Evento: Assassinos Sexuais

O ABSex tem sido um dos Arautos do conhecimento clínico e científico sobre as parafilias e os agressores sexuais. Daí, o fomento deste evento.

Resumo da Aula: “Os Assassinos Sexuais”

O estudo dos assassinos sexuais é um tema complexo que envolve a intersecção entre violência, sexualidade e psicopatologia, exigindo uma abordagem interdisciplinar que combina psicologia, psiquiatria, criminologia e análise discursiva. Este texto busca apresentar de forma didática os principais aspectos relacionados aos assassinos sexuais, com foco em sua definição, características, tipologias, motivações e implicações clínicas, éticas e legais, sem recorrer a sensacionalismo, mas promovendo uma compreensão científica voltada para a prevenção e intervenção. Os assassinos sexuais são indivíduos que cometem homicídios motivados por impulsos sexuais, nos quais a violência e a excitação sexual se entrelaçam. Esse fenômeno, descrito desde a Idade Média com casos como Gilles de Rais e Elizabeth Báthory, evoluiu de uma visão de “vilania absoluta” para uma análise psicopatológica moderna. O homicídio sexual, conforme definido por Schlesinger (2007), é um ato letal impulsionado por motivações sexuais, frequentemente envolvendo mutilações, fantasias eróticas violentas ou práticas como necrofilia. Apesar de não ser classificado como uma parafilia específica no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o conceito de “lust murderers”, introduzido por Krafft-Ebing em sua obra Psychopathia Sexualis (1886), destaca a fusão entre agressão e prazer sexual, com características como prazer em dominar, mutilar ou matar. A prevalência dos homicídios sexuais é difícil de estimar devido à subnotificação e à falta de dados consistentes, mas eles representam menos de 1% dos homicídios totais nos Estados Unidos, segundo o FBI (2025). Apesar de raros, esses crimes têm um impacto devastador, especialmente sobre mulheres, que são as vítimas predominantes. A ausência de consenso diagnóstico no DSM e o descaso na investigação de sinais deixados nas vítimas dificultam a compreensão e a prevenção desses casos. As tipologias propostas por pesquisadores como Beech (2005/2025) e Schlesinger (2006) ajudam a classificar os assassinos sexuais com base em motivações e comportamentos. Segundo Beech, há três grupos principais: os sádicos, motivados por fantasias elaboradas e planejamento meticuloso, com alta reincidência; os motivados por raiva, que agem impulsivamente contra vítimas conhecidas, movidos por hostilidade; e os oportunistas, que cometem crimes sexuais durante outros delitos, como roubos, com violência instrumental e sem histórico prévio de violência contra mulheres. Já Schlesinger divide os assassinos sexuais em catatímicos, que agem por conflitos emocionais e frequentemente sentem remorso, e compulsivos, que têm fantasias elaboradas e buscam evitar a captura para repetir os crimes. As fantasias sexuais desempenham um papel central na motivação e execução desses crimes, especialmente nos assassinos compulsivos, cujas fantasias violentas são reforçadas por práticas como masturbação. Essas fantasias podem se manifestar em ritualizações, como mutilações específicas, que funcionam como uma “assinatura” do criminoso. A análise de casos clássicos descritos por Krafft-Ebing, como Jack, o Estripador, e outros como Menesclou e Verzeni, revela padrões de planejamento, ausência de remorso e comportamentos extremos, como mutilações e canibalismo. Além disso, a análise discursiva, inspirada em Bakhtin, destaca a polifonia e a heteroglossia nos relatos desses criminosos, que misturam vozes de sedução, violência e confissão, refletindo conflitos internos e sociais. Do ponto de vista clínico, a aparente cooperatividade de alguns assassinos sexuais pode ser um fator de risco adicional. Essa característica, muitas vezes superficial, é usada como estratégia manipulativa para ganhar a confiança das vítimas ou passar despercebido em avaliações forenses. Isso reforça a necessidade de intervenções que identifiquem sinais precoces, como fantasias sádicas ou comportamentos como tortura de animais, e promovam tratamentos focados na modificação dessas fantasias. As cenas dos crimes sexuais frequentemente apresentam características marcantes, como vítimas nuas, genitais expostos, corpos em posições sexualmente explícitas ou objetos inseridos em cavidades corporais, evidenciando a natureza sexual do ato. A análise dessas cenas, aliada a abordagens como o uso de machine learning para clusterização de casos, permite identificar padrões que auxiliam na investigação e na prevenção. Do ponto de vista ético e legal, o estudo dos assassinos sexuais levanta questões sobre a responsabilidade penal, a necessidade de perícias psiquiátricas e a importância de colaboração entre psiquiatras, investigadores e juristas. A prevenção depende do reconhecimento de sinais precoces e da implementação de estratégias integradas que combinem tratamento psicológico, políticas públicas e investigações forenses mais eficazes. Em conclusão, o estudo dos assassinos sexuais é essencial para compreender um fenômeno que, embora raro, causa impactos profundos na sociedade. A análise interdisciplinar, que combina psicologia, psiquiatria e criminologia, permite não apenas entender as motivações e padrões desses criminosos, mas também desenvolver estratégias de prevenção e intervenção. Reconhecer os sinais, tratar fantasias violentas e promover a colaboração entre profissionais são passos fundamentais para reduzir a incidência desses crimes e promover justiça e saúde pública.

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