As atribuições causais são, frequentemente, o tema de uma conversa quando precisamos explicar a outra pessoa o nosso comportamento ou conduta. Isso significa que as explicações causais devem seguir as regras de uma conversação, sendo, portanto, relevante a integração da teoria da atribuição com a filosofia da linguagem comum.
A comunicação de atribuições causais para o nosso próprio comportamento a uma outra pessoa é dar desculpas. Ao contrário de estratégias de responsabilização pessoal, que geralmente são guiadas pelo desejo de fazer os outros pensarem que uma causa controlável (por exemplo, “foi falta de empenho meu”, “deixei de seguir as regras comportamentais aprendidas durante o tratamento”), ao invés de uma causa incontrolável (por exemplo, “ocorreu um descontrole impulsivo”), foi responsável pelo fracasso comportamental, as desculpas são quase sempre guiadas pelo objetivo oposto: quando se pede desculpa, normalmente diz-se algo como “desculpe, não fiz isso de propósito” ou “não foi minha intenção”; isto é, tenta-se comunicar que causas incontroláveis, ao invés de controláveis, foram as razões do comportamento danoso.
Atribuições de comportamentos sociais indesejáveis a causas controláveis desencadeiam frequentemente emoções e comportamentos naqueles que são afetados, o que pode ter consequências prejudiciais para o ator (por exemplo, raiva, culpa, recusa em ajudar). Suponha, por exemplo, que um portador do Transtorno Pedofílico sob tratamento, já portando habilidades comportamentais e cognitivas para impedir o seu acesso não supervisionado às crianças, acabe indo sozinho para um parque onde existem muitas crianças. A equipe que o atende, bem como os familiares, poderiam estar profundamente indignados.
Geralmente, desculpar é indicar que a causa da transgressão social ou fracasso é externa (e, portanto, incontrolável; por exemplo, “Eu estava indo ao mercado e passei pelo parque…”) ou interna, mas incontrolável para aqueles que violaram uma norma social (“Eu sou um doente”). Portanto, deveriam também reduzir as reações sociais negativas da vítima da transgressão social (por exemplo, raiva e retaliação), na medida em que as desculpas conseguem fazê-la acreditar que a causa do “erro” era de fato não controlável. Às vezes, a desculpa comunica o motivo “real” da transgressão, e às vezes a desculpa é uma mentira e envolve a comunicação de que uma causa que na verdade não estava presente foi responsável por uma transgressão em vez do verdadeiro motivo.
Neste último caso, a desculpa pode ser concebida como uma estratégia ou tática para reduzir a raiva ou punição por parte daqueles que foram afetados.
Ao quebrar normas ou regras, o processo de dar desculpas envolve muitas vezes a necessidade de comunicar que uma causa incontrolável foi responsável pela transgressão quando, na verdade, uma causa controlável motivou o comportamento. Presume-se que esta apresentação estratégica das causas reduza a raiva e a retaliação por parte da(s) pessoa(s) afetada(s) pela transgressão.
Perceber e inferir as causas do comportamento não é um ato sem maiores consequências. Ao contrário, as atribuições causais têm uma influência importante nos sentimentos e ações tanto em relação ao emissor quanto ao receptor. As chamadas teorias atribucionais abordam essas consequências das atribuições causais. As causas atribuídas como responsáveis pelos resultados comportamentais determinam reações emocionais. É fato que as atribuições do fracasso a fatores internos, estáveis e globais podem ser um determinante da desvalorização do tratamento que está sendo realizado.
Outrossim, os julgamentos de controlabilidade e responsabilidade influenciam as reações emocionais em relação aos outros (por exemplo, pena ou raiva) e determinam como o emissor se comporta em relação aos outros indivíduos. Há casos em que o emissor tenta conscientemente influenciar as explicações causais que os outros costumam fazer sobre comportamentos e resultados comportamentais similares.
A abordagem comportamental e o manejo atribucional são ingredientes importantes durante o manejo psicoterapêutico daqueles com Transtorno Pedofílico. No entanto, apesar de ingredientes respeitáveis, jamais são os únicos que devem ser utilizados, dada a complexidade do comportamento pedofílico e da heterogeneidade daqueles que padecem deste Transtorno.
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Médico psiquiatra. Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Assistente da Faculdade de Medicina do ABC, Coordenador do Programa de Residência Médica em Psiquiatria da FMABC, Pesquisador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria da FMUSP (GREA-IPQ-HCFMUSP) e Coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex). Tem experiência em Psiquiatria Geral, com ênfase nas áreas de Dependências Químicas e Transtornos da Sexualidade, atuando principalmente nos seguintes temas: Tratamento Farmacológico das Dependências Químicas, Alcoolismo, Clínica Forense e Transtornos da Sexualidade.