Imosec®: por que jovens de baixa renda fazem consumo abusivo?

abuso

“Sou farmacêutico e estou vendo uma avalanche de jovens de baixa renda comprando caixas e mais caixas de lmosec®. O que pode estar acontecendo?”

Resposta

Imosec®, nome comercial dado à substância loperamida, é classificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como um antidiarreico simples que não tem ação antimicrobiana.

Este agente antidiarreico está disponível para venda sem receita ou prescrição. A loperamida é usada para o controle e alívio dos sintomas da diarreia aguda inespecífica e da diarreia crônica associada à doença inflamatória intestinal (DII)

No entanto, a loperamida não é recomendada para todos os tipos de diarreia e pode agravar os resultados em pacientes com diarreia bacteriana não invasiva e principalmente diarreia bacteriana invasiva causada por Escherichia coli enteroinvasiva, Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni ou diarreia associada a antibióticos, como Clostridium d.

A substância reduz o fluxo de líquidos e eletrólitos para o intestino, o que, de fato, diminui a frequência dos movimentos intestinais. A medicação pode ser comercializada em forma de comprimido, cápsula ou solução líquida, que deve ser administrada por via oral.

Em alguns casos, a administração de Loperamida em doses terapêuticas pode causar efeitos colaterais, tais como:

      • Boca seca
      • Cólica abdominal
      • Tontura
      • Sonolência
      • Cólica
      • Vômito
      • Dor de cabeça
      • Náusea
      • Constipação
      • Problemas para urinar

 

lmosec®: o abuso da medicação aumentou nos últimos 10 anos
lmosec®: o abuso da medicação aumentou nos últimos 10 anos

O risco de surtir efeitos adversos é ainda maior quando há o abuso da droga, especialmente quando grandes quantidades de loperamida são ingeridas. O abuso da medicação aumentou nos últimos 10 anos, e muitas autoridades sanitárias estão atribuindo isso a um resultado direto da epidemia de opioides em certos países.

Imosec® a “metadona” do pobre

Em doses terapêuticas (16 mg ou menos por dia), a loperamida não produz efeitos significativos no cérebro. No entanto, o uso recreativo da loperamida para atingir efeitos eufóricos requer grandes doses orais (mais de 70 mg por dia) com ou sem ingestão de bebidas alcoólicas. A loperamida, por seus efeitos opioides, status sem prescrição e baixo custo, é frequentemente chamada de “metadona do pobre”.

Infelizmente, as pessoas descobriram que, se consumidas em grandes doses, a loperamida pode ter efeitos semelhantes aos dos opioides. A droga é um agonista opioide e, portanto, tem a capacidade de induzir uma euforia ativando os receptores opioides no cérebro. Dada a composição química da substância, a medicação não é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica em doses baixas e, portanto, não terá efeitos psicotrópicos significativos, a não ser que seja administrada em quantidades elevadas ou em combinação com outras substâncias.

A loperamida é um substrato para a isoenzima CYP3A4 durante o seu processo de metabolização; portanto, o número de substâncias e/ou medicações que podem ser utilizados, intencionalmente ou não, para aumentar a concentração sérica deste antidiarreico não é baixo (Isso é um sinal de ALERTA !!!).

Por que o consumo elevado de Imosec® é perigoso

É importante salientar que, além da possível depressão respiratória decorrente do uso de medicamentos opioides, altas concentrações de loperamida já foram associadas ao aumento do intervalo QTc (arritmia cardíaca), ao aumento do complexo QRS, à síncope e à morte súbita (1-3). As avaliações de segurança eletrofisiológica cardíaca in vitro e in vivo da loperamida demonstram uma grande margem de segurança na dose indicada. No entanto, em doses excessivas, sugere-se que a loperamida pode inibir os canais de potássio e os canais cardíacos de sódio, o que pode resultar em arritmias cardíacas.

Em 1977, o órgão americano Food and Drug Administration (FDA) introduziu a loperamida na lista de medicamentos controlados, fundamentando sua decisão em dados de animais que indicavam que a loperamida poderia ter efeitos similares aos opioides (4).

A loperamida foi, posteriormente, removida desta lista e tornou-se um produto sem necessidade de registro de receita em 1988, devido a diversos estudos realizados com voluntários e dados epidemiológicos que revelaram um baixo risco de dependência física e abuso (5). Já em 2016, o FDA alertou os profissionais de saúde e o público em geral sobre possíveis efeitos adversos graves da loperamida, incluindo arritmias cardíacas, depressão respiratória, distensão gastrointestinal e morte (6). Embora a segurança tenha sido estabelecida por seu baixo potencial de abuso, doses excedendo a dose diária recomendada de 16 mg demonstrou uma variedade de efeitos adversos.

Abuso de Imosec®

Nos últimos anos, houve um número assustador de relatos de casos publicados e chamadas de centros de controle de envenenamento por conta do uso indevido/abuso da loperamida nos Estados Unidos da América. Os dados epidemiológicos foram analisados pelo Sistema Nacional de Dados de Envenenamento de 1.º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2015, avaliando o uso indevido, o abuso e a suspeita de suicídio devido à exposição à loperamida (7).

Juntamente com o crescente número de relatos de casos e ligações para centros de controle de intoxicações, os pesquisadores também observaram um aumento na discussão online em torno da loperamida. A primeira postagem sobre o uso indevido da loperamida surgiu em 2005, seguida por um aumento significativo nas discussões entre 2010 e 2011.

Os farmacêuticos, que prestam serviços de saúde acessível, estão na posição ideal para identificar o potencial de abuso entre os pacientes. Além disso, eles têm um papel crucial na prevenção de novas overdoses, identificando padrões de abuso e desvio, educando sobre o risco de overdose de loperamida e encaminhando pacientes com risco para tratamento de uso de substâncias (7). No Brasil, é crucial avaliar a conscientização dos farmacêuticos sobre o uso de loperamida e sua capacidade de limitar o seu potencial de abuso. Os farmacêuticos dos Estados Unidos da América, por exemplo, têm consciência do uso de loperamida e têm boas atitudes em relação à capacidade de diminuir a quantidade obtida ou mesmo se recusar a dispensar loperamida em casos de potencial abuso, ou forte suspeita.

Atenção aos órgãos reguladores!

Referências:

1. Antoniou T, Juurlink DN. Loperamide abuse. CMAJ. 2017;189(23):E803.
2. Eggleston W, Palmer R, Dubé PA, Thornton S, Stolbach A, Calello DP, et al. Loperamide toxicity: recommendations for patient monitoring and management. Clin Toxicol (Phila). 2020;58(5):355-9.
3. Eggleston W, Clark KH, Marraffa JM. Loperamide Abuse Associated With Cardiac Dysrhythmia and Death. Ann Emerg Med. 2017;69(1):83-6.
4. StatPearls. 2023.
5. Korey A, Zilm DH, Sellers EM. Dependence liability of two antidiarrheals, nufenoxole and loperamide. Clin Pharmacol Ther. 1980;27(5):659-64.
6. Idris A, Mihora DC, Kaye K. Loperamide abuse cardiotoxicity. Should loperamide still be an over the counter medication? Am J Emerg Med. 2018;36(9):1716.e1-.e3. 7.         Barakat M, Akour A, Malaeb D, Cherri S, Al Safadi W, Al Safadi A, et al. Perspectives of and Experience toward the Abuse of Antidiarrheal Drug (Loperamide) among Community Pharmacists: A Cross-Sectional Study. Int J Environ Res Public Health. 2023;20(14).

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