Farmacodependência: tenho vício em Rivotril. O que faço?

Para lidar com a farmacodepêndencia, como por exemplo, o vício em Rivotril®, é necessário que um profissional especializado identifique o problema para poder iniciar o tratamento, que comumente é prolongado e requer esforço da equipe de saúde e do portador do quadro de dependência

E-mail enviado por uma leitora

“Sou mãe de dois filhos que tomam Rivotril® e duas irmãs que também tomam. Eu sou viciada em Rivotril® e vou numa neuropsiquiatra que me receita a dosagem que ela entende ser adequada. Mas consigo sempre receitas com uma outra médica, que é minha amiga, mas falo que é para os meus filhos ou para minhas irmãs que de vez em quando querem tomar. Fui pesquisar na internet sobre esse meu comportamento e descobri que existe a “farmacodependência”. Como lido então com essa questão? Qualquer tipo de ajuda será muito bem-vinda! Muito obrigada.”

Resposta

No final da década de 70, os benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, lorazepam, alprazolam, bromazepam etc) tornaram-se as medicações mais frequentemente prescritas ao redor do mundo.

Esse grupo de medicações tem sido usado como sedativos/hipnóticos, ansiolíticos, anticonvulsivantes, para o manejo de mioclonias e distonias, dentre outras indicações. A baixa toxicidade (quando comparada às outras medicações com atividades similares na época) e uma presumida falta de potencial para causar dependência, estimularam as prescrições e o uso continuado na referida década. No início da década de 80, usuários desse grupo de medicações perceberam que precisavam de doses maiores para atingir os efeitos anteriores, bem como tinham dificuldades para interromper o uso da droga, devido a sintomas relacionados à retirada ou abstinência.

 

Farmacodependência: vício em Rivotril

De fato, a tolerância aos efeitos dos benzodiazepínicos ocorre em praticamente todos os quadros clínicos para os quais esse grupo de medicações é prescrito. Entretanto, parece ocorrer muito discreta tolerância para os efeitos deletérios dos benzodiazepínicos sobre a memória, atenção, habilidade vísuo-espacial e outras funções cognitivas.

É importante registrar que a gravidade dos sintomas da síndrome de abstinência aos benzodiazepínicos dependerá: do tempo de uso, do escalonamento da dose, do tempo de ação da droga, e de características intrínsecas do usuário, como traços de personalidade. Os sintomas de abstinência comumente dificultam de forma evidente a retirada dessa medicação, especialmente entre usuários prolongados.

 

Grupos com vício em Rivotril

A população que se torna dependente dos benzodiazepínicos é bastante heterogênea. Mas, de forma didática, podemos vislumbrar três grupos de dependentes:

a) Dependentes de doses terapêuticas

Quadro também conhecido como “dependência fisiológica”. Este grupo corresponde à grande maioria dos portadores do quadro de dependência. Trata-se principalmente daqueles indivíduos que recebem prescrições regulares desse grupo de medicações para o tratamento da ansiedade e outras condições psiquiátricas e neurológicas. Frequentemente, esses indivíduos não aumentam as doses por conta própria, mas têm importante dificuldade para reduzir ou cessar o consumo da droga, devido aos sintomas de retirada.

b) Pessoas com Síndrome de Dependência

Uma minoria dos pacientes para quem são prescritas tais medicações escalonam as doses. Comumente, convencem seus médicos sobre a necessidade do aumento da dose até o limite permitido. Quando o médico recusa a prescrição dessas doses, comumente esses pacientes buscam outras fontes da substância, como pronto-socorro, outros médicos, e até mesmo procurando a substância no mercado negro. Nesse grupo, é comum encontrarmos o que chamamos de comportamentos “aberrantes” ou simplesmente inadequados: pedir receitas para médicos conhecidos da família ou de outras especialidades, dizer que precisa da medicação para o tratamento dos filhos, usar a droga para fins outros do que o objetivo inicial, mentir para o médico condutor do tratamento.

c) Usuários recreativos de benzodiazepínicos

Usuários recreativos de Rivotril muitas vezes consomem outras drogas

 

Frequentemente, esses usuários também consomem outras drogas, como cocaína, anfetaminas, álcool, opioides etc. Uma das razões para esse uso concomitante é o automanejo de sintomas de abstinência (no caso do alcoolismo, por exemplo) e diminuição dos sintomas da intoxicação (no caso da cocaína, por exemplo), dentre outras. Outrossim, existem aqueles que abusam apenas dos benzodiazepínicos.É necessário identificar qual é o tipo de dependência instalada e iniciar o tratamento médico e psicossocial adequado. Existem medicações que têm sido testadas e utilizadas para auxiliar a retirada gradual das medicações benzodiazepínicas dos dependentes.

Um profissional especializado procurará identificar o problema e iniciar o tratamento, que comumente é prolongado e requer esforço da equipe de saúde e do portador do quadro de dependência.

 

Vício em Rivotril: síndrome de abstinência

Tanto no grupo “a” quanto no grupo “b”, os sintomas da síndrome de abstinência podem mais amiúde surgir, o que dificulta densamente a interrupção do uso da medicação. Como sempre é repisado neste site Vya Estelar, a gravidade dos sintomas da síndrome de abstinência varia para cada pessoa, levando-se em consideração:

A duração do uso das medicações benzodiazepínicas;

Dosagem;

Escalonamento da dose não supervisionada pelo médico responsável pelo tratamento;

Uso das medicações sem prescrição médica;

Ter algum transtorno psiquiátrico coexistente;

Usar outras substâncias ao mesmo tempo;

Fazer uso de álcool e de outras substâncias.

 

Para aqueles que fazem uso crônico de benzodiazepínicos, existem possíveis “fases” no processo de retirada ou abstinência. Um dependente deve SEMPRE fazer essa retirada sob a supervisão estrita de um médico especializado. Parar subitamente a medicação, geralmente, é um grande erro.

Quando o indivíduo cessa ou reduz abruptamente a dose da medicação, ela deverá apresentar os sintomas da síndrome de abstinência. O tempo para os sintomas iniciarem depende do período de metabolização de cada benzodiazepínico, variando de 12 a 24 horas (no geral).

Sintomas da síndrome de abstinência

Abaixo, elenco os principais sintomas da síndrome de abstinência:

Ansiedade;

Tremores;

Perda do apetite;

Insônia;

Pesadelos;

Náusea;

Vômitos;

Hiperventilação;

Hipotensão postural;

Aumento da temperatura corporal;

Agitação psicomotora;

Comportamentos agressivos;

Alucinações;

Confusão mental.

 

Como se não bastassem tais sintomas da síndrome de abstinência aguda, cerca de 10 a 25% dos sujeitos com quadro de síndrome de dependência de benzodiazepínicos podem apresentar alguns sintomas da síndrome de abstinência semanas ou meses após a interrupção total do seu consumo. Esta conhecida Síndrome de Abstinência dita Protraída ou Crônica pode cursar com os seguintes sintomas:

Moderada ansiedade;

Aumentada sensibilidade à luz;

Insônia persistente;

Instabilidade do humor;

Prejuízo da concentração;

Redução da libido;

Sintomas dissociativos (por exemplo, sensação de estar com o corpo deformado, ou de estar em um local que muda de forma);

Ataques de pânico;

Espasmos musculares.

Dito isso, as medicações benzodiazepínicas devem ser prescritas com bastante cautela e criteriosamente. Sempre que possível, o seu uso deve ser por tempo limitado e curto, objetivando impedir o surgimento de quadros de dependência.

Muitos pacientes acreditam que o problema da síndrome de dependência de benzodiazepínicos, ou mesmo de outras substâncias similares, irá se resolver em 1 ou 2 meses. Outros, continuam mentindo para o médico sobre o uso das medicações. Ressalto que o tratamento é prolongado e a adesão do paciente às recomendações do médico especialista deve sempre ser total.

O sucesso do tratamento das síndromes de dependências é uma via de mão dupla. Você não terá sucesso se mantiver esse comportamento atual, nem tampouco se continuar exercendo seus comportamentos aberrantes.

Boa sorte!!!

 

Atenção!

Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

 

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