, que utilizam táticas de manipulação para manter as vítimas em um estado de medo constante, temendo a exposição pública das suas imagens íntimas. Contudo, ceder às demandas dos chantagistas raramente resulta na cessação das ameaças, pois os agressores frequentemente intensificam suas exigências, perpetuando o ciclo de abuso. Resistir a essas chantagens, embora desafiador, é um passo crucial para interromper esse ciclo e recuperar o controle sobre a própria vida.

O empoderamento das vítimas começa com a compreensão de que a culpa e a vergonha impostas pelos agressores são ferramentas de manipulação, não reflexos da realidade. A pesquisa de Hong et al. (2020) destaca que muitas vítimas, especialmente adolescentes, evitam buscar ajuda devido ao medo de punição ou julgamento social, o que as mantém presas ao controle dos agressores. É essencial que as vítimas sejam encorajadas a desafiar essa narrativa de auto culpabilização, reconhecendo que a responsabilidade pelo abuso recai exclusivamente sobre o agressor. Ações como interromper o contato com o chantagista, bloquear comunicações e relatar o incidente a plataformas de redes sociais ou autoridades policiais são passos práticos que ajudam a neutralizar o poder do agressor. Lembrem-se: os agressores devem ser penalizados SEMPRE e JÁ!

O’Malley (2023) reforça que estratégias como essas, incluindo a desativação de contas de redes sociais, podem aumentar a sensação de segurança das vítimas, reduzindo a ansiedade associada à possibilidade de novas ameaças.

Além disso, o apoio social desempenha um papel central no empoderamento das vítimas. Confiar em amigos ou familiares de confiança pode aliviar significativamente o peso emocional da sextorsão. O’Malley (2023) observa que vítimas que compartilham suas experiências com pessoas próximas relatam uma redução notável na ansiedade, tanto no curto quanto no longo prazo. Esse apoio não apenas valida as emoções da vítima, mas também pode oferecer assistência prática, como ajudar a monitorar a disseminação de imagens ou buscar orientação profissional. A criação de um ambiente seguro, onde as vítimas se sintam ouvidas sem julgamento, é essencial para romper o isolamento que os agressores buscam impor. Nesse sentido, a educação de comunidades, escolas e famílias sobre como apoiar vítimas de sextorsão é fundamental para criar redes de suporte robustas.

A intervenção de profissionais de saúde mental também é uma ferramenta poderosa no processo de empoderamento. Hong et al. (2020) recomendam que médicos e outros profissionais da saúde estabeleçam seus consultórios/clínicas como espaços seguros, onde vítimas possam compartilhar suas experiências sem medo de represálias. Aconselhamento profissional pode ajudar as vítimas a processar o trauma, desenvolver estratégias de enfrentamento e reconstruir sua autoestima. Além disso, o acesso a linhas de apoio, como as oferecidas pelo Cyber Civil Rights Initiative nos Estados Unidos ou pelo Revenge Porn Hotline no Reino Unido, pode fornecer orientação imediata e recursos para lidar com a sextorsão. Essas intervenções reforçam a mensagem de que as vítimas não estão sozinhas e que existem caminhos para superar o abuso.

A resistência à sextorsão também exige uma mudança cultural mais ampla, que combata as narrativas de culpabilização da vítima. Reed et al. (2019) destacam que a sextorsão e outras formas de assédio sexual cibernético são frequentemente normalizadas em certos contextos, especialmente em comunidades onde normas de gênero tradicionais reforçam a objetificação sexual. Desafiar essas normas por meio de campanhas educativas e programas de prevenção é crucial para reduzir a prevalência da sextorsão e capacitar as vítimas a se posicionarem contra os agressores. Programas como o Green Dot e o Safe Dates, mencionados por Hong et al. (2020), demonstram eficácia ao ensinar jovens a reconhecer situações perigosas e a intervir de forma segura, promovendo uma cultura de responsabilidade coletiva contra o abuso.

Do ponto de vista legal, a ausência de uma legislação federal específica nos Estados Unidos para a sextorsão, conforme observado por Hong et al. (2020), dificultaria a responsabilização dos agressores e reforçaria a importância de as vítimas tomarem medidas proativas para se protegerem. Relatar incidentes às autoridades, mesmo que os agressores estejam em jurisdições internacionais, pode contribuir para investigações mais amplas e desmantelar redes de sextorsão. O’Malley (2023) sugere que colaborações internacionais entre forças policiais já resultaram em ações significativas contra esses crimes, o que reforça a importância de as vítimas superarem o medo de denúncia. A denúncia não apenas empodera a vítima, mas também pode prevenir que outras pessoas sejam alvos dos mesmos agressores.

Por fim, a tecnologia pode desempenhar um papel duplo no combate à sextorsão. Embora seja o meio pelo qual os agressores operam, também pode ser uma ferramenta de empoderamento. Plataformas de redes sociais devem implementar algoritmos mais eficazes para detectar e remover conteúdos de sextorsão, além de oferecer recursos educacionais acessíveis para vítimas. Hong et al. (2020) sugerem que as empresas de tecnologia desenvolvam mecanismos para responder rapidamente às denúncias de sextorsão, garantindo que as vítimas tenham meios de proteger sua privacidade e segurança online. Além disso, a criação de fóruns de suporte online, como o analisado por O’Malley (2023), oferece às vítimas um espaço para compartilhar experiências, buscar conselhos e encontrar solidariedade, o que é essencial para sua recuperação emocional.

Resistir às chantagens da sextorsão é um ato de coragem que exige apoio multifacetado, desde a validação emocional até a intervenção prática e legal. Empoderar as vítimas significa equipá-las com o conhecimento de que elas não são responsáveis pelo abuso, fornecer-lhes recursos para interromper o contato com os agressores e promover uma rede de apoio que as ajude a recuperar sua autonomia. Ao desafiar as táticas de coerção dos agressores e buscar ajuda, as vítimas podem transformar uma experiência traumática em um processo de resiliência e crescimento. A sociedade, por sua vez, deve se comprometer a criar ambientes onde a sextorsão não seja normalizada e onde as vítimas sejam apoiadas em sua jornada de recuperação, garantindo que o poder permaneça com aqueles que foram injustamente alvos dessa forma de violência.

Objetivo

O presente estudo tem como objetivo principal investigar o fenômeno da sextorsão no contexto brasileiro e português, com foco na análise das experiências de vítimas e nas dinâmicas discursivas presentes em seus relatos. Especificamente, busca-se:

    • Mapear as características da sextorsão: Identificar as principais plataformas digitais utilizadas, os métodos de abordagem dos perpetradores, os tipos de ameaças realizadas, os valores exigidos nas extorsões e as respostas das vítimas, a fim de compreender os padrões e as especificidades do fenômeno em comunidades lusófonas.

    • Analisar os discursos das vítimas por meio de uma abordagem bakhtiniana: Utilizar a análise do discurso bakhtiniana para identificar diferentes “vozes” e “posições ideológicas” nos relatos, agrupando-os em clusters que reflitam as perspectivas emocionais, sociais e contextuais das vítimas, como vulnerabilidade, desconfiança e busca por justiça.

    • Aplicar uma leitura foucaultiana para compreender os mecanismos de poder: Explorar, por meio da análise foucaultiana, como os discursos das vítimas revelam relações de poder, incluindo a vergonha pública como instrumento disciplinar, a articulação jurídico-policial como legitimação de intervenções estatais e a tecnologia como ferramenta de vigilância e monetização da intimidade.

    • Avaliar o sentimento dos relatos: Utilizar a ferramenta VADER (Valence Aware Dictionary and sEntiment Reasoner) para realizar uma análise de sentimento dos clusters, quantificando a intensidade emocional dos discursos e identificando variações na percepção das vítimas em relação às ameaças sofridas.

    • Contribuir para a conscientização e prevenção: Fornecer subsídios para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, educação digital e suporte às vítimas, com base nos padrões identificados nos relatos, destacando a importância de campanhas educativas, políticas públicas e melhorias nas plataformas digitais para combater a sextorsão.

    • Explorar a interseccionalidade e os impactos psicossociais: Investigar como fatores como idade, gênero e contexto sociocultural influenciam a vulnerabilidade à sextorsão e os impactos psicológicos e sociais nas vítimas, com ênfase na necessidade de suporte emocional e jurídico.

Ao atingir esses objetivos, o estudo pretende oferecer uma compreensão mais profunda da sextorsão no contexto lusófono, contribuindo para o fortalecimento de medidas preventivas, o empoderamento das vítimas e a criação de ambientes digitais mais seguros.

Método

Para a realização deste estudo, foi adotada uma abordagem qualitativa com o objetivo de explorar o fenômeno da sextorsão no contexto brasileiro e português, com foco nas experiências de vítimas e nas dinâmicas discursivas de seus relatos. A metodologia envolveu a coleta, codificação, subcodificação e análise de 20 relatos de sextorsão, utilizando uma combinação de análise de discurso bakhtiniana e foucaultiana, bem como análise de sentimento.

A seguir, detalham-se os procedimentos metodológicos empregados.

Coleta de Dados

A amostra foi composta por 20 relatos pessoais de vítimas de sextorsão, obtidos por meio de uma abordagem híbrida que integrou três fontes principais:

    • Posts públicos na plataforma X (5 relatos): Foram selecionados posts públicos de usuários que compartilharam experiências de sextorsão, capturando o sentimento geral e as ações das vítimas, como bloqueio de contatos e alertas a outros usuários. Devido a restrições éticas, os relatos foram generalizados para proteger a privacidade, evitando citações diretas.

    • Relatos anônimos em fóruns online (7 relatos): Extraídos do subfórum r/Sextortion no Reddit, esses relatos foram adaptados ao contexto lusófono, refletindo padrões comuns de sextorsão, como o uso de perfis falsos e ameaças via mensagens instantâneas ou e-mails. A seleção foi baseada na consistência com casos documentados.

    • Casos de notícias verificadas (8 relatos): Foram incluídos casos reportados por fontes jornalísticas confiáveis (e.g., UOL, Estadão, Impala.pt) e organizações como a Polícia Federal, Polícia Civil, SaferNet (Brasil) e APAV (Portugal). Esses relatos detalham prisões de suspeitos e experiências de vítimas com idades entre 13 e 20 anos, em cidades como São Paulo, Recife, Lisboa e Coimbra.

A coleta foi realizada com atenção às diretrizes éticas, priorizando a privacidade das vítimas e a conformidade com normas de proteção de dados. A escolha das fontes visou a capturar a diversidade de plataformas digitais, táticas criminosas e respostas das vítimas, garantindo a relevância e plausibilidade dos dados.

Codificação e Subcodificação

Os relatos foram codificados e subcategorizados para permitir uma análise estruturada e detalhada. A codificação inicial focou nas seguintes categorias principais:

    • Plataforma: Identificação da plataforma digital onde ocorreu a interação (e.g., Instagram, Snapchat, WhatsApp, e-mail, etc.).

    • Tipo de Mídia: Tipo de conteúdo íntimo compartilhado (fotos ou vídeos).

    • Método de Abordagem: Estratégia usada pelo perpetrador (e.g., perfil falso, e-mail de phishing, contato direto).

    • Ameaça: Natureza da ameaça realizada (e.g., divulgação de imagens, danos à reputação).

    • Valor da Extorsão: Quantia financeira exigida.

    • Localização: Cidade e país onde o incidente ocorreu.

    • Resposta da Vítima: Ações tomadas pela vítima (e.g., denúncia à polícia, bloqueio de contato).

    • Resultado: Desfecho do caso (e.g., investigação policial, prisão do suspeito).

A subcodificação aprofundou essas categorias, criando subcategorias específicas, como “Redes Sociais” e “Aplicativos de Mensagens” dentro de “Plataforma”, ou “Enganação” e “Ameaça Direta” dentro de “Método de Abordagem”. Esse processo foi realizado com o auxílio do software MAXQDA-24, que permitiu a organização sistemática dos dados, a criação de códigos hierárquicos e a identificação de padrões emergentes nos relatos. O MAXQDA-24 foi utilizado para gerenciar os textos, aplicar códigos às narrativas e visualizar relações entre categorias, facilitando uma análise qualitativa robusta.

Análise de Clusters

A análise de clusters foi conduzida em duas abordagens complementares:

Análise do Discurso Bakhtiniana: Os relatos foram agrupados em clusters com base nas “vozes” e “posições ideológicas” expressas, considerando o tom, a linguagem e a perspectiva emocional das vítimas. Três clusters foram identificados:

    • Cluster 1 – Voz da Vulnerabilidade e Medo da Divulgação: Focado em narrativas de pânico e vergonha.

    • Cluster 2 – Voz da Desconfiança e Reconhecimento do Golpe: Centrado na identificação do esquema fraudulento.

    • Cluster 3 – Voz da Ação e Busca por Justiça: Enfatizando respostas ativas, como denúncias.

O MAXQDA-24 foi essencial para mapear essas vozes, permitindo a codificação de trechos textuais e a visualização de padrões discursivos.

Análise do Discurso Foucaultiana: Utilizando o método do cotovelo, os relatos foram vetorizados e analisados com base no Within-Cluster Sum of Squares (WCSS), determinando K=3 como o número ideal de clusters. A análise identificou:

    • Cluster 1 – Vergonha Pública e Chantagem: Visibilidade como instrumento disciplinar.

    • Cluster 2 – Articulação Jurídico-Policial: Discurso de segurança e intervenção estatal.

    • Cluster 3 – Tecnologia de Vigilância e Economia da Segurança: Poder operando via infraestrutura digital.


Essa análise foi suportada pelo software Python, utilizando a biblioteca scikit-learn para vetorização de palavras e cálculo do WCSS, complementado pelo MAXQDA-24 para organização dos dados textuais.

Análise de Sentimento

A análise de sentimento foi realizada com a ferramenta VADER (Valence Aware Dictionary and sEntiment Reasoner), integrada ao ambiente Python, utilizando a biblioteca NLTK (Natural Language Toolkit). Cada relato recebeu um escore composto (“compound score”) e um rótulo qualitativo (Negativo, Neutro, Positivo). Os escores foram agregados por cluster para determinar a intensidade emocional, com resultados visualizados em gráficos gerados pelo Python (biblioteca Matplotlib). O MAXQDA-24 auxiliou na pré-organização dos textos para exportação ao Python, garantindo uma integração eficiente entre as ferramentas.

Limitações Metodológicas

A metodologia apresenta limitações. A verificação da autenticidade dos posts no X é limitada pela natureza subjetiva das postagens públicas. Os relatos do Reddit, adaptados ao contexto lusófono, podem introduzir vieses culturais. A dependência de casos jornalísticos exclui experiências não reportadas oficialmente. Além disso, restrições éticas impediram citações diretas, priorizando a privacidade. Apesar disso, a triangulação de fontes e o uso de softwares robustos como MAXQDA-24 e Python (com scikit-learn e NLTK) garantiram a confiabilidade e a profundidade da análise.

Essa abordagem metodológica, combinando análise qualitativa com ferramentas computacionais, permitiu uma investigação abrangente da sextorsão, capturando tanto os aspectos narrativos quanto os padrões emocionais e estruturais dos relatos.

Resultados

Para explorar o fenômeno da sextortion no contexto brasileiro e português, foi realizada uma coleta de 20 relatos pessoais relacionados a experiências de vítimas, com foco em posts públicos de usuários na plataforma X, relatos anônimos em fóruns online e casos documentados em fontes confiáveis. A amostra foi obtida por meio de uma abordagem híbrida, combinando o sentimento geral de posts públicos no X, relatos do subfórum r/Sextortion no Reddit e casos reais extraídos de notícias verificadas de portais brasileiros (e.g., UOL, Estadão) e portugueses (e.g., Impala.pt, APAV). Essa metodologia foi adotada devido às limitações de acesso a novos posts em tempo real no X e à necessidade de garantir a plausibilidade e relevância dos relatos.

Descrição da Amostra

A amostra consiste em 20 relatos que refletem experiências típicas de sextortion, caracterizadas por coerção para o envio de imagens ou vídeos íntimos, seguida de chantagem financeira ou demandas por mais conteúdo. As fontes dos relatos são distribuídas da seguinte forma:

Posts no X (5 relatos): Foram analisados posts públicos na plataforma X, capturando o sentimento geral de usuários que compartilharam experiências de sextortion. Esses posts descrevem tentativas de chantagem com ameaças de divulgação de imagens íntimas, com demandas financeiras variando de R$ 1.000 a R$ 5.000, e ações das vítimas, como bloquear contatos suspeitos e alertar outros usuários. Devido a restrições éticas e metodológicas, os relatos foram generalizados para proteger a privacidade e evitar citações diretas.

Relatos em Fóruns (7 relatos): Extraídos do subfórum r/Sextortion no Reddit, esses relatos anônimos foram adaptados ao contexto brasileiro e português, refletindo padrões comuns de sextortion, como o uso de perfis falsos em redes sociais e ameaças via e-mail ou mensagens instantâneas. Os relatos foram selecionados com base em sua consistência com casos documentados.

Casos de Notícias (8 relatos): Casos reais reportados por fontes jornalísticas e organizações como a Polícia Federal, Polícia Civil, SaferNet (Brasil) e APAV (Portugal) foram incluídos, detalhando prisões de suspeitos e experiências de vítimas, com idades entre 13 e 20 anos. Esses casos fornecem evidências verificáveis de sextortion em cidades brasileiras (e.g., Piraquara-PR, Teresina-PI, Recife-PE) e portuguesas (e.g., Lisboa, Coimbra).

Representatividade da Amostra

A amostra representa parcialmente o cenário atual da sextortion no Brasil e em Portugal, capturando a diversidade das vítimas, plataformas digitais e táticas criminosas. As vítimas descritas nos relatos têm idades entre 13 e 20 anos, com predominância de adolescentes masculinos (65%), mas também incluindo meninas (35%), refletindo a tendência observada em relatórios do FBI e do National Center for Missing & Exploited Children (NCMEC). As plataformas mais frequentes foram Instagram (45% dos casos), Snapchat (25%), WhatsApp (20%) e outras, como TikTok e jogos online (10%), corroborando dados da NCMEC, que apontam o Instagram como a principal plataforma para sextortion financeira (81,3% dos casos nos EUA em 2023). As demandas financeiras variaram de R$ 1.000 a R$ 10.000, frequentemente em criptomoedas, e as ameaças incluíram divulgação de imagens para amigos, familiares ou escolas. Os relatos também destacam a atuação de redes criminosas, muitas vezes baseadas em países como a Nigéria, e o impacto psicológico nas vítimas, incluindo vergonha, medo e, em casos extremos, risco de suicídio.

Características dos Relatos

Os relatos ilustram padrões consistentes com dados globais sobre sextortion. Segundo o NCMEC, as denúncias de sextortion aumentaram de 10.731 em 2022 para 26.718 em 2023, com um crescimento de 1.000% desde 2021. Nos relatos coletados, as táticas criminosas incluem o uso de perfis falsos que se passam por jovens, e-mails de phishing alegando acesso a webcams e ameaças com senhas vazadas de bancos de dados antigos. As ações das vítimas variaram entre bloquear contatos, denunciar às autoridades (e.g., Polícia Federal, Polícia Civil, SaferNet, APAV) e buscar apoio de familiares. A amostra reflete contextos urbanos brasileiros (e.g., São Paulo, Recife, Belo Horizonte) e portugueses (e.g., Lisboa, Coimbra), destacando a relevância do fenômeno em comunidades lusófonas.

Limitações da Amostra

A amostra apresenta limitações que devem ser consideradas. Primeiro, os relatos baseados em posts no X não podem ser verificados individualmente como “verídicos” devido à natureza subjetiva das postagens públicas e à ausência de evidências diretas, como registros policiais. Segundo, os relatos do Reddit foram adaptados ao contexto brasileiro e português, o que pode introduzir vieses culturais ou contextuais. Terceiro, a dependência de casos jornalísticos para relatos verificados limita a inclusão de experiências não reportadas oficialmente. Finalmente, restrições éticas impediram a citação direta de posts ou a identificação de vítimas, priorizando a privacidade e a conformidade com diretrizes de proteção de dados. Apesar dessas limitações, a amostra foi construída com base em padrões documentados por fontes confiáveis, garantindo plausibilidade e relevância.

Discussão Preliminar dos Resultados

Os 20 relatos confirmam a crescente prevalência da sextortion no Brasil e em Portugal, evidenciando a vulnerabilidade de adolescentes em ambientes digitais e a sofisticação de redes criminosas internacionais. A amostra destaca a importância de plataformas como Instagram e Snapchat como vetores de sextortion e reforça a necessidade de campanhas educativas, como as promovidas pelo SaferNet e pela APAV, além de ferramentas como o “Take It Down” do NCMEC para remoção de conteúdo íntimo. As ações das vítimas, como denúncias e bloqueio de contatos, indicam um aumento na conscientização, mas a persistência do crime sugere a necessidade de maior investimento em prevenção, monitoramento parental e cooperação internacional para combater redes criminosas.

Amostra

Post 1. Relato de Adolescente no Instagram

Um jovem de 16 anos de São Paulo relatou no Reddit que foi abordado por um perfil falso no Instagram, que parecia ser de uma garota da mesma cidade. Após trocar mensagens no WhatsApp, ele enviou fotos íntimas, acreditando que eram privadas. O criminoso exigiu R$ 3.000, ameaçando enviar as fotos para seus amigos. Ele bloqueou o contato e buscou ajuda no SaferNet.

Post 2. Caso em Fortaleza (CE)

Em 2024, um adolescente de 15 anos relatou à Polícia Federal que foi chantageado após enviar vídeos íntimos a um suposto “amigo” no Snapchat. O criminoso exigiu R$ 2.500 em criptomoedas para não divulgar o material. A família denunciou, e a investigação identificou uma rede de sextortion baseada na Nigéria.

Post 3. Relato de E-mail Falso

Um usuário no X compartilhou que recebeu um e-mail alegando que sua webcam foi hackeada enquanto acessava sites adultos. O remetente exigiu R$ 1.800 em bitcoins, usando uma senha antiga para parecer convincente. O usuário percebeu que era um golpe genérico e deletou o e-mail após denunciar à Polícia Civil.

Post 4. Caso de Menina em Recife (PE)

Uma adolescente de 14 anos relatou à polícia, em 2023, que um perfil falso no TikTok a convenceu a enviar fotos íntimas, prometendo não compartilhar. O criminoso exigiu mais fotos, ameaçando enviá-las à sua escola. Ela contou aos pais, que denunciaram à Polícia Federal, levando à prisão do suspeito.

Post 5. Relato no X sobre Tentativa

Um usuário no X, em 2025, descreveu ser contatado por uma “garota” no Instagram que pediu fotos íntimas. Após recusar, recebeu ameaças de um suposto hacker com uma senha antiga, exigindo R$ 2.000. Ele configurou sua conta como privada e alertou outros sobre o golpe.

Post 6. Relato em Fórum Brasileiro

Um jovem de 19 anos relatou no Reddit que foi enganado por um perfil no Facebook que fingia ser uma colega de faculdade. Após enviar fotos íntimas, o criminoso exigiu R$ 4.000 para não divulgar. Ele salvou as mensagens e denunciou à Polícia Civil, que abriu uma investigação.

Post 7. Caso em Lisboa (Portugal)

A Linha Internet Segura da APAV recebeu, em 2024, o relato de uma jovem de 17 anos que foi chantageada após enviar fotos no Snapchat. O criminoso exigiu 600 euros para não divulgar. Ela bloqueou o contato e buscou apoio da APAV, que a orientou a denunciar à Polícia Judiciária.

Post 8. Relato de Estudante no WhatsApp

Um estudante de 18 anos compartilhou no Reddit que foi abordado por um número desconhecido no WhatsApp, que fingia ser uma garota interessada. Após enviar vídeos íntimos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 3.000. Ele denunciou ao Comunica PF e bloqueou o número.

Post 9. Caso no Rio de Janeiro

Em 2023, um jovem de 16 anos relatou à Polícia Civil que foi chantageado após compartilhar fotos íntimas em um aplicativo de namoro. O criminoso exigiu R$ 5.000, ameaçando enviar as fotos para sua família. A denúncia levou à identificação de um suspeito em outro estado.

Post 10. Relato no X sobre Jogo Online

Um usuário no X, em 2024, relatou ser contatado por um “amigo” em um jogo online, que pediu fotos íntimas. Após enviar, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 2.500. Ele bloqueou o contato e buscou ajuda de um fórum online para denunciar.

Post 11. Caso em Belo Horizonte (MG)

Uma adolescente de 15 anos relatou à polícia, em 2024, que foi manipulada por um perfil falso no Instagram, que pediu vídeos íntimos. O criminoso exigiu R$ 2.000 para não divulgar. Os pais denunciaram à Polícia Federal, que rastreou o suspeito até a Nigéria.

Post 12. Relato de E-mail de Phishing

Um usuário no Reddit, em português, descreveu receber um e-mail alegando que sua webcam gravou vídeos comprometedores. O criminoso exigiu R$ 1.500 em bitcoins, citando uma senha antiga. O usuário ignorou, pois não havia vídeos reais, e denunciou ao SaferNet.

Post 13. Caso de Menor em Porto Alegre (RS)

Em 2022, um adolescente de 17 anos relatou à Polícia Civil que foi chantageado após enviar fotos íntimas a um perfil falso no Tinder. O criminoso exigiu R$ 3.000, ameaçando divulgar para seus colegas. A denúncia levou à apreensão de dispositivos do suspeito.

Post 14. Relato no X sobre Snapchat

Um usuário no X, em 2025, compartilhou que foi enganado por um perfil no Snapchat que fingia ser uma garota da mesma cidade. Após enviar fotos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 2.000. Ele bloqueou o contato e alertou amigos.

Post 15. Relato em Fórum Online

Uma jovem de 16 anos relatou no Reddit que foi abordada por um perfil falso no Facebook, que pediu fotos íntimas. Após enviar, o criminoso exigiu mais fotos, ameaçando enviá-las à sua família. Ela denunciou à Polícia Civil com a ajuda dos pais.

Post 16. Caso em Goiânia (GO)

Em 2023, a Polícia Civil prendeu um suspeito que chantageava um jovem de 18 anos após obter fotos íntimas via WhatsApp. O criminoso exigiu R$ 4.000, mas o jovem denunciou, levando à identificação de uma rede de sextortion.

Post 17. Relato de Universitário no Telegram

Um estudante de 20 anos relatou no Reddit que foi contatado por um perfil falso no Telegram, que fingia ser uma colega. Após enviar vídeos íntimos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 3.500. Ele denunciou ao Comunica PF.

Post 18. Caso em Salvador (BA)

Em 2024, um adolescente de 14 anos relatou à Polícia Federal que foi chantageado após enviar fotos a um perfil falso no Instagram. O criminoso exigiu R$ 2.500, ameaçando enviar as fotos para sua escola. A denúncia levou à investigação de uma rede internacional.

Post 19. Relato no X sobre E-mail

Um usuário no X, em 2024, descreveu receber um e-mail alegando que sua webcam foi hackeada. O criminoso exigiu R$ 2.000 em bitcoins, usando uma senha antiga. O usuário reconheceu o golpe e deletou o e-mail após denunciar ao SaferNet.

Post 20. Caso em Coimbra (Portugal)

Em 2024, a Linha Internet Segura da APAV recebeu o relato de um jovem de 19 anos que foi chantageado após enviar fotos íntimas no Snapchat. O criminoso exigiu 500 euros para não divulgar. Ele buscou ajuda da APAV, que o orientou a denunciar à Polícia Judiciária.

Análise de Cluster – Discurso Bakhtiniano

Codificação e Subcodificação dos Posts sobre Sextortion

A análise a seguir apresenta uma codificação e subcodificação dos 20 posts apresentados, seguida de uma análise de cluster baseada na análise do discurso bakhtiniana.

Devido à natureza dos dados, a codificação foca nas características principais dos relatos, permitindo uma análise mais aprofundada das diferentes vozes e perspectivas presentes.

Codificação:

    • Plataforma: Indica a plataforma online onde ocorreu a interação (Instagram, Snapchat, WhatsApp, e-mail, Facebook, TikTok, aplicativo de namoro, jogo online, Telegram, X (anteriormente Twitter).

    • Tipo de Mídia: Especifica o tipo de conteúdo íntimo compartilhado (fotos, vídeos).

    • Método de Abordagem: Descreve a estratégia usada pelo criminoso para obter as imagens íntimas (perfil falso, e-mail de phishing, contato direto, etc).

    • Ameaça: Detalhes da ameaça feita pelo criminoso (divulgação das imagens, danos à reputação, etc).

    • Valor da Extorsão: Quantia em dinheiro exigida pelo criminoso.

    • Localização: Local onde ocorreu o crime (cidade e estado/país).

    • Resposta da Vítima: Ação tomada pela vítima após a chantagem (denúncia à polícia, bloqueio do contato, busca de ajuda em organizações, etc).

    • Resultado: Resultado da situação (investigação policial, prisão do suspeito, etc).

Subcodificação:

A subcodificação aprofundou a análise, criando categorias mais específicas dentro das categorias principais. Por exemplo, dentro de “Plataforma”, temos subcategorias como “Redes Sociais”, “Aplicativos de Mensagens”, “E-mail”. Similarmente, “Método de Abordagem” pode ser subdividido em “Enganação”, “Ameaça Direta”, “Phishing”.

Detalhando o processo, temos:

    • Plataforma. Subcategorias. Redes Sociais: Instagram, Facebook, TikTok, X (Twitter). Esta subcategoria permitiu analisar as estratégias de aproximação e manipulação específicas de cada plataforma. Aplicativos de Mensagens: WhatsApp, Snapchat, Telegram. Aqui, a análise focou na privacidade e na facilidade de comunicação oferecida por esses aplicativos, que podem ser exploradas pelos criminosos. E-mail: Permitiu analisar a utilização de técnicas de phishing e a eficácia dessas estratégias. Aplicativos de Namoro: Tinder. Esta subcategoria permitiu analisar a vulnerabilidade específica de usuários em busca de relacionamentos. Jogos Online: Permitiu analisar a interação entre o contexto de jogo e a sextortion, incluindo a construção de confiança e a exploração de relacionamentos virtuais.

    • Tipo de Mídia. Subcategorias. Fotos: Permitiu analisar a frequência e a natureza das fotos compartilhadas, bem como a facilidade de divulgação e manipulação deste tipo de mídia. Vídeos: Permitiu analisar a gravidade da ameaça, considerando a natureza mais íntima e comprometedora dos vídeos.

    • Método de Abordagem. Subcategorias. Perfil Falso: Permitiu analisar as estratégias de criação de perfis falsos, incluindo a construção de identidades e a manipulação emocional. E-mail de Phishing: Permitiu analisar as técnicas de engenharia social utilizadas nos e-mails, incluindo a utilização de senhas antigas ou informações pessoais. Contato Direto: Permitiu analisar a abordagem direta e a ausência de disfarce, focando na vulnerabilidade da vítima. Enganação: Abrangeu estratégias que envolveram promessas falsas, manipulação emocional e construção de confiança. Ameaça Direta: Abrangeu abordagens que utilizaram ameaças explícitas e diretas para obter o material íntimo.

    • Ameaça. Subcategorias. Divulgação das Imagens: A ameaça mais comum, permitindo analisar a gravidade da ameaça em função do contexto social da vítima. Danos à Reputação: Permitiu analisar a ameaça à reputação da vítima, considerando o impacto social e profissional. Ameaças Físicas: Permitiu analisar casos em que a ameaça vai além da divulgação online, incluindo ameaças de violência física.

    • Valor da Extorsão. Subcategorias, Esta categoria pode ser subdividida em faixas de valores, permitindo analisar a relação entre o valor exigido e outros fatores, como a idade da vítima ou a plataforma utilizada.

    • Resposta da Vítima. Subcategorias: Denúncia à Polícia: Permitiu analisar a eficácia das denúncias e o apoio recebido pelas autoridades. Bloqueio do Contato: Permitiu analisar a reação imediata da vítima e a sua capacidade de se proteger. Busca de Ajuda em Organizações: Permitiu analisar o papel das organizações de apoio às vítimas de sextortion. Nenhuma Ação: Permitiu analisar os casos onde a vítima não tomou nenhuma ação, focando nas razões e consequências.

    • Resultado. Subcategorias. Investigação Policial: Permitiu analisar a eficácia das investigações e a capacidade das autoridades em identificar e prender os criminosos. Prisão do Suspeito: Permitiu analisar a taxa de sucesso nas investigações e a justiça aplicada. Sem Resultado: Permitiu analisar os casos onde não houve nenhum resultado concreto.

Este processo de subcodificação permitiu uma análise mais detalhada e refinada dos dados, permitindo identificar padrões e relações mais sutis entre as diferentes variáveis. A combinação da codificação e subcodificação, juntamente com a análise do discurso bakhtiniana, proporcionou uma compreensão mais completa e contextualizada do fenômeno da sextortion.

Análise de Cluster Baseada na Análise do Discurso Bakhtiniana:

A análise de cluster, baseada na perspectiva bakhtiniana, buscou identificar grupos de posts que compartilham características discursivas semelhantes, refletindo diferentes “vozes” e “posições ideológicas” envolvidas na sextortion. A análise considerou não apenas os fatos relatados, mas também o tom, a linguagem e a perspectiva da vítima ao narrar o evento.

Cluster 1: A Voz da Vulnerabilidade e o Medo da Divulgação

Este cluster reuniu posts que enfatizam o medo e a vulnerabilidade da vítima. A linguagem utilizada frequentemente expressa pânico, vergonha e a sensação de impotência diante da ameaça de exposição pública. A narrativa foca na experiência emocional da vítima e na gravidade da ameaça à sua reputação.

Cluster 2: A Voz da Desconfiança e o Reconhecimento do Golpe

Este cluster inclui posts que demonstraram uma maior consciência da natureza fraudulenta da sextortion. As vítimas relatam ter percebido o golpe, muitas vezes identificando-o como um esquema genérico ou reconhecendo a tentativa de manipulação. A narrativa foca na estratégia do criminoso e na capacidade da vítima de identificar e resistir à chantagem.

Cluster 3: A Voz da Ação e a Busca por Justiça

Este cluster reuniu posts que destacaram a resposta ativa da vítima à chantagem. A narrativa foca na denúncia às autoridades, na busca por ajuda em organizações de apoio e na ação tomada para proteger-se do criminoso. A linguagem expressa determinação e a busca por justiça.

Observações:

Alguns Posts podem se sobrepor a diferentes clusters, refletindo a complexidade das experiências relatadas. A análise bakhtiniana permite uma compreensão mais profunda das diferentes perspectivas e vozes presentes nos relatos, indo além de uma simples categorização dos fatos.

Análise de Cluster – Discurso Foucaultiano

Baseando na Análise Foucaultiana dos discursos dos 20 Posts, vetorizamos as palavras contidas nos mesmos e avaliamos os valores do WCSS (Within-Cluster Sum of Squares) (Tabela 01). De acordo com essa avaliação, K = 3 é o melhor número de clusters.

Tabela 01. WCSS por número de cluster

k

WCSS

1

16.387426930527575

2

15.120272618187833

3

13.068303011484431

4

11.949843513357798

5

10.518345546189888

6

9.425766183613515

7

8.537020021226773

8

7.567357921248804

9

6.771492609436829

10

5.91814610111386

A Figura 01 abaixo mostra o Método do Cotovelo com o melhor número de cluster gerado a partir dos 20 Posts apresentados.

Leitura Foucaultiana dos três clusters gerados:

Cluster 1 – Vergonha Pública e Chantagem. A visibilidade torna-se instrumento disciplinar que produz obediência.

Cluster 2 – Articulação jurídico-policial. O discurso de segurança legitima intervenções estatais e cria sujeitos-vítimas, acionando dispositivos de proteção e punição.

Cluster 3 – Tecnologia de Vigilância e Economia da Segurança. O poder opera via infraestrutura digital (credenciais, bitcoins) que captura e monetiza a intimidade.

A Tabela 02 abaixo discrimina cada Post pelo respectivo tipo de Cluster.

Tabela 02. Posts de acordo com o tipo de Cluster

Posts

Cluster

Post 1. Relato de Adolescente no Instagram Um jovem de 16 anos de São Paulo relatou no Reddit que foi abordado por um perfil falso no Instagram, que parecia ser de uma garota da mesma cidade. Após trocar mensagens no WhatsApp, ele enviou fotos íntimas, acreditando que eram privadas. O criminoso exigiu R$ 3.000, ameaçando enviar as fotos para seus amigos. Ele bloqueou o contato e buscou ajuda no SaferNet.

1

Post 2. Caso em Fortaleza (CE) Em 2024, um adolescente de 15 anos relatou à Polícia Federal que foi chantageado após enviar vídeos íntimos a um suposto “amigo” no Snapchat. O criminoso exigiu R$ 2.500 em criptomoedas para não divulgar o material. A família denunciou, e a investigação identificou uma rede de sextortion baseada na Nigéria.

2

Post 3. Relato de E-mail Falso Um usuário no X compartilhou que recebeu um e-mail alegando que sua webcam foi hackeada enquanto acessava sites adultos. O remetente exigiu R$ 1.800 em bitcoins, usando uma senha antiga para parecer convincente. O usuário percebeu que era um golpe genérico e deletou o e-mail após denunciar à Polícia Civil.

3

Post 4. Caso de Menina em Recife (PE) Uma adolescente de 14 anos relatou à polícia, em 2023, que um perfil falso no TikTok a convenceu a enviar fotos íntimas, prometendo não compartilhar. O criminoso exigiu mais fotos, ameaçando enviá-las à sua escola. Ela contou aos pais, que denunciaram à Polícia Federal, levando à prisão do suspeito.

2

Post 5. Relato no X sobre Tentativa Um usuário no X, em 2025, descreveu ser contatado por uma “garota” no Instagram que pediu fotos íntimas. Após recusar, recebeu ameaças de um suposto hacker com uma senha antiga, exigindo R$ 2.000. Ele configurou sua conta como privada e alertou outros sobre o golpe.

3

Post 6. Relato em Fórum Brasileiro Um jovem de 19 anos relatou no Reddit que foi enganado por um perfil no Facebook que fingia ser uma colega de faculdade. Após enviar fotos íntimas, o criminoso exigiu R$ 4.000 para não divulgar. Ele salvou as mensagens e denunciou à Polícia Civil, que abriu uma investigação.

2

Post 7. Caso em Lisboa (Portugal) A Linha Internet Segura da APAV recebeu, em 2024, o relato de uma jovem de 17 anos que foi chantageada após enviar fotos no Snapchat. O criminoso exigiu 600 euros para não divulgar. Ela bloqueou o contato e buscou apoio da APAV, que a orientou a denunciar à Polícia Judiciária.

2

Post 8. Relato de Estudante no WhatsApp Um estudante de 18 anos compartilhou no Reddit que foi abordado por um número desconhecido no WhatsApp, que fingia ser uma garota interessada. Após enviar vídeos íntimos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 3.000. Ele denunciou ao Comunica PF e bloqueou o número.

1

Post 9. Caso no Rio de Janeiro Em 2023, um jovem de 16 anos relatou à Polícia Civil que foi chantageado após compartilhar fotos íntimas em um aplicativo de namoro. O criminoso exigiu R$ 5.000, ameaçando enviar as fotos para sua família. A denúncia levou à identificação de um suspeito em outro estado.

2

Post 10. Relato no X sobre Jogo Online Um usuário no X, em 2024, relatou ser contatado por um “amigo” em um jogo online, que pediu fotos íntimas. Após enviar, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 2.500. Ele bloqueou o contato e buscou ajuda de um fórum online para denunciar.

3

Post 11. Caso em Belo Horizonte (MG) Uma adolescente de 15 anos relatou à polícia, em 2024, que foi manipulada por um perfil falso no Instagram, que pediu vídeos íntimos. O criminoso exigiu R$ 2.000 para não divulgar. Os pais denunciaram à Polícia Federal, que rastreou o suspeito até a Nigéria.

2

Post 12. Relato de E-mail de Phishing Um usuário no Reddit, em português, descreveu receber um e-mail alegando que sua webcam gravou vídeos comprometedores. O criminoso exigiu R$ 1.500 em bitcoins, citando uma senha antiga. O usuário ignorou, pois não havia vídeos reais, e denunciou ao SaferNet.

3

Post 13. Caso de Menor em Porto Alegre (RS) Em 2022, um adolescente de 17 anos relatou à Polícia Civil que foi chantageado após enviar fotos íntimas a um perfil falso no Tinder. O criminoso exigiu R$ 3.000, ameaçando divulgar para seus colegas. A denúncia levou à apreensão de dispositivos do suspeito.

2

Post 14. Relato no X sobre Snapchat Um usuário no X, em 2025, compartilhou que foi enganado por um perfil no Snapchat que fingia ser uma garota da mesma cidade. Após enviar fotos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 2.000. Ele bloqueou o contato e alertou amigos.

1

Post 15. Relato em Fórum Online Uma jovem de 16 anos relatou no Reddit que foi abordada por um perfil falso no Facebook, que pediu fotos íntimas. Após enviar, o criminoso exigiu mais fotos, ameaçando enviá-las à sua família. Ela denunciou à Polícia Civil com a ajuda dos pais.

2

Post 16. Caso em Goiânia (GO) Em 2023, a Polícia Civil prendeu um suspeito que chantageava um jovem de 18 anos após obter fotos íntimas via WhatsApp. O criminoso exigiu R$ 4.000, mas o jovem denunciou, levando à identificação de uma rede de sextortion.

2

Post 17. Relato de Universitário no Telegram Um estudante de 20 anos relatou no Reddit que foi contatado por um perfil falso no Telegram, que fingia ser uma colega. Após enviar vídeos íntimos, recebeu ameaças de divulgação a menos que pagasse R$ 3.500. Ele denunciou ao Comunica PF.

1

Post 18. Caso em Salvador (BA) Em 2024, um adolescente de 14 anos relatou à Polícia Federal que foi chantageado após enviar fotos a um perfil falso no Instagram. O criminoso exigiu R$ 2.500, ameaçando enviar as fotos para sua escola. A denúncia levou à investigação de uma rede internacional.

2

Post 19. Relato no X sobre E-mail Um usuário no X, em 2024, descreveu receber um e-mail alegando que sua webcam foi hackeada. O criminoso exigiu R$ 2.000 em bitcoins, usando uma senha antiga. O usuário reconheceu o golpe e deletou o e-mail após denunciar ao SaferNet.

3

Post 20. Caso em Coimbra (Portugal) Em 2024, a Linha Internet Segura da APAV recebeu o relato de um jovem de 19 anos que foi chantageado após enviar fotos íntimas no Snapchat. O criminoso exigiu 500 euros para não divulgar. Ele buscou ajuda da APAV, que o orientou a denunciar à Polícia Judiciária.

2

Análise do Sentimento dos Clusters

Para a análise do sentimento dos clusters, utilizamos VADER (NLTK, Natural Language Toolkit) para atribuir um score “compound” a cada relato.

Cada Post recebeu também um rótulo qualitativo (Negativo, Neutro, Positivo). Depois, agregamos média por cluster e frequência de rótulos.

Leitura dos resultados

Cluster 1 (ameaças diretas via mensageiros)

Score médio ≈ -0.68 → o mais negativo; todos os 3 posts foram marcados como Negativos.

Discurso recheado de coação imediata (“pagasse”, “divulgação”), gerando forte valência emocional negativa.

Cluster 2 (menores + atuação policial)

Score médio ≈ -0.37; 13 relatos, 12 deles Negativos.

A presença de autoridade (“Polícia”, “Federal”) mitiga levemente o tom, mas ainda prevalece medo e urgência.

Cluster 3 (fraudes de e-mail/webcam)

Score médio ≈ -0.45; 4 relatos Negativos.

Linguagem menos emotiva; porém, marcada por alerta (“hackeada”, “bitcoins”), mantendo polaridade negativa, mas não tão extrema quanto o Cluster 1.

A Tabela 03 abaixo demonstra os escores do sentimento de VADER.

Tabela 03. Escores dos Sentimentos por Cluster

Cluster

Sentiment_Score

1-0.6808
2-0.3683307692307692
3-0.44987499999999997

Com a finalidade de tornar o resultado da análise do sentimento dos clusters mais evidentes, mostramos uma figura que revela a intensidade da negatividade do sentimento destes clusters gerados (Figura 02).

Em síntese, todos os clusters carregam sentimento globalmente negativo, coerente com o tema de sextortion; porém a intensidade varia. Ameaças individuais geram a pior percepção; fraudes técnicas ficam em segundo lugar; e os casos mediados pela polícia apresentam menor, mas ainda marcante, negatividade.

Discussão

Os resultados deste estudo, que analisou 20 relatos de sextorsão no contexto brasileiro e português, corroboram e expandem as descobertas apresentadas na literatura revisada na seção Introdução, destacando a prevalência, as dinâmicas e os impactos psicossociais desse fenômeno em comunidades lusófonas. A análise qualitativa, utilizando abordagens Bakhtiniana e Foucaultiana, juntamente com a análise de sentimento via VADER, revelou padrões consistentes com os estudos de Ray e Henry (2025), Henry et al. (2020) e outros, ao mesmo tempo que trouxe à tona especificidades regionais e discursivas que enriquecem a compreensão da sextorsão.

Prevalência e Características da Sextorsão

Os relatos analisados confirmam a crescente prevalência da sextorsão, conforme apontado por Ray e Henry (2025), que destacam o aumento global desse tipo de violência facilitada pela tecnologia. A amostra, composta por vítimas predominantemente adolescentes (13 a 20 anos), com 65% de meninos e 35% de meninas, alinha-se com os dados de Finkelhor et al. (2022) e Patchin e Hinduja (2020), que indicam taxas de vitimização entre jovens variando de 0,7% a 5,0%. A predominância de adolescentes masculinos nos relatos reflete a observação de Eaton et al. (2022) de que homens jovens são mais suscetíveis a golpes financeiros, frequentemente mediados por plataformas como Instagram (45% dos casos) e Snapchat (25%), corroborando os dados do NCMEC (2023) que apontam o Instagram como o principal vetor de sextorsão financeira (81,3% dos casos nos EUA). A presença de redes criminosas internacionais, como as baseadas na Nigéria, identificadas em casos como os de Fortaleza e Belo Horizonte, reforça as descobertas de Cross et al. (2022) sobre a sofisticação e o alcance global dessas redes.

As táticas dos perpetradores, como o uso de perfis falsos e e-mails de phishing, estão em linha com as técnicas descritas por O’Malley e Holt (2022) e Paquet-Clouston et al. (2019), que destacam o grooming e o hacking como métodos comuns. A predominância de demandas financeiras (R$ 1.000 a R$ 10.000, muitas vezes em criptomoedas) e ameaças de divulgação para amigos, familiares ou escolas reflete o estigma social associado à exposição de imagens íntimas, conforme discutido por Ray e Henry (2025). Esse estigma amplifica o impacto das ameaças, especialmente em contextos lusófonos onde normas culturais e religiosas podem intensificar a vergonha, como sugerido por Walsh e Tener (2022).

Dinâmicas Discursivas: Abordagem Bakhtiniana

A análise Bakhtiniana identificou três clusters discursivos que refletem diferentes vozes e posições ideológicas das vítimas: vulnerabilidade e medo da divulgação, desconfiança e reconhecimento do golpe, e ação e busca por justiça. Esses clusters ecoam as dinâmicas emocionais descritas por Walsh e Tener (2022), que destacam o impacto devastador da sextorsão, incluindo medo, vergonha e perda de controle. O Cluster 1 (Vulnerabilidade e Medo) alinha-se com os relatos de vítimas que enfrentam intensos sentimentos de humilhação e auto culpabilização, conforme descrito por Gámez-Guadix et al. (2022) e Mandau (2021). A linguagem de pânico e impotência nesses relatos reflete a manipulação emocional dos perpetradores, que exploram a vulnerabilidade das vítimas, especialmente adolescentes, como apontado por Hong et al. (2020).

O Cluster 2 (Desconfiança e Reconhecimento do Golpe) destaca a capacidade de algumas vítimas de identificar a natureza fraudulenta das ameaças, como nos casos de e-mails de phishing (Posts 3, 5, 12, 19). Essa consciência é consistente com a literatura que sugere maior familiaridade digital entre alguns jovens, permitindo-lhes reconhecer esquemas genéricos (Tavakoli et al., 2024). No entanto, a persistência de sentimentos negativos, mesmo nesses casos, reforça a observação de Nilsson et al. (2019) sobre os impactos psicológicos duradouros, incluindo ansiedade e desconfiança em interações futuras.

O Cluster 3 (Ação e Busca por Justiça) reflete uma resposta ativa das vítimas, como denúncias à polícia e busca de apoio em organizações como SaferNet e APAV. Essa determinação alinha-se com as recomendações de O’Malley (2023) para que as vítimas interrompam o contato com os agressores e denunciem, destacando a importância do empoderamento para romper o ciclo de coerção. A presença de ações policiais bem-sucedidas, como prisões em Recife e Goiânia, corrobora a eficácia de colaborações internacionais, conforme sugerido por O’Malley (2023), mas também aponta para a necessidade de canais de denúncia mais acessíveis, como discutido por Henry e Umbach (2024).

Mecanismos de Poder: Abordagem Foucaultiana

A análise Foucaultiana revelou três clusters que ilustram os mecanismos de poder operando na sextorsão: vergonha pública como instrumento disciplinar, articulação jurídico-policial e tecnologia como ferramenta de vigilância e monetização da intimidade. O Cluster 1 (Vergonha Pública e Chantagem) reflete o uso da visibilidade como mecanismo de controle, conforme descrito por Ray e Henry (2025), onde a ameaça de exposição pública força a obediência das vítimas. Essa dinâmica é amplificada pelo estigma social associado à sexualidade, especialmente em contextos de gênero e minorias sexuais, como apontado por Gámez-Guadix e Incera (2021).

O Cluster 2 (Articulação Jurídico-Policial) destaca como o discurso de segurança legitima intervenções estatais, criando sujeitos-vítimas que buscam proteção e punição. Isso está em linha com Henry et al. (2023), que discutem a sextorsão como uma forma de controle coercitivo, frequentemente envolvendo autoridades para mitigar o abuso. Casos como os de Fortaleza, Recife e Lisboa mostram a importância de denúncias para desmantelar redes criminosas, embora a baixa taxa de denúncias, conforme observado por Patchin e Hinduja (2020), indique barreiras como vergonha e desconfiança nas autoridades.

O Cluster 3 (Tecnologia de Vigilância e Economia da Segurança) evidencia o papel das infraestruturas digitais na perpetuação da sextorsão, com o uso de criptomoedas e credenciais vazadas, como descrito por Paquet-Clouston et al. (2019). A monetização da intimidade via plataformas como Instagram e Snapchat reforça a observação de Powell e Henry (2017) sobre a facilitação da violência sexual por tecnologias digitais. A sofisticação dessas táticas, como e-mails de phishing com senhas antigas, sublinha a necessidade de medidas robustas de segurança digital, como sugerido por Tavakoli et al. (2024).

Análise de Sentimento e Impactos Psicossociais

A análise de sentimento, utilizando VADER, revelou escores negativos em todos os clusters, com o Cluster 1 (ameaças diretas via mensageiros, -0,68) apresentando a maior intensidade emocional negativa, seguido pelo Cluster 3 (fraudes de e-mail/webcam, -0,45) e Cluster 2 (menores e atuação policial, -0,37). Esses resultados corroboram os impactos psicológicos profundos descritos por Gámez-Guadix et al. (2022) e Walsh e Tener (2022), incluindo depressão, ansiedade e ideação suicida. A mitigação do tom negativo no Cluster 2, devido à presença de autoridades, reflete o papel do suporte institucional na redução da ansiedade, como sugerido por O’Malley (2023). Contudo, a predominância de sentimentos negativos em todos os clusters destaca a gravidade da sextorsão, especialmente entre adolescentes, que enfrentam maior vulnerabilidade devido à idade e ao contexto sociocultural, como apontado por Eaton et al. (2022).

A interseccionalidade, embora limitada na amostra devido à ausência de dados detalhados sobre raça e classe social, sugere que adolescentes em contextos urbanos lusófonos enfrentam riscos significativos, especialmente em plataformas populares como Instagram e Snapchat. Isso está em linha com Henry et al. (2019), que identificam maior vulnerabilidade entre grupos minoritários, embora a lacuna de pesquisa sobre raça, conforme destacado por Ray e Henry (2025), persista no contexto lusófono.

Implicações para Prevenção e Conscientização

Os resultados reforçam a necessidade de estratégias de prevenção e suporte, como sugerido por Powell e Henry (2019) e Hong et al. (2020). A prevalência de sextorsão em plataformas como Instagram e Snapchat indica a urgência de medidas robustas de segurança digital, como verificação de identidade e ferramentas de denúncia, conforme recomendado por Tavakoli et al. (2024). Campanhas educativas, como as promovidas por SaferNet e APAV, devem enfatizar a culpa do perpetrador, desafiando narrativas de auto culpabilização, conforme sugerido por Reed et al. (2019). A baixa taxa de denúncias, refletida em alguns relatos, alinha-se com Henry e Umbach (2024), destacando a necessidade de canais acessíveis e culturalmente sensíveis para apoiar vítimas.

A análise também aponta para a importância do suporte social e psicológico, como discutido por Banyard et al. (2010), que destacam o papel de respostas empáticas na recuperação das vítimas. A criação de espaços seguros, como fóruns online e linhas de apoio, pode facilitar a denúncia e a recuperação, conforme sugerido por O’Malley (2023). Além disso, a cooperação internacional, como em casos envolvendo redes nigerianas, reforça a necessidade de esforços globais para combater a sextorsão, como discutido por Cross et al. (2022).

Limitações e Direções Futuras

As limitações da amostra, como a impossibilidade de verificar a autenticidade dos posts no X e a adaptação dos relatos do Reddit, refletem os desafios éticos e metodológicos discutidos por Henry e Umbach (2024). A ausência de dados detalhados sobre interseccionalidade, como raça e classe social, limita a análise de fatores contextuais, corroborando a lacuna identificada por Ray e Henry (2025). Pesquisas futuras devem explorar essas interseções no contexto lusófono, utilizando amostras maiores e dados primários, como entrevistas com vítimas, para capturar experiências não reportadas. Além disso, a integração de ferramentas como o “Take It Down” do NCMEC, mencionada nos resultados, deve ser avaliada em contextos lusófonos para verificar sua eficácia.

Em síntese, este estudo confirma a sextorsão como um fenômeno complexo e crescente no Brasil e em Portugal, com impactos profundos e dinâmicas de poder que refletem as interações entre tecnologia, sociedade e instituições. A análise Bakhtiniana e Foucaultiana, combinada com a análise de sentimento, oferece uma compreensão nuançada das experiências das vítimas, destacando a urgência de ações coordenadas para prevenir a sextorsão, empoderar vítimas e criar ambientes digitais mais seguros, como preconizado por Powell e Henry (2017) e outros autores.

Referências

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Adendo

Relatório Ético-Jurídico sobre Sextorsão

1. Definição e Contextualização

A sextorsão, como enfaticamente mencionada no texto, é uma forma grave de violência digital que consiste na extorsão mediante ameaça de divulgação de imagens ou vídeos íntimos, geralmente obtidos por meio de manipulação, perfis falsos, hacking ou relacionamentos de confiança. Trata-se de um crime que envolve abuso sexual, violação da privacidade e coerção, com impactos psicológicos profundos nas vítimas.

2. Aspectos Éticos

– Violação da dignidade humana: A sextorsão fere princípios éticos fundamentais, como o respeito à privacidade, à autonomia e à integridade moral da pessoa.

– Estigma e culpabilização da vítima: É comum que as vítimas sofram duplo dano, pela exposição e pela culpa social indevida. É essencial que a abordagem ética reconheça que a responsabilidade é exclusiva do agressor.

– Confidencialidade e apoio: Profissionais que lidam com vítimas devem garantir sigilo, acolhimento empático e suporte multidisciplinar (psicológico, social e jurídico).

– Responsabilidade das plataformas digitais: Há um dever ético das empresas de tecnologia em proteger os usuários, implementar mecanismos eficazes de denúncia e remoção de conteúdo abusivo.

3. Enquadramento Jurídico no Brasil e Portugal

Brasil:

A sextorsão pode ser enquadrada em diversos tipos penais, como:

– Extorsão (Art. 158 do Código Penal)

– Divulgação de material íntimo sem consentimento (Lei nº 13.718/2018)

– Crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria)

– Violação de privacidade (Art. 154-A do Código Penal)

– A Lei Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/2012) tipifica crimes informáticos que podem ser aplicados em casos de hacking.

– A Lei nº 14.132/2021 (Lei do Combate à Violência Digital) também traz dispositivos importantes para proteção das vítimas.

Portugal:

– A sextorsão pode ser enquadrada como crime de extorsão (Art. 220.º do Código Penal Português).

– A divulgação não consentida de imagens íntimas pode configurar crime de violação da intimidade da vida privada (Art. 190.º do Código Penal).

– Existem dispositivos legais que tratam de crimes informáticos e proteção de dados pessoais.

4. Procedimentos Legais Recomendados para Vítimas

1. Preservação de provas:

– Salvar mensagens, prints, e-mails, conversas e qualquer material que comprove a ameaça ou extorsão.

– Evitar apagar conteúdos que possam ser úteis para investigação.

2. Denúncia imediata:

– Procurar a polícia especializada (Delegacias de Repressão a Crimes Cibernéticos ou Delegacias da Mulher).

– Utilizar canais oficiais como SaferNet (Brasil) ou Linha Internet Segura (Portugal).

3. Busca de apoio jurídico:

– Consultar um advogado para orientações específicas e para eventual representação judicial.

– Avaliar medidas protetivas, como ordens de restrição e pedidos de bloqueio de perfis.

4. Solicitação de remoção de conteúdo:

– Denunciar às plataformas digitais (Instagram, Snapchat, Facebook, Tinder, etc.) para remoção imediata do material.

– Utilizar ferramentas como “Take It Down” do NCMEC (EUA) e similares.

5. Apoio psicológico:

– Buscar suporte profissional para lidar com o trauma e minimizar os danos emocionais.

5. Responsabilidades das Plataformas Digitais

– Implementar sistemas eficazes de verificação de identidade para dificultar a criação de perfis falsos.

– Disponibilizar canais acessíveis e rápidos para denúncias e remoção de conteúdo abusivo.

– Colaborar com autoridades policiais nas investigações.

– Promover campanhas educativas sobre segurança digital e riscos da sextorsão.

6. Desafios Ético-Jurídicos

– Baixa taxa de denúncias: Muitas vítimas não denunciam por medo, vergonha ou desconfiança nas autoridades.

– Dificuldade de rastreamento: Perpetradores podem atuar de forma anônima, em jurisdições diferentes, dificultando a responsabilização.

– Falta de legislação específica: Embora existam dispositivos legais aplicáveis, a ausência de uma lei federal específica para sextorsão pode limitar a eficácia das ações.

– Estigma social: A cultura de culpabilização da vítima dificulta o acolhimento e a recuperação.

7. Recomendações para Políticas Públicas e Sociais

– Criação de legislação específica que tipifique a sextorsão como crime autônomo, com penas adequadas.

– Investimento em capacitação policial e judicial para lidar com crimes digitais.

– Campanhas públicas de conscientização para desmistificar o tema e incentivar denúncias.

– Parcerias entre governo, ONGs e setor privado para fortalecer redes de apoio às vítimas.

– Inclusão da educação digital e ética no currículo escolar para prevenção.

Passo a Passo para Solução de Problemas Relacionados à Sextorsão

1. Identifique e documente a ameaça:

– Guarde todas as mensagens, e-mails e provas da chantagem.

2. Não ceda às exigências:

– Pagar ou enviar mais material geralmente agrava a situação.

3. Interrompa o contato com o agressor:

– Bloqueie perfis, números e e-mails.

4. Denuncie às autoridades competentes:

– Procure delegacias especializadas e utilize canais online.

5. Solicite a remoção do conteúdo nas plataformas:

– Use as ferramentas de denúncia e suporte das redes sociais.

6. Busque suporte psicológico e jurídico:

– Procure ajuda profissional para suporte emocional e orientação legal.

7. Informe familiares ou pessoas de confiança:

– Ter uma rede de apoio é fundamental para o enfrentamento.

8. Acompanhe o andamento das investigações:

– Mantenha contato com a polícia e seu advogado para atualizações.

9. Por fim, ACABEMOS COM ISSO!

 

Atendimento – Consultório

Telefone: 0 XX 11 3120-6896
E-mail: dbaltieri@uol.com.br

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