Uma pessoa exposta à fumaça de maconha pode sentir determinados sintomas e ter o THC detectado na urina, mas tudo isso depende da concentração da maconha fumada, do fluxo de ar no ambiente, da proximidade do fumante passivo com o ativo, do tempo de exposição…
Resposta
Pessoas expostas à fumaça emitida pelos cigarros de maconha frequentemente perguntam se uma testagem toxicológica poderia detectar nos seus fluidos corporais a presença do principal componente ativo da droga (Tetrahidrocanabinol – THC).
Esta resposta depende de basicamente cinco fatores:
a) tempo de exposição à fumaça;
b) tipo de ventilação do ambiente em que a droga é fumada;
c) concentração do THC no cigarro, pipeta ou outro meio de utilização;
d) refinamento do teste utilizado;
e) material corporal usado para o teste (sangue, urina, cabelos, pelos pubianos).
Estudos já têm verificado que a concentração do THC no sangue de pessoas que não fumaram maconha, mas permaneceram pelo menos três horas em um espaço bem ventilado junto com outras que fumaram é extremamente baixa para ser detectada através de um teste qualitativo convencional.
Fumante passivo e níveis de THC
Todavia, outros estudos revelam que “fumantes passivos” de maconha podem ter níveis de THC detectados na urina, quando permanecem uma hora com fumantes ativos em ambientes fechados pouco ventilados. Outrossim, estes fumantes passivos podem também apresentar sintomas psicomotores induzidos pelo uso passivo, tais como prejuízo motor, riso fácil, leve inquietação.
Ausência de evidência não significa evidência de ausência
Os conhecidos efeitos nocivos decorrentes de fumar maconha para os pulmões e para o sistema cardiovascular também têm preocupado os fumantes passivos. Neste ponto, existem poucas evidências no momento para levantar um alarme. No entanto, como dizemos em pesquisa clínica, “ausência de evidência não significa evidência de ausência”. Estudos experimentais em ratos expostos à fumaça da maconha mostraram alterações no fluxo sanguíneo com evidente espasmo vascular, que permaneceram horas após a eliminação da exposição.
Outrossim, quando alguém fuma um cigarro de maconha, ele não apenas está inoculando no seu corpo diferentes concentrações de THC, mas também substâncias oriundas da queima da planta, do papel e dos adulterantes, as quais possuem efeitos carcinogênicos, cardiovasculares e hepáticos.
Fazendo um paralelo com fumantes passivos de cigarros de nicotina, aqueles que não fumam, mas inalam a fumaça, estão sujeitos a diversos problemas.
De acordo com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos da América, os fumantes passivos de cigarros de nicotina podem apresentar:
a) aumento da suscetibilidade às infecções do trato respiratório;
b) crises asmáticas;
c) aumento na chance de apresentar problemas cardiovasculares;
d) aumento na incidência de câncer pulmonar.
Certamente, todas estas consequências nocivas variam de acordo com o tempo de exposição, o arejamento do espaço em que o cigarro é fumado, suscetibilidade individual.
Exposição à fumaça de maconha: possíveis sintomas:
Considerando a concentração da maconha fumada, o fluxo de ar no ambiente e a proximidade do fumante passivo com o ativo, podemos afirmar que o indivíduo exposto à fumaça pode apresentar alguns dos seguintes sintomas:
a) irritação ocular;
b) tosse seca;
c) cefaleia;
d) taquicardia;
e) ansiedade;
f) náusea;
g) sensação de cansaço.
É sempre bom lembrar que você não precisa permanecer no mesmo ambiente em que existe um fumante de maconha. Você sabe que pode vivenciar sintomas desagradáveis e decidir livremente abandonar o local. Respeite-se e imponha limites.
Atenção! Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.
Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.