Anfetaminas e síndrome de abstinência

abstinencia

Síndrome de abstinência pode ser crônica ou aguda

E-mail enviado por uma leitora

“Escrevo para tirar uma dúvida. Estive lendo sobre o uso de anfetaminas. Uso Femproporex® 70 mg há um bom tempo. Porém, comecei a sentir falta de memória e confusão mental… parei por conta. Só que tenho sono o dia todo, e quando não estou dormindo, estou chorando. Moro no interior do RS. Aqui não tem especialistas na área. Procurei dois que me trataram muito mal e disseram que é abstinência, mas não me recomendaram exames ou indicação do que fazer. Estou perdida. Já procurei terapia holística e tudo, mas não vejo melhora. Se puder me dar uma dica do que fazer para ter a disposição que eu tinha antes, fico grata.”

Resposta

Estima-se que cerca de 34 milhões de pessoas ao redor do mundo façam uso de substâncias anfetaminérgicas, o que representa importante ônus pessoal e social. A preocupação com o uso dessas substâncias e suas consequências tem instigado toda a comunidade médica no sentido de desenvolver protocolos de prevenção e de tratamento para o uso indevido, inadequado ou mesmo ilícito das drogas anfetaminérgicas.

Nos casos de consumo recorrente das substâncias anfetaminérgicas, inúmeros problemas à saúde física e psicológica têm sido identificados, tanto nos quadros de intoxicação quanto nos quadros de síndrome de abstinência.

Síndrome de abstinência induzida

Considerando a sua pergunta, irei focar, aqui, nas chamadas síndromes de abstinência induzidas pelo uso crônico de medicações anfetaminérgicas.

Comumente, a síndrome de abstinência aguda induzida pelo consumo crônico de psicoestimulantes, como anfetamina, metanfetamina e dextroanfetamina, é caracterizada por sinais e sintomas físicos e psicológicos que duram de 5 dias a 3 semanas.

Dentre os sintomas mais comuns desta etapa, aponto os seguintes:

a) fadiga;

b) perturbações no ciclo sono-vigília;

c) fissura pela droga;

d) agitação ou retardo psicomotor;

e) sonhos vívidos e pesadelos;

f) aumento do apetite;

g) movimentos musculares involuntários;

h) problemas em manter a atenção e concentração;

i) dores pelo corpo.

Na verdade, queixas de fadiga e inércia associadas com sonolência excessiva, todas seguidas por inquietação psicomotora e insônia, consistem no quadro mais descrito durante as síndromes de abstinência aguda induzida por psicoestimulantes. O nível de alteração do humor, variando de irritação à notável depressão, pode ser uma infeliz consequência da parada ou redução abrupta do consumo da substância. Dito isso, e avaliando a gravidade dos sintomas, o indivíduo padecendo desse quadro, deve receber tratamento médico adequado, levando em consideração a gravidade dos seus sintomas.

No entanto, não existe somente a dita síndrome de abstinência aguda; existe, também, a chamada síndrome de abstinência crônica ou protraída, ou seja, aquela que apresenta duração maior do que a prevista para a síndrome de abstinência aguda ou aquela que surge meses após o último uso da substância.

Síndrome de abstinência: fatores

Naturalmente, a duração dos sintomas da síndrome de abstinência (aguda ou crônica) depende de vários fatores, tais como:

a) período de tempo de uso da droga;

b) tentativas prévias frustradas de interromper o uso da substância;

c) dose da substância usada e frequência do uso;

d) uso concomitante de outras substâncias, como álcool, nicotina e cocaína;

e) sintomas ou transtornos mentais prévios ao uso da substância;

f) fatores individuais, como os genéticos e metabólicos.

Na então chamada síndrome de abstinência crônica ou protraída induzida pelo consumo crônico de anfetaminas, podemos apontar alguns sintomas:

a) perturbações na memória;

b) sintomas depressivos com ou sem ideação suicida;

c) incapacidade para sentir prazer nas atividades do dia a dia;

d) alterações do sono (insônia ou sonolência excessiva);

e) dores pelo corpo e outras queixas físicas;

f) sensação de perda do controle sobre si mesmo;

g) fadiga.


Síndrome de abstinência requer tratamento médico

Tanto para os casos de síndrome de abstinência aguda quanto para os casos de síndrome de abstinência protraída induzidos pelo uso crônico de psicoestimulantes, o tratamento médico deve ocorrer. Os principais objetivos do manejo médico neste contexto são:

a) tratar os sintomas da síndrome de abstinência;

b) investigar se existem outros problemas médicos coexistentes e tratá-los a contento;

c) estimular o paciente a manter-se afastado do uso da substância psicoativa.

Muitas vezes, é tremendamente difícil conter a fissura pela substância. Neste contexto, para cumprirmos com o item “c” (estimular a abstinência da substância), um manejo psicoterápico focado no problema deve ser instalado concomitantemente ao tratamento farmacológico.

Embora não existam medicações comprovadamente eficazes para o tratamento da síndrome de dependência de psicoestimulantes, existem medicações que podem e devem ser utilizadas para manejar os sintomas da síndrome de abstinência (aguda e/ou crônica) e para tratar outros transtornos psiquiátricos e físicos porventura coexistentes. Todo tratamento médico deve ser individualizado, baseando-se no quadro clínico apresentado ao especialista.

Você deve procurar um médico psiquiatra. Seguramente, existem médicos dessa especialidade em seu Estado. Faça isso com urgência.

Atenção! 
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

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