Quando um ente querido apresenta sinais de surto psicótico, como delírios, alucinações e comportamentos desorganizados, a família se vê diante de um desafio urgente e difícil. Esses episódios, que podem ser desencadeados pelo consumo excessivo de álcool ou drogas, exigem ação rápida e sensível para evitar riscos maiores. Mas o que fazer nessa hora?
Em entrevista ao RD, o médico psiquiatra Danilo Baltieri, da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), explica que delírios, crenças falsas, sensação de perseguição e alucinações – sejam auditivas ou visuais – já caracterizam um surto que demanda cuidado imediato. E, nestes casos, é essencial que os familiares reconheçam os sinais e busquem apoio profissional, mesmo que o paciente resista.
“O que acontece é que muitas vezes os próprios familiares não admitem que o familiar precisa de ajuda, porque acham que foi apenas um episódio isolado, mas pouco tempo depois volta a repetir”, alerta. Embora alguns dos casos estejam associados ao uso excessivo de álcool, o alerta não se restringe a esse agente. O abuso de substâncias químicas, como a metanfetamina injetável – conhecida como a “droga do sexo químico” – está cada vez mais comum, o que reforça a necessidade de uma vigilância constante e suporte especializado par ajudar a pessoa em crise.
No caso da metanfetamina, a abordagem envolve a injeção da droga – muitas vezes com agulhas de insulina para intensificar a excitação e prolongar a ereção – e pode desencadear surtos psicóticos, levar a delírios, alucinações e comportamentos caóticos. “O efeito potente da substância, aliado à busca por experiências sexuais intensificadas, aumenta consideravelmente as chances de episódios psicóticos, o que exige atenção e intervenção imediata para prevenir complicações graves na saúde do usuário”, alerta o médico ao frisar que, infelizmente, o uso entre homens jovens está cada vez mais comum.
Como agir nos casos de emergência?
Diante dos sinais de um surto, os familiares devem agir com determinação e, de bate pronto já buscar um atendimento psiquiátrico imediato em hospitais públicos, mesmo que o paciente não queira colaborar. As equipes especializadas, presentes em serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), são preparadas para oferecer acompanhamento contínuo – inclusive 24 horas –, podem optar, se necessário, pela internação, inclusive de forma involuntária, para garantir a segurança de todos.
E em casos de violência ou descontrole, a orientação é que o familiar não hesite em acionar a polícia ou o serviço de ambulância. “No caso em que houver algum tipo de violência envolvida, a polícia pode ajudar não só a conter a pessoa em surto, como encaminhar para o atendimento especializado”, reforça.
Mobilização
No ABC, as prefeituras têm intensificado esforços para oferecer suporte abrangente e humanizado à família e ao paciente. Em Diadema, a rede de atenção psicossocial integra três CAPS III – além de um CAPS infanto-juvenil e unidades especializadas para álcool e outras drogas –, um pronto-socorro psiquiátrico que funciona 24 horas e uma enfermaria psiquiátrica com 10 leitos no Hospital Municipal. Esses serviços estão interligados com as Unidades Básicas de Saúde, UPAs e hospitais, o que facilita o acesso emergencial à assistência.
Em 2024, foram registrados 1.801 atendimentos na cidade, e este ano já se somaram 240 casos. Além disso, a cidade promove eventos como o Dia Municipal da Luta Antimanicomial e o Carnacaps, que contribuem para a conscientização e a mobilização da comunidade.
O atendimento em Santo André varia conforme a gravidade do caso. Situações agudas que exigem avaliação imediata devem ser encaminhadas ao Pronto-Socorro de Psiquiatria do Centro Hospitalar Municipal. Se os sintomas psicóticos forem decorrentes do uso de substâncias psicoativas, o atendimento deve ocorrer na UPA mais próxima. Já casos crônicos ou conhecidos devem ser acompanhados pelo CAPS, que também é recomendado para seguimento após atendimentos de urgência.
A cidade comporta cinco CAPS (três adultos, um álcool e outras drogas e um infantojuvenil), duas unidades de Acolhimento Transitório e seis residências terapêuticas. Com isso, somente no ano passado, 995 pacientes foram atendidos em casos de psicose e 575 internados para tratamento. Já em 2023, o número era ligeiramente maior, 1.060 e 627, respectivamente. A respeito dos dados de 2025, a administração não informou.
Já a Rede de Atenção Psicossocial de São Bernardo atende pessoas em sofrimento psíquico por meio das UBSs, CAPS, serviços de urgência, Residências Terapêuticas, Nutrarte e Consultório na Rua. Os atendimentos são feitos de forma integrada, encaminhando cada caso ao serviço mais adequado e as emergências psiquiátricas são direcionadas ao Pronto Atendimento de Psiquiatria, no Hospital de Urgência.
Em 2024, a cidade registrou uma média de 600 atendimentos mensais no Pronto-Socorro de Psiquiatria, média que se mantém este ano.
Alta de quase 40% nos atendimentos
Em São Caetano, a abordagem se destaca pelo acolhimento humanizado, e o Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin dispõe de leitos destinados a crises psiquiátricas. Para se ter ideia, entre janeiro e fevereiro do ano passado, o CAPS II registrou 815 casos de pessoas com diagnóstico de esquizofrenia, enquanto no mesmo período de 2025, esse número subiu para 1.116, uma alta de quase 36,9%.
Já Rio Grande da Serra adota um modelo que prioriza o acesso inicial à UPA, onde os pacientes em surto recebem avaliação imediata e, se necessário, são encaminhados para internação no Hospital Nardini. Embora os números – 26 atendimentos em 2024 – sejam menores, o comprometimento com o atendimento é evidente, mesmo sem campanhas específicas de conscientização.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.