O Tratamento dos Molestadores de Crianças com Pedofilia
O tratamento médico e psicossocial de molestadores de crianças com pedofilia é uma questão complexa que exige uma abordagem interdisciplinar, considerando tanto os aspectos clínicos quanto os fatores sociais, culturais e legais envolvidos. A pedofilia, reconhecida como uma condição psiquiátrica caracterizada por um interesse sexual persistente em crianças pré-púberes, muitas vezes está associada a comportamentos que resultam em sérias consequências legais e sociais. Assim, o manejo desse grupo demanda intervenções que visem não apenas à redução do sofrimento individual, mas também à minimização do risco de reincidência criminal, protegendo a sociedade, especialmente as crianças, que são as principais vítimas.
No âmbito médico, o tratamento pode incluir terapias farmacológicas destinadas a controlar impulsos sexuais. Medicamentos como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e antagonistas da ação da testosterona são frequentemente considerados, dependendo da gravidade dos sintomas e da avaliação psiquiátrica. Esses tratamentos buscam diminuir a intensidade dos desejos sexuais desviantes, mas não eliminam completamente a condição, sendo eficazes quando combinados com intervenções psicoterapêuticas.
As terapias cognitivo-comportamentais (TCC) específicas para esta população têm se destacado como uma abordagem eficaz, ajudando os indivíduos a identificar e modificar padrões de pensamento distorcidos que justificam ou perpetuam os comportamentos ofensivos. Técnicas como reestruturação cognitiva e treino de habilidades sociais são usadas para promover o autodomínio e a empatia, essenciais para a reabilitação.
Do ponto de vista psicossocial, o tratamento deve abordar as dinâmicas relacionais e os fatores de risco criminogênicos (fatores de risco dinâmicos) que influenciam a reincidência. Elementos dinâmicos, como problemas de regulação emocional, isolamento social, uso de substâncias e acesso a oportunidades de re-ofensa, são cruciais para guiar as intervenções. Programas de tratamento baseados em evidências enfatizam a necessidade de monitorar e modificar esses fatores ao longo do tempo, ao contrário de abordagens que se baseiam apenas em variáveis estáticas, como histórico criminal passado. A inclusão de suporte familiar e comunitário também é vital, pois muitos desses indivíduos enfrentam estigma e rejeição, o que pode aumentar o risco de reincidência se não houver uma rede de apoio estruturada.
A avaliação de risco é um componente essencial do processo terapêutico, devendo ser contínua e baseada em instrumentos validados que considerem tanto os fatores estáticos quanto os dinâmicos. Ferramentas como o SVR-20 (Sexual Violence Risk-20 items) e o Static-99 permitem identificar áreas específicas de vulnerabilidade, como déficits em resolução de problemas ou baixa motivação para mudança, que podem ser trabalhadas terapeuticamente.
A personalização do tratamento é fundamental, pois os perfis dos molestadores variam amplamente, incluindo diferenças em idade, contexto de vida, níveis de impulsividades, comorbidades psiquiátricas (como transtornos de personalidade ou abuso de substâncias). Outro aspecto importante é a integração de estratégias de prevenção da reincidência no planejamento terapêutico. Isso pode envolver a supervisão dos pacientes fora do contexto terapêutico, sugestões sobre restrições geográficas para evitar contato com crianças e o uso de tecnologias de monitoramento, como bloqueadores de conteúdo na internet.
A educação contínua sobre os impactos dos seus atos nas vítimas é também uma ferramenta poderosa, promovendo a responsabilização e reduzindo a negação, um obstáculo comum no tratamento.
Por fim, é imprescindível reconhecer que o sucesso do tratamento depende de um compromisso a longo prazo, tanto dos profissionais envolvidos quanto dos próprios indivíduos. A colaboração entre psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e o sistema judiciário é essencial para criar um continuum de cuidado que vá desde a identificação inicial até a reintegração social. Apesar dos desafios éticos e logísticos, como o alto custo de programas especializados e a resistência social ao tratamento de pedófilos, investir em abordagens baseadas em evidências e guiadas por fatores de risco dinâmicos oferece a melhor esperança de reduzir a reincidência e promover a segurança coletiva, ao mesmo tempo em que se busca oferecer uma chance de mudança para aqueles que demonstram disposição para se engajar no processo terapêutico.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Foi Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC durante 26 anos. Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC por 20 anos, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) durante 18 anos e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex) durante 22 anos. Tem correntemente experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.